Este é o Jardim Rádio Clube, em 1983
Um abandono escandaloso...
Fim das valas, creches, ruas asfaltadas? Essas são algumas
coisas com as quais os moradores do Jardim Rádio Clube vivem sonhando. Apesar de ser um dos bairros mais antigos da Zona Noroeste, até agora não
dispõe de um mínimo de infra-estrutura. Os pedidos dos moradores sempre caem no vazio e ninguém mais sabe o que fazer.
O pessoal tem até dificuldades em conseguir que a Prefeitura aterre as ruas. Das vezes que se executou esse tipo
de serviço, a emenda ficou pior que o soneto, como diz o ditado popular. É que a Secretaria de Obras sempre despeja um barro vermelho, não faz a
compactação direito e quando cai uma chuvinha de nada, pronto: forma-se um lamaçal que nem os caminhões conseguem atravessar.
Como se não bastasse, as valas de esgoto transbordam por falta de limpeza e as águas podres invadem os quintais.
Às vezes mal se pode vê-las, encobertas que estão pelo mato. Cenas de fazer vergonha a qualquer prefeito.
As ruas José Alberto de Luca e Vereador Álvaro Guimarães são as únicas asfaltadas. A segunda, que tinha 12
metros de largura, perdeu quatro para que nas laterais se fizesse um calçadão. Mas o calçadão ficou só em projeto: os cantos da via proporcionam
uma imagem de total abandono, pois continuam sem as árvores e os jardins prometidos. E as estreitas valetas por onde correm o esgoto e as águas
servidas vivem sem manutenção e entupidas. Isso numa das principais ruas do bairro!
Em piores condições se encontram os canais que circundam cerca de dois terços do Rádio Clube. Quase nunca a
Prefeitura se lembra de limpá-los, e ninguém suporta o mau cheiro exalado pelo lodo malcheiroso. Sem contar que o lixo obstrói as comportas do
dique, provocando inundações principalmente na Avenida Brigadeiro Faria Lima. Ao deparar com tudo isso, a gente só pode dar razão aos moradores
que acusam o Poder Público de negligência.
A praça, um lixão - Os 125 terrenos baldios continuam sem
muros e limpeza, em flagrante desrespeito à legislação municipal. Nem por isso a Prefeitura toma providências, e sob seu olhar complacente
proliferam ratos e insetos.
Mas, antes de acabar com o abuso dos particulares, o prefeito precisaria dar uma olhada no estado da Praça
Armando Erbisti, que não passa de um imenso lixão. Segundo denuncia o presidente da Sociedade de Melhoramentos do Jardim Rádio Clube,
Manoel Constantino dos Santos, caminhões da própria Prefeitura despejam lixo nela. Poderia haver exemplo pior?
Os terrenos abandonados e a falta de policiamento só facilitam a ação de marginais. A invasão de residências à
mão armada acontece até mesmo de dia, e os moradores, intranqüilos, insistem em pedir um posto policial. Apesar da reivindicação ser antiga, até
agora, nada.
Nem a EEPG Pedro Crescenti escapa de atos de vandalismo. Os moradores se comprometeram a construir uma zeladoria
em regime de mutirão, mas o Estado preferiu que a Conesp se encarregasse disso. Só que a Conesp prometeu e não cumpriu.
Embora o bairro disponha dessa escola de primeiro grau, muitos jovens ficam sem estudar porque não há aulas no
período noturno. E a Prefeitura cedeu as instalações da sua única escola municipal do bairro para o Sesi. Conclusão: o Rádio Clube tem escolas,
mas se pode dizer que não, pois não atendem às necessidades da coletividade.
Creche e pré-escola - Não bastasse a falta de áreas de lazer para as crianças, o bairro não dispõe de
creches e nem pré-escola. Quando os pais saem para trabalhar, as crianças ficam confinadas dentro de casa, se espalham pelas ruas cheias de lama
ou catam peixinhos nas valas de esgoto. O que será dessas crianças e do País, já que depende delas para sobreviver enquanto Nação?
...e a falta de autonomia
Constantino espera autonomia e mais obras
"Nunca
imaginei que Santos pudesse ter uma administração tão cínica. O prefeito conversa, promete, diz que vai atender aos pedidos no outro dia, mas nada
acontece. O maior problema é a falta de verdade". Essa declaração do presidente da Sociedade de Melhoramentos do Jardim Rádio Clube e vereador
eleito pelo PMDB, Manoel Constantino dos Santos, não é dada à toa: resulta das experiências que teve nesses três últimos anos à frente da
entidade.
Por ter um representante de Oposição, o Jardim Rádio Clube se viu simplesmente deixado de lado pela
administração municipal. Constantino cansou de ir à presença do prefeito Paulo Gomes Barbosa e do secretário de Obras, Osmar Pinto Gomes, para
pedir coisas mínimas (entre outras mais sérias, ligadas à falta de saneamento básico e creches), como o nivelamento de ruas, mas muitas vezes nem
isso conseguiu.
O presidente da SM mostra um recorte de A Tribuna de 24 de dezembro de 1982, no qual Barbosa anuncia que
uma equipe estava realizando serviços nas ruas do Rádio Clube. E conta: os moradores saíram à procura de tal equipe e não encontraram ninguém.
Por essas e por outras, Manoel Constantino acha que Santos precisa recuperar a autonomia o quanto antes, para
que a população tenha oportunidade de colocar no cargo de prefeito alguém comprometido com os interesses populares. Sem isso, acredita que bairros
carentes como o Jardim Rádio Clube vão ter que continuar mendigando atenção. |