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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - KRIKRI
(6) O nome e o batismo

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No dia 17/7/1977, no jornal Cidade de Santos, foi noticiada a escolha do nome popular da polêmica foca:

Luiz Ferreira presidiu a votação

Foto: Cidade de Santos, 17/7/1977

Foca já tem nome popular: Krikri

Krikri foi o nome popular escolhido por uma comissão para a foca recentemente doada ao Aquário Municipal, e que acabou provocando polêmica, já que o prefeito Antonio Manoel de Carvalho não concordou com a votação para escolha do nome do animal, promovida por este jornal, e a batizou, em seu Gabinete, como farofeira, ironizando a classe turística mais humilde que freqüenta as praias santistas.

Waldenei Gonçalves de Barros, que mora na rua Cunha Moreira, 197, foi o autor da sugestão escolhida por comissão de jornalistas do CIDADE DE SANTOS e que teve a presidência do sr. Luiz Alonso Ferreira, diretor do Museu do Mar, localizado à rua República do Equador, 81.

Alguns políticos, entre eles, o vereador Carlos Mantovani Calejon (MDB), que acompanharam indignados a atitude do prefeito, impondo à foca o nome de farofeira, ontem já manifestaram o desejo de mandar confeccionar plásticos colantes com o nome popular - Krikri - da foca, para distribuir na cidade. E o vereador Calejon pretende, ainda, na próxima sessão da Câmara, fazer lavrar um voto de confiança ao concurso para escolha do nome, através de eleição popular, além de manifestar a sua estranheza pela atitude do alcaide.

Concurso - A idéia do concurso popular para a escolha do nome da foca - encontrada nas proximidades do pier de atracação da Dow Química, no município do Guarujá - foi lançada em comum acordo com o dirigente do Aquário municipal, que achou, na ocasião do lançamento e antes da intromissão do burgomestre no assunto, uma idéia bastante sadia, pois, além de tudo, promoveria aquele próprio municipal.

Contudo, após a manifestação do sr. Manoel de Carvalho, dizendo que não haveria mais concurso, nem votação, e que a foca seria denominada farofeira, o dirigente do Aquário, funcionário público do município, obedientemente resolveu calar-se, evidentemente para não ser punido.

Apesar da manifestação oficial partida do Gabinete do Paço, as cartas e os telefonemas não pararam na redação do CIDADE DE SANTOS. Algumas cartas até com fundo político, como foi a que encaminhou o arenista João Carlos Vieira, que se mostrou também muito aborrecido com a interrupção injustificada do alcaide, proibindo que a campanha para a escolha do nome do animal tivesse um encaminhamento normal, popular e tranqüilo. A imprensa da Capital também manifestou sua estranheza ao tomar conhecimento do "decreto" do prefeito, nomeando a foca que fora doada ao município, e chegou a publicar matéria redacional com sabor irônico, principalmente pela dimensão que o alcaide deu a um pleito popular envolvendo, em sua maioria, crianças.

Mauro Gilbran de Lima, Antonio Santos Lima, Rogerio Mauro da Rocha, Ricardo Arias e dois trabalhadores de nomes Francisco e Edgar, além de um bagrinho de estiva só conhecido até agora pelo apelido de Tapió, que capturaram a foca - juntamente com o supervisor da Dow Química, Pedro Luiz Alves - também mostraram-se indignados com a interrupção do pleito popular. Mauro Gilbran de Lima, por exemplo, pagou caro pela captura da foca: foi mordido por uma cobra e precisou ficar alguns dias internado no Hospital Santo Amaro, em Guarujá. Mas nem o seu sofrimento foi levado em conta, pois o Prefeito foi claro dizendo: "O nome da foca é farofeira, e pronto".

Krikri (nome popular da foca) foi capturada no dia 5 passado à tarde e só à noite foi entregue ao pessoal do Aquário Municipal, sem nenhum documento oficial e até mesmo sem que o próprio alcaide soubesse. O prefeito soube da captura de Krikri na manhã seguinte à captura através do noticiário dos jornais, e o que o teria irritado foi o lançamento da eleição por este jornal.

Mais cartas e batismo - Hoje cedo, a partir das 8h30, Krikri receberá simbolicamente o batismo popular em sua nova morada, o Aquário. O vereador Mantovani acompanhará também a caravana ao próprio municipal, onde se pretende realizar uma cerimônia simples e simbólica: uma foto de Waldenei Gonçalves, o padrinho de Krikri, apreciando-a no tanque daquele próprio da municipalidade. Por ter sido o escolhido, Waldenei receberá um fóssil do presidente da comissão, sr. Luiz Alonso Ferreira, diretor do Museu do Mar.

