Inauguração de monumento aos Andradas, na Praça da
Independência, em 7/9/1922
Foto de cartão postal da época, colorida manualmente
José Bonifácio de Andrada e Silva, Conselheiro (O Patriarca) - José Bonifácio nasceu
em Santos, a 13 de junho de 1763. Os seus primeiros estudos foram realizados com o seu próprio pai (coronel Bonifácio José de Andrada) e com o frei
D. Manoel da Ressurreição.
Com 14 anos seguiu para São Paulo, onde fez o curso de humanidades, seguindo depois para o
Rio de Janeiro e, de lá, para Portugal, onde, com a idade de 20 anos, entrou para a Universidade de Coimbra, formando-se em Direito Civil e
Filosofia.
Seguiu para Lisboa, onde já era conhecido como literato, e foi recebido pela Academia Real
de Ciências, da qual ficou fazendo parte, até ser, mais tarde, seu secretário perpétuo.
Em 1790 seguiu José Bonifácio em viagem por toda a Europa, na peregrinação científica que
devia torná-lo o mestre do futuro, acompanhado então de Manoel Ferreira da Câmara Bittencourt, também brasileiro. Antes de partir, ele apresenta à
Academia Real de Lisboa a sua primeira Memória sobre a pesca das baleias.
Durante dez anos viajou e estudou por quase toda a Europa, sendo aluno de Lavoisier, em
Paris, de Chaptal e Fourcroy, de Jussicu e Hany. Em Freyberg, teve por mestre: Werner, Lempe, Kohler, Kjozsch, Freiesleben, Lampadins entre outros;
estudando oritognosia, geognosia, montanística, matemática pura e aplicada, teoria das máquinas, direito e legislação de minas, ensaios químicos dos
minerais, química prática, metalurgia e outras ciências.
Da sua comissão de estudos pela Europa, a que o mandou Martinho de Mello, ministro de D.
Maria I, pelo receio "de que fosse fazer uma revolução no Brasil", como afirma Mello Moraes em sua História do Brasil-Reino e Brasil-Império
(Tomo I, pg. 193), deixou ele, em cada ponto do velho mundo, diversas Memórias, que escreveu sobre variados assuntos, sendo admitido como
sócio em todas as academias de Ciências do seu tempo.
Em setembro de 1800, voltou a Portugal, sendo nomeado lente de Metalurgia na Universidade de
Coimbra, cargo que exerceu por alguns anos, sendo também intendente geral das Minas e Metais, superintendente do Rio Mondego, de Obras Públicas de
Coimbra, e desembargador do Porto.
Invadido Portugal pelas forças de Napoleão, José Bonifácio deixou um pouco as ciências, para
servir na guerra, como comandante do Corpo Acadêmico, onde se destacou. Uma vez livre o território português, foi nomeado intendente de Polícia da
cidade do Porto, e logo depois, em 1812, era eleito secretário perpétuo da Academia Real de Ciências, em seguida à publicação dos escritos de
reconhecido mérito.
Durante sua estada em Paris, de 1790 em diante, José Bonifácio viveu o ambiente
revolucionário da chamada "Capital do Mundo", entre as declarações de Jean-Jacques Rousseau, os gestos de Rouget de Lisle e Chernier, as doutrinas
de Diderot e Condorcet.
Era esse homem que parecia convir a Thomaz Antonio da Villa Nova Portugal, o ministro de D.
João VI, no Rio de Janeiro, o mesmo que, por ocasião da aclamação daquele Rei, lhe falara claramente, mostrando que a união do Brasil com Portugal
não podia durar muito tempo, acrescentando: "Aonde Vossa Majestade ficar será seu; a outra parte há de perder", ao que o Rei respondeu: "Pois
perca-se Portugal".
