O vento sempre sopra gostoso, revirando folhas e roupas estendidas nos varais. Essa
brisa é uma das características de Monte Cabrão, um lugarejo entre as áugas do Canal de Bertioga e as encostas praticamente intocadas de um morro.
O núcleo faz parte de Santos, mas leva uma vida completamente diferente daquela do
Município-sede. O comércio se resume a alguns barzinhos, não há mais do que 15 casas, um estaleiro e garagens para barcos. Além disso, só mesmo ar
puro, tranqüilidade, pássaros e borboletas colorindo ainda mais as copas das enormes árvores. De água encanada, ninguém precisa: existem várias
nascentes que fornecem água geladinha, transparente e leve.
Monte Cabrão pode ser atingido pela Estrada Piaçagüera-Guarujá e fica a uns 45 minutos
do Centro. A historiadora Wilma Teresinha de Andrade esteve lá em 1982 e se entusiasmou com as possibilidades turísticas do lugar. Enfatizou, na
época, que - com uma boa infra-estrutura - o vilarejo poderia se transformar em um excelente ponto de lazer.
Na realidade, muitos turistas, principalmente paulistanos, já descobriram as belezas de
Monte Cabrão e, nos fins de semana, se espalham por todos os cantos, desfrutando do sossego e da hospitalidade daquela gente simples.
Ali, cerca de 100 pessoas vivem quase esquecidas do mundo. Poucos santistas sabem da
existência de Monte Cabrão, e muito menos que pertence a Santos. Mas o lugar é habitado há muitos anos e, em outros tempos, se distinguia como
mais um núcleo de pescadores artesanais do nosso litoral. Hoje em dia, embora já exista a estrada Piaçagüera-Guarujá ligando o lugarejo à chamada
civilização, o número de moradores diminuiu: as águas não oferecem mais peixes como antigamente e poucos conseguem sobreviver da pesca. Tanto que
restaram apenas cinco pescadores. Os demais chefes de família preferiram trocar a rotina de água, sal e sol por um salário no final do mês.
Muitos partiram e os que ficaram é porque apreciam o sossego ou não poderiam possuir um
cantinho seu em outro lugar. Lá, apesar de não haver farmácia, posto médico e telefone público, todos moram em casas próprias. Só que são
obrigados a pagar aluguel, pelos terrenos que ocupam há muitos e muitos anos. Monte Cabrão - imaginem só - tem um dono.
Lugarejo entre as águas do canal de Bertioga e as encostas intocadas de um morro,
o Monte Cabrão tem grande potencial turístico
Nos dias de sol e com um céu bem azulzinho, tudo fica mais
bonito. Mas, esteja como estiver o tempo, Monte Cabrão sempre se mostra como um recanto agradável e pitoresco, onde se goza de ar puro e sossego.
Monte Cabrão é um pedacinho de Santos. Só que não se encontra nos limites do Município-sede e, sim, na margem esquerda do Canal de Bertioga.
Não é difícil chegar até lá. Pelo menos, ficou bem mais fácil desde a abertura da estrada que liga Piaçagüera a
Guarujá. Ela passou bem juntinho de Monte Cabrão e deixou o núcleo mais perto daquilo que convencionamos chamar de civilização: antes, só se podia
atingir o lugar por mar ou atravessando imensas áreas de mangue de Santos e Guarujá. Coisa para quem gosta de aventuras!
Pois bem: embora o lugarejo não esteja a mais do que 45 minutos de Santos, para atingi-lo é preciso passar por
Cubatão ou Guarujá. E, uma vez na Piaçaguera-Guarujá, toda atenção é pouca: não existe nenhuma placa indicativa de Monte Cabrão. A ponte sobre o
Canal de Bertioga (a maior ao longo da estrada) se destaca como a principal referência: uma estrada escondida, junto à sua cabeceira, conduz à
vilota. Para quem segue no sentido Guarujá-Cubatão, basta cruzar a ponte e entrar à direita e, para quem percorre a pista contrária, antes de
cruzar a ponte deve dobrar à esquerda.
Na entrada, os barzinhos e a maior parte das moradias do lugarejo - Feito isso, já se começa a descobrir
Monte Cabrão. Primeiro aparecem umas casas grandes, amarelas, em frente a um campo de futebol. Nelas vivem trabalhadores da Codesp, encarregados
da manutenção de torres de transmissão de energia.
