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Santos vibra de entusiasmo pela visita, amanhã, do chefe de Estado de Portugal, gal. Craveiro
Lopes
Festivamente engalanados vários trechos de ruas - Será o presidente da República
Portuguesa recebido no Paço Municipal com as honras da pragmática - No Parque, um banquete de 800 talheres - Entrega de artística chave da cidade
- Imponente revista militar no Gonzaga - Águas-marinhas para as senhoras Craveiro Lopes e Paulo Cunha - Homenagens no Cubatão e São Vicente
O dia de amanhã será um dia festivo para Santos, pois proporcionará ao seu povo a oportunidade
de manifestar a sua fidelidade à memória dos seus antepassados, através das aclamações e homenagens que deverá tributar ao general Craveiro Lopes,
presidente da República de Portugal.
Santos, fundada por um fidalgo português cujo nome tem sido recordado através de quatro séculos
como um símbolo de tenacidade, de empreendimento, de espírito cristão, porque, acima de tudo o que fez para criar aqui as bases do futuro grande
entreposto comercial do Brasil, imprimiu-lhe características predominantes, dando-lhe a mais nobre das primazias entre todas as cidades do
continente. Ele aqui fundou o primeiro hospital das Américas, o qual ainda hoje prossegue a obra de solidariedade humana que Braz Cubas iniciou, e
que definiu de forma indelével numa frase do primitivo compromisso da Irmandade da Misericórdia de Santos: "Casa de Deus para os homens, porta
aberta ao mar".
Essa honrosa divisa é ainda hoje orgulho dos santistas, que a conservam sempre viva de envolta
com as suas tradições da origem portuguesa. Não podia, portanto, a gente desta terra, nesta hora em que lhe é dada oportunidade de afirmar a sua
constante afeição às coisas do seu passado, deixar de expressar inequivocamente o seu regozijo por hospedar por algumas horas o representante
legítimo do povo irmão, de onde proveio e de cuja ascendência se orgulha.
A cidade engalanou-se para receber o presidente da República de Portugal e sua comitiva. O povo
santista acorrerá às ruas, sem dúvida alguma, para expressar a sua homenagem aos ilustres visitantes. As várias solenidades projetadas
constituirão uma afirmação positiva do espírito de fraternidade que existe e se fortalece vigorosamente neste momento, dando corpo ao que muito
apropriadamente se convencionou chamar Comunidade Luso-Brasileira.
ENTUSIÁSTICA ACOLHIDA AO PRESIDENTE
CRAVEIRO LOPES EM SÃO PAULO - Expressiva recepção teve ontem na capital do Estado o general Craveiro Lopes. A cidade, engalanada para aclamá-lo,
vibrou intensamente, com povo nas ruas e sacadas de edifícios. No clichê, à esquerda, ao alto, flagrante da chegada do presidente de Portugal ao
aeroporto, onde foi aguardado pelo governador Jânio Quadros;...
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...à direita, no mesmo plano, o Vale
do Anhangabaú, à passagem do cortejo;...
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...em baixo, o general Craveiro Lopes
cumprimentado pelas autoridades;...
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...e, à direita, no carro oficial, em
companhia do governador de São Paulo
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O programa - Como tem sido noticiado, a visita do general Francisco Higino Craveiro Lopes
obedecerá ao seguinte programa:
Partida de São Paulo às 11 horas. Chegada à Raiz da Serra, no Cubatão, às 12 horas. Pequena
parada, para receber as homenagens do povo do Cubatão e respectivas autoridades. Uma comissão da Comunidade Luso-Brasileira do vizinho município
oferecerá ao presidente de Portugal uma placa de ouro com dizeres alusivos ao ato. O coronel Adolpho Roca Dieguez, superintendente da Refinaria de
Petróleo "Presidente Bernardes", homenageará o visitante, fazendo formar ali um elevado número de auxiliares daquele importante estabelecimento
comercial.
A chegada a Santos dar-se-á às 13 horas, seguindo imediatamente para a Prefeitura. Dois
representantes da Comissão de Recepção irão esperar o chefe de Estado visitante à entrada da cidade.
À chegada à Praça Mauá, em frente às escadarias do Paço Municipal, o general Craveiro Lopes
receberá as honras militares por um batalhão misto das forças aqui sediadas, enquanto uma banda militar executará os hinos brasileiro e português.