Foi esse homem, pois, que, "havendo-se resolvido à nomeação de um brasileiro para ajudante
do ministro assistente ao despacho, e que só depois de dar provas da sua fidelidade no exercício deste novo emprego fosse elevado a Ministro de
Estado em uma das repartições para a qual se mostrasse mais habilitado, escolheu, para seu ajudante, a José Bonifácio de Andrada e Silva, que se
achava então em Coimbra, para onde fez expedir ordem (sem dizer para quê) que fosse José Bonifácio enviado ao Rio de Janeiro".
A Regência de Portugal não obedeceu a tal ordem; representou e fundava a sua representação
no perigo que lhe parecia dever correr a paz pública se José Bonifácio voltasse ao Brasil. Era isso uma tradição antiga, que datava de Martinho de
Mello, ministro da Marinha e de Ultramar no reinado de Dª Maria I, que a tinha calado no ânimo dos homens de Estado de Portugal. A Regência obedeceu
contudo à segunda ordem que foi expedida em palavras terminantes, e José Bonifácio chegou ao Rio de Janeiro em 1819.
Apesar de quanto pretendem afirmar certos cronistas, as aspirações separatistas de José
Bonifácio, com se vê no escritor português Latino Coelho, em seu Elogio Histórico de José Bonifácio, páginas 36/37, aparecem reveladas já nos
discursos acadêmicos do grande santista e nos derradeiros tempos da sua estada em Portugal, convencido, como sempre esteve ele, de que a emancipação
de sua terra, até então estreitamente recatada pelo egoísmo da metrópole, era uma necessidade impreterível, e para isso punha em paralelo as
condições políticas da colônia americana com as enraizadas e abusivas instituições da velha Europa, certo de que, lá, nenhuma influência teocrática
poderia empecer ou amesquinhar a civilização.
Parece, todavia, que a idéia fixa de José Bonifácio era começar o seu trabalho pela
província natal, e, desta forma, vemo-lo naquele mesmo ano, em Santos, dando início, com seu irmão Martim Francisco, à sua famosa Viagem
Mineralógica pela Província de São Paulo, em prêmio do que D. João VI agraciou-o com o título do Conselho.
Achava-se em São Paulo, quando, no dia 23 de junho de 1821, o povo e a tropa, cansados das
tentativas recolonizadoras do Governo de Portugal, depois da retirada de D. João VI do Brasil, reuniram-se em comício no largo da Câmara Municipal,
procedendo por aclamação à eleição do Governo Provisório para dirigi-los.
Exigida a presença de José Bonifácio, a ele foi confiada a indicação daqueles que deviam
compor o novo governo paulista. E então, da sacada do Paço Municipal, ele foi ditando os nomes que julgava aptos aos cargos, sendo todos aceitos
pela multidão.
Coube-lhe a vice-presidência imposta por todos, desde que não aceitava a presidência, mas,
de fato, foi ele o presidente, que, a 24 de dezembro do mesmo ano, reunia todos os membros do Governo para em nome do povo dirigir ao príncipe
regente a enérgica representação, que operou, no ânimo de D. Pedro, a resolução de ficar no Brasil (declarada no dia 9 de janeiro de 1822) e de
organizar o ministério de 16 do mesmo mês de janeiro em que as pastas do Reino e Negócios Estrangeiros foram incumbidas a ele, José Bonifácio.
José Bonifácio não assistiu ao "Fico" entretanto; nessa ocasião se achava em viagem de
Santos para o Rio de Janeiro, em deputação da Província de São Paulo, a fim de lhe reiterar o pedido de permanência já feito anteriormente por
escrito.
Diz Mello Moraes, em sua obra já referida, que José Bonifácio seguiu correndo a costa em uma
canoa de voga, até Itaguaí, onde chegou no dia 16. A princesa Dª Leopoldina, que ali se achava, na Fazenda Santa Cruz, foi quem primeiro deu a
notícia a José Bonifácio da sua nomeação de ministro, nomeação que ele não quis aceitar, mas que acabou aceitando, por insistência da mesma
princesa.