Logo se vê um barzinho, outro à direita, e as casinhas que compõem o centro de Monte Cabrão. Uma imagem
típica das pequenas cidades brasileiras: chalés bem cuidados, cercados por árvores, varais cheios de roupa, vasos enfeitando as janelas.
Galinhas ciscam de um lado e de outro, quase sempre acompanhadas de enormes ninhadas; os patos rebolam em
direção à água e os cachorros latem fazendo muito barulho - ficam de longe mostrando os dentes, mas ao primeiro sinal de amizade abanam o rabinho
satisfeitos, com ar de riso (todo mundo sabe que se pode identificar um sorriso em cara de cachorro. Com exceção dos enormes cachorrões de
dona Raquel, os demais são todos muito sorridentes).
A maior parte das casas está concentrada logo na entrada (que corresponderia ao núcleo central) de Monte Cabrão.
É lá que fica o maior barzinho do lugar - o do Durval - e, metros adiante, o amplo estaleiro do Zé Miranda, o Zezinho, onde se constroem e
se reformam barcos.
O mais corre por conta das cenas características de um lugarejo à beira d'água: embarcações espalhadas pelas
margens, fundeadas ao largo, guardadas em barracões. Um detalhe: quase nada daquilo pertence à gente simples de Monte Cabrão e, sim, aos turistas,
que descobriram as delícias de se passar fins de semana lá e fazem do lugar seu ponto predileto de lazer.
Quando se olha de repente, de longe, até parece que Monte Cabrão acaba logo adiante, no estaleiro do Zezinho.
Mas, ao longo de uma picada, a gente descobre as casas de outras famílias, algumas muito antigas no lugar. A penúltima delas pertence a dona
Raquel, cuja mãe nasceu e morreu em Monte Cabrão, com quase 70 anos de idade.
E é lá pelos lados onde vive dona Raquel que a gente perde totalmente a noção de que se está num estado grande
como São Paulo e tão perto de cidades movimentadas como Santos e Guarujá.
Os barzinhos são ponto de encontro dessa gente, que não dispõe de muitas atrações
Árvores, ar puro, mar e muita tranqüilidade para se curtir tudo
- Nesse canto de Monte Cabrão, não se ouve mais o barulho dos carros que passam velozes pela Piaçagüera e não se vê nada além das águas um tanto
escurecidas do Canal de Bertioga, a vegetação baixa e esgalhada que caracteriza as áreas de mangue e as encostas do morro.
Nada de bate-estacas, britadeiras quebrando o asfalto ou escapamentos abertos. O barulho não passa do
choro ou do riso de alguma criança, o cantar de um galo, a voz de uma mãe chamando o filho ou gostosa gargalhada de um velhinho bem humorado.
Ao contrário da concentração de casas que existe logo na entrada de Monte Cabrão, a partir da picadinha aberta
no sopé do morro, as moradias se encontram distantes umas das outras, a menos que alguma família divida o mesmo terreno.
O caminho que as liga é todo cercado por bambuzais, coqueiros, jaqueiras, pés de mamona e outras árvores
enormes, que um leigo não consegue distinguir. Sem contar as dezenas de pés de morangos silvestres e plantinhas rasteiras, dessas que vivem
carregadas de florzinhas coloridas.
Leva uma vidinha simples e tranqüila aquela gente. Corre-corre, só mesmo o das crianças quando começam a brincar
de pega-pega ou saem em disparada para mostrar o siri ou caranguejo que acabam de pescar. Elas nunca brincam longe de casa. Afinal, o que é longe
em Monte Cabrão?
Potencialidade turística, um aspecto apontado após pesquisa e estudo - Todas essas características do
lugar entusiasmaram a historiadora Wilma Terezinha de Andrade, que realiza levantamentos para a confecção do Diagnóstico Turístico de Santos e
esteve no vilarejo em 1982. "Uma boa infra-estrutura, se planejada, poderia transformar Monte Cabrão em um excelente ponto de lazer", enfatizou
ela, na época, ao secretário de Turismo, Francisco Céspedes.
Pelo que observou, o lugar pode representar, como área de pescaria, mais do que o próprio Rio Diana, pois em
suas imediações localizam-se fartos pesqueiros, conhecidos por poucos pescadores amadores.
O número de barcos e veleiros nas águas e nos barracões de Monte Cabrão indicam que os paulistanos e gente do
Interior já constataram as suas potencialidades. Resta aos santistas (e principalmente às autoridades ligadas ao turismo) descobrirem o lugar.
Os chalés são simples, mas os moradores fazem questão de ornamentá-los, com vasos e
folhagens
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