HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
As notícias do dia, nas lâmpadas do Gonzaga
Painel luminoso foi instalado no prédio dos cines Atlântico I e II
Carlos Pimentel Mendes (*)
Antes do surgimento dos painéis luminosos com alta definição e múltiplas cores,
controlados por potentes computadores e capazes de gerar imagens animadas com qualidade de televisão, o bairro do Gonzaga já contou com um dos primeiros
painéis formados por uma matriz de lâmpadas brancas (cerca 5 linhas x 70 colunas) que um dispositivo computadorizado controlava o acendimento para
formar as palavras, deslocando-as da direita para a esquerda para fazer o texto correr continuamente pelas linhas de lâmpadas.
O jornalista operando o painel, em nota publicada no jornal
A Tribuna de 7/12/1980 na página 55 (Cinemas)
O acordo foi feito entre a empresa de publicidade Marão (responsável pela publicidade que garantiria
financeiramente o projeto), a Cooperativa dos Jornalistas de Santos (Jornacoop) (responsável pela operação do painel), o jornal A Tribuna (que
forneceria o noticiário) e a empresa Cinemas de Santos, proprietária dos cinemas Atlântico I e II e do prédio onde o painel foi colocado, na Avenida Ana
Costa, 544 (a posição desse painel corresponde ao local onde posteriormente, com a desativação dos cinemas, foi instalado o luminoso da lanchonete
MacDonald's).
Vale recordar o avanço do sistema computadorizado desse painel, lançado em Santos no mesmo ano em que chegava
aos mercados mundiais - dominados pelos equipamentos de grande porte, os mainframes - o primeiro computador pessoal IBM-PC...
Este jornalista foi designado pela Jornacoop para representar a cooperativa na operação do painel, digitando os
textos em dois teclados que se alternavam (através de uma chave) no comando do painel: digitava-se o texto no primeiro teclado, liberava-se esse teclado
para comandar o painel e, enquanto isso, usava-se o segundo teclado para digitar outro bloco de texto, comandando-se o revezamento entre os
controladores através da chave alternadora.
O painel funcionava das 19 às 23 horas, exceto em dias de chuva forte - para prevenir a ocorrência de
curto-circuitos -, ou quando havia excesso de lâmpadas queimadas, impedindo a leitura das mensagens por quem estivesse na avenida. Trabalho simples: o
jornalista terminava seu trabalho diário no jornal, já deixava a redação com uma lauda contendo as principais notícias do momento e, depois de acionar o
painel com as notícias e a publicidade programada, bastava acompanhar os noticiários das rádios - especialmente em dias de futebol - para obter as
atualizações. Assim, quem estivesse passeando pelo Gonzaga obtinha as últimas notícias, antes mesmo da publicação nos jornais do dia seguinte e
praticamente de forma simultânea à divulgação pelas emissoras de rádio...
Sobrava tempo para ver todos os filmes em exibição, pelo menos duas vezes por noite, e de posição privilegiada -
a cabine de projeção, pois a aparelhagem do painel ficava em saleta bem ao lado dos projetores e contava com caixa própria de som para o controle do
áudio do cinema. Em casos excepcionais, até mesmo auxiliar na substituição de um rolo de filme por outro (no instante crucial entre o aparecimento na
tela de uma pequena bolinha indicativa do término próximo do rolo em exibição), bem no estilo do Cine Paradiso - um dos muitos filmes ali
projetados na época.
Lauda de texto jornalístico usado no painel luminoso em
27/12/1980
(*) Carlos Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico
Novo Milênio. |