Através dessa mulher, diz o Conselheiro Drumond, confidente da princesa, que lhe confiava a
correspondência mantida com José Bonifácio, pôde ele realizar os seus ideais como sonhara, fazendo a obra da Independência brasileira, tal como foi
feita, sem fragmentação da nossa unidade territorial, a que ele chamava a "famosa peça inteiriça de arquitetura social".
A 23 de agosto de 1822, realizava-se no Palácio de São Cristóvão a famosa reunião
ministerial sob a presidência de Dª Leopoldina, ausente D. Pedro, que se achava em São Paulo, levado elos últimos acontecimentos e a conselho de
José Bonifácio.
Naquela reunião ficou resolvida a Independência do Brasil, "com o D. Pedro ou sem ele", como
diz a famosa carta da princesa ao esposo, e que foi alcançá-lo nas colinas do Ipiranga, carta essa que, junto a outra de José Bonifácio e aos
despachos das Cortes de Lisboa, gerou a exaltação do príncipe, criando o gesto separatista de 7 de setembro de 1822.
Eleito depois deputado à Assembléia Constituinte brasileira, foi José Bonifácio nomeado
membro da comissão encarregada de elaborar o respectivo projeto da Constituição, que não foi adotada em virtude dos acontecimentos que se seguiram,
e trouxeram como resultado a queda do ministério de que fazia parte, a 17 de julho de 1823, colocando-se então em oposição ao novo governo.
Outros queriam colher as palmas de tudo aquilo que ele preparara e fizera. De José Bonifácio
partiu a primeira voz abolicionista, denunciando a crueldade da escravidão e os males que ela fatalmente causaria à formação da nossa raça, à nossa
sociedade e à nossa própria evolução, registrados na sua famosa Representação sobre a escravatura, apresentada à Assembléia Constituinte do
Império do Brasil em 1823 e impressa em Paris, em 1825.
A 12 de novembro de 1823, com a dissolução da Assembléia Constituinte, foram José Bonifácio
e seus irmãos Martim Francisco e Antônio Carlos presos e deportados para a França.
Cinco anos passou na França o Patriarca, desafogando as saudades do exílio em poesias quase
todas escritas sob o pseudônimo Américo Elíseo, enquanto para sustentar a sua família se desfazia das suas coleções mineralógicas.
O Governo Imperial julgou necessário tão longo desterro, receando a sua presença capaz de
derrubar um trono, e proibindo formalmente o seu regresso à pátria, já no começo de 1828.
Somente a 23 de julho do ano seguinte, a galera Phoenix repatriava o exilado do
Luconia. Aguardava-o o imperador, com manifestações de profunda ternura, no esforço de ostentar sincero arrependimento da sua inqualificável
conduta. Mas as desilusões do Patriarca o levam a procurar o retiro onde a Abdicação o foi buscar para a tutela do novo imperador.
No País se alastrava a desordem e a revolta, vivendo o Brasil um dos períodos mais graves da
sua história. A energia do futuro regente não conseguia o restabelecimento da ordem. Exaltados e restauradores sucessivamente se agitavam, até que
aqueles, em violento esforço contra os restauradores, promovem desordens diversas, coroadas a 15 de dezembro de 1833 por uma marcha ao palácio
imperial, onde prenderam José Bonifácio, que é enviado em custódia para a Ilha de Paquetá.
Destituído da tutela do jovem soberano, foi o Patriarca da Independência processado e
julgado como conspirador, sendo absolvido.
É ali, por fim, na Ilha de Paquetá, que já lhe servira de prisão, que José Bonifácio de
Andrada e Silva, na cidade de São Domingos de Niterói, a 6 de abril de 1838, morre, aos 75 anos de idade.
Deixou editadas mais de 70 obras, de caráter científico e literário, assim como numerosos
manuscritos.
