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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Boate servida por freiras!

Olao Rodrigues (*)

A Cidade Junina foi a maior promoção turística de Santos, em que pesem as lamúrias dos restaurantes, lanchonetes, pizzarias e bares da Orla. Tornou-se famosa e atraía turistas do Planalto. E a Prefeitura ainda ganhava dinheiro, além de oferecer o certame largo prestígio ao Conselho Municipal de Turismo.

Pela peculiaridade, a Cidade Junina apresentava curiosos aspectos sociológicos, assistenciais, religiosos e políticos. Lá se confundiam autoridades civis e militares, gente de todas as classes sociais, entidades de todos os tipos de atendimento e de religião.

Pondo exemplo:

Conhecida instituição religiosa, dirigida e professorada por freiras, quis ampliar suas instalações, armando ao lado barracão de madeira compensada. Mais de vinte mesinhas, cada qual com duas e quatro cadeiras. Logo na entrada, um trio ou quinteto de guitarras formado por jovens, um dos quais era cantor, executando a música sensação do momento - o rock.

Foi louvável o objetivo das freiras. Reservar, como reservaram, ambiente propício aos jovens consumidores de refrigerantes, cerveja ou chope com fatias de pizzas, sanduíches, empadas, pastéis ou churrasco. Elas próprias serviam e a nobre instituição faturaria muito mais, como faturou.

Sucedeu o imprevisto.

Jovem casal de namorados, estimulado pela música, foi ao centro do barracão e começou a dançar, imitado por outro casal. E mais um. E muitos outros casais.

Não demorou muito e o salão ficou cheio, abarrotado!

Que poderiam fazer as freiras?

Nada. Nada.

Serviam com delicadeza e sorridentes todos clientes.

Nas noites subseqüentes, o negócio ferveu.

E a austera instituição religiosa da Cidade Junina, com o barracão suplementar, virou boate.

Boate servida por freiras!

(*) Olao Rodrigues, jornalista, incluiu essa história em seu livro Santos de Pijama, publicado post-mortem em 1981/2 na Gráfica A Tribuna, de Santos/SP.

N.E.: a Cidade Junina foi uma promoção turística e beneficente organizada durante vários anos nas areias da Praia do Gonzaga pela Prefeitura Municipal de Santos, nas férias de julho. Além de equipamentos de parque de diversões, como roda gigante, carros de trombada, pescaria da sorte e outros, incluía uma série de barracas cedidas a entidades beneficentes para que as usassem no comércio de lanches e bebidas, auferindo assim uma renda para auxílio em suas atividades assistenciais.

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