Ontem, apesar de já ter sido encerrada a votação para escolha do nome da foca, surgiram novas cartas com outras sugestões, que lamentavelmente não puderam ser incluídas no pleito popular, mas que, em respeito aos colaboradores, aqui relacionamos: Xuxuca, de Carla Correa; Metamorfose, de Reinaldo José Ferreira dos Santos; Salty, de Carla Cristina dos Santos Costa; Batman, de Niverson Vilarinho.

Nos próximos dias, segundo o vereador Mantovani Calejon, será distribuído em toda a cidade um colante plástico, que já mandou confeccionar em homenagem às crianças que participaram da animada votação para o nome da foca. Mantovani, ouvido ontem à tarde, ainda deixou claro que o prefeito perdeu a oportunidade de comportar-se como um político popular, desde o instante em que, de forma autoritária, deu nome à foca. Mantovani não pretende transformar ainda mais o caso foca numa polêmica política, mas entende que o desrespeito à infância é intolerável.

A sugestão vencedora foi de Waldenei Gonçalves de Barros


No mesmo dia 17/7, na página de comentários políticos desse jornal santista, nova charge de J. C. Lobo e duas notas na seção Bastidores:

Charge de J. C. Lôbo publicada no jornal 'Cidade de Santos' em 17/7/1977

BASTIDORES

Os animais estão na moda - Não tenham dúvidas de que se a coisa continuar como está, Santos ganhará, logo, logo, um Jardim Zoológico. Pelo menos é o que os políticos deixam transparecer, nestes últimos dias. Na última sessão da Câmara, por exemplo, a tribuna foi ocupada por mais de uma hora por vereadores defensores de animais. Washington (Mimi) Di Giovanni apresentou um trabalho de mais de 4 laudas, criticando as brigas de galo, a matança das baleias, a captura de focas e, principalmente, a apreensão dos cachorros nos jardins da praia, determinada pelo prefeito Antônio Manoel de Carvalho. Rubens Lara, Luiz Norton Nunes e outro emedebista também usaram a tribuna para discutir assuntos relacionados a animais, o que provocou um comentário lacônico do emedebista Noé de Carvalho: "Vocês estão certos, já que não podemos ajudar o povo, vamos ajudar os animais".

Campanha popular da foca - E por falar em animais, na mesma sessão, o vereador Carlos Mantovani Calejon disse aos jornalistas que só está esperando o resultado do concurso "Dê um Nome à Foca", promovido pelo CIDADE DE SANTOS, para mandar confeccionar 5 mil plásticos com a figura da foquinha e estes dizeres: "Campanha Popular: meu nome é este (nome escolhido)."

Justificando sua atitude, Calejon disse que resolveu tomá-la depois que seu filho pediu para participar do concurso, "mas depois ficou triste porque o prefeito já tinha dado o nome (Farofeiro) à foca. Como meu filho, tristes também devem ter ficado milhares de crianças que desejavam participar do concurso. Por isso, eu me achei no dever de promover essa campanha. Só espero o resultado do concurso para mandar fazer os adesivos", disse Mantovani. O nome é Krikri, sr. Calejon, esperamos os plásticos.


Adesivo para carros espalhado pela cidade de Santos pelo vereador Carlos Mantovani Calejon

No dia 18/7, o mesmo jornal registrava o batismo da foca:

O padrinho de Krikri, Waldenei G. Barros

Foto: jornal Cidade de Santos em 18/7/1977

Krikri batizada, mas está doente

A foca Krikri recebeu ontem cedo o batismo popular. Seu padrinho, o jovem Waldenei Gonçalves de Barros, com ar de muita importânica, e acompanhado pelo vereador Carlos Mantovani Calejon e Luiz Alonso Ferreira - diretor do Museu do Mar e presidente da Comissão Julgadora que escolheu em eleição livre o nome do animal -, foi ao Aquário para conhecer a foca e tirar uma fotografia ao seu lado. A cerimônia foi simples, mas durante o batismo, observou-se que Krikri necessita urgentemente de cuidados de um especialista. Pois, os ferimentos que sofreu durante a captura infeccionaram e suas nadadeiras inferiores estão recobertas de pus.

