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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - RADIOFONIA
Prefeitos do rádio

Dois representantes do rádio santista já alcançaram o principal cargo do Executivo em Santos: José Gomes e Beto Mansur, este inclusive reeleito. Suas histórias são citadas pelo radialista e escritor Reynaldo C. Tavares, na obra Histórias que o Rádio Não Contou (Negócio Editora, São Paulo/SP, 1997):

Na década de 40, na cidade de Santos, um moço de porte atlético - avantajado, musculoso, estafeta das Lojas Sloper - buscava uma oportunidade de ingressar no rádio, já que era possuidor de uma voz privilegiada. Estimulado por amigos, inscreveu-se em um desses concursos a que já nos referimos (porém este sério), promovido pela PRG-5 Rádio Atlântica daquela cidade (N.E.: o autor havia citado alguns concursos fajutos para a escolha de novos profissionais do rádio).

José Gomes era o seu nome. E em agosto de 1940, entre os 56 concorrentes ao estrelato, Gomes formou par com Olga Deina (outra candidata), e ambos obtiveram a quarta colocação naquele concurso.

O Teatro de Antena que, no dia 23 de setembro de 1940 completaria o seu terceiro aniversário pelas ondas da PRG-5 Rádio Atlântica de Santos, buscava efetivamente novos valores e, para isso, constituiu uma banca examinadora formada pelos radialistas Olegário Ribeiro, Querubim Correa e Aline Silva. Após vários testes a banca resolveu-se pela seguinte classificação:

1º - Flora de Moraes e Carlos Henrique
2º - Clélia Santos e Paulo Leblon
3º - Marly Vilac e Otávio de Césari
4º - Olga Deina e José Gomes
5º - Dolores Martins e Marlene Garcia.

A apresentação das cinco duplas foi feita no dia 23 de setembro daquele ano, e os dez elementos selecionados passaram a integrar o cast daquela emissora, também chamada de A Voz do Mar.

José Gomes abandonou o seu fardamento de estafeta das Lojas Sloper e passou a dedicar-se à carreira radiofônica obstinadamente. Em pouco tempo, chegou a ser o primeiro galã dos programas rádio-teatrais até a chegada das rádio-novelas, onde personificou os mais variados papéis, sempre encabeçando o elenco, do qual passou a ser o principal astro.

José Gomes, dublê de prefeito e radialista, ao
lado do bispo de Santos, Dom Idílio José Soares
Foto: livro Histórias que o Rádio Não Contou
O prestígio e a popularidade de José Gomes eram tantos, principalmente junto ao público feminino, que não demorou muito e ei-lo eleito vereador à Câmara Municipal de Santos, chegando a ocupar a vice-presidência daquela casa do Legislativo santista. Já em 1961, agora como diretor da Rádio Cacique de Santos ZYR-55, vamos encontrá-lo concorrendo na chapa encabeçada pelo Dr. Luiz La Scala Júnior, como prefeito, e Gomes como vice-prefeito; a força do Rádio mais uma vez se fez presente e ambos venceram com larga margem de votos.

No dia da diplomação e proclamação da chapa vencedora, 24 de março de 1961, o Dr. Luiz La Scala Júnior, ao retirar-se das solenidades, devidamente diplomado prefeito de Santos, sofreu um acidente automobilístico, e após quinze dias de angústias e incertezas, veio a falecer; no dia 14 de abril daquele ano, o vice-prefeito eleito, José Gomes, tomou posse como primeiro mandatário da Cidade, governando-a até 15 de junho de 1964, quando foi cassado pelo Movimento Revolucionário  daquele ano.

Com seus direitos políticos cassados e impedido de voltar ao rádio pelo mesmo Movimento, José Gomes seguiu para os Estados Unidos, onde conseguiu uma colocação na Voz da América, transmitindo programas em português para o Brasil. Como o ex-prefeito e radialista não dominava o inglês, levou em sua companhia, como intérprete, o locutor Gabrielo Gabrieleschi que, após o período de adaptação do José Gomes naquele país, foi abandonado à própria sorte, sendo obrigado a empregar-se num frigorífico americano (carregando boi nas costas), para poder sobreviver e juntar o suficiente para arcar com sua passagem de volta para o Brasil juntamente com sua esposa. Por anos seguidos, Gabrielo teve problemas pulmonares e de coluna, provocados pelas temperaturas abaixo de zero a que teve que se expor, desprezado que foi pelo amigo e companheiro que o havia levado para a América, a terra prometida...

