Foram momentos de delírio coletivo aqueles que assinalaram a visita do supremo
magistrado da nação portuguesa a Santos. O povo acorreu em massa às ruas e particularmente em frente à Prefeitura e no Gonzaga, para aclamar o
representante da gente lusitana, nossa irmã. Todos queriam vê-lo, todos aclamavam seu nome, todos procuravam assinalar sua presença, com simpatia
àquele que nos trouxe o abraço amigo do povo português - No clichê, um aspecto da multidão que se aglomerou na Avenida Ana Costa, em frente ao
Parque Balneário. Ao centro, em pormenor, o momento em que, nas escadarias do Paço Municipal, o prefeito da cidade apresentava suas boas-vindas ao
visitante
Imagem e legenda: reprodução parcial da capa de A Tribuna de 18/6/1957
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)
Recebido apoteoticamente em Santos o presidente de Portugal
Imponentes as manifestações levadas a efeito na Prefeitura e na Câmara Municipal
- Oferecido um almoço de 800 talheres no Parque Balneário Hotel - Brilhante cerimônia no Centro Português - Carinhosas demonstrações de apreço no
Cubatão e em São Vicente - Condecorados pelo governo luso instituições e cidadãos portugueses e brasileiros - Os discursos pronunciados
Como se esperava, a recepção ao general Francisco Higino
Craveiro Lopes em Santos foi uma imponente manifestação de amizade luso-brasileira. À passagem pelo município de Cubatão, onde as autoridades e povo
daquela localidade, com a brilhante colaboração do cel. Adolpho Roca Diegues, superintendente da Refinaria de Petróleo de Cubatão, se reuniram para
homenageá-lo, recebeu o chefe de Estado português as primeiras demonstrações de entusiasmo do povo da Baixada Santista.
Daí em diante, de onde a onde se viam aglomerações de pessoas que acorriam às margens
da Via Anchieta para aclamar o supremo magistrado da nação portuguesa. À entrada da cidade, desde o início da Rua Visconde de São Leopoldo, a
população se aglomerava mais densamente, para atingir indescritível multidão na Praça Mauá e ruas adjacentes.
Inesperadamente, a cidade, que durante a semana anterior oferecia ornamentação apenas
discreta, apresentou-se, ontem, festivamente engalanada. Por quase todo o trajeto do cortejo presidencial se viam bandeiras, galhardetes, festões
etc., com a predominância das cores das bandeiras portuguesa e brasileira.
A chegada à Praça Mauá foi um verdadeiro delírio. Dezenas de milhares de pessoas ali
se encontravam, aclamando com indescritível entusiasmo o presidente da República de Portugal. Milhares de foguetes atroavam os ares. De todos os
prédios caíam nuvens de recortes de papéis coloridos, que eram também largados de uma esquadrilha de aviões da Base Aérea da Bocaina.
Durante vários minutos só se ouvia o estrondear dos fogos e as aclamações populares,
que só serenaram quando a banda de música do 6º B.C.F.P. executou os hinos nacional e português, ouvidos então em impressionante e respeitoso
silêncio, para, após os últimos acordes, se reiniciarem as aclamações.
No percurso das avenidas da praia de Santos, rumo a S. Vicente, cordões humanos se
alongavam, apesar da extensão do trajeto, aclamando o presidente da República de Portugal. À direita, o general Craveiro Lopes acena, em
agradecimento, para o povo que o aclama
Fotos e legenda: reprodução de A Tribuna de 18/6/1957
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)
Solenidade na Prefeitura
- Quando o presidente da República de Portugal chegou às escadarias do Paço Municipal, foi ali aguardado pelos srs. prefeito municipal e senhora;
presidente da Câmara e senhora; comandante da guarnição militar e senhora; capitão dos portos; comandante da Base Aérea e senhora; os quais,
juntamente com o cônsul de Portugal e senhora consulesa, que já o haviam ido esperar na raiz da serra, com os srs. Átila Cazal, Osvaldo Paulino e
respectivas esposas, e o sr. Cordovil Lopes, penetraram no Paço Municipal, em cujo saguão e escadaria faziam alas de honra oficiais do 6º Batalhão
da Força Pública, por determinação do respectivo comandante, cel. Luiz de Sico.
