HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
ESTRADAS
A Rodovia dos Contrastes
Capa do boletim 'Agência Facos' de 11 de maio de 1976
RODOVIA
DOS IMIGRANTES
A UM PASSO DA SUA INAUGURAÇÃO (*)
Com a presença do Presidente Ernesto Geisel e o Ministro dos
Transportes Gal Dirceu de Araújo Nogueira será inaugurada a Rodovia dos Imigrantes, no dia 28 de junho. A rodovia tem 67 km da Baixada ao Planalto,
sendo 12,5 km de serra. A velocidade máxima permitida, inclusive na parte da serra, será de 110 km/h. A Imigrantes tem seu percurso apenas ascendente,
com início em São Vicente, indo acabar no bairro do Ipiranga, em São Paulo.
A estrada compõe-se de 20 viadutos e 11 túneis, sendo que o maior viaduto tem 1.900 m de comprimento por 106 m
de altura, e o maior túnel 1.210 m, necessitando assim de ar refrigerado forçado, incêndio e iluminação, que aliás são perfeitos, segundo afirmação do
engenheiro José Eduardo, um dos responsáveis pela construção da obra. No meio do túnel há uma janela que dá acesso direto a um pátio onde haverá todo
tipo de socorro. Esse túnel é equipado também com um circuito de TV que estará ligado as 24 hs. do dia.
A Rodovia possui um sistema de SOS para a parte mecânica; guinchos; incêndios, médico e com instalações de
aparelhos telefônicos a cada 500 mts. "É uma rodovia super equipada - acrescentou o engenheiro José Eduardo -, pois é a primeira do mundo".
"O tempo que levará entre um pedido de socorro e seu atendimento será aproximadamente 25 minutos, afirmou Bene
Braga, Relações Públicas da Dersa. Os funcionários não operam com dinheiro: por exemplo, se um carro parar por falta de gasolina, um guincho o levará
até onde seu proprietário possa obtê-la e dar, assim, continuidade à sua viagem.
O cm² da Rodovia dos Imigrantes custou aos cofres do Governo Federal 100 mil cruzeiros e sua construção foi
planejada para 2 anos, o que será completada em junho próximo.
Jorge Lemos, assessor de Imprensa da Dersa, acrescenta que estão sendo construídos dois postos da Petrobrás nos
kms 15 e 60, que serão entregues aos usuários - juntamente com a estrada.
A visita foi uma concessão da Dersa, que permitiu o teste com um ônibus da Companhia Ultra, dirigido por um dos
proprietários da mesma, tendo sido até agora testado somente com micro-ônibus.
Jorge Lemos e Bene Braga disseram: "No caso de acidente, o problema é mais humano do que mecânico, pois há falta
de respeito e má formação por parte dos motoristas". (Da Enviada Especial: Léa Silvia Geiger).
Capa do boletim 'Agência Facos' de 11 de maio
de 1976
CUSTOS
E MISÉRIAS:
OS CONTRASTES DA IMIGRANTES (*)
Os milhões gastos na construção da Imigrantes - cada cm² custou
Cr$ 100.000,00 - e a condição de vida dos favelados que residem ao final da rodovia, são os extremos opostos característicos da gigantesca obra.
A visita ao trecho da descida da serra, na rodovia dos Imigrantes, foi marcada para as oito horas; às oito e
quarenta e cinco minutos, o ônibus partiu. Descontando os convidados que deixaram de comparecer, a maioria das pessoas do grupo eram jornalistas e
repórteres e fotógrafos. Sanada uma das principais dúvidas - que caminho seguir? - o ônibus iniciou a marcha.
À saída da cidade, enquanto alguns tentavam perceber a serra através da neblina, outros comentavam um pretenso
churrasco que seria oferecido ao grupo. Poucos, entre os participantes, demonstravam estar fazendo a viagem pela primeira vez. A maioria comentava a
rodovia com uma familiaridade que parecia ter sido talhada por uma convivência bastante antiga.
Entre solavancos e freqüentes brecadas, o ônibus conseguiu escalar a serra. A esta altura, as repórteres da
Facos ferraram no sono. Um jovem, que falou durante toda a viagem, não caracterizava nenhuma personalidade importante, mas o cigarrinho marrom, fininho
e comprido, que ostentava, insistia em afirmar o contrário. Entre bocejos e baforadas de cigarro, a viagem transcorreu tranqüila.
À chegada ao pátio do Centro de Controle Operacional, iniciou-se a "operação pé-na-lama" - êta vida de
repórter... ter que atolar o pé porque o dito Centro se protege ilhado por lama, isto é o fim!!!
O grupo foi submetido a um cafezinho e a uma enxurrada provocada pela verbosidade do Assessor de Imprensa do
Centro, quando apresentou o painel de controle. Segundo ele, a tecnologia empregada na construção da rodovia "é caso ímpar no mundo, em termos de
auto-estrada".
Diante do colosso tecnológico, o Assessor continuava: "O S.O.S. será prestado gratuitamente a qualquer usuário
da rodovia". Alguém, dirigindo-se a um colega de grupo, responde: "Não é para menos, fomos nós quem pagamos tudo isso".
Ciente de estar revelando ao grupo uma das facetas mais humanitárias da empresa, disse: "Estamos construindo um
local que será cedido gratuitamente aos vendedores de siri".
À descida da serra, um engenheiro que acompanhou o grupo afirmou que (com relação ao remendo ecológico que eles
estão fazendo): "estas mudas significam que estamos reimplantando o verde". Entre comparações de muro de sustentação com pirâmide - devido ao
"gigantismo da obra"; ao desmatamento descontrolado a que submeteram a serra. O grupo viu, esparramados durante o trajeto, adolescentes trabalhando na
obra. Ao final da jornada - depois de adiado a cada viaduto percorrido - quando o ônibus trafegava por uma avenida que atravessa uma favela da Cidade
Náutica, alguém comentou: "Que impacto sentirá o usuário da rodovia, ao deparar com estas favelas!". (Do Enviado Especial da Agência Facos: Amaury
Araujo dos Santos).
(*) Matérias datilografadas e publicadas no boletim mimeografado Agência
Facos, da Faculdade de Comunicação de Santos, pelos alunos do curso superior de Jornalismo. Edição 57 - Ano III -, Santos, 11 de maio de 1976.
Capa do boletim Agência Facos de 11 de maio de 1976
|