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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - VISITANTES
Presidente português Craveiro Lopes (4)

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Em visita às principais cidades brasileiras com significativas comunidades portuguesas, em 1957, o presidente Craveiro Lopes, de Portugal, também esteve em Santos, onde foi festivamente recebido. No dia seguinte, o jornal santista A Tribuna publicou, em 18 de junho de 1957, uma terça-feira (exemplar no acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP - ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Foi uma verdadeira festa de confraternização luso-brasileira, de que participaram mais de 800 pessoas, o grande banquete oferecido ao general Francisco Higino Craveiro Lopes, presidente da República de Portugal, no Parque Balneário. O clichê acima nos mostra um expressivo aspecto dos salões onde se realizou o almoço
Foto e legenda: reprodução de A Tribuna de 18/6/1957
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)

Recebido apoteoticamente...

[...]

O banquete no Parque - Os dois salões do Parque Balneário foram ocupados para o grande banquete oferecido ao presidente de Portugal, ali se reunindo cerca de 800 pessoas, para honrar o chefe da Nação portuguesa.

À mesa de honra, ladeando o ilustre visitante, viam-se as altas autoridades civis, militares e eclesiásticas, da União, do Estado e do município, destacadamente os srs. Sílvio Fernandes Lopes, prefeito municipal; general Porfírio da Paz, vice-governador do Estado, representando o governador Jânio Quadros; deputado Ulisses Guimarães, presidente da Câmara Federal, representando o presidente da República; general Penha Brasil, representando o comandante do 2º Exército; d. Idílio José Soares, bispo diocesano; deputados federais Rubens Ferreira Martins e Lincoln Feliciano; deputado estadual Athié Jorge Coury, representando o presidente da Assembléia Legislativa; Remo Petrarchi, presidente da Câmara Municipal de Santos; os srs. Luís B. Ferreira, Domingos de Souza e Armando Cunha, prefeitos de S. Vicente, Guarujá e Cubatão, respectivamente; coronel Otávio Confucio, comandante da guarnição militar de Santos; major aviador Paulo Salema Garção Ribeiro, comandante da Base Aérea etc., além dos membros da comitiva presidencial, destacadamente os srs. Paulo Cunha, ministro dos Estrangeiros; dr. Mário Figueiredo, deputado; general Costa Macedo, chefe do E. M. das Forças Aéreas; dr. Pereira Coutinho, secretário geral da presidência; cel. Mário Cunha; dr. Rui Mimoso, chefe do gabinete do ministro dos Estrangeiros; cel. Bento França, chefe da casa militar da Presidência; comodoro Quintanilha Ribeiro, comandante da flotilha de contratorpedeiros, e o embaixador de Portugal no Rio, dr. Antonio Faria.

Encontravam-se também nas mesas principais o corpo consular, todos os vereadores à Câmara Municipal de Santos, presidente da Câmara Municipal de S. Vicente, e numerosas outras autoridades civis e militares.

Saudação do prefeito municipal - À sobremesa, o sr. Sílvio Fernandes Lopes, prefeito municipal, representando a Comunidade Luso-Brasileira, que ofereceu o almoço, pronunciou a seguinte saudação:

"Exmo. sr. general Craveiro Lopes: Todas as austeridades do protocolo e todo o fulgir dos salões redourados pelo esplendor das galas reduzem-se à intimidade carinhosa de festa em família quando pátria e povos como os nossos, que cantam e rezam no mesmo idioma, que sonham e aspiram os mesmos ideais, que foram marcados pelo mesmo e indelével sinal da Cruz e que norteiam seus passos para os mesmos destinos históricos, se unem para o banquete das mesmas alegrias.

"Os nossos braços não se abrem para um estadista estrangeiro. Alargam-se para enlaçar o representante do povo irmão no abraço cordial que une corações palpitando nas mesmas emoções, ungidos das mesmas tradições, pulsando nas mesmas evocações da pátria portuguesa, que aqui está ligada, confundida com a pátria brasileira nesta comovente demonstração de amizade fraterna.

"A rememoração de paisagens antigas, de nobres acontecimentos da história comum de nossos países, ressumbra como gotas de luz no âmago do espírito do nosso povo ao calor da afetividade realçada pela presença de v. excia., sr. presidente, que representa Portugal, em cujos brasões se espelham as lutas, as aspirações, o impulso civilizador do passado.

"Não mais, por certo, as caravelas com os fidalgos de Martim Afonso, a gente rude e ousada de Braz Cubas, não mais as cartas do reino para as sesmarias vicentinas, não mais os estandartes e os arcabuzes da nobreza guerreira de ânimo forte e conquistador para o Evangelho e para o Império, não mais as velas com a cruz de Cristo enfunadas aos ventos de todos os mares. Muito mudou dentro desta moldura esmaltada por agigantados feitos. Mas, a essência que deu alma e razão a este alevantado movimento histórico continua presente, sinto-o perfeitamente, neste ensejo de tão honrosa e inesquecível visita de v. excia. a Santos, cujo povo tenho a honra de representar.