Depois de o general Craveiro Lopes passar em revista à tropa, será introduzido no Paço Municipal, de acordo com o protocolo civil e militar, pelas
autoridades seguintes: prefeito municipal e senhora; presidente da Câmara e senhora; comandante da guarnição militar do Exército e senhora;
capitão dos portos do Estado, comandante da Base Aérea e senhora; comandante do 6º B.B.C.F.P. e sra.; cônsul de Portugal e senhora.
Ao ingressar no saguão do Paço Municipal, o general Craveiro Lopes inaugurará uma placa
comemorativa da sua visita, seguindo depois para o salão nobre, onde já deverão encontrar-se as demais autoridades e pessoas gradas especialmente
convidadas.
Feitas as apresentações protocolares, o sr. Sílvio Fernandes Lopes saudará o presidente da
República de Portugal, entregando-lhe as chaves da cidade, preciosa jóia confeccionada por um artista santista, sr. Milton dos Santos Teixeira,
nas oficinas da Ourivesaria Portuguesa. Finda essa cerimônia, o general Craveiro Lopes assomará à sacada do Paço Municipal para agradecer as
manifestações do povo ali concentrado.
Por ocasião da visita ao Paço Municipal, com a presença de todos os vereadores, o sr. Remo
Petrarchi, presidente da Câmara, entregará a s. excia. um pergaminho assinado pelos 31 edis, que lhe confere o título de "Cidadão Santista".
Almoço no Parque Balneário Hotel - Deixando o Paço Municipal, o sr. general Francisco
Higino Craveiro Lopes dirigir-se-á ao Parque Balneário Hotel, onde lhe será servido um almoço de 800 talheres, numa grande demonstração de afeto
por parte das autoridades e povo de Santos, oferecido pela Comunidade Luso-Brasileira.
O traje para essa e as demais cerimônias será, como se tem repetidamente recomendado, de
passeio, dado o caráter popular da homenagem, mas escuro, devendo as senhoras apresentar-se de chapéu.
Só haverá dois discursos.
O prefeito municipal, dr. Sílvio Fernandes Lopes, fará a saudação ao homenageado, em nome da
Comunidade Luso-Brasileira. O presidente Craveiro Lopes agradecerá.
Recomendação aos participantes do almoço - O almoço deverá ter início às 14 horas.
Conforme antecipamos, as autoridades, convidados e aderentes deverão permanecer, com
antecedência, junto dos seus lugares, aguardando a entrada, no salão, do general Craveiro Lopes. Visa essa providência evitar atropelos e
confusão, dado o elevado número de pessoas que tomarão parte no ágape.
Todos os lugares serão assinalados com os nomes das pessoas que deverão ocupá-los, e a ordem
estabelecida será rigorosamente observada, não sendo em nenhuma hipótese permitida qualquer alteração.
O presidente luso e sua comitiva ingressarão pela porta n. 1, devendo os comensais acharem-se
nessa ocasião junto de seus lugares, a fim de que não sofra o cerimonial prejuízo na sua execução.
Iniciado o almoço, não será permitido o ingresso de retardatários, por ser isso anti-protocolar.
As autoridades, convidados e aderentes ingressarão pela porta n. 2, fronteira à escadaria da "terrasse",
e os representantes da imprensa, do rádio e televisão, pela porta n. 3, devendo ser apresentados os convites aos membros da comissão organizadora
encarregados da fiscalização, à entrada.
A mesa principal terá a forma de U. No espaço central, fronteiro, à cabeceira, serão colocadas
três mesas destinadas, respectivamente, uma para os membros do corpo consular e senhoras, uma para os vereadores e senhoras e a terceira para
autoridades e outros convidados.
Os representantes da imprensa, da televisão e rádio, terão mesas próprias, que serão assinaladas
por meio de cartões indicativos.
Visita a S. Vicente - Terminado o almoço, o presidente da República de Portugal irá até
S. Vicente, para visitar o monumento aos descobridores e o marco-padrão das descobertas, estando-lhe preparada nessa ocasião uma expressiva
manifestação de apreço por parte das autoridades e da Comunidade Luso-Brasileira da vizinha cidade.
