J.Muniz Jr. (*)
Desde que o aviador naval Virginius Brito de Lamare
amerissou nas águas do estuário, levando a cabo o raid aéreo Rio de Janeiro-Santos, a 17 de outubro de 1919, inúmeros outros aviadores da
Marinha, do Exército, ou civis, passaram por nossa cidade, onde foram recepcionados com manifestações de carinho e apreço, tanto por parte das
autoridades civis e militares, como também pela ordeira população.
Capitão-tenente aviador naval Virginius Brito de Lamare,
quando fazia estágio na RAF em 1918
Em
agosto de 1920, um hidroavião Macchi-9, pilotado pelo aviador inglês John Pinder, levando o segundo-tenente do Exército Brasileiro, Aliantar de
Araújo Martins, fez etapa em Santos, na tentativa de concretizar o raid aéreo Rio de Janeiro-Porto Alegre.
No mês de outubro do mesmo ano, após ter decolado da ex-capital federal, pilotando um hidroavião Macchi M-9,
tentando realizar o raid entre Rio de Janeiro e Buenos Aires, o capitão-tenente aviador naval Virginius Brito de Lamare, acompanhado do
suboficial Antônio Joaquim da Silva Júnior, pousou em nossa cidade, prosseguindo no mesmo dia para o Sul do País.
Na tentativa de concretizar o raid aéreo Buenos Aires-Rio de Janeiro, o aviador argentino Fels chegou em
nossa cidade no dia 7 de setembro de 1922, acompanhado pelo jornalista Plancentini, do jornal La Nacion, ocasião em que toda a população
santista festejava o Centenário da Independência do Brasil.
Pilotando um avião Mitre, Fels aterrissou na praia do Gonzaga, por volta das
11h45, quando, além das aclamações de populares que se aglomeravam nas imediações do Hotel dos Bandeirantes, foi recebido pelo vice-cônsul da
Argentina em Santos, sr. Trabaga, que o conduziu, juntamente com o seu companheiro de viagem, para o Parque Balneário Hotel,
onde tiveram um breve período de repouso e participaram de um almoço oferecido pela Municipalidade.
Às 14h30 daquele mesmo dia, diante de centenas de pessoas, o Mitre levantou vôo da praia do Gonzaga com
destino à ex-capital federal, com o objetivo de cumprir o audacioso raid.
Na tarde do dia 13 de setembro de 1912 (sic: correto é 1922), o aviador do Exército
Chileno, capitão Diego Aracena Aguilar, que vinha tentando levar a cabo o audacioso raid Santiago-Rio de Janeiro, em homenagem ao
Centenário da Independência do Brasil, fez um pouso forçado nas imediações do Forte do Itaipu. Após ter sido socorrido pelo comandante do aludido
forte, que gentilmente lhe ofereceu gasolina, o piloto chileno pôde chegar até a nossa cidade, de onde levantou vôo no dia seguinte com destino ao
Rio de Janeiro.
Posteriormente, em outubro daquele ano de 1922, a cidade veio a receber a visita de uma esquadrilha de aviões da
Escola de Aviação Naval do Rio de Janeiro, que havia amerissado no canal da Ponta da Praia. Os integrantes da esquadrilha, tenentes aviadores
navais Luiz Netto dos Reis, Epaminondas Gomes dos Santos, Camilo Andrade Netto e Paulino de Azevedo Soares, ficaram alojados na antiga Escola de
Aprendizes-Marinheiros, da Ponta da Praia, e participaram da solenidade do lançamento da Pedra Fundamental da Base de
Aviação Naval de Santos.
Também a Esquadrilha Anhangá, da Aviação do Exército, que partiu do Campo dos Afonsos no dia 21 de abril de
1923, com destino a São Paulo, passou por Santos quando de regresso ao Rio no dia 7 de maio. No dia 23 do mesmo mês, um avião Breguet 14, do
Exército, pilotado pelo primeiro-tenente Borges Leitão, pernoitou em nossa cidade, rumando no dia seguinte para Curitiba.
Ainda durante as comemorações do centésimo primeiro aniversário da Independência do Brasil, que ocorreu a 7 de
setembro de 1923, teve lugar a inauguração do Panteão dos Andradas, templo cívico onde se encontram os despojos mortais do Patriarca José
Bonifácio de Andrada e Silva e de seus valorosos irmãos.
Naquela festiva data, enquanto um contingente de marinheiros formava uma guarda de honra à entrada do templo,
uma esquadrilha de hidroaviões da Aviação Naval, que se encontrava na cidade, procedeu a uma série de evoluções sobre a
Praça Barão do Rio Branco, defronte do Panteão.
