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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Arsenal de Marinha e os prédios da R. da Praia

Nas páginas do jornal santista A Tribuna, o pesquisador, historiador e cronista Costa e Silva Sobrinho incluiu inúmeros textos, alguns dos quais foram mais tarde republicados como parte de sua obra Romagem pela Terra dos Andradas. Como este, na série Santos noutros Tempos, publicado na edição de 24 de maio de 1953, nas páginas 21 e 20 - segundo caderno - (ortografia atualizada nesta transcrição): 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

O antigo Arsenal de Marinha

Costa e Silva Sobrinho

As coisas e os lugares que nos falam do passado de Santos exercem uma extraordinária influência sobre a nossa emoção. Mesmo inertes, possuem encantos que o presente não possui. São vozes augustas, vindas da penumbra dos tempos idos, que nos evocam a vida antiga da cidade. E como Santos é fértil em memórias do passado!

Eis uma prova disso, que ora aqui nos vem ao pensamento:

Na Praça Barão do Rio Branco, onde vemos em nossos dias aquele suntuoso monumento, todo orlado de arvoredos e flores, que a Companhia Docas, em 1928 (N.E.: a inauguração só ocorreu em 1934), ergueu aos seus fundadores, Cândido Gaffrée e Eduardo Guinle, existiu outrora um importante estabelecimento de construção naval. Era o Arsenal de Marinha de Santos.

Ficava ele, então, defronte da igreja e convento do Carmo, entre o Beco do Rato, depois Travessa do Arsenal, e o Ribeiro do Carmo ou Itororó, indo até o mar.

Da grande casa de negócio de Francisco José Ribeiro Rato, em cujo local está agora o prédio onde funciona a agência do Lloyd Brasileiro, adveio a denominação de Beco do Rato.

No lado oposto, na esquina da atual Rua 15 de Novembro, à margem esquerda do aludido Ribeiro do Carmo, sobressaía o vasto sobrado do cirurgião-mor José Antônio da Fonseca Guimarães, com as suas inúmeras janelas e todas as portas recobertas de ferragens.

Nos derradeiros tempos da colônia, olvidaram-se muito daquele arsenal os homens da governança. Talvez por isso, Alberto Sousa, na sua tentativa de reconstrução topográfica da vila de Santos no ano da Independência, que se encontra entre as páginas 224 e 225 do primeiro volume de sua obra sobre Os Andradas, o tivesse omitido, muito embora Benedito Calixto, que nesse ponto lhe serviu de guia, o mencionasse na sua planta de Santos, na mesma época.

Antes da nossa separação de Portugal, já merecia ele, entretanto, a atenção tanto dos paulistas como dos santistas; pois, em 13 de outubro de 1821, a Junta do Governo Provisório da Província de São Paulo mandava que se passasse portaria à Junta da Fazenda, a fim de expedir esta as necessárias ordens para serem cobertos de palha os telhados volantes do Arsenal, retelhado o fixo e fechada por completo a cerca do estaleiro. (Docs. Ints., 2, p. 89).

Foi ele então bem apetrechado. A sua população operária aumentou. Ampliou-se também o número dos carpinteiros da Ribeira. E davam-lhes a denominação de carpinteiros da Ribeira porque tinham eles aprendido construção náutica na Ribeira das Naus, antigo e conhecido arsenal de Lisboa. Saint-Hilaire, na Viagem à Província de São Paulo, pág. 207, observou a esse propósito o seguinte, dizendo: "Encontram-se em Santos muitíssimos artífices livres, pertencentes, sobretudo, às profissões relacionadas com os serviços de reparos de navios, como carpinteiros, serralheiros e calafates".

O Arsenal de Marinha ficou, de fato, após a Independência, munido de todos os petrechos necessários para a construção de navios. Um dos primeiros mestres carpinteiros ou construtores do Arsenal foi o tenente Ângelo Dias Gomes, aqui falecido em 1828.

A primeira embarcação construída no estaleiro do Arsenal foi a barca canhoneira que recebeu o título de Leal Paulista. A sua construção esteve sob a direção do capitão-de-fragata Carlos Lourenço Danckwardt. E foi lançada ao mar em 25 de janeiro de 1825. (Jacinto Ribeiro, Cronologia Paulista, I, pág. 73).

