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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Hotel
Histórias do antigo Parque Balneário (1)

Se alguém se suicidava, tinha o bolso recheado de dinheiro...

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A foto do antigo hotel do Gonzaga ajudou o articulista Francisco de Marchi a contar mais algumas de suas histórias, na série Velhos 'flashes' no reino do café, em artigo publicado no dia 24 de novembro de 1991 no jornal santista A Tribuna:


O hotel Parque Balneário
Foto publicada com a matéria

VELHOS 'FLASHES' NO REINO DO CAFÉ - 68

Francisco de Marchi
Colaborador

É muito lembrado o último edifício do Parque Balneário Hotel, de magnífico estilo arquitetônico e riquíssimo acabamento. Um dos cartões de visita da Cidade, chegou a pertencer ao Santos Futebol Clube.

Assim, é válida a publicação da foto do antigo edifício do Parque Balneário, apanhado no início dos anos 20 (N.E.: década de 1920). Teve grande movimento, acolhendo, principalmente nas férias anuais e nos festejos carnavalescos, os barões do café e seus familiares, descidos do Planalto. Administrava-o Giovani Fracarolli. Em anúncio era citado, com orgulho, que o hotel contava com 200 quartos, dos quais 85 com sala de banho. E todos os quartos dispunham de telefone e "água à discrição".

O serviço do hotel dividia-se por 12 secções diferentes, para satisfazer todas as exigências dos hóspedes. Empregados em número de 140; o hotel ocupava área de 930 m² e a área total, somadas a do hotel e de todas suas dependências, subia a 2.044 m². Em área fronteira à Av. Ana Costa, e defronte ao edifício do hotel, seu famoso cassino. Ali ocorriam, procedentes de toda as partes do mundo, turistas endinheirados, deixando fortes somas em moedas fortes. Ao contrário de agora, em que milhares de forasteiros, vindos a Santos e procedentes da Capital e do Interior, portando míseros cruzeiros, trazem em sacolas apenas frangos e farofa para serem devorados à beira-mar...

Note-se, na foto, uma réstia da praia, ainda sem ajardinamento. Em compensação, eram os banhos de mar salutares, e, águas não poluídas. Cabinas de madeira, para uso de banhistas, ficavam dispostas em fileiras, dando a quem olhasse a faixa arenosa, impressão de se encontrarem em praias européias, objeto de muitos cartões postais.

Carolino Lopes, popular eletricista e enrolador de dínamos de automóveis, que se vangloriava de ter, em velhos tempos, como corredor do Velo Santista, efetuado um reide Santos-Rio em bicicleta, trabalhava no nosso cassino, como relações-públicas. E segredava-nos, piscando os olhos, que uma de suas funções, quando alguém se suicidava por ter ficado arruinado no jogo de roleta, era a de introduzir grossa soma de dinheiro nos bolsos do morto. "Para que ficasse patente que o tresloucado ato não fora provocado pelo azar do jogo", concluía.

Bom e imaginoso Carolino! Você nos fazia correr frio na espinha, incentivando-nos a verberar o vício do jogo, tão brilhantemente combatido pelo nosso grande Rui. Mal poderíamos imaginar que, muitas décadas depois, nossos dirigentes transformariam o País em reino de jogatina, vendendo a milhões de criaturas a ilusão de fácil enriquecimento, através de jogos eufemisticamente chamados de apostas...

Mais uma real regalia para os hóspedes do velho parque. A de, confortavelmente instalados, apreciarem os corsos carnavalescos realizados na orla da praia, com o desfile de foliões em automóveis abertos e de capota arriada. Até o advento do craque mundial de 1929, os carnavais de Santos, depois dos do Rio, passavam por serem os melhores do País. Os de Salvador, Recife e de outras cidades não resistiam a confrontos conosco.


Em 1948, o jardim na entrada do hotel Parque Balneário pela Avenida Vicente de Carvalho
Foto: acervo de João Gomes Gimenez, publicada em 7 de abril de 2006
na seção Imagem do Passado do jornal santista A Tribuna

Em 28 de maio de 2004, o Diário Oficial de Santos publicou, na seção Memória Santista:


Hotel Parque Balneário, na década de 1950
Foto: Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS), publicada com a matéria

Parque Balneário

Adquirido em 1912 pelos irmãos Fraccaroli, o primitivo Parque Balneário era, até então, uma construção pequena. Depois das reformas iniciadas em 1922, passou a ocupar um quarteirão inteiro, limitado pelas avenidas da praia e Ana Costa e ruas Fernão Dias e Carlos Afonseca.

O material empregado em sua construção foi quase todo importado. O mármore veio da Itália e de Portugal. As peças sanitárias e as pastilhas do chão eram inglesas. Os cristais dos lustres e das taças tinham origem tcheca. A mobília e os talheres, todos de prata, provinham da França.

Em sua fase áurea, o Parque Balneário contava com cinco salões: o Dourado, de banquetes; o Kursall, de jogos; o restaurante; o salão de leitura e o carteado, além de uma boate e um jardim que tinha pista de dança e fonte luminosa. Chegou a manter salão de beleza, padaria e frigorífico.

Com a proibição do jogo e devido às crises que assolaram o país, o Parque Balneário entrou em decadência na década de 60 e, em 1966, foi vendido ao Santos Futebol Clube. Problemas com o pagamento do imóvel fizeram com que os Fraccaroli retomassem o hotel, que foi vendido novamente no ano de 1972, desta vez para um grupo financeiro que, em 1976, iniciou a sua demolição. (N. E.: na verdade, a demolição começou às 14 horas do dia 15 de junho de 1973).


O hotel, em sua fase áurea, com os prédios da ampliação e seu jardim fronteiro
Foto: coleção Laire Giraud

Vale recordar também que era comum a fundação de entidades e firmas durante eventos organizados nesse hotel. Um exemplo é o Tênis Clube de Santos, que nasceu numa dessas ocasiões. Entre as paredes desse antigo hotel, foram tomadas decisões que afetaram diretamente a população. Como aconteceu durante o banquete oferecido a Washington Luís, que voltava de uma viagem à Europa. Ele aproveitou a oportunidade e lançou sua candidatura à presidência da República. Acabou eleito em 1926.