No primeiro topo da escadaria interior do Paço Municipal, o sr. general Francisco
Higino Craveiro Lopes descerrou uma placa comemorativa de sua visita, com os seguintes dizeres: "Sua excia. o senhor
general Francisco Higino Craveiro Lopes, presidente da República de Portugal, visitou esta casa do povo, no dia 17 de junho de 1957".
No Paço Municipal, onde se encontravam as altas autoridades civis, militares e
eclesiásticas e pessoas gradas, especialmente convidadas, o sr. Sílvio Fernandes Lopes, prefeito municipal, entregou ao ilustre visitante a chave da
cidade, como dissemos uma artística jóia confeccionada pelo hábil ourives-joalheiro Milton Teixeira dos Santos, nas oficinas da Ourivesaria
Portuguesa.
O sr. Osvaldo Paulino, presidente da Sociedade dos Amigos da Cidade, entregou ao sr.
general Craveiro Lopes um estojo contendo numerosas moedas nacionais e estrangeiras, muitas das quais cunhadas no ano de 1894, coincidindo com o do
nascimento do presidente português, oferta da Sociedade dos Amigos da Cidade de Santos e do Museu Santista.
A exma. sra. d. Arlete Teles Lopes, esposa do prefeito da cidade, ofereceu caixas com
orquídeas às exmas. senhoras d. Berta Craveiro Lopes, esposa do presidente da República de Portugal; d. Amélia Pita Cunha, esposa do ministro dos
Estrangeiros de Portugal; e às esposas do deputado à Assembléia Legislativa de Lisboa, sr. Mário de Figueiredo, e do general Costa Macedo,
comandante das forças aéreas de Portugal.
Finda esta cerimônia, o general Francisco Higino Craveiro Lopes foi até a sacada do
Paço Municipal, onde acenou para o povo, agradecendo as manifestações que lhe estavam sendo feitas, e as quais atingiram o máximo nesse momento.
No salão nobre da Prefeitura, o general Craveiro Lopes, após receber a chave da
cidade, das mãos do prefeito Sílvio Lopes, exibe-a para que seja fotografada
Foto e legenda: reprodução de A Tribuna de 18/6/1957
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)
Entrega do título de Cidadão Santista
- Logo após, o sr. general Craveiro Lopes e sua comitiva dirigiram-se para a sala de sessões da Câmara Municipal, onde o sr. Remo Petrarchi,
presidente da edilidade, lhe fez a entrega de um pergaminho, assinado por todos os 31 vereadores, conferindo ao ilustre visitante o título de
Cidadão Santista, conseqüente de resolução de plenário aprovada por aclamação.
O sr. Remo Petrarchi, ao proceder à entrega do documento, pronunciou palavras em que
revelou o regozijo da Câmara de Santos por ter a oportunidade de receber o chefe da Nação portuguesa, e em que afirmava o espírito eminentemente
luso-brasileiro que irmanava portugueses e brasileiros nesta cidade.
O sr. general Craveiro Lopes, ao receber esse honroso título, disse do quanto o
desvanecia a honra que lhe concediam os edis santistas, e de quanto o penhorava a brilhante recepção que o povo desta terra lhe tributava. Nas
aclamações dos santistas, sem distinção, ele via o quanto era vivo aqui o sentimento de afeto por seu país, referindo-se à grandeza de Santos, à
importância do seu porto, na economia do Brasil, por onde se escoava a maior riqueza nacional.
