Quando lembramos das histórias do tempo da EPCAR e da AFA, parece que lá se vai um
longo tempo. É como um bom programa antigo de televisão que nunca mais será transmitido. Doce ilusão!!
Assim como as emissoras de TV repetem ou regravam novelas e programas com uma nova
roupagem, mais atual, nós também aperfeiçoamos as aventuras e histórias ao longo de nossa atribulada vida.
A história que passo a contar agora aconteceu lá pelo ano de 1979 ou 1980 e,
portanto, quando já ocupávamos encargos em Unidades operacionais como Tenentes, no caso, na Base Aérea de Santos, o que, convenhamos, não seria o
local mais adequado para descobrir-se um raro símio azul, porém...
A história começa na EPCAR, naquele tempo em que, ao final do expediente ou nos fins
de semana, um seleto grupo de "adoradores de laranja" - uma "seita" muito difundida entre os alunos, cujos membros, conhecidos como "laranjeiras",
costumavam correr próximo ao muro da Escola e no través do laranjal vizinho faziam uma parada estratégica.
A parada tinha por objetivo saciar o desejo daqueles fiéis adeptos que, num rápido
pular de muro, colhiam algumas "vítimas laranjais" que seriam sacrificadas em favor dos "laranjeiras", mesmo sem o consentimento do líder e
proprietário da plantação, cuja presença era anunciada dentre os "laranjeiras" aos gritos de "- Corre que o homem tá vindo!!!", complementando, às
vezes com "E tá armado!!!!". esta prática, ao longo do tempo, foi se aperfeiçoando e, ao final do curso, alguns membros mais efetivos e dedicados à
seita, cansados de pular o muro, mantinham uma pequena e artesanal escada, faca e outros apetrechos próximo ao "altar dos sacrifícios".
Quantas vezes corremos do dono do laranjal...
Alguns chegaram a tomar uns tiros com balas de sal nas pernas. Como ardia!!
Mas o tempo passa e, como disse anteriormente, as aventuras se desenvolvem
incorporando inovações e novos equipamentos.
Assim é que, nos idos de 1979/1980, dois companheiros que voavam helicópteros na
Base Aérea de Santos, talvez oriundos daquela "seita" e desgostosos com a mesma, resolveram desenvolver um novo culto, criando os "adoradores de
bananas", sendo eles dois os principais gurus da nova seita.
O novo culto, mais moderno e equipado do que o primeiro, utilizava o helicóptero
para voar até um bananal e, enquanto um piloto pairava a aeronave próximo às bananeiras o outro, ao lado, pela porta do H-13, também chamado de
"Bolha Assassina", cortava e recolhia os cachos de banana.
Tudo daria certo se não fosse por um pequeno detalhe aerodinâmico: O vento provocado
pelo rotor principal do helicóptero afastava as bananeiras e, com isto, não era possível alcançar as vítimas do interior da aeronave.
Os "fiéis iluminados", trajando seus "mantos azuis" com bolachas da FAB, tiveram,
então, a brilhante e inspirada idéia de que um dos dois deveria saltar do helicóptero para escolher os cachos de bananas a serem sacrificados,
enquanto o outro sobrevoava o local em círculos, aguardando o término da tarefa, após a qual regressaria para resgatar o companheiro de culto e as
"vítimas" já devidamente ensacadas.
O que os companheiros não imaginavam é que o "pastor daquelas ovelhas" também
chamado de "proprietário do bananal" poderia não compartilhar de seus próprios desejos e intenções para com as infiéis bananas capturadas.
O dito cidadão, ouvindo o barulho do helicóptero e percebendo que o mesmo circulava
sobre uma área específica de sua propriedade, lembrou-se de outras ocasiões em que tais fatos poderiam ser associados ao desaparecimento de
significativa quantidade de habitantes de suas bananeiras, algumas ainda jovens.
Ao vislumbrar a cena das bananeiras destruídas e das bananas desaparecidas, o
proprietário resolveu investigar e proteger seu negócio, dirigindo-se rapidamente, a pé, ao local do eminente latrocínio das bananas, acompanhado de
sua fiel e inseparável espingarda calibre 12 que, de tão bem cuidada, refletia a luz do sol.
Ao mesmo tempo em que o vigilante armado caminhava em direção ao seu companheiro que
saciava seus desejos com as inocentes bananas, enquanto ensacava outras para posterior deleite, o piloto avistou o brilho da espingarda e, deduzindo
que o proprietário não compartilhava suas convicções quanto ao direito das bananas, nem estaria com humor para um diálogo, resolveu bater em
retirada, abandonando o "amigo" atracado com as bananas a sua própria sorte.
Sorte?!
A verdade é que o dono do bananal acabou por vislumbrar ao longe, atracado com
diversos cachos de banana, já com algumas no estômago, outras na mão ou na boca aquilo que pensou ser um "GORILA AZUL":
O porte físico, o caminhar arcado com as mãos balançando ao lado do corpo e próximo
ao solo, as pernas curtas e a vestimenta azul (e ele não viu o tamanho do cérebro!!) o fizeram imaginar que no seu bananal existia um símio mais
raro que o mico leão dourado. Algo jamais visto!
Ao aproximar-se ficou mais estupefato. O tal "gorila" tinha feições "quase" humanas
e soltava uns "grunhidos" pela boca cheia de bananas que pareciam com algum tipo de comunicação.
Feitas as apresentações, nosso companheiro "macaco" nega-se, até hoje, a descrever o
diálogo ocorrido. A verdade é que horas mais tarde chegava à Base Aérea de Santos um pequeno e velho caminhão trazendo a bordo o "símio" para ser
entregue ao Comandante da Base e algumas das bananas mais caras do mundo a serem pagas pelo próprio.
Vocês podem duvidar, mas eu juro que é verdade! Talvez com alguns poucos exageros,
mas isto terá sido culpa da minha memória: Às vezes ela me trai em alguns poucos aspectos! Podem perguntar pro Siqueira e Clenézio! Eles também
estavam por lá e vão confirmar a história! (Se tiverem coragem, é lógico!!!)
71/214 77/176 Oscar
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