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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS
As obras da ferrovia SPR, em fotos de 1865 -A

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Um dos principais fotógrafos brasileiros do século XIX visitou a ferrovia da São Paulo Railway, então em construção, na área conhecida como Raiz da Serra e na encostas da Serra do Mar. Sobre esse local e as fotos feitas em 1865 por Militão Augusto de Azevedo, escreveu o arquiteto Gino Caldatto Barbosa, no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo, em 2004:
 


Raiz da Serra, em foto de Militão Augusto de Azevedo
(albúmem com 18,0 x 24,0 cm na Coleção Beatriz Pimenta Camargo)
Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo, de Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004

Em setembro de 1865, foi realizada a primeira viagem de trem ligando as cidades de Santos e São Paulo. Não seria a inauguração definitiva, ainda remanesciam finalizações e arremates em vários trechos da estrada, sobretudo na encosta da serra, que ofereciam grande risco para a liberação total da linha para viagens entre o planalto e o litoral.

Os acidentes ocorridos em 1864 e 1865 nas viagens experimentais serviram de alerta às autoridades para a necessidade de aperfeiçoamentos em várias partes do trajeto. Precaução que impôs a liberação apenas a título precário  pelo Governo Provincial durante a inauguração do percurso entre Santos e Jundiaí, em fevereiro de 1867, cuja autorização para funcionamento definitivo somente ocorreria no ano seguinte (Ferrovia nº 340, 1964, p. 15 = edição especial "Centenário do Plano Inclinado da Serra do Mar").

O trecho de Santos até o primeiro plano inclinado, na Serra do Mar, estava concluído desde 1864, quando Militão realizou a seqüência de fotos da Estação da Raiz da Serra. Três imagens presentes constituem pari passo os instantes iniciais da subida da serra pelo sistema funicular. A primeira foto se apresenta como aproximação da aventura que consistia a transposição da barreira montanhosa.

Na raiz da serra, a pequena estação, ladeada pela infra-estrutura de apoio, servia como uma espécie de zona de fronteira que separava dois universos geográficos; os 20 quilômetros de planície entre o Porto de Santos e a subida das escarpas, quando então se iniciava o grande desafio de superação do trecho de serra por meio do sistema funicular proposto pelos ingleses para conduzir as composições.


Subida do primeiro plano inclinado, em foto de Militão Augusto de Azevedo
(albúmem com 18,0 x 24,0 cm na Coleção Beatriz Pimenta Camargo)
Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo, de Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004

Nas duas seqüências feitas do alto da paisagem, Militão insiste no método de fazer o contraplano da imagem anteriormente captada, criando uma situação específica obtida com duas tomadas quase simultâneas, comum aos panoramas animados que se popularizariam tempos depois. Ao se posicionar no eixo da linha férrea, entre roldanas e cabos de aço, o fotógrafo passa a impressão de estar de fato subindo a serra de trem pelo sistema funicular, registrando cada momento, para dar ao observador a sensação dos primeiros instantes da aventura que se vivenciava.


Subida do primeiro plano inclinado (contraplano), em foto de Militão Augusto de Azevedo
(albúmem com 18,5 x 24,1 cm no acervo do Museu Paulista)
Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo, de Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004

A construção da ferrovia na Serra do Mar exigia infra-estrutura de apoio permanente para o bom andamento dos trabalhos, atenções que não evitaram atrasos no cronograma das obras, agravados, sobretudo, pelas rigorosas condições climáticas impostas por chuvas fortes, que causavam desmoronamentos constantes.

Em 1865, os serviços absorviam elevado contingente de mão-de-obra: quase 5.000 homens atuavam nas encostas em situação de risco iminente. Acidentes e mortes eram freqüentes durante o assentamento dos trilhos nas escarpas. Associados a desmatamentos, aterros, construção de pontes e túneis, atividades constantes da jornada de trabalho, também se exigia dos trabalhadores a montagem de acampamentos improvisados em meio à mata nativa. Em geral, eram abrigos pequenos, feitos de pau-a-pique com cobertura de palha, que impunham ao ambiente uma fisionomia similar à dos quilombos.

A precariedade documentada no primeiro acampamento de operários na serra refletia o descaso da empreiteira com a questão, pois as atenções estavam voltadas para a administração dos prejuízos que o atraso na construção ferroviária causava, desprezando aspectos secundários, ligados ao conforto e segurança dos trabalhadores.


Primeiro acampamento, em foto de Militão Augusto de Azevedo
(albúmem com 109,7 x 13,9 cm no acervo do Museu Paulista)
Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo, de Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004

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