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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Clubes
Associação Atlética Americana

Texto publicado no jornal santista A Tribuna, em um domingo, 15 de março de 1925 (página 4 - ortografia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução parcial da matéria original

A Americana inaugura, hoje, a sua nova praça de esportes, em Vila Belmiro - O programa da festa - Um pequeno resumo do que tem sido a carreira esportiva do grêmio fidalgo

A Associação Atlética Americana, um dos maiores sustentáculos do esporte superintendido pela entidade da Praça Rui Barbosa, comemora, hoje, o décimo aniversário de sua existência, ocorrido em 14 de julho, e, valendo-se da oportuna ocasião que se lhe oferece, leva a efeito, consoante foi anunciado, a inauguração da sua nova praça de desportos, denominada Alpheu Paim, e que se acha situada em Vila Belmiro, ao lado da do Santos F. Club.

Acontecimento dos mais jubilosos, quis a diretoria da Americana festejá-lo o mais brilhantemente possível, e, para isso, soube ela organizar um programa que reúne em si todas as probabilidades de êxito, tal qual se verificará à tarde, com a formidável assistência que há de acorrer ao elegante estádio fidalgo, para conhecer das suas comodidades e para presenciar as várias provas esportivas do programa, que são da máxima atraência.

O nobre tentame da diretoria da Associação Atlética Americana, que hoje vê totalmente coroada de êxito a sua temerosa iniciativa, é uma afirmação a mais de que os clubes de Santos praticam toda a sorte de sacrifícios pelo mais grandioso nome esportivo da cidade, que, nesta particularidade, nada fica a dever ás suas mais adiantadas congêneres.

E, entre o das suas similares, o esforço da Americana é deveras apreciável, não somente pelo sacrifício material que ele representa, ainda mais numa ocasião de premência, como a atual, como pelo valor moral que ele vem emprestar à situação de grande evidência em que se acha, presentemente, a Associação Santista de Esportes Atléticos, a entidade local que, realmente, está fadada a representar, em toda a sua pujança, o adiantado futebol da terra de Braz Cubas.

São, pois, credores da estima de todos os esportistas os esforçados diretores da Associação Atlética Americana, que, desta feita, escrevem em sua história uma das mais brilhantes páginas de que ela se compõe e é de intenso júbilo para todos nós a comemoração que vai ter lugar esta tarde, do formoso campo azul-celeste, que passará a constituir mais uma importante partícula do patrimônio futebolístico da cidade, sempre na vanguarda das boas iniciativas, pela magnífica compreensão de seus valorosos filhos e pela eficaz colaboração que sabem emprestar-lhes todos os seus hóspedes, unidos sempre pela maior grandiosidade do seu progresso, em todas as variadas modalidades da sua atividade incomparável.

Um vibrante hurrah!, portanto, à Associação Atlética Americana, e as mais efusivas felicitações ao esporte citadino, pela inesquecível efeméride de hoje.

O programa da festa - O programa estabelecido pela diretoria da Americana, para solenizar a inauguração do seu novo campo social, é o seguinte:

1º jogo - Americana-Portuguesa, segundos quadros, em disputa do troféu Pereirinha;

2º jogo - Americana-Portuguesa, primeiros quadros, para decisão do troféu Dr. Elpídio de Paiva Azevedo;

3º jogo - partida intermunicipal entre as esquadras principais do Santos F. Club e da A. A. São Bento, da 1ª divisão da Apea, e que decidirão a posse do rico troféu Dr. Guilherme Guinle.

Como se verifica pela organização do programa acima, houve uma modificação no segundo jogo, que deveria ser realizado entre a Americana e o Club Atlético Ypiranga, da capital.

Contra toda a expectativa, porém, este clube, depois de ter assumido o compromisso de tomar parte no festival, por deliberação de última hora, deixará de comparecer, alegando a impropriedade da hora escolhida para sua realização,a legação essa que não justifica, de forma alguma, a deliberação tomada em assunto de tal importância.

