A casa cheia de puçás e sirizeiras, uma atração turística
A vida dura desses pescadores da Bacia
As águas do estuário não dão mais peixes como antigamente.
Mas os pescadores da Bacia do Macuco resistem. Conseguiram se acostumar a uma vida dura traduzida em sol, mar, sol, pele curtida, mãos calejadas.
Agora são obrigados a pescar mais longe. Seguem para Bertioga, procuram as águas claras do Rio Jurubatuba ou do
Rio das Neves. Gastam Cr$ 500,00, Cr$ 700,00 por dia com combustível e às vezes voltam para casa de mãos vazias. Foi-se o tempo em que pescavam,
bem pertinho, 25 ou 30 quilos de camarão em não mais que três horas. Agora, é jogar com a sorte. Há pelo menos uns três anos não entra uma bendita
tainha nesse estuário poluído.
Os pescadores seguem horas afora na madrugada. Não sabem se vão ter boa pescaria. Nem mesmo sabem se voltam. O
mar reserva muitas surpresas. Quando bate um vento forte, o jeito é esperar pela calmaria, o que pode significar ver cair a noite sem poder
retornar. Quem se atreve a desafiar a ventania corre o risco de aparecer horas depois boiando. Quando o corpo aparece. É imensa a lista dos
desaparecidos na profissão.
Além de enfrentarem todas essas condições adversas próprias da atividade, os pescadores da Bacia reclamam da
falta de apoio por parte da Colônia dos Pescadores Z-1, que faz às vezes do sindicato. Sizino Francisco de Farias, na Bacia há 25 anos, não
esconde a revolta. "Nem uma boa assistência médica a Colônia garante", afirma, lembrando que, aqueles que não pagam o INPS, podem até morrer à
míngua.
Quando pescador adoece, não trabalha, a família fica desassistida, passa fome. Uma ocasião em que ficou doente,
seu Sizino vendeu sua chata com motor, uma parelha de rede e ainda tomou dinheiro emprestado. "A Colônia não fez nada. Tive de vender meus
instrumentos de trabalho para a minha gente não morrer de fome", continua esse homem de mãos grossas e braços cheios de cicatrizes ganhas ao
afundá-los no mangue, à cata de caranguejos.
Ele nunca se esquece do seu Oswaldo, um velho pescador, já sem forças para o trabalho. Era sozinho, rolou
por muitas sarjetas da vida e morreu como indigente. Se criou na pesca e não conseguiu uma velhice e uma morte dignas.
Como se não bastasse, os pescadores da Bacia ainda enfrentam a concorrência de clandestinos, de gente de outras
profissões que lhes rouba o ganha-pão. Na época do caranguejo, aparece pescador de tudo quanto é lado, sempre disposto a ocupar os melhores
pontos de venda da Bacia.
"Isso a fiscalização não vê", completa seu Sizino, dizendo que, quando algum pescador atrasa o pagamento
da Colônia, logo aparecem fiscais para lhe tomar as redes, os puçás. Por essas e por outras, os pescadores estão descontentes, não acreditam em
mais nada e não sabem para quem apelar. Só resta uma certeza: a anuidade da Colônia aumenta sempre, sem dó.
"É a lei da selva. O grande engole o pequeno e está conversado", concluiu seu Sizino; com o que concordam
os pescadores reunidos à sua volta.
Falta apoio da Colônia Z-1 e os pescadores da Bacia têm medo de morrer à míngua
Essa gente está ameaçada mas vai lutar até o fim
De repente, as ameaças de despejo, os boatos, umas coisas
complicadas que aquela gente simples mal consegue entender. Pois é. O pessoal das ruas Alberto Mendes Júnior (antigo Caminho Particular da Bacia)
e da Clóvis Galvão de Moura Lacerda (antiga Avenida Santista) já não sabem o que fazer diante da indefinição quanto à posse dos terrenos que
ocupam.
Os moradores da Alberto Mendes Júnior estão ameaçados de serem expulsos das terras onde vivem há 40, 50 ou até
60 anos pela família Bayton, ou seja, pela família da esposa do ex-governador do Estado, Paulo Egídio Martins. Tudo começou há uns seis anos,
quando os Bayton adquiriram a gleba e começaram a falar em desapropriação.
A confusão estava formada. Mas as famílias não perderam tempo, se mobilizaram e confiaram o assunto aos
advogados Nélson Fabiano Sobrinho e Sônia Morozetti Blanco. Mas a luta continua pendente, apesar de a moradora Cleonice da Silva Souza ter
encaminhado uma carta ao presidente Figueiredo, pondo-a a par da situação.
Quem mora na antiga Avenida Santista anda às voltas com a empresa Obra Comercial e Construtora, que se diz
proprietária de boa parte da área. Embora o advogado da firma, Cleônio Aguiar, tenha afirmado que não há ameaças de despejo, os moradores andam
desconfiados e não querem ver nenhum estranho rondando por perto. Muitos nasceram e se criaram por ali e estão dispostos a fazer valer seus
direitos. Custe o que custar.
Nas áreas em litígio, valas e muito abandono
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