Cerimônia no Centro Português - De regresso a Santos, o general Craveiro Lopes irá até o
Centro Português, à Rua Amador Bueno, onde se realizará a cerimônia da apresentação aos dirigentes de todas as instituições brasileiras,
portuguesas e luso-brasileiras.
Falarão nessa ocasião, saudando o ilustre visitante, em nome dos portugueses, o presidente do
Centro, sr. Domingos Cândido da Silveira, e em nome dos brasileiros, o dr. Cleóbulo Amazonas Duarte. Não sendo possível franquear o acesso ao
Salão Camoniano, aos associados do Centro Português, devido a ser grande o número de representações que nele deverão se encontrar, os mesmos
poderão ouvir, no Salão Teatro, a irradiação que vai ser feita de toda a cerimônia. À entrada do presidente, as crianças da Escola Portuguesa, que
ficarão na sala da Biblioteca, cantarão os hinos nacional e português.
No Centro Português serão oferecidas às senhoras Craveiro Lopes e Paulo Cunha duas valiosas
águas-marinhas, oferta da Comunidade Luso-Brasileira.
Feriado municipal - O dia de amanhã será feriado municipal, a partir das 12 horas. Não
funcionarão, portanto, depois dessa hora, as repartições municipais. De conformidade com recomendações já feitas, o comércio varejista deverá
fechar suas portas, para que seus auxiliares possam assistir à passagem do cortejo presidencial ou se concentrem na Praça Mauá e no Gonzaga, a fim
de colaborar nas homenagens a prestar ao chefe de Estado português.
Formatura escolar na Avenida Ana Costa - Durante a quase totalidade do percurso da
Avenida Ana Costa, os carros em que viajarão o presidente Craveiro Lopes e sua comitiva passarão entre alas de alunos das escolas primárias e dos
estabelecimentos secundários de ensino, os quais agitarão bandeirinhas portuguesas e brasileiras.
Cerca de 8 mil crianças participarão desta tocante homenagem, que foi organizada e
supervisionada pelo prof. Oscar da Silva Musa, com a valiosa colaboração dos diretores dos estabelecimentos de ensino secundário e do delegado
estadual do ensino.
Revista às tropas no Gonzaga - Ao chegar à Praça da Independência, somente avançará o
carro do presidente da República de Portugal, que levará a seu lado o comandante da guarnição militar, para passar em revista as forças militares
do 1º Grupamento de Artilharia de Costa e da Base Aérea de Santos, as quais formarão ao longo das avenidas Vicente de Carvalho e Presidente
Wilson, entre os canais 2 e 3.
Os demais carros contornarão as ruas Galeão Carvalhal e Carlos Afonseca, por onde ganharão a
Avenida Vicente de Carvalho, para penetrar nos jardins do Parque Balneário logo após a passagem do carro presidencial.
A comitiva presidencial - A comitiva que acompanha o general Francisco Higino Craveiro
Lopes e sua exma. esposa, sra. d. Berta Craveiro Lopes, está assim constituída: prof. dr. Paulo Arsenio Veríssimo da Cunha, ministro dos
Estrangeiros de Portugal, e sua exma. esposa, sra. Maria Amélia Pita Cunha; dr. Mário de Figueiredo, deputado à Assembléia Legislativa e exma.
senhora; dr. Caldeira Queiroz, diretor dos Negócios Políticos do Ministério dos Estrangeiros; general Costa Macedo, chefe do E. M. das Forças
Aéreas, e exma. senhora; comodoro Quintanilha Mendonça Dias, comandante da flotilha de contratorpedeiros; dr. Pereira Coutinho, secretário geral
da Presidência da República; cel. Bento França, chefe da Casa Militar da Presidência da República; cel. Mário Cunha, comandante da polícia; dr.
Rui Eduardo Braz mimoso, chefe do gabinete do ministro dos Estrangeiros; capitão Craveiro Lopes, ajudante de campo e filho do presidente; capitão
Pimentel, ajudante de campo do presidente; 1º-tenente Santos Prado, oficial às ordens do presidente; dr. Francisco Garcia, secretário do Ministro
dos Estrangeiros; dr. Ricardo Horta, médico do presidente; dr. António de Faria, embaixador de Portugal; Herculano Rebordão, adido de imprensa à
embaixada de Portugal. Na sua visita a Santos, deverá ser acompanhado por oficiais brasileiros, autoridades do Rio e de São Paulo etc.
