Construído em 1865, este sobrado azulejado da
Rua do Comércio 92 a 98 foi tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e pelo Condephaat por sua importância para
a memória nacional. Este edifício funcionou como residência, armazém e escritório da Casa de Comércio Ferreira Netto & Cia., como registra a matéria
publicada pelo jornal santista A Tribuna, em 29 de setembro de 2011, páginas A-1 e A-8:
UMA CASA, MUITA HISTÓRIA - Ela já foi escritório,
hotel, armazém de cargas e depósito. Mas ganhou proteção. Agora, a Casa de Frontaria Azulejada, no Centro Histórico de Santos, virou livro
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria, na página A-1
Uma casa que vira livro para se tornar arquivo
Obra sobre Casa da Frontaria Azulejada é
apresentada hoje e mostra seu valor histórico
Ronaldo Abreu Vaio
Da Redação
A
receita é simples: a casa é colocada dentro de um livro, para que abrigue muitos livros depois. Grosso modo, essa é a proposta de Casa de
Frontaria Azulejada: Um Edifício para um Arquivo, livro do arquiteto e arquivista Nelson Santos Dias, da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams).
A obra será apresentada hoje, na própria Casa de Frontaria Azulejada, no Centro Histórico.
O livro é um roteiro de como adaptar um imóvel
de valor histórico, para receber um arquivo de documentos.
A Casa de Frontaria Azulejada foi utilizada
como um estudo de caso, e não por acaso: futuramente, ela receberá o Arquivo Permanente de Santos, mantido pela Fams. Essa foi uma prerrogativa
exigida pela Prefeitura, quando cedeu o imóvel à fundação, em 1997.
"Considero ideal (a casa). Tecnicamente, do
ponto de vista arquitetônico, permite a instalação do arquivo. E historicamente, o próprio prédio é um documento por si só", afirma Dias.
A construção da Casa de Frontaria Azulejada
foi concluída em 1865. O proprietário, comendador Manoel Joaquim Ferreira Netto, era um abastado comerciante de café, praticamente dono de toda a
quadra entre as ruas do Comércio, João Ricardo e Tuiuti, e o Largo Marquês de Monte Alegre.
Dois anos depois, em 1867, ele iniciaria a
construção dos casarões do Valongo – que hoje estão sendo restaurados, para receber o Museu Pelé.
Originalmente, a Casa de Frontaria tinha dois
pavimentos. No térreo, o comendador mantinha o seu comércio; no primeiro andar, embora não haja documentos comprovando, pela conformação de algumas
plantas e pelo tamanho do imóvel, suspeita-se que era onde o comendador morava.
Os anos foram passando e, com ele, os usos.
A casa serviu de escritório, hotel, armazém de cargas, até se transformar em depósito de adubos químicos. Em 1973, foi tombada pela então Secretaria
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) – o atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
O tombamento vedou ao proprietário a
utilização para armazenamento de fertilizantes – o que degradaria ainda mais o imóvel.
"É um dos primeiros exemplares de arquitetura
neoclássica de Santos. E também foi um marco na Cidade: era o maior imóvel, de longe, daquela região. Chamava a atenção", conta Dias.
Imóvel já serviu de escritório, hotel, armazém de cargas e até depósito de adubos químicos. Em 1973, foi tomado pela então Secretaria do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN)
Foto:
Nirley Sena, publicada com a matéria
Uso justifica a conservação
– A Casa de Frontaria não é um ente congelado no tempo – sofreu modificações ao longo das décadas. Assim, não há nem mesmo a certeza de que os
azulejos pelos quais é conhecida hoje são originais, segundo o autor. "Não há qualquer registro oficial de que são de 1865. Podem ser de alguns anos
depois".
Por isso, ele se refere à casa como "um
documento vivo", que vai incorporando a história à medida que esta acontece. E que não deixa de fora nem as "cicatrizes".
Como exemplo de cicatriz, aponta uma das
colunas de sustentação, de concreto, no meio do salão – foi necessária sua colocação na ocasião do restauro, em 2000, e hoje faz parte da História
da casa. "Você vê vestígios do que ficou e não do que era", comenta.
Na visão de Dias, sua utilização como sede do
Arquivo Permanente de Santos seria um novo capítulo na história da casa – e a forma ideal de preservar sua história pregressa. Além, é claro, de
conferir ao arquivo um lugar à sua altura. "O uso acaba justificando a conservação", explica.
Hoje, a Casa de Frontaria Azulejada é
utilizada pela Fams como espaço de eventos. Ainda não há uma data para a transferência do Arquivo Permanente de Santos para lá. Provisoriamente, o
arquivo está na Rua Amador Bueno, 61.
Serviço: a apresentação do livro Casa
de Frontaria Azulejada: um edifício para um arquivo será hoje, às 19 horas, aberta ao público, com entrada franca. A Casa de Frontaria Azulejada
fica na Rua do Comércio, 96.
Documentos |
60 mil documentos compõem o Arquivo
Permanente de Santos, entre livros, testamentos, escrituras, mapas e registros. O mais antigo é um contrato para pesca de baleia, de 1765 |
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Para o arquiteto Nelson Dias, local é um documento vivo da história
Foto:
Nirley Sena, publicada com a matéria
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ARQUIVOS
Há três arquivos em Santos: o Corrente, o
Intermediário e o Permanente, todos mantidos pela Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams) e umbilicalmente ligados. O arquiteto e arquivista
Nelson Santos Dias, da Fams, explica que o sistema é mais ou menos como o da guarda de uma conta de luz, por exemplo. Quando se recebe a conta de
luz, até a data do vencimento, e um pouco depois, ela ficaria guardada em um Arquivo Geral. Depois de paga, por precaução, é necessário guardá-la
por cinco anos; neste caso, fica no Arquivo Intermediário. Se por algum motivo essa conta ganha uma importância grande para a casa ou para a família
em questão, e fica comprovado um valor perpétuo, ela é então transferida para o Arquivo Permanente.
"Ele é o único que cresce com o tempo,
porque não tem eliminação de documentos", explica. Por ano, são produzidos 150 mil documentos na Prefeitura, que passam pela via sacra dos arquivos.
Apenas parte deles chegará ao Arquivo Permanente. "Hoje, quando você pede uma poda de árvore, é aberto um processo. Isso é um documento que fica
arquivado, no Geral e no Intermediário, aguardando". Provavelmente, se não for a poda da macieira cujo fruto caiu na cabeça de Isaac Newton, por
exemplo, esse processo nunca chegará ao Arquivo Permanente. Todo esse volume deve ter uma redução em breve: Nelson explica que 40% dos documentos
dos arquivos Geral e Intermediário devem ser eliminados. "Foram criados grupos de avaliação, por secretaria, que se reúnem para avaliar os
documentos". |