À vista dessa resolução, a diretoria da A. A. Americana, em boa hora, apelou para o reconhecido critério esportivo da Associação A. Portuguesa, a qual, prontamente, concordou em tomar o lugar deixado vago pela recusa daquela associação, gesto esse que não destoa do habitual procedimento da associação congênere. Aliás, a alteração feita no programa, longe de diminuir o seu valor, vem, ainda, torná-lo mais digno de atenção e interesse, visto que se vão encontrar, mais uma vez, as duas entidades amigas, que tantas vezes têm dado provas de disciplina e valor esportivo, dignos de serem tomados como exemplo.

Por especial gentileza do exmo. sr. prefeito municipal, a parte esportiva será abrilhantada pela banda de música do Corpo Municipal de Bombeiros.

Dr. Odilon Figueiredo,

 infatigável presidente da fidalga

Arthur Carbone,

vice-presidente

Fotos e legendas publicadas com a matéria

Detalhes sobre a nova praça de desportos - A nova praça de esportes está situada à Rua D. Pedro I, n. 50, em Vila Belmiro, e ocupa uma área de terreno de 130 metros por 97, sendo as seguintes as dimensões do campo: 109,60 metros de comprimento por 72,12 de largura.

A arquibancada mede cerca de 40 metros, dispondo, também, de casa para mordomo, botequins para arquibancadas e para gerais, dos vestiários, com alojamentos indispensáveis para 66 jogadores, pavilhão para a imprensa, bilheterias e outras dependências.

A área fora do gramado é macadamizada com pedra britada e saibro branco, tendo auxiliado grandemente esta parte a proverbial gentileza do exmo. sr. dr. Guilherme Guinle, que, generosamente, ofertou, para esse fim, 150 metros cúbicos de pedra britada.

Algumas notas sobre o passado esportivo da Americana - A Associação Atlética Americana foi fundada em 14 de julho de 1914, tendo sido a sua primeira diretoria composta da seguinte forma: presidente, Raymundo Marques; vice-dito, Durval Damasceno; 1º secretário, Paulo M. Carvalho; 2º dito, Oscavo de Azevedo Marques; 1º tesoureiro, Militão Mendes; 2º dito, Walter Ross; diretor esportivo, Sidney Simonsen.

Ocuparam o cargo de presidente desta associação, desde a sua fundação, os srs. Antonio Marques Neto, Olegário Lisboa, Alpheu Paim, Jorge Marques e Odilon Bezerra de Figueiredo, este que, eleito pela terceira vez, dirige, atualmente, os seus destinos, com reconhecido critério.

Nascida a idéia da construção de um campo que viesse dar maior valor ao patrimônio social, e de que foram os atuais sócios Jordão Goulart e Aristio Serra, com o concurso de Odilon Figueiredo, foi essa idéia, a princípio, recebida com certa oposição, tendo, porém, posteriormente, geral aceitação pela grande maioria dos fidalgos, que não mediram esforços para a consecução do seu desideratum.

Confiada à Companhia Santista de Habitações Econômicas a respectiva construção, o campo da Americana oferece, logo ao primeiro golpe de vista de seu visitante, a mais agradável impressão, pela sua beleza, conforto e segurança, o que vem demonstrar que a empresa a quem foi confiado o trabalho soube desempenhar-se de modo a satisfazer as exigências do esporte.

Esse empreendimento é o atestado mais eloqüente da vontade férrea dos dirigentes da Americana, que, enfrentando todos os empecilhos e contratempos, vêm, desta forma, dar ao esporte local uma praça digna do seu valor.

Muito concorreu para o belo resultado obtido pela Fidalga o valioso auxílio prestado pelo benemérito esportista sr. Alpheu Paim, um dos baluartes da Americana, presentemente presidente de suas assembléias gerais, e a quem a diretoria resolveu homenagear, dando à praça o seu nome. É esta uma homenagem assaz justa, que vem de se prestar àquele denodado esportista, que dirige também, no momento, os destinos da Ass. Santista de Esportes Atléticos.

Luís Domingos Braga, primeiro tesoureiro

César Vertulli, primeiro diretor esportivo

Fotos e legendas publicadas com a matéria

A atual diretoria - São membros da atual diretoria os srs. dr. Odilon Bezerra de Figueiredo, presidente; Arthur Carbone, vice-presidente; Antonio Pires Lopes, 1º secretário; Luís D. Braga, 1º tesoureiro; Raul Muniz, 2º dito; Cesar Vertulli, 1º diretor esportivo; Odilon de Almeida, 2º dito; diretores de sede, Aloysio Boamorte e Clineu Paim.

