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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS
As ferrovias no mundo, no Brasil e a SPR (1)

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Um resumo da história das ferrovias no mundo e no Brasil foi feito pelo Boletim Informativo RCS, da Regional Centro-Sul (RCS) da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA ou Refesa) - estatal então responsável pelas principais ferrovias brasileiras - na edição nº 42 (Ano IV), de 1º de setembro de 1975, comemorativa do Sesquicentenário da Estrada de Ferro (27/9/1825 - 27/9/1975) - exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda:
 


Imagem: reprodução da primeira página do Boletim Informativo RCS de 1/9/1975

Sesquicentenário da Estrada de Ferro

No dia 27 do corrente, o mundo vai comemorar um notável jubileu, pois, precisamente há 150 anos, em 1825, pela primeira vez uma locomotiva a vapor - a "Locomotion" - construída por George Stephenson, movimentou uma composição ferroviária, lotada de passageiros.

Para essa viagem inaugural, vinte e um carros, doze dos quais lotados com carvão e sacos de farinha, foram engatados em seqüência, sob a ansiosa expectativa de milhares de pessoas que cercavam o palco de tão extraordinário espetáculo, e que vibraram intensamente quando os diretores e proprietários da Companhia de Estradas de Ferro Stockton-Darlington tomaram lugar no vagão especial, logo atrás da locomotiva, dando sinal para a partida.

Apesar de se ter preparado lugar somente para 300 passageiros, mais de 500 pessoas conseguiram, em meio do tumulto, encontrar um lugar, sentados ou em pé, enquanto outras dezenas de milhares de curiosos, ao longo da linha, testemunhavam o acontecimento que ia entrar para a história como uma das mais surpreendentes conquistas da humanidade.


O aspecto pitoresco de um trem de passageiros nos anos iniciais da estrada de ferro
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Ao ser iniciada a viagem, em Shildon via Darlington para Stockton, o próprio inventor da locomotiva, George Stephenson, controlava o engenho, a princípio imprimindo pequena velocidade ao comboio, mesmo porque, à frente da locomotiva ia um cavaleiro, empunhando uma bandeira, seguido de outros cavaleiros que corriam paralelamente à composição.

Em dado momento, porém, Stephenson fez sinal ao cavaleiro da bandeira para que deixasse a via férrea, e duplicou a velocidade da locomotiva, possibilitando que a viagem se tornasse mais emocionante para os 500 passageiros em suspense, uns maravilhados com o que lhes era dado ver e admirar naquela "perigosa aventura", outros apavorados e lembrando as palavras de advertência dos inimigos do progresso que previam uma enorme série de desgraças com o advento da estrada de ferro.

Na realidade, tudo correu perfeitamente bem durante a transposição das 20 milhas (36 quilômetros), entre Shildon (Darlington) e Stockton, a uma velocidade de 27 milhas horárias, mas que devido às longas paradas nas estações intermediárias durou mais de 7 horas.


"Locomotion nº 1", a locomotiva pioneira de George Stephenson, que inaugurou a primeira ferrovia do mundo - de Stockton a Darlington - no dia 27 de setembro de 1825
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O dia 27 de setembro de 1825 abriu um vasto campo de progresso ao mundo e, para George Stephenson e a sua "Locomotion", foram reservados lugares de honra na história das comunicações humanas, se bem que para tal conquista tivessem colaborado numerosa coorte de notáveis pesquisadores que se iniciou com Papin e teve seqüência com Olivier Evans, Saguin, James Watt, Hancock, Trevithich, Hedley e outros mais.

Contudo, a George Stephenson cabe realmente a glória do invento da locomotiva, por haver condensado todos os elementos até então existentes e estabelecido teórica e tecnicamente os princípios da força motriz gerada pelo vapor d'água como o agente mais extraordinário de progresso que o mundo conheceu.

George Stephenson, operário e fiscal de minas de carvão, mais um arguto observador que propriamente um técnico em ciências físicas (até aos 20 anos não sabia ler e escrever), certamente desconhecia a teoria de Blakett, que em 1813 demonstrara que o peso de uma máquina e o atrito com os trilhos gerava a aderência, teoria essa comprovada por Trevithich anos mais tarde, quando construiu o protótipo de uma locomotiva a que denominou "Blucher".

Era um engenho complicado e que tinha cadeias para movimentar as rodas, mas que não deu resultados satisfatórios, levando-o, em 1815, a construir outra locomotiva com outros aperfeiçoamentos, na ocasião tendo surgido outro concorrente de nome Hackworth, que apresentou a sua locomotiva "Royal George", na qual substituíra a cadeia sem fim pelo braço conector, permitindo um grande avanço na técnica ferroviária jacente. Mas tudo o que fora feito, até então, não representava ainda um decisivo passo na missão de dar rodas de ferro ao mundo...


Neste vetusto edifício, foi vendida a primeira passagem ferroviária do mundo
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Foi George Stephenson quem, observando certo dia uma chaleira com água fervente, notou que por ação do vapor a tampa, bastante pesada, do recipiente, era permanentemente movimentada, o que lhe deu a idéia de aproveitar essa energia de modo a movimentar uma máquina sobre trilhos de ferro. Surgiu então a "Locomotion", que pela primeira vez movimentou um trem, entre Darlington e Stockton, fazendo calar os inimigos do progresso e abrindo grandes perspectivas à indústria e ao comércio.