Em 1834 tinha o Arsenal um inspetor e possuía um escaler, remeiros e mestres de oficina. No seu interior haviam construído uma dependência de dois pavimentos. Dizia por isso a Revista Comercial, de 24 de junho de 1850, que os edifícios nacionais de sobrado eram, em 1849, o Palacete, a Alfândega, a casa do Júri, o Arsenal e o Trem.

A princípio foi utilizada tal dependência para o serviço de traçagem dos planos dos barcos. Depois, teve ele várias outras serventias.

A Travessa do Arsenal, em 1857, ainda se dirigia ali andrajosa e sórdida para o mar. Pretendendo arrumá-la, recebeu a Câmara Municipal, a 21 de janeiro do referido ano, um ofício do capitão do porto opondo-se, sob diversos pretextos, à abertura da viela. É que a Capitania do Porto tinha sido criada pelo decreto n. 531, de 11 de setembro de 1847, e o Arsenal ficara afeto àquele capitão.

Destarte, estava ele em 1876 convertido em Capitania do Porto e quartel da Companhia de Aprendizes Marinheiros.

Três anos mais tarde, tornou-se assunto da mais constante preocupação do vereador Joaquim Xavier Pinheiro, o qual apresentou na sessão da Câmara de 1º de maio e foi aprovada a seguinte indicação:

"Proponho que esta Câmara oficie ao sr. capitão do porto desta cidade, pedindo-lhe provisoriamente a parte do Arsenal que se acha há muito tempo desocupada, para serem ali recolhidos os tripulantes das canoas de São Sebastião que continuam a permanecer nas ruas expostos às intempéries, quando vêm eles abastecer a cidade de Santos de produções agrícolas e outras mercadorias.

"A meu ver é impossível continuar este estado de coisas, e por isso volto ainda uma vez a tratar deste assunto, na esperança de melhorá-lo como convém.

"Digo que se faça este pedido provisoriamente, porque é certo que esta Câmara já se dirigiu ao Governo pedindo essa parte do Arsenal para fazer aí a Praça do Mercado, tão reconhecidamente necessária, e então será preciso fazer-se não pequena despesa; porém, se o senhor capitão do porto atender ao nosso reclamo, cedendo essa parte do Arsenal para desde já fazer-se aí um Mercado Provisório, poderá esta Câmara despender quantia menor de 1 conto de réis para desobstruir a doca, retelhar e consertar o prédio de sobrado que se acha em mau estado, fazer alguns pilares muito necessários no pavimento térreo, fechar com tábuas as partes laterais do edifício etc. - Paço da Câmara, 1 de maio de 1879. - Xavier Pinheiro".

Num dos compartimentos do Arsenal, por concessão do capitão do porto, já se guardavam até as mangueiras e as bombas para a extinção de incêndio.

Em 14 de novembro do mesmo ano, acalorando mais o interesse pelo caso, insistia Xavier Pinheiro em que a Câmara solicitasse do Governo Geral a concessão da parte do Arsenal que se achava desocupada e em mau estado para nela ser construído um mercado, coisa "tão urgentemente reclamada, concluía ele, como por muitas vezes tenho procurado demonstrar em diversas indicações minhas a tal respeito".

Sem negar o pedido, o presidente da Província evadiu-se, porém, a uma resposta clara e positiva, determinando que quanto antes fosse removida a procuradoria da parte que estava ocupando no Arsenal, a fim de ser  ele arrendado.

Ante esse fato, não quis Xavier Pinheiro retirar-se da campanha em prol do mercado, sem manifestar o seu agastamento. Despejou o carcaz da sua apoplética indignação contra os que se esqueciam das necessidades do povo de sua terra.

Joaquim Xavier Pinheiro nasceu de fato em Santos, a 2 de dezembro de 1830. Era de berço humilde; mas tinha sido dotado de inteligência subtil e conseguia ver claro nos mais obscuros problemas sociais. Procurou ele, com os abolicionistas mais avançados, dirredicar a escravidão do solo brasileiro.

Vereador no período de 1877 a 1880, ocupou em 1878 a presidência da Câmara, tendo posto no desempenho do mandato popular, que recebera, toda a força do seu trabalho, da sua dedicação, da sua paixão.

Ativo de braço e cérebro para as canseiras da luta, montou a Fábrica de Cal de São Benedito de Paquetá, ramo de comércio que lhe prosperou colheitas de excelentes frutos.