O percurso do cortejo presidencial - Será o seguinte o percurso a seguir pelo cortejo
presidencial em Santos: Via Anchieta, Rua Visconde de São Leopoldo, Rua Visconde do Embaré, Praça dos Andradas, Rua S. Francisco, Rua D. Pedro II,
Praça Mauá, que será contornada no sentido da "mão" do trânsito; Rua General Câmara, Praça Rui Barbosa, R. João Pessoa, Rua Riachuelo, Rua São
Francisco, Rua Senador Feijó, Rua Rangel Pestana, Avenida Ana Costa, até o Gonzaga.
Ida para São Vicente, pela Avenida Presidente Wilson. Volta de São Vicente pela mesma avenida,
até a Avenida Bernardino de Campos, pela qual seguirá, passando pelos jardins do hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência; Avenida Cláudio
José da Costa, passando em frente à Santa Casa; túnel, Rua S. Francisco, Praça José Bonifácio, Rua Amador Bueno até o Centro Português. Regresso a
São Paulo pela Rua Amador Bueno, Praça dos Andradas, Rua S. Leopoldo, até a Via Anchieta.
O prof. Paulo Cunha, ministro dos
Estrangeiros de Portugal, e exma. esposa, que fazem parte da comitiva do presidente Craveiro Lopes, que amanhã nos visita
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Biografia do ministro dos Estrangeiros de Portugal - O professor Paulo Arsenio Veríssimo
da Cunha nasceu em Lisboa em setembro de 1908. Licenciado em Direito em 1930, doutorou-se em Ciências Histórico-Jurídicas na Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa, e tomou por concurso o lugar de professor extraordinário de Ciências Jurídicas na mesma faculdade, em 1935.
Professor catedrático de Ciências Jurídicas em 1938. Regeu as cadeiras de Processo Civil e
Comercial, Noções Fundamentais de Direito Civil, Direito das Obrigações, Direito da Família, Direito das Sucessões, Direitos Reais, Introdução ao
Estudo do Direito e Processo Penal, além de diversos cursos de especialização no Curso Complementar de Ciências Jurídicas (sobre Ações Executivas,
Garantia nas Obrigações, Sucessão Testamentária, Sucessão Necessária etc.).
É titular da cadeira de Teoria Geral de Direito Civil. Doutor "honoris causa" pela Universidade
d S. Paulo, Brasil (1954).
Procurador à Câmara Corporativa (Seção de Justiça) desde 1942. Vice-presidente da mesma amara
desde 1946. Vice-reitor da Universidade Clássica de Lisboa, desde 1947. Nesta última qualidade, representou Portugal, em 1949, na reunião do
Conselho Superior de Investigações Científicas em Madrid. Ministro dos Negócios Estrangeiros desde 1950.
Desempenhou diversas comissões no Serviço Público e, entre elas, fez parte repetidas vezes dos
júris de concursos para juiz de direito. Exerceu a advocacia durante largos anos.
Presidente da delegação portuguesa à Conferência de Genebra de 1947, sobre Direito Aéreo.
Presidente da delegação portuguesa à Assembléia da I.C.A.O., em Genebra, em 1948. Membro do Comitê Jurídico da I.C.A.O. Representou o governo
português nas negociações da Convenção Internacional relativa aos Direitos Reais sobre Aeronaves (1948). Em setembro de 1948 organizou a reunião
de Lisboa do Comitê Jurídico da I.C.A.O., tendo sido chefe da delegação portuguesa.
Representou o Instituto de Alta Cultura no Congresso Internacional de Direito Privado (Roma,
1950). Representou o governo português na sessão do Conselho do Atlântico em Nova York (setembro de 1950). Representou o governo português nas
comemorações do centenário de S. João de Deus em Granada (outubro de 1950); nas sessões do Conselho do Atlântico em Bruxelas (dezembro de 1950),
em Ottawa (setembro de 1951).