Um baile, à noite, na sede do alvi-celeste - Às 21 horas, na sede social do Americana, será realizado um sarau dançante, comemorando a inauguração da praça de esportes e o 10º aniversário da fundação da sociedade, que deixou de ser feita na data correspondente, em virtude dos acontecimentos que enlutaram a capital do Estado.

Para esta reunião, foram distribuídos muitos convites.

Odilon de Almeida, segundo diretor esportivo

Raul Muniz, segundo tesoureiro

Fotos e legendas publicadas com a matéria

As comissões para a festa da Americana - A diretoria da Americana organizou as seguintes comissões:

No campo:

Arquibancada - Carlos Sharp, Armando Canongia e Luís Corrêa Paes.

Porta - Luís Domingos Braga, A. Pires Lopes, Agostinho Seixas Pereira, Benjamin Alves dos Santos Júnior, Raul Muniz, Aloysio Boamorte, José Corrêa Cardoso e D. Pires.

Na sede:

Recepção - Odilon Bezerra de Figueiredo, Arthur Carbone e Clineu Paim.

Buffet - Luís D. Braga, Odilon de Almeida e Agostinho Seixas.

Porta - José de Almeida e Silva, D. Chaves Pires e Odilon de Almeida.

Salão - Aloysio Boamorte.

Comissão de atenção à embaixada de S. Paulo - Nelson Camisão, Odilon de Almeida e José Guerra de Figueiredo.

A Americana e os seus associados - A diretoria avisa os srs. associados que, para o ingresso, quer no campo, quer na sede, é bastante a apresentação do recibo n. 3, do corrente ano, aos encarregados da fiscalização respectiva.

Antonio Pires Lopes, primeiro secretário

Aloysio Boamorte, diretor da sede

Fotos e legendas publicadas com a matéria

Os vários quadros que vão jogar:

Santos - Agne, Bilu, David (capitão), Rosa, Alfredo, Renato, Omar, Camarão, Siriri, Abel, Hugo.

Reservas: Tormim, Requião, Baptista, Filhinho, Nabor e Ballio.

Portuguesa (1º quadro) - Xisto, Álvaro, Cotó, Manequinho, Quintino, Abelha (cap.), Simões, Felisberto, Brandino, Alcântara e João.

Reservas: Palheiras, Lombardi e Emílio.

2º quadro - Bartholomeu, Toneco, Fiore, Panico, Waldomiro (capitão), Mendes, Cruz II, Nino, Zico, Umberto e Costa.

Reservas: Octavio, Mathias, Nato e Moreira.

A direção esportiva da Portuguesa avisa todos os jogadores e reservas que devem estar em campo, conforme a escalação acima, para terem direito às suas entradas.

Americana (1º quadro) - Ascanio, Meira, Pitocha, Bambace, Derito, Soeiro, Martim, Chico, Gonzalez, Pires e Ouro.

2º quadro - Paco, Wandorico, Teixeira, Moraes, Leme, Flodualdo, Japonês, Motta, Dudu, Si-Si e Morgado.

Reservas: Santos Silva, Soletto, Bambace II, Tatu, Waldir e Fernando.

A direção esportiva solicita o comparecimento dos jogadores do 2º quadro às 12,30 horas em ponto.

Os juízes - No jogo preliminar servirá de juiz o sr. Virgílio Pinto de Oliveira, do Santos F. C.; nos demais, a atuação será entregue a juízes da Associação Paulista, especialmente convidados.

Santos F.C. - Um aviso aos seus associados - Os sócios do Santos F. Club terão entrada grátis no festival da A. A. Americana, mediante a apresentação do recibo do mês corrente (n. 3), cuja apresentação será indispensável, visto não estar presente, na ocasião, o cobrador do clube.

Os sócios remidos e beneméritos, que não tiverem as suas cadernetas, poderão procurá-las na sede.