Como decorrência dessa data memorável, sobreveio o famoso concurso de locomotivas destinadas a alimentar o tráfego de uma ferrovia realmente operacional a ser construída entre Liverpool e Manchester, novamente cabendo a George Stephenson a vitória, desta vez apresentando um modelo avançado - a "The Rocket" (O Rojão) - que possuía todos os princípios ideais para uma verdadeira locomotiva e que sempre se mantiveram estáveis nas possantes máquinas construídas ao longo de mais de cem anos de estradas de ferro.


George Stephenson, o inventor da locomotiva
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Festividades - A "Locomotion", a primeira máquina de Stephenson, existe ainda hoje. Presentemente ela se encontra na cabeceira das plataformas da Bank Top Station, em Darlington, e uma sua reprodução foi construída nas oficinas da ICI para as festividades do próximo dia 27 do corrente. O programa de comemorações da efeméride, na Inglaterra, anuncia-se como um acontecimento de ímpar beleza e grandiosidade, cabendo à "Locomotion" tomar a dianteira de uma "Grand Steam Cavalcade", formada por cerca de 40 locomotivas a vapor, construídas entre 1857 e 1960, e de carros históricos e algumas locomotivas com nomes famosos, tais como a "Flying Scotsman" (1923) ou a "Princess Elisabeth" (1933). A parada histórica seguirá numa viagem de duas horas e meia, do parque de exposição de Shildon, na direção de Darlington e, finalmente, até Heighngton.

O espetáculo deverá ser inesquecível não somente para os que trabalham nas estradas de ferro, mas também para os amigos da ferrovia em todo o mundo. Nos próximos cinqüenta anos, não mais será possível presenciar uma festividade de tantas tradições e ver reunidas numa viagem especial tão grande número de máquinas históricas a vapor.

O sesquicentenário da ferrovia será comemorado festivamente não só pelas Estradas de Ferro Estaduais Britânicas (BR) e por outras empresas do gênero, mas por todo o mundo e onde existir uma ferrovia, por pequena e inexpressiva que seja. Isto é o que prevê a Associação Internacional de Ferrovias (UIC), de Paris, que determinou a realização de uma exposição móvel em muitos países da Europa e nos Estados Unidos, a qual mostrará, além de detalhes históricos e atuais, exemplos frisantes de colaboração entre a ferrovia e a rodovia, sendo que, neste caso, ficarão em primeiro plano locomotivas, veículos e instalações modernas.

A exposição será mostrada pela primeira vez na "Transport Expo", de Paris (15-20 de setembro) e em seguida nos museus de transportes no Oeste e Leste europeus. Na República Federal Alemã (Ocidental), a exposição móvel será aberta à visitação no Museu de Transportes de Nuremberg; no Museu para História Hanseática, em Hamburgo, e no Museu do Povo e da Economia, em Dusseldorf.


"The Rocket" (O Rojão), com a qual George Stephenson venceu o concurso de Ranhill e inaugurou a Estrada de Ferro de Liverpool a Manchester, em 17 de setembro de 1830
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Na terra natal da locomotiva a vapor, e especialmente na região de Northumbria, desde fins de junho último se estão processando numerosas festividades e que irão até o dia 27 próximo, quando cerca de um milhão de visitantes estarão presentes ao "Grand Steam Cavalcade".

Assim é que, em Darlington, no período de 16 a 23 de agosto; em Shildon, de 24 a 31 de agosto, e em Stockton, de 20 a 27 do mês em curso, as comemorações se desenvolverão num clima de grande entusiasmo, sendo que o ponto alto das festividades será uma exposição comemorativa em grande escala, em Shildon, a qual incluirá uma mostra de veículos motores famosos. Outro detalhe das comemorações será a coroação da "Rainha Ferroviária" (Railway Queen) e um concerto conjunto de bandas musicais e coros ferroviários especialmente selecionados.


No concurso de Ranhill, George Stephenson obteve o primeiro lugar com a sua locomotiva "The Rocket" (O Rojão)
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A 27 do corrente, num corolário de magníficas realizações, será oficialmente inaugurado o Grande Museu Ferroviário de York, região de Northumberland, onde há semanas vêm-se realizando preparativos impressionantes. Colaborando para o extraordinário evento, os jornais e particulares noticiam diariamente assuntos relacionados com a estrada de ferro ou apontando locais onde existem relíquias antiqüíssimas. O jornal local Northern Echo vem de publicar um suplemento comemorativo apresentando aspectos gerais dos últimos 150 anos da ferrovia de Stockton a Darlington, em cuja introdução o presidente do Conselho de Direção das Ferrovias Estaduais Britânicas escreve o seguinte:

"Desde 1825 houve muitas ocasiões memoráveis na história da estrada de ferro, bem como problemas e revezes. Porém, na maior parte, a longa caminhada foi marcada por sólido progresso. Se hoje lembrarmos as realizações do passado, nem por isso a nostalgia nos deverá tornar cegos quanto às grandiosas perspectivas para o futuro".


Aspecto de uma estação ferroviária em meados do século XIX
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