No Caminho Santa Marina, o conjunto de casas geminadas mais antigo do Fontana
Um nome feio, de origem desconhecida
"Tem uns que dizem Morro do Búfalo. Outros, Morro do
Bufo. O certo eu não sei". Rose Fonseca da Silva, moradora há 20 anos.
"Bufo... Será que era o nome de alguém? Vai ver que botaram esse apelido porque as pessoas chegavam aqui em
cima bufando". Vicente Souza Filho, morador há oito anos.
"Quando minha mãe se mudou para cá, achou esse nome tão feio..." Leonor de Abreu Gomes, moradora há mais
de 30 anos.
O mudo gira que gira e a gente acaba descobrindo um monte de coisas. Mas, muitos tentaram e não conseguiram
saber porque deram o nome de Bufo àquele morro que fica entre o Monte Serrate, o Fontana e o São Bento. Ninguém viu ou ouviu nada. Uma grande
incógnita.
Nem mesmo pesquisadores da história de Santos, como Costa e Silva Sobrinho e Daniel Bicudo, ajudam na hora de
tentar elucidar o assunto, porque em seus livros não consta nada. O máximo que se pode fazer, então, é levantar hipóteses capazes de, pelo menos,
clarear um pouco esse horizonte tão nebuloso.
Com a ajuda de Aurélio Buarque de Hollanda, contata-se que a palavra bufo tem vários significados. O mais
conhecido é aquele que se refere à ação de bufar, ou seja, expelir fortemente o ar pela boca ou nariz. Mas, bufo pode ser também uma ave
noturna tipo coruja, um homem avarento ou, ainda, ator ou personagem de comédia, saltimbanco, cômico.
Quem sabe, em outros tempos, o Bufo não foi habitado por essas aves noturnas ou por algum artista de circo,
desses bem populares entre crianças e adultos? Fica aí um mistério para ser revelado.
Como se não bastasse a indefinição quanto à origem do nome, muitos fazem confusão quanto aos limites exatos do
Morro do Bufo. Em alguns pontos, é confundido com o Monte Serrate; em outros, com o Fontana. Poucos sabem distinguí-lo do São Bento e quase
ninguém pode apontar onde faz divisa com o Morro da Santa Casa.
Os moradores mostram-se seguros de que conhecem tudo direitinho, mas cada um vem com uma explicação. "O Bufo é
mais para cima. Aqui embaixo é tudo Fontana", assegura um velhinho, enquanto começa a descer as escadarias do Caminho Santa Marina. Outro senhor,
parado no Largo do Camacho, volta-se para o Bar do Fontana e diz: "Fontana é só esse trechinho aqui".
Na parte mais alta, onde o Bufo faz divisa com o São Bento, surgem novas dúvidas. Há quem chame tudo de Bufo; há
quem chame tudo de São Bento. E, por estranho que pareça, ninguém fala do Morro da Santa Casa, que existe oficialmente e fica naquele miolo.
Trata-se daquela encosta ao lado e acima do Túnel Rubens Ferreira Martins, voltada para o Centro, em cujo sopé a Santa Casa funcionou por mais de
100 anos. Quantos não se lembram daquele prédio imponente que deu nome ao morro?
Dizem que há muitos anos chamava-se Morro do Fontana todo aquele trecho entre o Monte Serrate e o São Bento,
porque um tal de Fontana era dono de tudo aquilo. Depois, vieram com essa história de chamar parte do morro de Bufo. Corre ainda uma outra versão:
o nome Bufo, tão esquisito e de origem desconhecida, teria sido substituído por Nossa Senhora de Lourdes, em homenagem à padroeira. Mas a
Prefeitura nega a mudança.
O que se pode assegurar é que, no mapa oficial dos morros, não estão definidos os limites do Bufo e do Fontana.
No espaço referente a eles consta a denominação genérica Bufo-Fontana, sem maiores especificações.