"Se as relações político-sociais se modificaram pelas injunções inexoráveis do progresso humano, todavia o sentido espiritual da Lusitanidade permanece, embora sob novas formas, como alguma coisa de sereno e estável em meio à estrutura oscilante do mundo contemporâneo.

"Nos horizontes incendiados do mundo hodierno, sobre as ondas iradas dos conflitos e incompreensões, convém que a cruz redentora das pacíficas caravelas do espírito apontem os caminhos literários do espiritualismo cristão.

"Isto é Lusitanidade. Nesta terra benfazeja e boa, afagada outrora pelo carinho da Mãe-Pátria, embebida das lágrimas, suor e sangue dos que a fizeram grande e acolhedora, se fraternizam hoje, em torno a esta mesa, como se confraternizaram há tanto tempo, nos campos, na indústria e no burburinho das ruas, brasileiros e portugueses.

"A presença de v. excia., sr. presidente, é como uma janela que se abre e por onde a família portuguesa, aqui radicada, se debruça com amor e saudade, o olhar distante, sobre os verdes campos da pátria com perfumes de rosmaninho e deslumbramento de sóis encantados.

"A presença de v. excia. reaviva a recordação do lar natal, o amor à família que ficou, a vista dos campanários campesinos e dos castelos ameiados, da poesia, dos doces cantares portugueses. É a presença da pátria.

"É Portugal visitando o Brasil.

"É a pátria que se entrelaçou com seu sangue, seu idioma e sua fé a esta pátria que se dilata incoercivelmente na pujança do seu ímpeto nacional para a conquista de seu futuro, tão nobre como o seu passado.

"Porque são profundas as motivações que palpitam no íntimo de todas estas festas que assinalam a mais agradável e significativa visita de toda a história do Brasil, seja-me permitido erguer meu brinde, em nome do governo deste município, e de todos os santistas, ao povo irmão de Portugal que v. excia. representa como supremo mandatário".

Agradecimento do presidente da República de Portugal - Respondendo às palavras de saudação do prefeito da cidade, o sr. general Francisco Higino Craveiro Lopes falou de sua emoção pelas empolgantes provas de simpatia que à sua pátria, na sua pessoa, estavam sendo prestadas pelo povo de Santos. Disse de que o comoveu a ovação popular, que lhe foi tributada, as cativantes demonstrações recebidas na Prefeitura Municipal e na Câmara, o honroso título de cidadão de Santos, reportou-se à placa inaugurada no saguão do Paço Municipal, assinalando a sua visita, prosseguindo:

"Não tivera eu a ventura de visitar a cidade de Santos, que o meu conhecimento do Brasil ficaria seriamente incompleto. É que venho encontrar na terra fundada por Braz Cubas a expressão, a síntese, o quadro perfeito das virtudes e dos encantos brasileiros. A bondade, o carinho, a afabilidade, o sentimento afetuoso do povo brasileiro que me tem acompanhado e envolvido desde a minha chegada à Bahia, veio renovar-se aqui, nesta maravilhosa cidade, com um tal acento de entusiasmo e de afeto humano que me sinto irremediavelmente preso aos encantos santistas, como se já houvera bebido a água de vossa fonte, conhecida pelos seus prodígios em matéria de hospitalidade...

"E como se a atração irresistível desta simpatia esfuziante não bastasse para me encher a alma de contentamento, eu vim encontrar na sociedade santista uma simbiose perfeita entre a minha gente e a vossa, numa demonstração profundamente eloqüente do que pode e é na realidade viva a comunidade luso-brasileira.

"Santos é das cidades brasileiras mais evocadoras da nossa História comum. Apraz-me recordar neste momento solene o soberbo perfil da Santa Casa da Misericórdia que, através dos séculos, imprimiu no povo santista o sentimento vivo e operante da caridade cristã.

"Mas vejo também agora com os meus próprios olhos que essa História comum de que toda a cidade nos fala se tende a projetar gloriosamente no futuro, num eterno abraço dos nossos dois povos.

"Bem haja, senhor prefeito, pelo espetáculo impressionante de luso-brasilidade que me oferece e deixe-me que brinde na ilustre pessoa de vossa excelência o nobre povo santista".

- Antes de se iniciar o almoço, o general Craveiro Lopes foi até a sacada do Parque, de onde saudou as dezenas de milhares de pessoas que ali se aglomeravam para assistir à sua passagem.



Dois flagrantes do banquete no Parque - Ao alto, o prefeito municipal de Santos palestra com a senhora Berta Craveiro Lopes, e, em baixo, o presidente da República de Portugal conversa com a senhora Arlete Teles Lopes
Fotos e legenda: reprodução de A Tribuna de 18/6/1957
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)

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