Uma perspectiva das arquibancadas do estádio "Alpheu Paim", que hoje será inaugurado
Foto e legenda publicadas com a matéria

No dia seguinte, 16 de março de 1925, o mesmo jornal A Tribuna voltou ao assunto (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da matéria original

A inauguração do campo da Americana

O resultado dos jogos

Perante assistência bastante numerosa, teve lugar, ontem, a inauguração da praça de desportos "Alpheu Paim", pertencente à Associação Atlética Americana, a simpática agremiação da Santista.

A cerimônia decorreu sob o máximo brilhantismo, tanto no que respeita aos jogos da tarde, que foram isentos de qualquer mal-entendido ou incidentes, como no que se refere à assistência, que, não obstante a "torcida" a que se entregou, soube portar-se com todo o cavalheirismo.

O jogo inicial foi disputado pelos segundos quadros da Americana e da Portuguesa, tendo vencido, por 1 ponto, a representação fidalga, ponto este, o único, por sinal, obtido na fase final da luta.

Coube, portanto, à Americana o troféu "Pereirinha", instituído como homenagem ao antigo associado do grêmio alvi-celeste.

Para o jogo que se realizou, a seguir, os protagonistas foram ainda os quadros principais da Americana e de Portuguesa, este sem o concurso de Leite, ausente, e de Evangelista, que não compareceu em campo, à hora marcada.

A pugna decorreu assaz movimentada, tanto de um como de outro lado, produzindo os dois alguns ataques bem organizados, mas que, entretanto, eram sempre barrados, ou pela atenta defesa dos rubro-verdes, ou pelo incansável trabalho de Meira e de Ascanio, que foram os melhores defensores da Americana.

No primeiro tempo não se registrou a marcação de um só ponto. Após o descanso, porém, Xisto, rebatendo uma bola difícil, colocou-a defronte a Martins, e este enviou-a, incontinenti, à rede, marcando o primeiro e único ponto para as suas cores.

É claro que, daí por diante, a peleja tomou aspecto ainda mais interessante, visto que os rapazes do clube campeão tudo fizeram pela igualdade, ao menos, da situação, ao passo que os fidalgos passaram a opor-lhes todos os embaraços para que a vitória se lhes não escapasse.

Entretanto, e em resultado de um forte avanço rubro-verde, que levou à meta contrária uma pequena confusão, Nato, o ocupante do lugar de Arnaldo, marcou o ponto de empate; o único, também, das suas cores, terminando a pugna com este honroso resultado para ambos os quadros.

Para a partida principal, alinharam-se as hostes do Santos F. C. e o São Bento, cabendo ao sr. vice-prefeito em exercício, o sr. Arnaldo Ferreira de Aguiar, o pontapé inicial do jogo.

Logo no ataque, a rapaziada alvinegra marcou o primeiro ponto, em seguida à punição de um escanteio, e quando haviam decorrido, apenas, dois minutos.

Daí por diante, a iniciativa coube ainda ao Santos, que pôde vencer, novamente, a vigilância do guarda-meta alvi-celeste, marcando-se o segundo ponto da peleja.

No segundo tempo, entretanto, o São Bento passou a atacar rudemente o retângulo dos locais, verificando-se, quase de saída, a obtenção do seu primeiro tento, minutos depois repetido pelo esquerda, com lindo arremesso de extrema.

O Santos, ameaçado de perder uma vitória que já lhe parecia certa, trabalhou, então, com maior eficiência e ardor, obtendo, já ao escurecer, o ponto que lhe assegurou a conquista da taça "Dr. Guilherme Guinle", feito do seu incansável avante, Siriri.

E foi assim que, por pouco, o S. Bento não repetiu as façanhas anteriores, sobrepujando ou, quando menos, empatando com o valoroso grêmio de Vila Belmiro.

- A banda do Corpo de Bombeiros, por especial deferência do sr. vice-prefeito em exercício, abrilhantou o ato inaugural da nova praça desportiva, que deixou boa impressão no espírito do público.

- À noite, foram à sede da Americana apresentar-lhe cumprimentos os representantes da imprensa e dos clubes Portuguesa e Atlas-Flamengo.

A todos a diretoria do clube fidalgo cumulou de gentilezas, pelo que, de nossa parte, lhe somos gratos.