Monumento aos Andradas, na Praça da Independência,
meados do século XX
Foto reproduzida do acervo do futuro Museu dos Transportes de Santos
Títulos e cargos de José Bonifácio
Bacharel em
Filosofia e Bacharel em Direito Civil e Ciências Naturais, pela Universidade de Coimbra (1787);
Membro da Academia Real
de Ciências de Lisboa (1787);
Membro da Sociedade
Filarmônica de Paris (1791);
Membro da Sociedade de
História Natural de Paris (1791);
Membro da Sociedade dos
Amigos das Ciências Naturais de Berlim (1797);
Membro da Academia Real
das Ciências de Estocolmo (1797);
Doutor em Direito, por
carta régia de 15 de abril de 1801, com capelo oferecido pelo Rei.
Cavalheiro da Ordem de
Cristo, por carta régia de agosto de 1801;
Membro da Academia Real
das Ciências de Copenhague (1801);
Membro da Academia Real
das Ciências de Turim (1801);
Membro da Sociedade
Werneriana e Sociedade Lenneana de Londres (1802);
Membro da Sociedade de
Ciências Físicas e História Natural de Gênova (1802);
Membro da Sociedade de
Ciências Filosóficas de Filadélfia (1802);
Professor de Metalurgia
na Universidade de Coimbra (1803);
Intendente de Polícia
da Cidade do Porto (1806);
Desembargador da
Relação e Casa do Porto (1806);
Coronel do Batalhão dos
Estudantes de Coimbra, contra as forças de Napoleão na invasão de Portugal (1808);
Superintendente do Rio
Mondego e Obras Públicas de Coimbra (1807);
Fundador da Sociedade
Marítima de Lisboa (1807);
Secretário Perpétuo da
Academia Real de Ciências de Lisboa (1812);
Membro da Sociedade
Geológica de Londres (1815);
Membro da Sociedade
Werneriana de Edimburgo (1815);
Membro da Sociedade
Mineralógica de Sena (1815);
Sócio-correspondente do
Instituto de França e Academia das Ciências de Paris (1819);
Conselheiro de Estado -
Carta Régia de 1820:
Vice-presidente do
Governo Provisório da Província de São Paulo (1821);
Ministro do Estado do
Reino e Negócios Estrangeiros. Carta Régia de 16 de janeiro de 1822;
Ministro do Império.
decreto de D. Pedro I (1822);
Conselheiro de Estado
(1822);
Grão-Mestre do Grande
Oriente do Brasil (1822, 18231 a 1838);
Grão-Mestre do Grande
Oriente Unido do Brasil (1822 a 1831);
Vice-presidente da
Assembléia Constituinte (maio de 1823) e depois seu presidente (junho de 1823);
Deputado à Assembléia
Constituinte por São Paulo (1823);
Deputado à Assembléia
Geral pela Bahia (1824);
Tutor dos filhos
menores de D. Pedro I (6 de abril de 1831);
Membro da Academia
Imperial de Medicina do Rio de Janeiro (1832) e outros de menor importância.
Chegam quase a uma centena os historiadores, cientistas, escritores e poetas que discorreram
sobre a grande personalidade de José Bonifácio de Andrada e Silva, em várias partes do mundo, como também sobre os seus irmãos Antônio Carlos e
Martim Francisco, dentre eles - Humboldt, Pierre Larousse, Azevedo Marques, Joaquim Manuel de Macedo, Barão do Rio Branco, J. F. Sigand Teixeira de
Vasconcelos, Damasceno Vieira e muitos outros de não menos destaque.
Inúmeras são as homenagens a ele prestadas em todas as latitudes, em praças, ruas e
monumentos públicos, ou denominações de escolas, estabelecimentos profissionais, científicos etc.
Homenagem oficial cívico-religiosa ao Patriarca da Independência, realizada nas
escadarias do Palácio José Bonifácio, sede da Prefeitura Municipal de Santos,
em 8 de setembro de 1979 (dia da Padroeira de Santos, Nossa Senhora do Monte Serrat)
Foto: pelo editor de Novo Milênio
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