Como embaixador extraordinário foi a Londres em fevereiro de 1952 representar o chefe do Estado
nos funerais do rei Jorge VI da Grã-Bretanha. Presidente da Comissão Organizadora da reunião de Lisboa do Conselho do Atlântico Norte em fevereiro
de 1952 e representou o governo português na mesma reunião. Representou o governo português nas sessões do Conselho do Atlântico em Paris
(dezembro de 1952, abril e dezembro de 1953, abril, outubro e dezembro de 1954, e em várias outras que se seguiram até agora). Acompanhou o chefe
de Estado na sua viagem oficial à Espanha em maio de 1953. Embaixador extraordinário nas cerimônias da coroação da rainha Isabel II (Londres,
junho de 1953). Visitou oficialmente o Brasil como ministro dos Estrangeiros em setembro de 1954. Representou Portugal nas sessões das Nações
Unidas por ocasião da admissão de Portugal nesse organismo internacional. Visitou oficialmente os Estados Unidos, onde conferenciou com o sr.
Foster Dulles, sobre problemas internacionais, tendo assinado um comunicado comum em que a América do Norte testemunhava sua solidariedade a
Portugal em alguns desses problemas.
Autor de diversos livros e opúsculos sobre assuntos jurídicos, volumes de lições universitárias
e artigos publicados em revista de Direito. Faz parte do conselho de redação da revista O Direito. Membro de diversas agremiações
científicas. Presidente de honra do Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro.
Grã-cruz da Ordem Militar de Cristo; grã-cruz das ordens de Carlos III e de Isabel a Católica,
da Espanha; de Leopoldo I, da Bélgica; da Estrela Polar, da Suécia; Soberana e Militar de Malta; de Céspedes, de Cuba; Al Merito, do Chile; Al
Merito, da Argentina; de Pio IX, da Santa Sé; do Cruzeiro do Sul, do Brasil; da Coroa de Carvalho, de Luxemburgo.
Entrega de uma coleção de moedas ao presidente Craveiro Lopes - Durante a permanência do
general Craveiro Lopes na Prefeitura, o dr. Osvaldo Paulino, presidente da Sociedade dos Amigos da Cidade, entregará, em nome dessa sociedade e do
Museu Santista, uma rica coleção de moedas de vários países, do ano de 1894, ano em que nasceu o presidente da República de Portugal, as quais se
encontram acondicionadas em artístico estojo, reproduzindo um escudo das armas portuguesas, habilmente traçado.
Exposição de moedas portuguesas - Amanhã, na oportunidade da visita do general Craveiro
Lopes, serão expostas no Parque Balneário Hotel três vitrinas com moedas portuguesas, inclusive medalhas cunhadas no Brasil em homenagem ao
ilustre presidente da República de Portugal.
O Paço Municipal foi objeto de
ornamentação especial para a recepção do general Craveiro Lopes. Em primeiro plano, o arco colocado na praça
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Biografia do gal. Craveiro Lopes
Sumariamente esboçada, eis uma súmula do que tem sido a vida do presidente Craveiro Lopes, que
em sua visita ao Brasil será amanhã recebido em Santos:
Filho, neto e bisneto de generais do Exército Português, nasceu Francisco Higino Craveiro Lopes
a 12 de abril de 1894, em Lisboa, contando hoje, pois, 63 anos de idade. Seu pai era o general João Carlos Craveiro Lopes, grande amigo do
marechal Carmona, e que foi governador geral do Estado da Índia. Seu avô era o general Francisco Craveiro Lopes, que foi dos primeiros comandantes
da Divisão de Lisboa. Seu bisavô, Francisco Xavier Lopes, era também general e igualmente ilustre.
Descendendo assim de uma família de militares, não era de admirar que desde cedo o atual
presidente de Portugal manifestasse vocação para a vida de soldado. Cursou o Colégio Militar e, ao concluir seus estudos, alistou-se como
voluntário no Regimento de Cavalaria n. 2. Tinha, então, 17 anos.
Posteriormente, freqüentou o curso de Cavalaria da Escola de Guerra e em 1915 conseguiu ser
promovido a alferes. Seu batismo de fogo se deu na expedição militar a Moçambique, comandada pelo general Ferreira Gil e pelo coronel Mousinho
Mendes. Lutou durante pouco mais de um ano, tendo sido elogiado, após o combate de Riwambo, "pela maneira brilhante e destemida bravura como se
evidenciou em todas as fases da luta".
