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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - KRIKRI
(7) Tratamento e morte

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Enquanto continuava a polêmica em todos os setores da comunidade santista, causada pela oposição política de um prefeito nomeado à realização de um concurso do tipo eleição popular, continuava no Aquário Municipal o tratamento da foca, em razão dos ferimentos infligidos ao animal na época de sua captura. Notícia de 20/7/1977, no jornal Cidade de Santos:

A foca foi tratada no Aquário Municipal

Foto: Cidade de Santos, 20/7/1977

Foca perdia sangue. Foi tratada ontem

Em operação que demorou cerca de 40 minutos, a fora Krikri - reconhecida pelo prefeito municipal Antônio Manoel de Carvalho como Farofeiro - foi ontem tratada por uma equipe do Hospital Veterinário Nippon, que esteve no Aquário Municipal por solicitação do vereador Carlos Mantovani Calejon (MDB) - que constatou domingo, durante o batismo do animal, que a foca precisava de cuidados urgentes, pois sua nadadeira caudal estava bastante inflamada e soltando sangue.

Naquela oportunidade, o administrador do Aquário, Arnaldo de Oliveira, confirmou se tratar de uma foca-macho, o que já havia sido constatado na captura. Porém, como o animal fica feroz à aproximação do homem, não pôde ainda ser devidamente classificado. Ao vereador, Arnaldo só soube informar que o veterinário do município chama-se Aluísio e que possui consultório na avenida Ana Costa, sendo solicitado através do Hospital Nippon. Apesar das respostas do administrador não terem satisfeito Mantovani, somente ontem é que Krikri recebeu tratamento.

A operação - Às 11h50 de ontem, o administrador do Aquário solicitou que os visitantes deixassem livre a área próxima ao tanque onde está a foca. Os populares, então, foram assistir o tratamento do animal do lado de fora do Aquário, escalando o muro que circunda o tanque.

Às 12 horas, o administrador e mais oito homens entraram no tanque já sem água e procuraram colocar a foca numa rede. Mas o animal se debatia demais, mordendo a rede e escapando do seu interior.

Dez minutos depois da primeira tentativa, o administrador levou outra rede e diversos sacos de pano. Foi então que os nove homens conseguiram segurar Krikri, que imediatamente recebeu algumas injeções: antibiótica, antitetânica e anti-anêmica, além de tranqüilizante muscular local.

Apesar do administrador ter afirmado, há alguns dias, que no sábado havia sido passado mercúrio-cromo no ferimento da cauda e que, por isso, parecia que saía sangue do animal, este, ao se debater ontem, realmente perdia sangue pelo corte.

Durante o tratamento, os veterinários concluíram ser impossível a sutura do ferimento por estar muito aberto, preferindo deixá-lo assim para esperar pela cicatrização natural. No entanto, se dentro de dois dias o administrador do Aquário constatar que não houve melhora no ferimento de Krikri, novamente a equipe de veterinários deverá ser chamada para outra intervenção.

Também no dia 20/7, mais duas notas na seção Bastidores, sobre política:

A foca Krikri ainda sem o ferimento na cauda cicatrizado totalmente
Foto: jornal Cidade de Santos em 6/8/1977

BASTIDORES

Foca e o Cacareco - A foca Krikri (nome popular) ou Farofeiro (nome decretado) está sendo comparada ao conhecido Cacareco, rinoceronte que chegou a ser eleito vereador da Capital. É tanta intriga em torno do seu nome e comportamento que, de um lado o prefeito Antônio Manoel de Carvalho fazendo críticas à imprensa que tem ocupado espaço em suas edições para Krikri, e do outro o sempre agitado Carlos Mantovani Calejon, vereador pelo MDB, que encampou a luta pela votação popular do nome da foca e moveu céus e terras para vê-la medicada, já que ela apresentava, domingo, durante seu batismo, sinais visíveis de uma infecção.

Foca... (II) - Desabafo do prefeito Antônio Manoel de Carvalho: "Agora, a cidade está enfrentando tantos problemas graves e todo dia vocês voltam ao assunto da foca". Observação dos jornalistas políticos, que ouviram seu lamento: "Ué, as importâncias são as mesmas, se forem comparadas ás operações farofeiro, pega-cachorro etc..."