Na capela da padroeira, momentos de fé e de oração. Na inscrição, o ano 1935
Na subida, uma capela para Lourdes, a padroeira
Toda comunidade que se preza tem o seu santo de devoção. Nos
morros do Bufo e do Fontana, a protetora é Nossa Senhora de Lourdes, santa que os fiéis louvam e sentem mais perto de si.
Os homens tiram o chapéu e as mulheres jamais esquecem de fazer o sinal da cruz quando passam em frente à capela
dedicada a ela, na Avenida Nossa Senhora do Monte Serrate. Dizem que a imagem simples, de uns 50 centímetros de altura, foi encontrada entre as
matas por um homem. Este, bem de vida, proprietário de terras lá, resolveu edificar a capela e deixar a imagem exposta para adoração dos
católicos.
A cada dia cresce o número dos que afirmam ter feito um pedido a Nossa Senhora de Lourdes e alcançado a graça.
Por isso, sempre se vê gente acendendo velas, rezando ou deixando uma prenda junto à imagem. Até missas são celebradas, apesar de a capela não ter
bancos ou altar.
Antônio Gomes Cunha, o Geraldo, faz a manutenção do pequeno templo e se vale de algum dinheiro deixado
por fiéis para pintá-lo ou reformá-lo. Sua esposa, Leonor de Abreu Gomes, se reúne com as vizinhas e contrata o padre para rezar a missa. Nos
últimos 12 meses houve seis cultos, com a presença certa daqueles que pediram um emprego para o filho, o fim das brigas em casa ou a melhora da
saúde. E viram seus desejos atendidos.
O túnel, quando do início das obras de pavimentação
Um túnel e um elevado sobre os mesmos morros
O Elevado Aristides Bastos Machado leva a fama de obra mais
importante - e também mais cara e demorada - da história de Santos, em função do trânsito. Mas não se pode perder de vista o significado do Túnel
Rubens Ferreira Martins, que permitiu aos santistas atravessarem o imenso bloco de granito, há anos acusado de segregar a parte do porto e dos
negócios da zona da praia e das residências.
O morro tornou-se um inconveniente para o trânsito cada vez mais intenso. Quando o DER realizava os estudos para
a chegada da Via Anchieta a Santos, o então prefeito, Rubens Ferreira Martins, aproveitou a oportunidade para reivindicar a abertura do túnel. E
conseguiu.
O elevado sobre esse mesmo túnel foi projetado inicialmente na administração do interventor federal Clóvis
Bandeira Brasil. Na época, estimava-se seu custo em Cr$ 3 milhões, quantia que subiu para Cr$ 4 milhões em menos de 10 meses, quando a Prodesan
concluiu o detalhamento técnico.
Na época da assinatura do contrato com a Engenharia de Obras Ltda., vencedora da concorrência pública, chegou-se
à conclusão que a obra custaria pouco mais de Cr$ 4 milhões e meio. Mas, houve problemas de instabilidade de encostas e necessidade de desmonte de
rochas, bem como paralisações por falta de mão-de-obra e cimento. Quando finalmente entregue ao público, a 10 de novembro de 1976, o elevado tinha
tirado dos cofres públicos Cr$ 40 milhões, dez vezes mais do que o orçamento inicial.
A partir da sua construção, o trânsito procedente da Avenida Getúlio Vargas passou a ter ligação direta com a
Avenida São Francisco, sem cruzamentos. Há ainda no complexo uma pista especial para o trânsito procedente do túnel Praia-Centro e que pretende
alcançar a Avenida Getúlio Vargas, em demanda da Via Anchieta.
Sob o viaduto, uma pista conduz à Praça dos Andradas, por meio da Rua Visconde do Embaré e passando ao lado da
Rodoviária. Outra pista, entre o acesso da Getúlio Vargas ao túnel Centro-Praia e a Estação Rodoviária, destina-se aos ônibus que operam no
terminal da Prodesan. Sem contar as pistas de retorno, que conduzem à Rua São Bento, à Rua Caiubi e à Avenida Getúlio Vargas. |