Declarou que ao chegar ao alto da serra, deparou-se-lhe o quadro impressionante da
baía de S. Vicente, e nesse momento ele viu balouçando, ao impulso das vagas, as caravelas de Martim Afonso, que haviam lançado os primeiros marcos
da civilização e cultura, que o povo brasileiro ergueu tão alto. Depois, veio-lhe à lembrança Braz Cubas que nesta outra parte da ilha lançara o
fulcro desta grande cidade, fundada sob a invocação do mais belo sentimento cristão, a caridade, com a instituição do primeiro hospital das
Américas. Concluiu dizendo que levava no coração uma lembrança inesquecível dos momentos que estava vivendo em Santos.
É o seguinte o teor do documento que concede o título de Cidadão Santista ao gal.
Craveiro Lopes:
"Excelentíssimo senhor general Francisco Higino Craveiro
Lopes, digníssimo presidente da República Portuguesa.
"Os que este subscrevem, vereadores à Câmara Municipal de Santos, saúdam v. excia., na
grata oportunidade da honrosa visita que faz a esta cidade.
"Santos, onde a comunhão entre brasileiros e portugueses é o retrato vivo dos
estreitos laços que unem os dois inseparáveis povos; cidade fundada pelo fidalgo português Braz Cubas, que nela instalou o primeiro Hospital da
Misericórdia em terras brasileiras - Casa de Deus para os homens, porta aberta ao mar -, comuna que recebe, para o seu contínuo desenvolvimento, a
valiosa contribuição da operosa Colônia Portuguesa aqui radicada, vem testemunhar, pelos seus lídimos representantes, ao supremo mandatário da
gloriosa Nação lusa, a sincera e profunda admiração que nutre pela grande Pátria do imortal Camões.
"Santos, 17 de junho de 1957 - Remo Petrarchi, presidente."
(seguem-se as assinaturas de 30 vereadores).
Na Câmara Municipal, o presidente da República portuguesa agradece a homenagem que a
edilidade acabava de lhe prestar, constante da entrega de um título de Cidadão Santista
Foto e legenda: reprodução de A Tribuna de 18/6/1957
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)
Rumo ao Parque Balneário - Deixando o Paço Municipal, o presidente Craveiro
Lopes seguiu rumo ao Parque Balneário. Por todo o trajeto, através do centro comercial, pela Praça Rui Barbosa, ruas João Pessoa, Riachuelo, S.
Francisco, Senador Feijó etc., repetiu-se o mesmo espetáculo impressionante da chegada. De todos os prédios eram lançados em profusão recortes de
papel, confetes, serpentinas, dando ao ambiente um aspecto surpreendente, enquanto a multidão, que enchia todos os passeios, batia palmas e dava
vivas ao visitante, ao Brasil e a Portugal.
A parte mais expressiva, entretanto, teve lugar ao longo da Avenida Ana Costa, onde se
achavam alinhados cerca de 8 mil alunos de estabelecimentos secundários de ensino e dos grupos escolares estaduais, agitando bandeirinhas
brasileiras e portuguesas, dando uma nota diferente e viva de calor e de carinho, que impressionou principalmente as senhoras da comitiva
presidencial.
Ao passo que o comportamento popular no centro da cidade e na Praça Mauá foi de uma
correção impecável, não se registrando nenhum inconveniente, o mesmo já não se deu na Avenida Ana Costa, e esse foi o único ponto fraco do
policiamento. Logo que passaram os primeiros carros, os colégios começaram a debandar, o trânsito das ruas de acesso começou a invadir a pista,
tumultuando-se o tráfego de maneira enervante, detendo-se por quase uma hora a maior parte dos carros da comitiva.
Revista militar - À chegada do carro presidencial à Praça da Independência, o
comandante da guarnição militar tomou lugar no carro do presidente, que avançou, enquanto o chefe do Estado visitante passava em revista o
contingente misto militar formado ao longo de trechos das avenidas Presidente Wilson e Vicente de Carvalho, formado por tropas do 1º Agrupamento de
Artilharia de Costa e da Base Aérea de Santos.
Desde o Paço Municipal até o Gonzaga, o carro do presidente de Portugal foi escoltado
por um grupo de cavalaria do 6º B.C.F.P., em uniforme de gala.
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