Em 22/7, mais comentários nas rodas política e policial, através das seções Bastidores e Quebrando o Sigilo, do jornal Cidade de Santos:

BASTIDORES

Carvalho e o papagaio - Depois de se envolver com focas, cachorros e até no dilúvio profetizado pelo vereador Noé de Carvalho, o prefeito Antônio Manoel de Carvalho agora vai enfrentar um papagaio. Pelo menos é o que um leitor conta, através de uma carta enviada a esta coluna ontem. "O sr. Prefeito Municipal recebeu de presente de um amigo um papagaio do qual se diziam maravilhas pelo seu repertório. Imediatamente o alcaide chamou-o de Oliva. Passados alguns dias, o burgomestre constatou que a ave emitia sons parecidos com as risadas de uma gralha Can-Can e passou a chamá-lo de Vieira", referindo-se, certamente, a João Carlos Vieira, que recentemente desfiliou-se da Arena, além de condenar a atitude do prefeito por ter dado o nome de Farofeiro à foca Krikri, do Aquário.

Homem de pavio curto - Dizendo ser um "homem de pavio curto", o prefeito Antônio Manoel de Carvalho, mostrando-se bastante agitado ("estou desde as 6 horas aqui, trancado, tratando do orçamento"), afirmava ontem que não está ligando para "as fofocas que estão fazendo de mim com a foca, com cachorro e com dilúvio. Eu não ligo para isso, pois tenho problemas mais importantes a serem tratados".

Mas, se relembrarmos alguns fatos ocorridos dias atrás, chegaremos à conclusão de que o prefeito deu suma importância aos acontecimentos que diz não ligar. Foi o alcaide quem determinou a "Operação Pega-Cachorro", provocando críticas até mesmo do vereador de seu partido, Washington Di Giovanni; foi o prefeito quem tentou frustrar centenas de crianças que participaram do concurso "Dê um nome à Foca", promovido por este jornal, quando, na audiência com jornalistas, esbravejou: "Não tem nada de concurso para foca. O nome é Farofeiro, e pronto"; finalmente, no dia em que foi publicada a profecia do vereador Noé de Carvalho, que Santos ia ser castigada por um dilúvio, o burgomestre, logo cedo, acionou os jornais, dizendo que queria "dar um pau no Noé" e acabou respondendo ao emedebista, numa demonstração de que a profecia havia lhe chamado a atenção. Como se percebe, apesar de afirmar que não liga, o prefeito Carvalho acaba sempre se envolvendo com as fofocas.

QUEBRANDO O SIGILO

Para o investigador Eurípedes Alves, encarregado da Ronder, o nome de Krikri para a foca até que ficou muito bem. Segundo ele, de qualquer forma a Ronder foi homenageada, pois o animal não ficou com o nome de Santão, mas Krikri também é apelido de um investigador lotado naquele setor, o Antonio Barbeiro Neto, também conhecido como "Sanfoneiro".

No dia 30/7, o mesmo Cidade de Santos registrava o recebimento de comunicação com o teor: "Sr. Editor-chefe: Tenho a honra de dirigir-me a V. Sa. para comunicar que este Legislativo aprovou, em sessão de 18 do fluente, propositura do vereador Dr. Mantovani Calejon, no sentido da inserção em ata de um voto de congratulações com esse conceituado Jornal, pela felicidade na escolha do nome Krikri para a foca hoje residente no Aquário Municipal, sugestão do  jovem Waldenei Gonçalves de Barros. Atenciosas Saudações. Dr. Oswaldo de Carvalho de Rosis, Presidente".

Em 6/8/1977, o jornal registrava a melhoria das condições de saúde da foca Krikri, ainda em fase de adaptação ao novo ambiente, e o início da distribuição dos plásticos colantes com o nome do animal, pelo vereador Carlos Mantovani Calejon.

