Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0068.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/16/08 11:58:15
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Uma batalha de confete com Jânio Quadros

Texto extraído do livro O Fenômeno Jânio Quadros, de Viriato de Castro (2ª edição, 1959, edição do autor, pág. 116, São Paulo/SP):

Num carnaval, Jânio foi à cidade de Santos. Como qualquer cidadão - fevereiro de 1955 - passou a noite num dos bailes carnavalescos, juntamente com a família. Uma dada hora, alguém pretendeu-lhe jogar confeti. Mais tarde, Jânio fica sabendo que o indivíduo teria dito que iria fazer "o governador engolir confeti".

Foi o bastante. Há uma discussão entre o folião e o governador. Tratava-se de um médico, funcionário do Estado. De volta à Capital, o governador do Estado demite o funcionário folião, pois que ele era interino. Os jornais fizeram verdadeiro alarido sobre o caso. Jânio foi atacado acerbamente e o caso empolgou a opinião pública.

Numa entrevista concedida à televisão, fizeram uma pergunta ao governador Jânio Quadros a respeito do caso. Ele esclareceu o que houvera e afirmou: "o folião quis alcançar a autoridade do governador do Estado, não o cidadão Jânio Quadros".

Posteriormente, o referido servidor recorreu da sua demissão, explicando o ocorrido e solicitando a sua volta ao cargo público. Jânio não teve dúvida em nomeá-lo novamente, despachando ao seu secretário a ordem, acrescentando: "Esse já pagou carro o erro". O fato se deu com o médico Eugênio Sadocco, no Club XV, de Santos.

Santos registrou outra curiosidade relacionada com o ex-governador e presidente. No jornal santista A Tribuna de 25 de janeiro de 1956 é revelada a sua veia poética:

Imagem: transcrição parcial da matéria original

O poeta Jânio Quadros

Hoje, data da fundação de São Paulo de Piratininga, chama-nos a atenção essa coincidência histórica, que denuncia uma espécie de interferência sobrenatural nos destinos da terra bandeirante: a passagem do aniversário do governador Jânio Quadros. Matogrossense de nascimento, essa figura esguia e magra, que ocupa os Campos Elíseos, tem sido objeto das mais desencontradas opiniões desde quando, pela vontade popular, em pleno VI Centenário (N.E.: IV e não VI), passou a conduzir o destino de todos os paulistas.

O candidato Jânio Quadros, orador fluente, dotado de amplos recursos de cativar as massas, usando métodos teatrais para impressionar as multidões, jamais deixou transparecer, de leve que fosse, o governador em que viria se transformar, profundamente sério, austero, rigoroso.

Mas, antes mesmo de se tornar o estadista de surpreendentes qualidades de comando e de tamanha capacidade de trabalho, o sr. Jânio Quadros foi estudante de Direito, teve dezoito anos e, inevitavelmente, foi poeta.

Neste seu aniversário, que coincide com a máxima data histórica de São Paulo, publicamos, para o conhecimento de seus governados de hoje, um dos seus poemas e um dos seus sonetos. O primeiro é uma ode à Bandeira de Fernão Dias. O segundo, chamado Mestiço, tem boas qualidades poéticas, grande dose de emoção e, o que é absolutamente principal, o amor ardente do moço de dezoito anos pela terra que viria a governar no seu IV Centenário.

Bandeira de Fernão Dias

Bandeira de audácia que avança e esvoaça

perdida na mata, varando o sertão...

... descendo a monção...

São homens hirsutos, barbudos e fortes

    cortando de cortes

    o dorso da serra;

    riscando de riscos

    a face da terra,

na santa cobiça das pedras que a sorte

    converte à sua morte

    na pátria maior.

 

Murmúrios estranhos na selva sombria...

São índios e feras da terra gentia...

E o medo glorioso do forte que teme

     no peito que freme

     sinistra tocaia...

 

Machado que desce, madeira que estala

     na mata que fala...

E segue a bandeira na trilha temível,

     zombando da morte

     qual força que avança

Na rota risonha da grande esperança...

 

     A longa jornada...

Imensa nação que nos foi revelada,

do sonho sublime do grande Fernão,

A marcha na mata da grande ilusão...

Miragem que insufla nos peitos robustos

     em dores e sustos

     a fé no amanhã...

 

A nova esperança que teima em ser vã...

 

     E a noite que desce

     na mata parece

     ao homem atento,

trazer ameaças no sopro do vento.

 

A mão do caboclo que busca a espingarda

contrai-se e treme no cano gelado,

sentindo o perigo soturno e velado.

 

     Bandeira que passa

cingindo com louros a fronte da raça...

Marcando nas trilhas a estrada de glória

     de gente da história,

     do nosso Brasil...

 

     buscando na fralda

     da serra, a esmeralda,

     da "santa-ambição..."

 

     Criando à passagem,

     gigante selvagem,

a pátria nascida do imenso sertão.

Mestiço

É a história da raça; - o peito freme

à lembrança da marcha nas picadas...

E chora no meu 'eu' que anseia e geme

O cativo saudoso das congadas!

 

Há medos no meu 'eu' que anseia e treme,

Há soluços e pragas sufocadas,

eu sinto em mim o sangue de um Paes Leme,

eu sinto em mim a fome das estradas!

 

Eu sinto em mim a guerra aniquilante

movida pelo sangue bandeirante

À mansuetude do africano, à calma.

 

E choro no silêncio percebendo

que vou passar a vida recolhendo

destroços do meu corpo e da minh'alma!

QR Code - Clique na imagem para ampliá-la.

QR Code. Use.

Saiba mais