Durante a Revolução de 1924, o então tenente do Exército, Eduardo Gomes, realizou missões aéreas, dentre as
quais vôo de lançamento de folhetins revolucionários sobre o encouraçado Minas Gerais, que se encontrava atracado no porto santista. Ao
sair em perseguição ao avião do tenente revolucionário, um hidroavião da Marinha, pilotado pelo tenente aviador naval Fernando Victor do Amaral
Savaget, capotou e caiu na água. Embora tenha permanecido submerso durante alguns minutos, o oficial da Marinha foi salvo por um médico
especialista em tratamento de afogados (vide A História da FAB, tenente-brigadeiro Nélson Freire Lavère-Wanderley, pág. 131).
Conforme descrevemos na obra A Marinha no Litoral Santista (ainda não lançado - Serviço de Documentação
Geral da Marinha - RJ), "a 27 de fevereiro de 1927, o célebre aviador Marques De Pinedo, que havia cumprido a terceira travessia do Atlântico Sul,
desceu com o seu possante hidroavião, o Santa Maria, nas águas defronte da Bocaina, onde ficou amarrado.
"O consagrado piloto italiano, completando o raid aéreo em solo brasileiro, já havia passado por Porto
Baía, Fernando de Noronha, Natal, Salvador, Rio de Janeiro e deveria ainda percorrer todo o litoral até o Cabo do Chuí com destino a Buenos Aires.
E a exemplo do que ocorreu em outras cidades brasileiras - após ter sido recebido pelo comandante da Base - De Pinedo e sua tripulação foram
festivamente recepcionados pelas autoridades e pela população santista, entre júbilos de entusiasmo".
No mês de março, a Esquadrilha Pan-Americana, formada por cinco aviões anfíbios Loening, do Exército
Norte-Americano, que vinha fazendo um vôo de contorno pelas Américas Central e do Sul, descendo pela costa do Pacífico e subindo pela costa
atlântica, escalou em Santos oriunda de Florianópolis e com destino ao Rio de Janeiro.
Cumprindo o raid aéreo Gênova-São Paulo, chegou à cidade, no dia 28 de julho
daquele ano, o hidroavião Jahu, que desceu nas redondezas da Base de Aviação Naval, onde ficou fundeado, seguindo
viagem para cumprir a última etapa da viagem quatro dias depois.
Aviador alemão Pachen antes da escala em Santos com o
hidroplano Santos Dumont, com o qual faleceu no RJ, em manobra infeliz
De 16 a 22 de junho de 1930, uma esquadrilha de três aviões anfíbios Schereck, da Aviação Militar, levou a cabo o
raid aéreo Rio de Janeiro-Porto Alegre-Rio de Janeiro. Além dos pousos na água (amerissagem), os aviões realizaram dois pousos em terra: no
campo do Aeropostale, em Florianópolis, e no campo da mesma empresa em Praia Grande (Santos). (N.E.: o atual município de
Praia Grande fazia parte da Comarca de Santos. O campo da Aeropostale, depois
da Air France, e que chegou a ser cogitado para a criação de um aeroporto internacional, é o
atual campo do Aeroclube de Santos, no bairro Campo da Aviação, em Praia Grande).
Com a eclosão do Movimento Constitucionalista de 1932, em São Paulo, a Aviação Naval cumpriu inúmeras missões
aéreas. Assim é que, no dia 12 de julho, uma esquadrilha de três aviões da Marinha efetuou um reconhecimento aéreo sobre o porto de Santos, tendo
sido iniciado o seu bloqueio pela Esquadra no dia 18, com um patrulhamento aéreo incessante sobre o porto e ao longo do litoral paulista.
No dia 13 de setembro daquele ano de 1932, aviões da Marinha foram hostilizados pela Artilharia do Forte do
Itaipu e por canhões instalados no alto do Monte Serrat. Em represália, uma esquadrilha de seis possantes hidroaviões
Savoia-Marchetti bombardeou o Forte do Itaipu no dia 15, com bombas de 75 quilos, danificando as dependências da Primeira Bateria e toda a sua
rede elétrica (Fortaleza de Itaipu, Fortes e Fortificações do Litoral Santista, JM Jr.). Naquele mesmo mês, um bombardeio
Savoia-Marchetti da Marinha bombardeou a usina elétrica de Cubatão (Light), que não foi atingida.
Faz-se mister revelar que, durante os combates que travou com as forças do Exército Federalista, a Força Aérea
de São Paulo soube se portar com um denodo sem igual, batendo-se contra os vermelhinhos (como eram chamados os aviões do governo),
enfrentando a artilharia antiaérea e atacando os vasos da Marinha de Guerra no litoral santista. E foi durante um ataque à Esquadra, em 24 de
setembro de 1932, perto da Ilha da Moela, à entrada da Barra de Santos, que os aviadores José Ângelo Gomes Ribeiro e Mário Machado Bittencourt
perderam a vida no cumprimento do dever.
