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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS - BIBLIOTECA
Pequeno histórico da Mayrink-Santos (2)

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Em 1962, foi publicado em Sorocaba/SP este livro de 200 páginas (exemplar no acervo do historiador santista Waldir Rueda), composto e impresso nas Oficinas Gráficas da Editora Cupolo Ltda., da capital paulista (ortografia atualizada nesta transcrição):

Pequeno histórico da Mayrink-Santos

Meus serviços prestados a essa linha entre Mayrink e Samaritá

Antonio Francisco Gaspar

[...]


1ª PARTE - PREÂMBULO
II - Visconde de Socorro e a Mayrink-Santos

A 21 de maio de 1930, recebi do dr. Gaspar Ricardo Júnior, diretor da Sorocabana, a seguinte carta que vou divulgar agora, acompanhada de uma interessante cópia de um dos projetos de ser levado a Santos, em 1880-1895, um ramal da Sorocabana, partindo de Cangüera (Mayrink). Era diretor nessa época o saudoso e ilustre João José Pereira Júnior, visconde de Socorro.

Em 1930, quando eu publiquei o Histórico da Fundação da Sorocabana, nesse volume somente relatei a parte da concessão federal: São Paulo a Ipanema. Por esse motivo não pude fazer um histórico completo, porém, agora, apresentando um resumo da linha Mayrink-Santos, nele tenho o prazer de publicar a carta do grande saudoso dr. Gaspar Ricardo e as cópias do dr. Armando Pereira, neto do visconde de Socorro, depois de tanto tempo que as tenho guardadas no meu arquivo.

"São Paulo, 21 de maio de 1930

"Sr. Antonio Francisco Gaspar

"Com a presente remeto-vos cópia da carta que recebi do sr. A. de A. Pereira, a propósito da ação decisiva do inolvidável Pereira Júnior, que foi diretor da Sorocabana, em 1880-1895. No caso de prosseguirdes vossas publicações do Histórico da E. F. Sorocabana, peço não omitir o ilustre nome de Pereira Júnior.

"Saudações

(a) G. Ricardo Júnior
Diretor"

"CÓPIA"

"São Paulo, 15 de maio de 1930

"Distinto e ilustre patrício dr. Gaspar Ricardo.

"Minhas muito cordiais saudações. Conforme prometi, tenho muito prazer em enviar-lhe, para figurar em seu arquivo, as segundas vias dos antigos estudos de traçados a Santos. Esses documentos pertenciam ao arquivo do meu saudoso avô, diretor da Sorocabana de 1880-1895, e também do Banco Constructor, que custeou os estudos e tinha em vista o prolongamento até o mar.

"A Pereira Júnior deve-se, sem dúvida, unificação da Sorocabana e Ituana, porque foi devido à sua tenaz insistência, em acirrada polêmica com o dr. Raphael de Barros, que surgiu a vitória para a Sorocabana.

"Os estudos que junto a esta são os seguintes:

"1 - Variante Manduzinho-Tijuco preto, da linha Pinheirinhos Santos, K 0 a K 40,733,26. Orçamento.

"2 - Orçamento da Variante (para evitar túneis) da Linha Manduzinho-Santos K 50 - K 61.

"3 - Orçamento da Linha para Santos, Tijuco Preto-Serra do Mar. Memória justificativa da linha Manduzinho-Serra do Mar.

"4 - Linha 'Manduzinho' (Mayrink) Santos quilômetro 97,126 a 147,207.

"Os três primeiros do Banco Constructor do Brasil e o último, uma segunda via da Cia. União Sorocabana e Ituana.

"Tive ocasião de folhear o trabalho de Francisco Gaspar sobre a história da Sorocabana, achando que ele eleva demasiado os nomes do Maylasky e Oetterer e se esquece dos de Mayrink, Pereira Júnior e Alfredo Maia.

"É verdade que a parte historiada nesse trabalho não vai além de 1880, mas creio eu, não se poderá falar no passado histórico dessa estrada sem lembrar esses três nomes.

"Ao passo que estes deram tudo pela Sorocabana, aqueles se fizeram à custa dela. Desculpe-me, prezado amigo, se talvez sou um tanto rude no que disse acima. É o coração do neto admirador do seu avô, que se rebela para pedir justiça para com a sua honrada memória.

"Tenho notado que muitos brasileiros procuram apagar muitos fatos de nossa história quando realizados por portugueses de nascimento apenas, havendo até quem queira deprimir essa raça. Sou contrário a esse modo de proceder orgulhar, pois é uma raça de gente de bons costumes, honesta e trabalhadeira.

"Terminando, aproveito a oportunidade para solicitar a honra de poder apresentar seu nome para membro do Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo.

"Sem mais outro assunto, queira crer-me seu admirador colega e amigo muito grato.

a) A. Pereira".

