VILA SÃO JORGE, A CALMA DO INTERIOR EM SANTOS - Próximo à divisa com São Vicente, um bairro
santista guarda características que lembram cidades do Interior. Mesmo com a inauguração do Conjunto Habitacional dos Estivadores, há cerca de 20
anos, as casas predominam. É a Vila São Jorge, lugar calmo que só se transforma quando chove forte. Aí, lá vem enchente
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 17/5/2010
Lugar calmo que remete ao passado
Apesar disso, os moradores do núcleo reivindicam investimentos na
reurbanização de vias, como a Avenida Eleonor Roosevelt
Luiz Gomes Otero
Da Redação
Quem conhece a Zona Leste de Santos talvez
não tenha percebido que em um ponto extremo da Cidade, próximo da Divisa com São Vicente, há um bairro que tem uma característica que lembra uma
pequena cidade do Interior. E que ainda por cima conserva traços importantes da nossa história, como as ruínas do terceiro engenho de açúcar mais
antigo do País.
O bairro em
questão é o São Jorge, um local onde as casas predominam ao invés dos grandes e luxuosos arranha-céus que despontam em outros pontos.
Mas essa aparente tranqüilidade é interrompida quando cai uma chuva forte na Cidade. As
enchentes e as deficiências do sistema de drenagem causam sérios transtornos para a população, que até já se acostumou a conviver com esses
problemas.
A inauguração do Conjunto Habitacional dos Estivadores, há cerca de 20 anos, acabou provocando o
aumento da população, hoje estimada em 7.392 habitantes. O dado tem como base o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
realizado em 2000.
Estimativa |
7.392 habitantes
é a população do bairro estimada pelo censo de
2000 do IBGE |
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Os 21 blocos de prédios com três andares cada compreendem uma área construída de 30 mil metros
quadrados. O complexo conta com 984 apartamentos. Estimando uma média de três pessoas por apartamento, chega-se a quase três mil moradores para o
bairro.
Em que pesem os investimentos anunciados pela Prefeitura, que promete tirar do papel o projeto
Santos Novos Tempos, com obras de macro-drenagem em toda a Zona Noroeste, mas que serão executadas a longo prazo, as queixas dos moradores se
concentram na questão do tempo presente. Ivone Aparecida Alves, de 52 anos, mora no bairro desde que nasceu. E viu as transformações que
aconteceram. "Onde está hoje o conjunto dos Estivadores era uma área verde. Próximo tinha um lago e as pessoas até iam pescar ali. Hoje não tem
mais nada disso".
Dos tempos de infância, uma recordação de um problema que ainda ocorre no tempo presente: as
enchentes em dias de chuva forte.
"Lembro que meu irmão costumava usar um tronco de bananeira como barco na rua cheia d'água na
rua. Isso me marcou muito", disse a moradora, afirmando que as enchentes continuam acontecendo.
Morando no bairro há 30 anos, José Antônio de Souza, de 75 anos, viu a família crescer. Seus
quatro filhos, dez netos e sete bisnetos são a alegria da sua vida. Mas quanto ao bairro, ele constatou poucas mudanças. "O canal está mal
conservado há vários anos. E as enchentes continuam sendo um problema sério", avaliou.
Expansão não mudou o quadro das enchentes. População cobra investimentos na melhoria da drenagem
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Moradora vive nas duas cidades
"A senhora mora em Santos ou São Vicente"? A pergunta é feita com freqüência ainda hoje para a
dona de casa Nathalia Maria do Nascimento, que mora na Rua Francisco da Costa Pires, no território de Santos, bem ao lado da divisa com o
município vizinho.
Somente um canteiro central separa as duas cidades. "Basta atravessar a rua e estamos em São
Vicente. Parece estranho, mas é o que acontece na prática".
O canteiro também delimita a área de ação do serviço de varrição de rua das duas cidades.
Enquanto os funcionários da Terracom, que responde pelo serviço de limpeza urbana em Santos, atuam no lado santista, trabalhadores da Prefeitura
de São Vicente cuidam de limpar o trecho vicentino.
"Na verdade, eu sempre considerei o São Jorge um bairro metade santista, metade vicentino,
porque em São Vicente ele tem o mesmo nome. E tenho amigos e parentes que moram bem próximo nas duas cidades", assinalou Nathália.
Limite |
A Avenida Francisco da Costa Pires, onde Nathália mora, serve como ponto demarcatório
da divisa entre Santos e São Vicente |
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São Jorge na fachada - Coincidência ou não, o nome do condomínio em que Nathália mora é o
mesmo do bairro (São Jorge). E ostenta ainda a imagem do santo na fachada principal.
"Realmente há essa coincidência. Mas eu vim para cá bem depois do prédio ter sido construído.
Não conheço a história da origem do nome do condomínio", assinalou a moradora.
A principal queixa da moradora diz respeito às enchentes que acontecem nas vias próximas, como
na Rua Haroldo de Camargo. "Tem vezes que aquela via se transforma em um rio, tamanho o volume de água", adverte Nathália.
A questão da segurança é outro ponto falho apontado por Nathália. "Ainda é um bairro tranqüilo.
Mas já foi bem mais no passado. Hoje em dia não dá mais prá ter a mesma rotina que tínhamos anos atrás".
Nathália se considera santista e vicentina por morar na divisa
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Tambores marcam divisa
Quem passa pela Avenida Nossa Senhora de Fátima, no trecho do Bairro São Jorge, já notou um
imponente e curioso monumento localizado no canteiro central, composto por uma estrutura de concreto e tambores de óleo. Trata-se do Marco
Divisório entre Santos e São Vicente, inaugurado em 1967.
Idealizado pelos arquitetos Walter Maffei e Ubirajara Ribeiro, o monumento tem 9,26 metros de
altura e 2,6 metros de base. Leva 22 tambores de óleo doados pela Usiminas. A obra foi construída pela Prodesan.
Originalmente o marco foi concebido para celebrar a urbanização da Avenida Nossa Senhora de
Fátima. Possui 11 níveis indicativos de direção com os dizeres Norte, Sul, Leste e Oeste.
O São Jorge também conta com as ruínas do antigo Engenho de São Jorge dos Erasmos, monumento
tombado pelo patrimônio histórico. O complexo representa o passado econômico do Brasil no seu primeiro ciclo, que foi o da cana-de-açúcar, sendo o
único presente no Estado de São Paulo, em local próximo à divisa das cidades de São Vicente e Santos. Segundo historiadores, sua fundação veio
juntamente com a formação do povoamento local, por volta de 1534. Em 1958, o terreno foi doado à Universidade de São Paulo (USP) por Octávio
Ribeiro de Araújo. Suas instalações foram restauradas e reabertas em 2005, com programa de visitação.
Obra foi inaugurada em 1967 e serve como marco divisório
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Ligações
"A Praça Prestes Maia é um espaço que poderia ser melhor aproveitado. Acho que a Prefeitura
poderia fazer ali uma quadra de futebol de salão, porque os garotos gostam muito de jogar esse esporte" - Claudete Prado, moradora há 20 anos do
Conjunto Habitacional dos Estivadores, no Bairro São Jorge
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
"Moro há 30 anos no bairro e vi poucas melhorias acontecerem. Prova disso são as enchentes que
continuam acontecendo em dias de chuva forte. Espero que a Prefeitura tome alguma providência nesse sentido" - José Antonio de Souza, morador da
Avenida Francisco Ferreira canto, no Bairro São Jorge
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria |