Segunda-feira, 24 de Julho de 2006, 07:33
ANCHIETA
Aos 60, em plena forma
Michel Escanhola
Da Reportagem
Uma senhora charmosa, colorida, que depois de quase 60 anos ainda chama a atenção das pessoas pela beleza e pelas suas curvas. Ainda mais agora, depois de
receber cerca de R$ 10,5 milhões em investimentos. A Pista Norte da Via Anchieta - ou Via Charmosa (como muitas pessoas se referem à rodovia) - completará seu sexagésimo aniversário em 2007 e, assim como em 1947, volta a fazer história.
A Via Anchieta foi a primeira rodovia do País a contar com trechos em túneis e, depois das reformas iniciadas em janeiro deste ano, passa a ser a primeira estrada brasileira a utilizar
asfalto ecológico, que traz em sua composição borracha de pneus inutilizados, tornando a massa asfáltica cerca de 40% mais resistente que o piso comum. Para se ter idéia, para cada quilômetro recapeado com asfalto borracha são utilizados entre 400
e 500 pneus.
Os 30 quilômetros que compõem o trecho de serra e fazem os motoristas vencerem em pouco menos de uma hora os 730 metros de altitude entre o Planalto e a Baixada Santista passaram por
grandes reformas em 2006. Aliás, os serviços realizados no primeiro semestre formam a maior intervenção na rodovia desde os anos 70.
E a razão das reformas é simples: o desgaste causado pelo excesso de veículos pesados, uma vez que caminhões e ônibus não descem a serra pela Rodovia dos Imigrantes. E, mesmo com o fato
de a maioria dos usuários preferir trafegar pela Imigrantes, passam diariamente pelas pistas Norte e Sul da Anchieta 25 mil veículos comerciais, o que representa um terço de todo o movimento registrado nos 191 quilômetros de pistas do SAI. O
complexo recebe, em média, 75 mil veículos por dia.
Para chegar a esse número, cada faixa de rolamento da Via Charmosa pode comportar cerca de 2 mil veículos por hora. Segundo o gerente de atendimento ao usuário da Ecovias (concessionária
que administra o Sistema Anchieta/Imigrantes), Sidnei Torres, o volume de veículos que trafegam pela Via Anchieta vem crescendo ano a ano.
De acordo com dados da concessionária, de janeiro a junho de 2004, 3,9 milhões de veículos passaram pela rodovia. No mesmo período de 2005, esse número subiu para 4,07 milhões e, no
primeiro semestre deste ano, 4,08 milhões utilizaram as pistas da Anchieta. "Mesmo assim, é comum a Via Anchieta ficar ociosa", diz Torres.
Hortênsias - Aos 61 anos, o pesquisador da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams) Cláudio Lorena lembra que nos primeiros anos de funcionamento a rodovia era toda ornamentada
com hortênsias azuis, que contrastavam com o cinza do concreto utilizado na pista.
"Era uma estrada muito colorida. Além do verde da Mata Atlântica, havia muitas flores que foram sumindo com o passar dos anos. Muitas pessoas paravam durante o trajeto para admirar a
vista e pegar algumas flores, que davam o charme à estrada", recordou o pesquisador.
"Mas o tempo passou e as flores foram sumindo. Apesar de ainda ser uma estrada muito bonita, a Via Anchieta já perdeu muito de seu charme. Hoje, é cercada de moradores. Antes, era só
vegetação".
Trecho da Serra, na Via Anchieta, por volta de 1960
Foto: autor não identificado
Segunda-feira, 24 de Julho de 2006, 07:35
Segundo a Ecovias, Pista Sul também receberá melhorias
Ao passo que as reformas na Pista Norte da Via Anchieta terminam, a Ecovias anuncia investimentos para a Pista Sul da rodovia. Segundo o gerente de atendimento ao usuário da
concessionária, Sidnei Torres, a empresa está estudando um local adequado para instalar uma outra área de escape, com caixa de brita, semelhante à localizada no Km 42 da mesma via.
Torres frisa que o projeto ainda não é definitivo e, antes desse estudo sair do papel, a concessionária também pretende intensificar a fiscalização eletrônica na Pista Sul, que já conta
com três radares fixos. "Há a possibilidade de instalarmos um radar móvel entre os quilômetros 40 e 55", afirma o gerente. Caso seja semelhante aos demais equipamentos, o novo radar deverá limitar a velocidade na descida da serra a 60 km/h.