O capítulo final da história começou a ser escrito em 20/10/1977, quando o jornal santista A Tribuna registrou:

Com a morte da foca, o leão marinho volta a ser a atração do poço
Foto: jornal A Tribuna, em 20/10/1977

Foca morre e o Aquário perde a grande atração

Somente hoje, após a autópsia a ser realizada no Museu de Pesca, serão apurados os reais motivos da morte da foca do Aquário Municipal, e que se constituía numa das grandes atrações para a criançada. Na manhã de ontem, logo após tomar conhecimento do ocorrido, o prefeito determinou que o corpo fosse doado à Divisão de Pesca Marítima, a fim de que seja embalsamado e mantido em exposição. Aliás, foi o próprio prefeito que denominou a foca de Farofeiro, uma vez que foi capturada na época em que ele comandava a rigorosa fiscalização contra a realização de piqueniques nos jardins das praias da Cidade, na chamada Operação Farofeiro.

Com a morte da foca, a única atração do poço do Aquário ficará sendo o leão-marinho, que já se encontrava no local há bem mais tempo que a Farofeiro.

PESQUISA A TRIBUNA - Depois de permanecer 4 meses e 8 dias no Aquário Municipal sob os cuidados médicos do dr. Aloísio F. Oliveira, sendo uma atração para todos os visitantes, a foca macho Farofeiro, assim batizada pelo prefeito Antônio Manoel de Carvalho, morreu na madrugada do dia 18, terça-feira.

Ela apareceu e foi capturada em um dos terminais marítimos existentes em Guarujá, no dia 6 de julho deste ano, por volta das 15h30, com grande ferimento que lhe causava vasta perda de sangue. Foi mantida amarrada a uma árvore até que fosse providenciado seu transporte para o Aquário Municipal, na Ponta da Praia. Depois de um rigoroso exame médico, constatou-se que o animal estava com uma forte pneumonia, tendo, portanto, logo entrado em rigoroso tratamento médico.

Apesar de a enfermidade ter sido curada após alguns dias, ela pouco se alimentava, contentando-se, apenas, com um pouco mais de 1 quilo de peixe, quando o normal seria 20 quilos por dia. Quando encontrada, em julho, Farofeiro pesava 260 quilos e quando levada à balança, após sua morte, estava com apenas 200 quilos, tendo havido, portanto, uma perda de 60 quilos em apenas 4 meses.

Para Arnaldo, zelador do Aquário Municipal, a foca estava com um tumor  na garganta, porém isso só poderá ser provado após a realização da autópsia que será efetuada hoje, na Divisão de Pesca Marítima, onde, depois de embalsamada, Farofeiro será exposta e se constituirá, evidentemente, numa das grandes atrações.

No dia seguinte, 21/10, o jornal Cidade de Santos publicou:

Empalhada, foca Krikri ficará à exposição

Morreu na madrugada de terça-feira a foca que há quatro meses tornara-se a vedete do Aquário Municipal - Krikri, cujo nome foi escolhido através do concurso popular promovido por este jornal, em julho, logo após ter sido encontrada por Mauro Gilbrau Lima, estivador, colegas seus e funcionários da Indústria Dow Química, no pier da empresa em Guarujá. O prefeito santista determinou que, após a autópsia a ser feita no Instituto de Pesca, o animal seja empalhado e colocado em visitação pública, no Museu de Pesca.

Considerada como exemplo do domínio da vontade popular sobre a imposição injusta de uma autoridade, a escolha do nome Krikri para a foca, por crianças e adultos de toda a região desde Itariri e a Capital, acabou se firmando, contra a vontade do prefeito Antonio Manoel de Carvalho, que tentou frustrar o concurso para escolha do nome batizando o animal de Farofeiro. Durante o batismo, notou-se que a foca - machucada pelas cordas durante a captura, estava piorando, sendo imediatamente providenciada a medicação.

Enquanto sua fama foi aumentando, a foca continuou apresentando problemas de adaptação no tanque do Aquário Municipal, motivados também pela doença que a vitimou e que os veterinários ainda não definiram se pneumonia ou tuberculose. Neste último caso, acredita-se na possibilidade de outros animais virem a contraí-la, já que no tanque estão o leão-marinho Macaé e as tartarugas gigantes, que não foram isolados enquanto Krikri estava sendo tratada.

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