De Turim para as ruas do Centro. É o novo bonde
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
A História deslizando sobre trilhos
Bonde que funcionou durante a década de 50 do século passado em Turim, na Itália, começa agora a trafegar nas ruas de Santos
Renato Santana
Da Redação
Começou com os portugueses. Depois chegaram os escoceses e os norte-americanos. Uns já estavam aqui. Outros imigraram, chegando pelo porto.
No dia em que a linha turística do bonde comemorou dez anos, ontem, Santos ganhou mais um ilustre e raro integrante, que já trafega pelas ruas do Centro Histórico: o bonde italiano de prefixo 3265, produzido pela Fiat, e que circulou pelas vias de
Turim em 1958.
Restaurado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), um trabalho iniciado em fevereiro de 2009, a primeira viagem do novo integrante do acervo do Museu Vivo do Bonde foi realizada depois de cerimônia na
Estação do Valongo. O momento, de festa, serviu também para marcar a hora da reativação, 16 anos depois, do relógio da São Paulo Railway, na torre central da Estação.
"Temos na cidade uma verdadeira fábrica de reconstrução de sonhos. Este é o primeiro dos dois bondes italianos que recebemos da prefeitura de Turim", comemorou o prefeito João Paulo Papa.
O outro bonde citado por ele, em fase de pesquisa, se trata, na verdade, de dois vagões que se transformarão em um para virar um bonde-restaurante.
Como já é comum aos domingos, dia em que acontece quinzenalmente o Projeto Música no Bonde, das 11 às 15 horas, a banda Volare animou o início da entrega do novo bonde.
Complexo - O prefeito aproveitou a oportunidade para anunciar que no próximo dia 8 de outubro a CET recebe, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), o armazém 12-A, com 2.700 metros quadrados,
atrás do Valongo, que será a garagem dos bondes. No local, os veículos em processo de restauro poderão ser visitados pela população.
O complexo contará também com o museu do bonde. Toda a estrutura é pensada não apenas para os sete equipamentos em circulação: além do vagão-restaurante, a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPS)
acaba de trazer a Santos, numa cessão por comodato assinada na solenidade, um bonde da Escócia, abandonado na Capital, que operava na Cidade há cerca de 50 anos. O veículo também passará por restauro.
Exemplar único - Emiliano Soares de Andrade, de 65 anos, estava maravilhado com o bonde de quatro motores e dois trucks - todo fechado e completamente diferente dos que a Cidade já possuía. "Sou
apaixonado por bondes. Andei na última viagem da linha 17, em 1971. Trouxe minha mãe, que tem 89 anos, e está muito emocionada", salientou.
Para o presidente da CET, Rogério Crantschaninov, Santos ganha um exemplar único e raro: "São poucas as cidades que possuem esse bonde. Ele é um grande marco para a história dos transportes no mundo e agora vai
circular pelos nossos cinco quilômetros de trajeto".
A restauração foi trabalhosa. Em Turim, o bonde estava em estado de abandono. Os restauradores da CET fizeram um esforço de pesquisa, recuperaram a cor original e deram solução para pequenos detalhes, leia-se
peças, aqui mesmo no Brasil.
A secretária de Turismo, Wânia Seixas, afirmou que o projeto dos bondes sempre foi desacreditado e "agora é referência. Sem contar que os bondes foram o carro-chefe da revitalização do Centro Histórico".
E o prefeito Papa lembrou: "Com o Museu Pelé e o projeto Porto Valongo Santos, teremos um complexo turístico e de lazer único no Brasil".
Com estrutura diferenciada dos demais da frota santista, novo bonde passou por um cuidadoso processo de restauração na CET
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
HORA CERTA
Relógio da Western já está recuperado
Em 2006, Luiz Dias Guimarães era chefe de gabinete da Prefeitura quando viajou a Turim, na Itália, para negociar a vinda do
bonde inaugurado ontem. "É realmente incrível ver aquele trabalho que iniciamos lá atrás terminar tão bem feito assim", disse.
Guimarães, hoje presidente do Santos e Região Convention & Visitors Bureau, saiu da Prefeitura antes de ver o bonde restaurado. Para ele, o ganho para o turismo na Cidade é enorme, pois é mais um equipamento
diferenciado disponível.
Ao que tudo indica, outras novidades de preservação do patrimônio histórico da Cidade surgirão. Já está recuperado o relógio da Western Telegraph, encontrado pela
reportagem de A Tribuna, aos pedaços, abandonado num galpão da Codesp em 2004.
O relógio iniciou suas atividades em 1873 na torre da empresa inglesa, contratada pelo Governo Imperial, responsável pela instalação da rede de telégrafos em Santos e em outros municípios brasileiros. O prédio da
Western, na Avenida Portuária, foi demolido em 1973, ano em que o relógio foi desmontado.
De acordo com o prefeito Papa, falta agora definir o local onde uma torre de 30 metros será erguida para reativar o relógio, feito de ferro fundido em bronze e com peso de 2.500 quilos. Possivelmente será no
Centro.
A tarde de ontem não foi só de entrada em circulação de um novo bonde. Também marcou a entrega, 16 anos depois, da recuperação do relógio da antiga São Paulo Railway, na torre da Estação do
Valongo
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria |