IPT diz que há perigo no Morro da Caneleira, mas a Prefeitura nada faz
Casas estão ameaçadas. E ninguém faz nada
Elídio, um dos pioneiros
Nove
das 13 casas existentes no Caminho Particular São Jorge, no Morro da Caneleira, estão em perigo, segundo os laudos do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT). Encontram-se imediatamente abaixo de zonas instáveis e podem ser atingidas por barreiras.
Mas isso não preocupa nem um pouco o pessoal da Prefeitura. Com ou sem tempo bom, ninguém aparece por lá para
verificar as condições da encosta e realizar as obras necessárias.
Quando chove forte, quem vasculha aquilo tudo para ver se há riscos iminentes é o morador Antônio Pires. No
passado, houve vários desbarrancamentos no Morro da Caneleira, portanto, não se pode brincar. Ele próprio se encarregou de plantar faixas de bambu
como medida preventiva, conforme o IPT recomenda que se faça em diversos morros de Santos.
Não tem sido pouca a luta do pessoal que vive lá. Até uns 12 anos atrás, a eletricidade era emprestada pelo
morador da ligação 31, que conseguira um "rabicho oficial" com a antiga Companhia City. De dia, não havia maiores problemas, mas à noite, quando
aumentava o consumo de energia, o sistema entrava em pane e tudo ficava na penumbra.
Sabino e as histórias de outros tempos
Há
pouco mais de três anos, as famílias ainda enfrentavam problemas de falta de água, sem contar que a televisão só pega graças à esperteza de seu
Pires. O Morro da Caneleira impedia a passagem dos sinais de transmissão. Que fez ele? Esticou os fios e enfincou a antena lá no alto.
Pouco a pouco, os moradores conquistaram melhoramentos. Mas até agora não conseguiram que a Prefeitura batize
a rua onde moram. A denominação Caminho Particular São Jorge não passa de um apelido criado pelo pessoal, para permitir a entrega de
correspondência e mercadorias em suas casas. A placa indicando o apelido também foi feita e afixada por eles.
Cansaram de pedir providências e chegaram à conclusão de que é preciso muita paciência. E uma resistência tão
grande quanto a de seu Antônio, que mora num ponto bem alto do Morro da Caneleira, tem 75 anos de idade e desce as encostas com um caixote com 15
dúzias de banana no ombro. Em outros tempos, tinha um alambique e fabricava uma pinga melhor do que qualquer uísque. E fabricava um vinho de cana
que embebedava qualquer um após o primeiro copo.
Obras da SM estão paradas por falta de material
O pessoal há tempo anda sonhando com uma creche e um posto
de atendimento médico. Por isso, quer ver as obras de ampliação da sede da Sociedade de Melhoramentos - onde poderão ser implantados esses
serviços - terminadas o mais rápido possível. Mas isso está difícil: tudo se encontra parado por falta de material.
Conceição e as histórias de outros tempos
A Sociedade de
Melhoramentos da Caneleira foi fundada a 5 de março de 1961, quando moravam no bairro apenas umas 15 ou 20 famílias. Gente como seu Luís,
seu Mário, seu André - que andavam às voltas com limpeza de valas, derrubada de mato e outros problemas - decidiram criar uma
entidade capaz de dar voz à Caneleira e fazê-la ser ouvida em suas reivindicações.
Lá foram eles para o Jardim Santa Maria, aprender como se fazia para fundar uma sociedade de melhoramentos.
Ouviram bastante, aproveitaram a experiência dos companheiros e conseguiram.
A Caneleira cresceu, tem 280 casas e uns 1.500 moradores. A sua entidade de representação precisava acompanhar
esse ritmo. Não dava mais para continuar em sede tão acanhada. Havia os planos de criar o posto de atendimento médico e a creche, sem contar que a
diretoria já mantinha pré-escola e maternal para as crianças do bairro.
Pensando em tudo que poderia ser feito em um local mais amplo, a diretoria resolveu construir uma nova sede. As
obras começaram em março e são os próprios moradores que fazem o cimento, carregam pedras e assentam blocos: não há dinheiro para pagar pedreiros.
Atualmente, os serviços estão parados por falta de material. Os diretores dependem de colaboradores. Não fazem
críticas diretas à Prefeitura, mas dão a entender que ela poderia ajudar mais. Afinal, nas novas instalações funcionarão escola, posto médico e
creche e implantá-las é competência do Poder Público, não da comunidade.
Integram a Sociedade de Melhoramentos da Caneleira: Mário Ferreira, presidente; Fanny Silva Martins Meleiro,
vice-presidenta; Adriano Isidoro Polpes, Manoel Eduardo Garcia, Orivaldo Souza da Rocha, Paulo M. Nascimento e José Américo.
Seu Pires, atento aos perigos
Uma gruta em homenagem à padroeira
Apenas cinco famílias da Caneleira não são devotas de Nossa
Senhora Aparecida. Pelo menos, é isso que revelou pesquisa realizada há dois anos, quando moradores, incentivados pelo padre Paulo Horneaux de
Moura, se mobilizaram para construir um santuário em homenagem ao santo predileto.
Dona Luísa e dona Fanny não descansaram enquanto não viram a idéia concretizada. Conversaram muito sobre o
assunto, articularam a pesquisa e cuidaram para que tudo desse certo. Não faltou a ajuda de gente como seu João Oliveira, seu
Antônio de Jesus Ramos, Zé Eduardo e Carlos Alberto, que não se fizeram de rogados, arregaçaram as mangas e construíram uma gruta, em
pedras, defronte da sede da sociedade de melhoramentos.
A 12 de outubro de 1980, festa na Caneleira. A ermida era inaugurada, com missa rezada por padre Paulo. Desde
então, há culto e procissão no dia consagrado à Padroeira do Brasil. Independente de datas, é ali que as pessoas fazem orações, acendem velas e
agradecem pelas graças que afirmam ter obtido.
Junto à imagem de Aparecida, pedidos e orações
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