Promovido a tenente, foi novamente elogiado, por ter em Newala "mostrado grande valor militar e
coragem, fazendo fogo com uma metralhadora de Fortim, serviço que não lhe competia, expondo-se e arriscando, por essa forma, a vida, porque o
inimigo não poupava a posição".
Em 1917 freqüentou o curso de Piloto Militar na famosa Escola de Aviação de Chartres (França),
ingressando logo após na Aeronáutica Militar Francesa. Em 1922 era promovido a capitão e em 1923 acrescentou às condecorações que já possuía a
mais alta distinção portuguesa: a Ordem Militar da Torre-e-Espada do Valor, Lealdade e Mérito. Tinha, então, 29 anos.
Até 1929 serviu como oficial-piloto em diversas unidades de Aeronáutica e na Escola Militar de
Aviação. Nesse ano, no entanto, seguiu para a Índia, como ajudante-de-campo de seu pai, o general João Carlos Craveiro Lopes, então
governador-geral do Estado da Índia. Na Ásia permaneceu 9 anos, tendo ali sido promovido a major, e ocupado importantes postos, entre os quais o
de chefe da Repartição de Gabinete do Governo Geral, o de governador do Distrito de Damão e, finalmente, o de encarregado do Governo-Geral do
Estado da Índia.
Em 1938 regressou a Lisboa, sendo no ano seguinte promovido a tenente-coronel, para logo assumir
o comando da Base Aérea de Tancos. Em 1940, quando a Europa já estava em plena guerra, recebeu a difícil missão do Comando Geral da Aeronáutica,
tendo sido promovido a coronel em 1942. Durante os momentos difíceis por que passou Portugal, reorganizou a Força Aérea, preparando-a para
qualquer eventualidade e interveio em várias negociações no exterior, viajando à Inglaterra e aos Estados Unidos em delicadas missões diplomáticas
e militares.
Em 1943 fez o Curso de Altos Comandos e em 1944 foi nomeado comandante geral da Legião
Portuguesa. Em 1945 foi eleito, pelo círculo de Coimbra, deputado à Assembléia Nacional, cargo que acumulou com a sua função militar, e para o
qual foi reeleito em 1949. Como comandante da Legião Portuguesa, foi promovido sucessivamente aos postos de brigadeiro e de general, tendo
exercido ainda o professorado no Instituto de Altos Comandos Militares.
Com o falecimento do marechal Carmona, foi o general Craveiro Lopes proposto pela União Nacional
para substituir o saudoso presidente que desde 1926 se encontrava à frente do governo. Em 22 de julho de 1951, foi Craveiro Lopes eleito
presidente, tendo sido investido na chefia do Estado a 9 de agosto. Em 1953 fez uma visita oficial à Espanha. Em 1954 percorreu em missão oficial
as províncias ultramarinas de Angola, São Tomé e Príncipe, e em 1955 esteve em Guiné, Cabo Verde e no arquipélago da Madeira. Em 1955 recebeu, em
nome do povo português, a visita do presidente João Café Filho, do Brasil, tendo no fim do mesmo ano visitado oficialmente a Grã-Bretanha. No ano
passado esteve na província ultramarina de Moçambique, na Rodésia e na União Sul-Africana. Neste ano, antes de vir para o Brasil nesta missão
oficial, recebeu em Portugal Sua Majestade a rainha Elizabeth II da Inglaterra e o duque de Edimburgo.
O general Craveiro Lopes casou-se em 1918 com d. Berta Ribeiro Artur, filha do engenheiro
Sizenando Ribeiro Artur, que trabalhava nos caminhos de ferro de Lourenço Marques, na África, onde se realizou o casamento. Seus quatro filhos
são: João Carlos Craveiro Lopes, capitão de Cavalaria; Nuno Craveiro Lopes, arquiteto; d. Maria João Craveiro Lopes Teles Cirilo e Manuel Craveiro
Lopes, capitão-aviador.
Anúncio
da Companhia Comercial e Marítima, agentes da armadora lusa Companhia Colonial de Navegação, informando que seu navio Vera Cruz chegava ao
Rio de Janeiro ao mesmo tempo que o presidente português Craveiro Lopes
Publicado no jornal O Mundo Português,
do Rio de Janeiro, em 9 de junho de 1957, página 10
Imagem: primeira página do jornal santista
O Diário, de 16 de junho de 1957 |