Ao declinar o ano de 1833, achava-se o Arsenal de Marinha quase desmantelado em ruínas. Assim, em 17 de dezembro, com despacho da presidência da Província, apresentava Ed. Johnston & Cia. um requerimento à Câmara para que esta informasse sobre a pretensão daquela firma, que pedia por aforamento os ranchos velhos do lado esquerdo do extinto Arsenal de Marinha, para neles fazer depósito de carvão de pedra.

Em 11 de julho de 1885, Wilson, Sons & Cia. Limited requeria à Câmara prorrogação de prazo para a remoção do carvão de pedra depositado no Arsenal de Marinha.

Ia, assim, desaparecendo aos poucos aquela edificação que fora construída sem dúvida para os mais altos destinos.

É que das reviravoltas da sorte nem os baluartes escapam.


Fachada do Arsenal de Marinha, em 1878

Imagem: bico-de-pena de Ribs, publicado com a matéria original

A Tribuna também publicou este artigo na série Santos noutros Tempos, na página 19 (capa do segundo caderno) da edição de 10 de junho de 1951 (ortografia atualizada nesta transcrição): 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

Dois edifícios evocadores

Costa e Silva Sobrinho

Quem percorrer hoje a Rua Tuiuti, no trecho que vai da esquina da Rua José Ricardo até a esquina do Largo Marquês de Monte Alegre, encontrará ainda, apesar da grande transformação por que têm passado todas as ruas da cidade, duas velhas casas que nos despertam recordações de um passado distante. São elas as que têm os números 2-4 e 28-30.

No número 30 está a empresa Expresso Piratininga Ltda.; no 28, o Hotel Central. A Companhia Continental de Armazéns Gerais ocupa os números 2 e 4.

Benedito Calixto, cujo pincel retratou com tantos pormenores a nossa cidade no século passado (N.E.: século XIX), deixou-nos um esplêndido quadro desse mesmo trecho de rua. Assim, percorrendo-se com a vista as casas que ele pintou, vamos encontrar as duas acima mencionadas.

Então, isto é, em 1886, aquela via pública não se chamava Rua Tuiuti, como hoje, mas sim Rua 24 de Maio, e ficava à beira do mar, onde se via o porto do Bispo, outrora porto das Canoas. E deu-lhe a Câmara a denominação de Rua 24 de Maio em 22 de agosto de 1878. Até aí o seu nome era Rua da Praia. No quadro de Calixto, vemo-la calçada, porque tinha sido revestida com paralelepípedos em 1883. O vereador Francisco de Paula Ribeiro, na sessão da Câmara de 20 de outubro desse ano, foi quem propôs tal melhoramento.

O Diário de Santos, do dia 23 do mesmo mês, assim noticiava o fato: "O sr. vereador Ribeiro indicou que se mandasse calçar a paralelepípedos a Rua 24 de Maio, desde a Travessa do Neto até o Largo Vergueiro. A Câmara aprovou a indicação, no que procedeu muito acertadamente; pois não pode ser pior o atual estado daquela rua, uma das de maior trânsito". Do Largo do Senador Vergueiro para diante continuou ela, porém, sem calçamento, até 1888.

Na sessão da Câmara de 3 de maio desse ano é que Lucas Fortunato fez a seguinte indicação: "Indico o calçamento, em continuação à Rua 24 de Maio até o muro do finado visconde de Embaré, visto que em dias de chuva é impossível o trânsito para as carroças de café e onde existem várias pontes de embarque, é um lodaçal enorme e intransitável".

Em 1896 os proprietários das casas que iam do número 2 ao número 16, nessa rua, eram estes: Manuel Pereira da Rocha Soares, Cândido Luís Esteves, Manuel Geraldo Forjas, Elisa Barnabé e Carolina Augusta Vaz de Carvalhais, esta casada com o desembargador Marcos Antônio Rodrigues de Sousa, Antônio Ferreira Brandão, Joaquim F. Ribeiro, José Torre Rossman, e, finalmente, Manuel Joaquim Ferreira Neto. Este último é o comendador Neto, uma das figuras mais interessantes dentre as que floresceram no comércio de Santos, naquele tempo.