Após muito esforço e muito sacrifício, Gabrielo conseguiu suas tão desejadas passagens de volta e, no seu regresso ao Brasil, lançou e manteve por muitos anos no "ar" um dos mais importantes programas radiofônicos, na linha jornalística e prestadora de serviços.

Como a Rádio Clube de Santos PRB-4 tinha uma enorme penetração em toda a costa litorânea do País, especificamente na região Sul, onde se concentravam inúmeras embarcações de pesca, Gabrielo Gabrieleschi servia de elo de ligação entre as famílias dos pescadores e os próprios barcos, permutando informações importantíssimas aos interessados que, mesmo em alto-mar, sentiam o calor da família a acompanhá-los, pela voz vibrante do Gabrielo Gabrieleschi. Seu programa contava com o aval da Capitania dos Portos de Santos, estando permanentemente à disposição dos lobos-do-mar que necessitassem de qualquer tipo de ajuda e solidariedade.

Em 1972, já anistiado, José Gomes retornou ao Brasil e participou de uma negociação objetivando a compra do controle acionário da Rádio Clube de Santos PRB-4, juntamente com o empresário Vasco José Faé, então presidente do Santos Futebol Clube. Aquela negociação nunca ficou muito clara e visava entregar ao Sr. Faé a presidência do veículo, contrariando os termos e compromissos assinados pelos interessados com o Sr. Irany Ferreira Martins, que representava o grupo majoritário dos acionistas (61% das ações) - que não permitiu aquela manobra, exigindo a permanência, na presidência daquela radiodifusora, do Sr. Hermenegildo da Rocha Brito.

Após muita discussão e várias reuniões, o Sr. Edson Arantes do Nascimento (Pelé), ainda jogando pelo Santos Futebol Clube, foi convidado a participar daquela mesma negociação, o que acabou acontecendo, respeitando-se todos os entendimentos preestabelecidos, ou seja, manter Rocha Brito na presidência da mais antiga emissora santista.

Pouco tempo depois, José Gomes, vitimado por um câncer na garganta, veio a falecer pobre e só, desamparado por aqueles que não concordaram com suas atitudes não muito éticas, numa transação daquela natureza.

Triste, muito triste o final daquele jovem de porte atlético, estafeta das Lojas Sloper, que lamentavelmente protagonizou mais uma das muitas "histórias que o rádio não contou".


Os irmãos Salim e Paulo Mansur em jantar de confraternização
Foto: livro Histórias que o Rádio Não Contou

Beto Mansur, prefeito de Santos a partir de janeiro de 1997
Foto: livro Histórias que o Rádio Não Contou
Nessa última eleição, de 15 de novembro de 1996, novamente o rádio voltou a mostrar do que é capaz. Vários prefeitos e vereadores, em diferentes municípios brasileiros, elegeram-se graças ao veículo, entre os quais o radialista Nelo Adolfo, que foi o vereador mais votado na cidade de São Paulo, obtendo 77.806 votos, e Beto Mansur (Paulo Roberto Gomes Mansur), que já havia sido eleito por esse mesmo rádio vereador à Câmara Municipal de Santos e deputado federal por São Paulo.

Desta vez, Beto Mansur elegeu-se prefeito de Santos-SP, sendo filho de outro parlamentar consagrado, que igualmente por intermédio da sua Rádio Cultura Santos/São Vicente, chegou com sucesso à vida pública. Seu nome: Paulo Mansur, de quem falaremos mais adiante.

Deliberadamente nos utilizamos dessas divagações para sustentar que o rádio foi imbatível como veículo formador de opinião e, para chegar a essa posição, o veículo desde o seu começo teve que lutar muito, teve que conquistar cada fatia de sua audiência, por mais distante que se encontrasse, buscando em cada ouvinte um pólo gerador do seu próprio prestígio. (...)