O vereador Mantovani, imediatamente, foi avistar-se com o prefeito Antonio Manoel de Carvalho, para pedir providências. O alcaide também ficou aflito, mas por não ter conseguido, ontem, localizar o veterinário do município, permitiu que o vereador procurasse por veterinários particulares para tratar de Krikri.

Às 13 horas, chegava ao Aquário uma equipe do Hospital Veterinário Nipon, chefiada pelo veterinário Carlos Alberto Zikan, com a ajuda de Aboré Puzzi, do Instituto de Pesca, mobilizado pelo vereador Mantovani. Krikri, num exame superficial, efetuado pelos veterinários, demonstra não estar muito bem e corre perigo até de morrer. Mas, será tratada inclusive com o apoio do Prefeito que a chama de farofeira.

Política - A foca Krikri - que de repente transformou-se num caso político, no qual, de um lado colocou-se o prefeito e do outro centenas de crianças que participaram de uma eleição popular para batizá-la - será promovida agora pelo vereador Carlos Mantovani Calejon, que mandou fazer plásticos com o nome que lhe deu Waldenei Gonçalves de Barros. Os plásticos, possivelmente até o final da semana, serão distribuídos pelo vereador. O prefeito, ao início da eleição popular das crianças, resolveu interceder com ato de força, e através de uma declaração pública em seu Gabinete, tentou interromper o pleito popular, dando nome à foca de farofeira. Sua antipática atitude repercutiu até na Câmara de Vereadores. E surgiram muitos protestos. O concurso prosseguiu e Krikri foi batizada.

Waldenei também não gostou do nome Farofeiro. "Isso é apelido que os santistas dão à torcida do Corinthians", disse ele. "Será que o prefeito é corintiano?" Waldenei, de 16 anos, que trabalha e cursa a sexta série do primeiro grau, sentiu-se importante em poder votar popularmente e, mais ainda, por ter sido o apontado pela Comissão como responsável pela sugestão mais simpática.

O padrinho de Krikri, como prêmio, recebeu do sr. Luiz Alonso Ferreira um fóssil datado de 120 milhões de anos, encontrado em Araripe, no Norte do País. Ontem, após o batismo popular da foca encontrada no último dia 5 junto ao pier da Dow Química, o vereador Mantovani, Luíz Alonso e Waldenei tinham uma única preocupação: o estado de saúde de Krikri.

A foca Krikri está com um ferimento infeccionado

Foto: jornal Cidade de Santos em 18/7/1977

O noticiário do dia seguinte, 19/7, citava a continuação do tratamento do animal, que aliás não tinha sido classificado ainda, desconhecendo-se até se era macho ou fêmea. Nesse dia, mais comentários nas rodas política e policial, através das seções Bastidores e Quebrando o Sigilo, do jornal Cidade de Santos:

BASTIDORES

Mantovani e a  foca - O grande interesse do vereador do MDB, Carlos Mantovani Calejon, pela eleição popular que deu o nome de Krikri à foca recém integrada ao patrimônio do Aquário Municipal, gerou uma observação maliciosa e oportuna: "Se Mantovani é mesmo candidato a deputado e se as focas puderem votar, já pode se considerar eleito..."

Veterinário e o prefeito - O fato do vereador Carlos Mantovani Calejon (MDB) ter ido à casa do prefeito, no último domingo, às 13 horas, em busca de um veterinário para fazer curativo numa das nadadeiras da foca Krikri (ou farofeira, como deseja Carvalho), não parece ter agradado o burgomestre. Ontem ele dizia "Quando o Calejon chegou em minha casa àquela hora, dizendo que precisava de um veterinário, palavra que eu não sabia se era para ele ou para a foca. Ora, a Prefeitura tem veterinários, mas eu ia sair atrás deles àquela hora?" Calejon acabou indo procurar um veterinário particular.

QUEBRANDO O SIGILO

"Até que houve justiça na escolha do nome da foca: Krikri. Ela tem bastante semelhança com o investigador Antonio Barbeiro Neto que, por coincidência, também tem o apelido de Krikri". A explicação é do investigador Santão, que também foi candidato a ser homônimo do mamífero.


Charge de Dino publicada no jornal A Tribuna de 20/7/1977



Nota na coluna Notícias do Litoral dos jornais Diário de São Paulo e Diário da Noite, em 20/7/1977

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