A Folha da Manhã de 15 de março 1930 trouxe um artigo intitulado "Os pioneiros da Mayrink-Santos".

Li que foi durante a administração Arlindo Luz, em 1925, que os trabalhos de estudo e reconhecimento constataram a exeqüibilidade dum projeto de linha, na serra, com a declividade máxima de 2% e curvas de raio mínimo de 300 metros.

Vi que no retrospecto histórico está citado em primeiro lugar George Oetterer, em 1893, como tendo feito um projeto completo.

Tive oportunidade de presentear o saudoso engenheiro dr. Gaspar Ricardo com vários borradores dos estudos feitos pelo engenheiro-civil Carlos Schmidt, quando eram diretores da Estrada de Ferro Sorocabana e Ituana, Francisco de Paula Mayrink e o visconde do Socorro.

Esses estudos completos e detalhados com os orçamentos dos respectivos construtores, memoriais descritivos etc., versavam sobre:

Variante: - K. 0 - K. 40,733,26 - K. 28,206,30 Manduzinho (Mayrink) Tijuco Preto linha Pinheirinhos (Maylasky) Santos feitos em 24 de janeiro de 1894 pelo engenheiro civil Carlos Schmidt, visado pelo engenheiro-fiscal Constante Coelho, para o Banco Constructor do Brasil, construtor do prolongamento da E. F. Sorocabana.

Variante: - Para evitar túneis Linha Manduzinho-Santos K 50 - K 61 31 out. 1893 feito por Carlos Schmidt.

Orçamento da linha: - Santos-Tijuco Preto-Serra do Mar kil. 28,206 - kil. 97,126, feito para o Banco Constructor do Brasil, por Carlos Schmidt, engenheiro civil em janeiro de 1894.

Orçamento e memória justificativa da linha Mayrink-Santos kil. 97,126 - 127, 207 de 14 de julho de 1896, feito por Carlos Schmidt.

Possuo ainda um borrador - orçamento geral e parcial para construção da linha dupla Manduzinho (Mayrink) a Santos.

Memória justificativa e descrição do traçado. Extensão: 182 k 928. Raio mínimo: 120 metros. Declive máximo: 2%. Túneis: 30. Custo total: Rs. 34.985:540$088. Preço médio do km. 191:253$062.

É interessante comparar-se o traçado desse estudo e aquele que foi feito.

Todos esses papéis eu os obtive do arquivo do visconde do Socorro, João José Pereira Júnior, que durante 15 anos foi diretor da Sorocabana, de 1880 a 1895. Sobre esse pioneiro da Estrada Sorocabana posso fornecer os seguintes dados que servirão para enriquecer um pouco da história desconhecida dos primórdios dessa ferrovia e quiçá fazer justiça a um vulto esquecido.

O visconde do Socorro, João José Pereira Júnior, entrou para a diretoria da Companhia Sorocabana no ano de 1890. Nesse tempo era a sede em S. Paulo, à Rua José Bonifácio nº 7, passando depois para o nº 9 da mesma rua.

Em 1885 a sede da companhia mudou-se para o Rio de Janeiro, funcionando à Rua General Câmara, canto da Rua Primeiro de Março, por cima do Banco Commercial do Rio de Janeiro. No escritório central estava à testa o presidente F. P. Mayrink, conselho fiscal e empregados da Tesouraria etc. Em S. Paulo estava o diretor-gerente então com. Pereira Júnior e em Sorocaba o inspetor do Tráfego, George Oetterer com o pessoal do escritório do tráfego, contabilidade etc.

Em outubro de 1886, tratando a Sorocabana de estender as suas linhas até Botucatu, veio à discussão pelos jornais paulistas o privilégio de zona alegado pela Ituana. Dessa discussão travada entre o com. Pereira Júnior, diretor da Sorocabana, e o dr. Raphael de Barros, presidente da província nessa época o barão de Parnahyba, mais tarde visconde e conde do mesmo título.

Também em outubro de 1886 deu-se a visita imperial de SS. MM. o Imperador, Imperatriz e conde D'Eu à estrada de ferro Sorocabana, que percorreram em todas as suas linhas, inaugurando uma das suas principais pontes metálicas. Essa visita e inauguração foi registrada em várias fotografias tiradas na ocasião.

Houve um grande banquete em Sorocaba e no mesmo dia foi inaugurado o nome do comendador Pereira Júnior numa das novas locomotivas daquele tempo, tendo feito a viagem puxando o trem imperial, passando depois a fazer o expresso diário de S. Paulo a Sorocabana, e mais tarde, em 1900, quando foi diretor superintendente da Companhia União Sorocabana e Ituana o filho do visconde do Socorro, Armando Rosa Pereira, ainda existia essa locomotiva puxando trens de pagador e fazendo manobras nos pátios das estações, porém, já com o nome de Visconde do Socorro, desde 1891, data em que fora o com. Pereira Júnior agraciado com esse título [1].