Em 1855, quando ainda era negociante no Rio de Janeiro, já pertencia ele ao quadro de irmãos da Santa Casa da Misericórdia de Santos, tendo até feito a esta, naquele ano, um donativo de dois contos de réis. A Revista Comercial, de 17 de setembro, além de registrar o caso, ainda disse através da pena de um dos seus colaboradores: "Quiséramos guardar silêncio, talvez satisfazer a bondosa intenção do sr. Manuel Joaquim Ferreira Neto; porém não podemos resistir aos impulsos do nosso coração. Releve pois o dito senhor, que patenteemos, em sinal de profundo reconhecimento, o seu nobre e generoso procedimento com o donativo, que acaba de fazer à Santa Casa da Misericórdia desta cidade; certo de que da humanidade agradecida será abençoado. Sirva de incentivo a esses, que por fofa basófia e vanglória não duvidam gastar quaisquer somas, mas que são incapazes de praticar ações deste quilate, de favorecer o indigente, e de proteger o merecimento.

"Boa estréia para a nova administração da Santa Casa, que, além das suas rendas acaba de receber o generoso donativo, que lhe fez o sr. Ferreira Neto; oxalá que tenha muitos imitadores. Que tendo à sua testa o atual provedor, que sempre se tem distinguido pela sua honradez, atividade e zelo, consiga aquelas reformas salutares, que tão pio quão útil estabelecimento reclama. Temos fé no atual provedor".

Não foi essa, aliás, a única vez que o comendador Neto aqui fez esmolas e benefícios, como nos dá a saber O Comercial, de 17 de novembro de 1859, nesta notícia: "Consta-nos que o sr. Manuel Joaquim Ferreira Neto acaba de fazer ao hospital da Misericórdia desta cidade o importante donativo de 24 camas de fero. Não é este o primeiro ato de filantropia praticado pelo sr. Neto em prol da Irmandade da Santa Casa, da qual é um dos mais prestantes e devotados membros". No ano compromissal de 1857-1858 tinha sido ele provedor da Irmandade.

Em 1865 foi também eleito vereador suplente. Antes de entrar ao cargo, como pretendesse ausentar-se do município por algum tempo, apresentou na sessão da Câmara, de 18 de maio do mesmo ano, ao presidente, dr. Cócrane (N.E.: outras fontes indicam que Inácio Wallace da Gama Cochrane foi vereador de 1865 a 1876, mas só assumiu a presidência em 1868 a 1872, sendo que em 1865 o presidente seria Antonio Ferreira da Silva Júnior, o visconde do Embaré), um requerimento, que a respectiva ata assim mencionou:

"Ofício do cidadão Manuel Joaquim Ferreira Neto, datado de ontem, dizendo que, tencionando retirar-se para Campinas por alguns meses e imediatamente depois para a Europa, não deve prestar juramento do cargo de vereador, como fora convidado, sentindo não poder partilhar dos trabalhos da Câmara. - A Câmara resolveu, enviando-lhe de novo a autêntica, responder que não pode atender à escusa pedida, visto como o motivo alegado de ausência não existe atualmente e só pode ser atendido quando efetivamente se der, devendo, portanto, o sr. vereador suplente comparecer na próxima sessão para prestar juramento".

O comendador Neto foi casado com d. Teresa Luísa Centeno Neto, e faleceu sem descendência em 5 de abril de 1868.

A casa n. 28-30 da atual Rua Tuiuti acha-se descrita no seu inventário da seguinte maneira: "Uma morada de casas de sobrado com frentes para as ruas de Santo Antônio e da Praia, partindo do lado da Rua de Santo Antônio com propriedade dos herdeiros do finado João Antônio de Sá, e desta herança, do lado da Rua da Praia parte com propriedade dos herdeiros dos finados João Antônio de Sá e comendador Barnabé Francisco Vaz de Carvalhais. Para o lado da Rua da Praia, com dois andares, com 7 portas na frente para a Rua de Santo Antônio, e 4 para a Rua da Praia".

Além desse imóvel, construiu o mesmo proprietário aquele casarão enorme do Largo Monte Alegre, defronte da Estação, onde esteve a Câmara Municipal há anos atrás. Neste edifício, como no da Rua Tuiuti, as portadas são todas de alvenaria lavrada, vindas de Portugal.