Alemoa - Entre os estudos e projetos para a Pista Sul, o mais emergencial é o reforço da sinalização no viaduto da Alemoa, entre o Km 64 e o Km 63, que dá acesso ao Porto de Santos.
Segundo Torres, o local receberá pintura de solo (sinalização horizontal) igual à utilizada nas proximidades do pedágio. "São aquelas faixas onduladas, que têm como objetivo fazer o motorista reduzir a velocidade".
Os viadutos da Via Anchieta, em cartão da Foto-postal Colombo, em meados do século XX
Imagem cedida a Novo Milênio pelo historiador santista Waldir Rueda
Segunda-feira, 24 de Julho de 2006, 07:36
Estrada é considerada fenômeno de engenharia
Pistas duplas com seis metros de largura, pavimentação em concreto e cimento, arcos moldados em fôrmas de madeira, 58 viadutos, 18 pontes, cinco túneis e 55,9 quilômetros de extensão
fizeram da Via Anchieta um fenômeno da engenharia na época de sua inauguração. Superadas as dificuldades, no ano seguinte de ser aberta ao tráfego, 830 mil veículos circulavam na estrada.
Considerada o principal elo entre São Paulo e o Porto de Santos, a SP-150 também serviu de sustentação ao ABCD Paulista (Santo André, São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo e
Diadema), já que foi por ela que ocorreu o escoamento dos primeiros veículos produzidos no Brasil.
Segundo informações da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a região do ABCD é considerada o "berço da indústria automobilística", pois além da General
Motors instalar uma fábrica em São Caetano do Sul, a Mercedes-Benz fincou sua planta no bairro conhecido hoje como Vila Paulicéia, à beira da Via Anchieta, que se transformou em um importante corredor de exportação.
Pedágio - O pesquisador da Fams, Cláudio Lorena, conta que um dos fatores que contribuíram para o desgaste prematuro da Estrada Velha do Mar foi o fato de - desde o dia em que foi
inaugurada - a Via Anchieta ter um pedágio. "Isso fez com que muitos motoristas continuassem a utilizar esta estrada, mesmo depois da construção da Via Anchieta, pois na rodovia antiga não havia pedágios".
Trecho da Serra, na Via Anchieta, por volta de 1960
Foto: autor não identificado
Segunda-feira, 24 de Julho de 2006, 07:34
Pistas foram erguidas sobre percursos abertos por jesuítas
Planejada na primeira metade do século passado, a rodovia estadual Anchieta (SP-150) veio substituir a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e a Estrada da Maioridade (hoje conhecida como
Estrada Velha do Mar), que já não comportava o crescente número de veículos e o multiplicado volume de carga com destino ao Porto de Santos.
Construída pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER), a rodovia foi baseada, a princípio, no antigo Rumo da Trilha do Perequê, caminho que era utilizado pelos jesuítas, em 1554,
para subir a serra.
Porém, em 1937, o DER desenvolveu novos estudos e decidiu que a nova via seguiria o caminho do Rio das Pedras - também conhecido como Caminho do Padre José, aberto pelos jesuítas em 1560
por determinação de Mem de Sá, terceiro governador geral do Brasil.
Dois anos depois, o então interventor federal Adhemar de Barros abriu um crédito de 50 mil contos de réis para o início da construção da Via Anchieta. No entanto, foi durante o mandato
de Fernando Costa que a maior parte da rodovia saiu do papel, e a inauguração só aconteceu no final da gestão de Macedo Soares.
Isso porque, além da crise econômica e das dificuldades de financiamento externo, a segunda guerra mundial também prejudicou o andamento da obra da SP-150, que sofreu várias paralisações
e - em meados de 1940 - tinha concluída apenas a terraplanagem de alguns trechos.
Foi então que, em 22 de abril de 1947, no Governo Adhemar de Barros, a Pista Norte da Via Charmosa foi inaugurada. De acordo com o pesquisador Cláudio Lorena, a rodovia operou em mão
dupla por seis anos, até a inauguração da segunda pista da Via Anchieta (Pista Sul), em 9 julho de 1953. |