Em 1889, a Sorocabana obteve a concessão imperial para ir a Santos. Em 1890, a Sorocabana encampou a Ituana pela compra total de suas ações. Em 1891 o Banco Constructor do Brasil, que foi criação do conselheiro Mayrink no tempo da Bolsa, foi escolhido para banqueiro da Sorocabana, tendo obtido permissão da Assembléia para emitir 100.000 debêntures da 4ª série, no sentido de ser levada a efeito a construção do ramal de São João a Santos (sonhos dourados do visconde de Socorro), sendo o ponto de bifurcação, Mayrink, cujo traçado foi mudado de São João para este ponto no sentido também de serem mudadas as oficinas de Sorocabana para aí, ficando também o entroncamento da Ituana.

Nesse mesmo ano, a Assembléia Geral de Acionistas autorizou a diretoria, para gravar ad perpetum re memoriam os serviços prestados por seus diretores, mandar colocar nas duas faces de todas as estações da estrada, por fora e na plataforma, placas de mármore com os nomes de F. P. Mayrink e visconde do Socorro, pelos serviços prestados, e homenagem da Companhia Sorocabana e Ituana, com louvor especial (consta da ata) ao com. Pereira Júnior, por ter em pessoa, com sacrifício de sua saúde, acompanhado todas as construções até Botucatu, Tietê e outros ramais.

O com. Pereira Júnior chegou a ter em seu nome 15.000 ações, das quais 14.000 estavam caucionadas no Banco de Crédito Real do Brasil, ficando em seu poder 1.117 ações. No pânico da Bolsa ficaram as 15.000 em poder do Banco e as restantes que de cotação de 400$000 passaram logo a 40$000, para logo depois, com a falência da Sorocabana, ficarem sem valor. Possuía ainda 2.478 debêntures da 4ª série, Sorocabana e Ituana, títulos que ficaram em poder do cons. Mayrink para regularizar a cobrança dos juros vencidos etc.

As placas de mármore foram feitas no Rio de Janeiro e remetidas para o com. George Oetterer, superintendente da Cia. em 1893, sem que tivesse sido cumprida a ordem da Assembléia. Atravessou o visconde a crise da revolta de 1893 e, uma vez normalizada a vida da Sorocabana em 1894, começou esta a reerguer-se.

Dizia Pereira Júnior, já nessa época presidente da Companhia Sorocabana e Ituana, que o futuro da estrada era único, que dentro de pouco tempo suas ações viriam a valer o custo de uma apólice da dívida pública. Chamaram-no visionário. O tempo veio demonstrar que a razão estava com ele, pois desde a ocasião em que a estrada teve administração experimentada e honesta, ela progrediu, deu lucro e veio ocupar o lugar que lhe competia.

Em março de 1895, resignou o visconde de Socorro, o seu mandato de presidente da Companhia Sorocabana e Ituana.

Foi, pois, durante a administração do visconde do Socorro, e por instância sua, que foram feitos, pelo engenheiro Carlos Schmidt, os primeiros e vários estudos, reconhecimentos, explorações e orçamentos da ligação da Sorocabana a Santos.

Acrescente-se por justiça aos "pioneiros", e entre os primeiros, os nomes de João José Pereira Júnior (visconde do Socorro) e engenheiro Carlos Schmidt.

Estas cópias, como já disse no começo deste capítulo - depois de tanto tempo as ter guardadas no meu arquivo - publico-as hoje, conforme as recebi e com a mesma ortografia daquela época e data.


[1] "S. Paulo, 5-7-27

"Prezado amigo e Collega Dr. Armando de Arruda Pereira

"Copiosas Saudações.

"De posse do seu muito estimado favor de 10 de Junho último, cabe-me agradecer-lhe, penhorado, as gentilíssimas expressões com que teve a amabilidade de me distinguir. Ao mesmo tempo, tenho a satisfação de lhe comunicar que, tomando na melhor consideração as justas ponderações expendidas pelo meu Amigo naquella sua carta, dei as necessárias providências no sentido de ser reposta uma placa com o nome do seu venerando avô, o benemérito Visconde do Soccorro, na locomotiva n. 17 desta Estrada, que é a que já teve esse nome. Fica assim satisfeito o justo pedido do prezado Amigo. Devolvendo-lhe as photographias e o folheto que acompanharam a sua carta acima citada, valho-me do ensejo para renovar-lhe os meus protestos de alta estima e apreço, com que sou

Collega e Amo. agradecido.

a) Arlindo da Luz".


Dr. João José Pereira Júnior, visconde de Socorro
Imagem reproduzida do livro


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