HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
PIRATAS
Um ataque dos piratas na noite de Natal - II
Quando o corsário Thomas Cavendish esteve em Santos, em 1588/90/91 (*)
Gustavo Barroso, em artigo jornalístico, sob o título Natal de Sangue de Thomas
Cavendish, diz:
Naquele dia de Natal do ano da graça de 1591, três navios de velas desfraldadas ao
sopro do vento entraram no porto de Santos. Os moradores da Vila enchiam as igrejas, ouvindo as missas e sermões da grande festa cristã. De repente,
o estrondo da artilharia os encheu de espanto e os lançou em confusão. Ao mesmo tempo, as embarcações miúdas daquela frota despejavam na praia
bandos de homens armados de mosquetes e piques, que, soltando gritos espantosos, foram matando quem esboçava a menor resistência, invadindo as
casas, saqueando-as, apoderando-se também da Casa da Câmara e ocupando as posições convenientes para dominar a povoação. Eram, na maioria, ruivos,
de olhos azuis, grandalhões e barbudos. E um clamor correu de boca
em boca por toda a população espavorida:
- Os piratas ingleses!
Pertenciam os três barcos à esquadra do famoso ladrão do mar Thomas Cavendish. (...)
Cavendish era natural de Trimby, na Grã-Bretanha, e recebera patente de corsário da
Rainha Elisabeth, inimiga figadal do Império Espanhol, sob cujo domínio se encontravam Portugal e o Brasil quando atacou Santos. (...)
Aqui permaneceu cerca de dois meses, tiranizando a população, roubando o que podia
roubar, depredando e queimando os engenhos dos arredores. Depois, navegou para o Sul, levando os porões atestados de riquezas. Mas parece que o fato
de haver atacado a indefesa povoação brasileira, naquele dia santificado do Natal de 1591, trouxe para ele e seus principais capitães uma verdadeira
maldição.
É verdade que, para Cavendish, o assalto não fora cometido pelo Natal, que os ingleses
respeitam e celebram tradicionalmente; porque em 1591 já haviam os portugueses adotado o calendário da chamada Reforma Gregoriana, e, enquanto para
eles (na Inglaterra) era ainda o dia 15, para os portugueses (de Santos) já era o dia 25 (de Natal). Aliás, os ingleses somente viriam a aceitar e
adotar essa modificação cronológica, tardiamente, no ano de 1752.
Colégio dos Jesuítas (esquerda) e Igreja Matriz (direita)
Imagem: tela de Benedito Calixto
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Segundo o relato de Knivet, que é o mais detalhado, estavam todos na Igreja Matriz,
entre as 300 pessoas que lá se achavam, comemorando o Natal, sendo retidos e detidos no templo, enquanto os ingleses saqueavam a Vila. Mais tarde,
realizado o primeiro saque e reunidas as forças invasoras, o povo, que se achava na igreja, recebeu ordem de abandoná-la, continuando detidos apenas
"sete ou oito" dos principais. É evidente que esses 7 ou 8 deveriam ser 20 ou 30, dos mais ricos, importantes e mais capazes de lutar em defesa da
terra. Aí estariam então, nesse meio, aqueles que citamos, e que o Natal, com o seu feriado e suas festas especiais, tornara indefesos e inúteis em tal
situação.
Conta ainda Knivet que, por haver demorado o saque, muitos moradores haviam conseguido safar-se da vila, e
esconder-se com seus dinheiros e valores. Ele, Knivet, tivera ordem para dormir no Convento (dos jesuítas), e ali achara um caixote com 1.700 piastras
de ouro (350 esterlinos).
Citado por Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti em História de Santos/Poliantéia
Santista, 1986, Santos/SP, primeiro volume.
1588, 1590 ou 1591? - Apesar do texto de
J. Muniz Jr. considerar a data da invasão de Cavendish como 25/12/1588, dois outros historiadores apresentam datas diferentes. Francisco Martins dos
Santos, em sua História de Santos, cita o ataque como em 24/12/1590.
Na reedição da obra em 1986, junto com a
Poliantéia Santista de Fernando Martins Lichti, a citação está na página 138 do primeiro volume. Curiosamente, nas notas
apostas ao capítulo, na página 141, é citado Gustavo Barroso, em artigo jornalístico intitulado Natal de Sangue de Thomas Cavendish, descrevendo
os mesmos fatos mas com data de 25/12/1591. A citação de Gustavo Barroso é a reproduzida nesta página. A contradição das datas não foi percebida naquela
obra.
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