Os dois tinham recebido ordem para bombardear o encouraçado Rio Grande do Sul, capitânia da força naval
que bloqueava o porto santista. E, ao avistarem o vaso de guerra, iniciaram o mergulho para bombardeá-lo, quando foram abatidos pelo fogo de armas
antiaéreas e de maneira trágica se engolfaram no abismo da morte.
Ao descrever o épico episódio (vide Asas e Glórias de S. Paulo, JNF e EDM, pág. 329), o brigadeiro Ivo
Borges, que na época era major-comandante da Força Aérea Paulista, assim se expressou:
Desde os primeiros dias da Revolução, a Esquadra, na qual a causa constitucionalista não encontrara quase
simpatizantes, bloqueou o Porto de Santos. São Paulo adquiriu armas nos Estados Unidos, as quais seriam transportadas para o Brasil a bordo do
Ruth, navio comprado especialmente para esse fim. Deliberou-se, portanto, como operação
preliminar, que a aviação bombardearia a esquadra de bloqueio, para sentir-se a sua reação e, então, traçaram-se os planos de futuro e
eventual desembarque das armas transportadas pelo Ruth. Encarregaram-se da missão os pilotos militares Mário Machado Bittencourt, neto
do marechal Bittencourt, e o tenente José Gomes Ribeiro. A operação aérea deu resultados práticos, coroando-se de pleno êxito, pois a esquadra
da ditadura abandonou a entrada do porto de Santos.
Lamentavelmente, os dois valorosos autores da proeza pereceram no ataque, em conseqüência de uma explosão... |
Em princípios de 1933, uma esquadrilha de acrobacia (três aviões de caça Boeing) da Aviação Naval fez escala em
Santos, seguindo depois para Montevidéu, com a missão de participar das comemorações da inauguração do aeroporto civil da capital uruguaia.
Naquele mesmo ano, por ocasião da visita oficial ao Brasil do presidente Augustin Justo, da República Argentina,
a Aviação Militar daquele país amigo enviou uma esquadrilha de nove aviões tipo Ae. M.O., para participar das solenidades programadas na capital
brasileira.
A Esquadrilha Sol de Mayo, sob o comando do coronel Angel Maria Zuloaga, passou por Santos, tendo aterrissado no
aeródromo de Praia Grande, com destino ao Rio de Janeiro. Uma esquadrilha de sete aviões Wacco C.S.O., sob o comando do Coronel Amilcar
Pederneiras, encontrava-se na cidade, com a missão de saudar o comandante da esquadrilha argentina, em nome do diretor da Aviação Militar (do
Exército), general-de-brigada Eurico Gaspar Dutra, e, inclusive, comboiar a Sol de Mayo até o Campo dos Afonsos, onde chegou no dia 8 de outubro.
O Graf Zeppelin em Santos
Em meados daquele decênio, o gigantesco dirigível Graff Zeppelin (LZ-127), que desde 1930 chegou a
realizar 590 viagens - 144 das quais foram travessias oceânicas, passando inclusive pelo Brasil -, também sobrevoou nossa cidade, cuja população
parou para presenciar a gigantesca aeronave, um dos orgulhos da aviação alemã.
A 18 de agosto de 1939, uma esquadrilha de cinco aviões de bombardeio tipo Folk Wulf e Vought Corsário, da
Aviação Naval, comandada pelo capitão-de-fragata aviador naval Fernando Victor Amaral Savaget, desceu no campo da Bocaina. Após o pouso, os
aviadores navais foram recebidos pelo comandante da Base de Aviação Naval, capitão-de-corveta aviador naval Antônio de Azevedo de Castro Lima,
regressando ao Rio de Janeiro no mesmo dia.
No último período da Base de Aviação Naval, o cruzador Rio Grande do Sul, procedente de Florianópolis,
com o ministro da Marinha, almirante Aristides Guilhemm, a bordo, entrou no porto local, comboiado por uma esquadrilha de aeroplanos da Aviação
Naval. O fato ocorreu na manhã do dia 13 de março de 1940, sendo que o ministro recebeu as honras de praxe na Base de Aviação Naval da Bocaina.
(*) J.Muniz Jr., jornalista e pesquisador em Santos.
Texto incluído em seu livro Episódios e Narrativas da Aviação na Baixada Santista,
edição comemorativa da Semana da Asa de 1982, Gráfica de A Tribuna, Santos/SP. Fotos do livro.
O Graf Zeppelin em Santos
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