PARTE I - SANTOS LIBERTÁRIA! (cont.)
Jornais de Santos - 1910/1927
A 13 de abril de 1910 surgia A Fita, revista humorística, literária e ilustrada
sob a direção de Bento de Andrade e Pompílio dos Santos, mais tarde acrescidos de Laércio de Andrade, organizador do Almanaque de Santos, um
documentário social santista com diversos talentos do porte de Valentim de Moraes, Manoel Bento de Andrade, Wladimir Alfaia, Paulo Gonçalves e
Gonçalves Leite, Otacílio Gomes (o Zé Maria), poetas, Leovigildo Trindade, o poeta-humorista Guilherme Aralhe, chamado Dr. Zegue-degue.
Também participava de A Fita o desenhista (e também caricaturista) Astolfo
Correia, o escritor e poeta Otacílio Silveira, que foi um dos desenhistas do Santos Ilustrado de 1903; Augusto Schmidt, escritor e poeta com
70 livros publicados, escritor do ano em 1904 e membro da Academia Paulista de Letras; e o poeta paulistano dos holocaustos (como o identifica Chico
Martins), Joinville Barcelos, Cumba Júnior; Cumba Júnior; o historiador e pintor Benedito Calixto e o desenhista Nicanor Teixeira.
Em 1911 chega O Dia, com Nereu Rangel Pestana, Paulo Filgueiras e Eugênio ROso,
que - ao contrário de A Fita - durou pouco. E o vespertino A República, sob a direção de Rafael Henriques, que como comenta o livro
História de Santos, diziam "folha da noite". Em 1912, A Via Láctea, revista literária do poeta Fábio Montenegro, e A Notícia, de
Euclides de Andrade, o continuador de Olímpio Lima em A Tribuna, onde era o Velho Tinoco, e Antonio Stockler de Araújo, o Mono
Cônsul - apelido pelo que era conhecido por causa de sua exótica e simiesca figura, como explica Francisco Martins dos Santos.
A Notícia era de propriedade de João Salermo e João Carvalhal Filho, advogado e
político santista, que quando deputado estadual fez rígida oposição à Constituição Municipal de 1894, que terminou por ser suspensa apesar de suas
virtudes democráticas e libertárias. Décadas depois, seria destruído pela população, pelo mesmo motivo que esta pilhou o Clube Germânia, na Rua do
Rosário, atual João Pessoa, esquina com a Rua Constituição: a propaganda e o apoio às idéias de Hitler vigentes na época do conflito mundial.
Em 1913, os estrangeiros eram 39.802. Eram 44,7% da população da cidade, mais do que
em 1872, quando os portugueses eram 10% (e agora 25%, os espanhóis 9% e os italianos 3%). Em 11 de abril desse ano era inaugurado o novo Hospital de
Isolamento, quando o orçamento municipal era de quatro mil contos e o volume de exportações de onze mil toneladas. A cidade tinha 6.790 prédios,
divididos em oito distritos urbanos e nove rurais.
Em 1914, a cidade tinha 88.967 almas, com 85% da população branca, calculada em cem
mil em 1918. Nesse ano, Santos era atingida pela Gripe Espanhola em outubro, com 80 mil vítimas da doença, 10% de óbitos. O dr. Cirilo Freire e
Mariano Scarpini fundam a Gazeta do Povo (incluída em nosso segundo capítulo, que descreve os jornais da imprensa operária, embora fosse um
jornal burguês, mas que apoiava o movimento), que a entregam ao português Alberto de Carvalho e a Francisco Sá em 1924.
Em 1930, ocorreria um fato que, embora fora da época de nossa análise, merece
destaque: este jornal foi um dos três sacrificados pela fúria popular com a Revolução da Aliança Liberal vitoriosa, pois apoiava a Velha República,
tendo destruída sua redação e oficinas na Rua Frei Gaspar, próximo à Avenida São Francisco. O emérito professor Amazonas Duarte (mestre de História,
Direito e Economia, advogado e notável orador) reiniciou o jornal em 1931, mudando seu nome.
Em 1919, em 23 de janeiro, incluía-se na história da imprensa santista a revista
literária e social A Nota, fundada por Alberto de Carvalho e editada com os colaboradores de A Fita e mais Galeão Coutinho e os poetas
Henrique Montandon, Alberto Assunção, Martins Fontes, Paulo Gonçalves, Gonçalves Leite e outros.
Em A Nota foram publicados os primeiros trabalhos literários e poemas de
Francisco Martins dos Santos, o maior historiador santista. No final de seu período de existência, o jornal passaria às mãos do dr. Cirilo Freire e
Mariano Scarpini, logo desaparecendo.
Em novembro de 1919, é fundada a União dos Estivadores, a primeira entidade da
categoria, fechada pela polícia com violência. É publicada neste ano a obra de Guilherme Álvaro, A campanha sanitária de Santos, sua causa e
efeitos, em que detalha o que tinha sido um ato heróico deste e de outros apóstolos da ciência.