No prédio da Rua Tuiuti esteve durante muitos anos a firma Teles Neto & Cia., de cujo armazém era chefe José Domingues Martins, mais conhecido na praça por J.D. Nessa casa, defronte de uma das portas do armazém, aconteceu um dia um fato que fez estrondo, segundo nos conta Henrique Porchat de Assis.

José Domingues Martins fora procurado ali por Eduardo Antônio Domingues da Luz, artífice que fazia trabalho ao torno e empreitava obras. Era este um tipo impagável. Ninguém, absolutamente ninguém, em Santos, tinha uma fisionomia igual à dele. Possuía um formidável nariz virgiliano. Lábios grossos, bigode de guias longas e retorcidas, e uma pera de chibo, rala e ruiva, que lhe tremia no queixo quando ficava zangado. Os cabelos crescidos surdiam-lhe de sob um chapéu de abas longas. Enroscava-se, no seu colarinho de bicos compridos, uma grande gravata de cetim quase sempre lilás. Usava, enfim, calças muito justas, jaquetão, e botinas de elástico.

Os seus requerimentos à Prefeitura, quando precisava de licença para iniciar as construções, eram escritos no estilo mais arrebicado deste mundo. Faziam rir às gargalhadas quem quer que os lesse.

Pois bem. Esse homem tinha às vezes os seus rompantes. Tornava-se grosseiro e malcriado.

Desaveio-se naquela ocasião com o J.D., e este, que era bom capoeira, correu-lhe o pé, estendendo-o ao comprido no chão. Nesse dia o valentão de rópia e chulice pensou no adágio: "Braguês com braguês, e cortês com cortês..." Tornou-se daí em diante delicado e acolhedor!

Testemunha de outras épocas é igualmente o prédio ns. 2-4 da citada Rua Tuiuti. Concluiu-o em 1884 Manuel Pereira da Rocha Soares, nascido em S. Mamede de Manhuncelos, bispado do Porto, filho de Antônio José Soares Pereira e Joaquina Pereira Soares. Casou-se em Santos, em 15 de julho de 1865, com d. Amélia Carolina Vieira Bueno. Teve diversos filhos, como Ana, nascida em 1871, em Jundiaí; Antônio, nascido em Santos, em 1873, e outros.

As casas da Rua do Comércio, que vão do n. 141 ao 151, mandou-as ele fazer em 1883. Em 1882 foi eleito presidente da diretoria da Sociedade Portuguesa de Beneficência. Ocupou de novo o cargo em 1886.

A Câmara Municipal, na sessão de 20 de outubro de 1883, concedia licença a Manuel Alexandre Gonçalves para construir um chalé sobre o armazém de Rocha Soares & Cia., à Rua 24 de Maio, conforme o plano executado nos armazéns dos mesmos senhores, à Rua de Santo Antônio.

Rocha Soares, em 15 de fevereiro de 1887, era presidente da Companhia de Seguros Marítimos e Terrestres "A Previdência Paulista".

No quadro de Calixto vê-se, enfim, um sobrado, que já não existe hoje em dia. Tinha o n. 6. Pertencia a Cândido Luís Esteves, português, natural de Covilhã, bispado da Guarda, filho de José Luis Esteves e Maria Joaquina Esteves, e casado em 23 de janeiro de 1871, com d. Augusta Helena Fernandes, natural do Funchal, na Ilha da Madeira, filha de Manuel Fernandes Júnior e Antônia Fernandes. Foi negociante de gêneros alimentícios e de madeiras.

Teve ele numerosa prole. Sua filha Augusta, nascida em 9 de fevereiro de 1872, foi casada com Antônio Augusto Bastos (Totó Bastos), jornalista, que deixou na imprensa desta cidade e de S. Paulo copiosa colaboração.

Homem probo, pacato e generoso, Cândido Luís Esteves foi procurador da Sociedade Portuguesa de Beneficência, em 1882. Quando se construiu o hospital dessa sociedade, no Paquetá, foi ele quem deu toda a madeira de que precisou o edifício.

A cidade de Santos, como se vê, está cheia de história, desde os seus monumentos até os seus mais afastados recantos. Oferece-nos ela inúmeros lugares muito propícios para estas jornadas ao passado, que os santistas de hoje, através de um nimbo de saudade, poderão rememorar com emoção.


O Porto do Bispo e um trecho da Rua 24 de Maio, em 1886

Imagem: bico-de-pena de Ribs, publicado com a matéria original

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