Quartel em Santos onde eclodiu a revolta de Francisco das Chagas. Este
prédio existia na Rua Visconde do Rio Branco e aqui é visto em foto de 1865 de Militão Augusto de Azevedo.
(albúmen com 11,0 x 17,3 cm – Acervo Museu Paulista)
Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo, de
Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004
"Foram os soldados ao movimento por não receberem soldo. Dominado o golpe, Chaguinhas
assumiu plena responsabilidade, sendo julgado e condenado à forca em São Paulo. O Tiradentes santista mostrou-se altivo e sobranceiro durante
a apuração dos fatos que deram movimento à Revolta, eclodida um ano antes da Independência, punidos também outros cabeças. O intrépido soldado
santista teria sido enforcado na capital paulista em 20 de setembro de 1821, ou nos primeiros dias de 1822, segundo Costa e Silva Sobrinho
(N.E.: historiador de Santos).
"Houve três tentativas, em que a corda se partiu, sendo usada uma outra, pedida a um
tropeiro que passava pelas imediações, dizendo-se que o executado não fora o Chaguinhas, mas um indivíduo qualquer, pois houvera manifestação
de piedade ou compreensão por parte da autoridade máxima, incumbida da execução, o grande santista Martim Francisco (N.E.:
irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva). Houve também cinco enforcamentos em Santos, de
outros cabeças do motim, entre os quais o soldado santista José Joaquim Lontra".
Cordas partidas - O ato ocorreu no local chamado Campo da Forca, "onde hoje fica, como estranha ou
proposital ironia, a Praça da Liberdade", como recordou o historiador Francisco Martins dos Santos. Ele apresentou mais detalhes, em sua História
de Santos:
"Uma circunstância, porém, revelou à posteridade, avisada e percuciente, a verdade da conspiração
andradina. no momento em que, afastada a banqueta fatal, o corpo do Chaguinhas devia balouçar-se no espaço, rompeu-se a corda executória,
lembrando ao povo como uma estranha e sobrenatural advertência, a injustiça do ato que se estava praticando, enquanto o clamor popular alava-se ao
espaço em favor do perdão.
"Havia, desde tempos imemoriais, a praxe, velha lei humana, que em tais circunstâncias absolvia o
condenado, mas o Governo Provisório mostrava-se surdo ao apelo da multidão.
"Romperam-se ainda mais duas cordas nas novas tentativas de execução, e o reclamo popular
recrudescendo sempre em favor do soldado santista. Por fim, já às primeiras trevas da noite, um laço de tropeiro, que passava, deu solução à quarta
tentativa efetuada, mas, aí, matando outro criminoso e não mais a Francisco das Chagas como ficou na suposição geral.
"Martim Francisco, com astúcia de brasileiro e combinado com outros patriotas do Governo,
fornecera as cordas executórias de antemão seccionadas, o suficiente para que se partissem com o peso do corpo de Francisco das Chagas, realizando
colateralmente a farsa da irredutibilidade governamental aos apelos do povo, para que se acreditasse, ainda mais, na verdade da execução e na
coincidência do rompimento das cordas, tidas como em mau estado e substituídas com largos intervalos que visavam porém, e unicamente, contemporizar
o espetáculo, deixando cair a noite em cujas dobras devia consumar-se a mistificação.
"Quando, pois, vieram as primeiras trevas, suficientes para esconderem aos olhos em geral os
traços fisionômicos do condenado, foi trazido, sob o providencial disfarce da alva comum, outro homem para o instrumento da Justiça, que assim
executou uma vítima, não porém a Francisco das Chagas que seguiu para Cuiabá, rumo ao pré-combinado esquecimento".
O autor da História de Santos cita como fontes J. J. Ribeiro, em Chronologia Paulista,
1º volume, página 692; Antônio Toledo Piza, em Chronicas dos tempos Coloniais, e o depoimento do Sr. Nuto Sant'Anna, acompanhado de uns
documentos, publicado pelo O Estado de São Paulo, número de 30/7/1935, que "apesar de pretender negar estes fatos, só serviu para
reforçá-los".
Francisco Martins dos Santos também se baseou no depoimento de seu tio, nascido em 1823 e citado
pelo Sr. Nuto Sant'ana como feito ao velho Antônio Toledo Piza: "é a melhor confirmação às nossas afirmativas, porque se funda no que lhe teria
transmitido seu pai o Comendador Antônio Martins dos Santos, companheiro dos Andradas e um dos elementos trabalhadores da Independência em Santos e
S. Paulo". |