Em 1920, um jornal de grande expressão, o Comércio de Santos, de que fez parte
na iniciativa de sua criação aquele que seria interventor (em 1945) e irmão do prefeito eleito de Santos em 1953, Lincoln Feliciano. Além dele,
Virgílio dos Santos Magano e Cristóvão Prates da Fonseca, o dr. Nilo Costa (que era advogado da Municipalidade e não podia figurar na direção do
jornal, substituído nos primeiros tempos por Simões Coelho, com ele assumindo após) e figurando como secretário o poeta Paulo Gonçalves.
Em 1920, chegava o Jornal da Noite, de José Rodrigues Bastos Coelho e do dr.
Tennyson de Oliveira Ribeiro, Amazonas Duarte, Affonso Schmidt, nele tendo escrito diversos artigos Américo Martins dos Santos, pai do historiador
maior da cidade. E de seu filho, os primeiros, em 1921.
Nesse ano de 1921 surge a revista literária e social Flama e, em 1923, A
Praça de Santos, de Antonio de Araújo Cunha e Rafael Corrêa de Oliveira, vibrante órgão de oposição ao governo de Arthur Bernardes, contra a Lei
de Imprensa e seus arrochos e medidas de compressão. A Bolsa do Café e a Praça da Independência são as grandes inaugurações de 1922 na cidade e, em
1923, a sete de setembro, é inaugurado o Panteão dos Andradas.
Em 1922 aparecia o Correio de Santos, tendo como redator-secretário o advogado
cearense e mais tarde juiz de Direito em Santos, dr. Bruno Barbosa. O Comércio de Santos passou às mãos, por arrendamento, do dr. Daniel
Ribeiro de Moraes e Silva, filho do chefe político e ex-prefeito Belmiro Ribeiro, a quem homenageia o nome de Vila Belmiro, bairro situado em áreas
que lhe pertenciam.
Em 1924 - ano do desaparecimento de Sóter de Araújo, que fundara com Silvério Fontes e
Carlos Escobar o Centro Socialista de Santos e editara A Questão Social em 1895 - surgia A Farpa, fundado por Indaécio Alves, que teve o
futuro autor do livro A Beneficência, Jaime Franco Junot, como redator-chefe, sob o pseudônimo de Lino dos Santos. É o ano da Revolução
Paulista, de Isidoro Dias Lopes, tenentista, quando Santos foi importante ponto de apoio para a Marinha - que iria continuar na Coluna
Prestes-Miguel Costa, a partir de 1925, atravessando o Brasil.
Em 1924 também surge o novo Teatro Coliseu (o original de 1896, agora ampliado, a
maior e mais bela casa de espetáculos da cidade). No final da década de 20, o Jockey Clube, com sede no Gonzaga, na Avenida Presidente Wilson com a
Marcílio Dias, instala um cinema nos fundos. Em 1925, o candidato do recém-fundado (em 1922) PCB, frutificado da dissidência anarquista, tem pouco
mais de 1% dos votos nas eleições municipais. Começa a funcionar a Rádio Clube de Santos, uma das primeiras rádios do Brasil. Em 1926, o
proletariado santista - engajado no trabalho - é de pouco mais de seis mil pessoas.
A revista Terra Santista surgiu em 1926, dirigida por Cid Silveira e Antonio de
Freitas Guimarães - que fez uma ilustre carreira no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de censura do governo Vargas (1930-1945). Em
1927 surge a Folha de Santos, outro a ser destruído pelo povo na nossa precária Revolução Francesa, a Revolução da Aliança Liberal em 1930,
que contrariou. Foi fundado por Francisco Paíno, Perilo Prado, Molina Cintra, José da Silva Figueira e Antonio Luiz de Oliveira, todos jornalistas
de A Tribuna.
Desde 1926 até 1931, foi mordomo-geral da Santa Casa o major
Artur Alves Firmino, que teve seu nome ligado a várias instituições filantrópicas, como o Asilo de Órfãos, Asilo de Inválidos, Sociedade
Humanitária, Beneficência, além do Clube XV, Regatas Santista e Rotary. A 10 de março de 1928, um triste desastre abalava a cidade, com o
desabamento de uma parte do Monte Serrat, destruindo parte da Santa Casa, então instalada no morro. É o final de um período para a Cidade.
Bibliografia da primeira parte:
CARONE,
Edgar. A República Velha - instituições e classes sociais. São Paulo. Difusão Européia do Livro, 1972.
FERREIRA,
Maria Nazareth. A imprensa operária no Brasil - 1880/1920. Petrópolis, Vozes, 1978.
FRANCO,
Jaime. A Beneficência. Sociedade Portuguesa de Beneficência, Santos, 1951.
HONORATO,
César. O polvo e o porto. A Cia. Docas de Santos, 1888/1914. Santos, Hucitec, 1996.
LANNA,
Ana Lucia Duarte. Uma cidade na transição. Santos, 1870/1913. Santos, Hucitec/PMS, 1996.
RODRIGUES,
Olao. Cartilha da história de Santos. Prodesan, 1980, 2ª ed.
SANTOS,
Francisco Martins dos. História de Santos. Caudex, 1986, 2ª ed. |