Da conspiração à marcha
para as frentes de luta
"A guarda confraternizou-se
com os revolucionários. E o general Castro Pinto, comandante da 2ª R.M. entregou-me toda a tropa sob seu comando" - diz o
general Euclides
A ditadura prendeu os oficiais que iam comemorar a
Constituição de 91 - Confabulações - O assalto ao Q.G. da 2ª R. M. - Batalhões patrióticos - Ouvindo o general Euclides
Figueiredo, o deflagrador da revolução Constitucionalista.
Texto de Luzi de Medeiros
Fotos de Edward Schultz
Nesta entrevista, o general Euclides
Figueiredo aborda fatos da conspiração e da preparação militar da Revolução Constitucionalista, anteriores ao início das
operações e à chegada do general Bertoldo Klinger a Sâo Paulo. Nossa palestra com o ilustre militar e político deu-se no seu
escritório, no Rio, no edifício do Jornal do Comércio.
Comandava eu a 2ª Divisão de Cavalaria, no Rio Grande do Sul, na
fronteira com o Uruguai e a Argentina - começou o general Euclides Figueiredo -
quando foi deflagrada a revolução de 30, à qual não aderi por não estar convicto de que trouxesse
benefícios ao Brasil. A revolução venceu e, em conseqüência, fui destituído daquele comando e mandado para o Rio.
Quanto à minha atitude anti-revolucionária em 30
- prosseguiu o general Euclides Figueiredo - está ela bem esclarecida no meu
livro sobre a Revolução de 32, a ser lançado agora: Contribuição para a História da Revolução Constitucionalista.
E, para atender ao seu pedido, escolhi para divulgação pelo O
Mundo Ilustrado, em sua próxima edição, um capítulo desse livro, no qual, em síntese, demonstro que assistia razão para
tese, crer que o golpe de 30 fosse benéfico ao País.
Mas, deixemos essa argumentação para o referido capítulo e vamos
ao prosseguimento da história.
Reforma negada - No Rio, não aceitei nenhum comando. Pelo
contrário, pedi minha reforma, que me foi negada pelo general Leite de Castro, então ministro da Guerra, e com muita honra para
mim, pois alegou que o Exército e o Brasil precisavam de meus serviços na ativa.
Fevereiro de 32 - Nessa situação, permaneci até 1932,
quando, havendo um grupo de oficiais decidido festejar o aniversário da Constituição de 24 de fevereiro de 1891, o Governo
Provisório mandou prendê-los.
Protestei contra a prisão de meus camaradas que exerciam um
direito de cidadãos e o meu protesto deu ensejo a que de mim se aproximassem outros elementos avessos à ditadura que considerava
crime falar-se em Constituição e em direitos.
Conspiração - Com isso, começou a conspiração. Políticos do
Rio Grande do Sul e de São Paulo, entre eles Francisco Morato, Paulo Morais e Barros e Júlio de Mesquita tomaram parte nela
desde o início. Abril, maio, junho foram os três meses de preparo da Revolução Constitucionalista. Ora em São Paulo, para onde
viajei vários meses clandestinamente, ora no Rio, sucediam-se nossas reuniões.
8 de julho - Em São Paulo, os companheiros da cruzada de
libertação agiam eficientemente. No dia 8 de julho recebi o esperado aviso e viajei à noite para a capital paulista, onde
cheguei às 9 horas da manhã do dia 9. Ia para comandar a deflagração do movimento contra a ditadura e pelo restabelecimento da
legalidade.
Q. G. Revolucionário - O Q. G. Revolucionário foi instalado
na Rua Sergipe 37, casa do sr. Moacir Barbosa, que se encontrava desabitada, por ter ali falecido recentemente o pai de seu
proprietário, que no-la cedeu. Ali, na Rua Sergipe 37, realizaram-se as últimas conferências e foram concertadas as últimas
disposições para o início da Revolução. E foi dali que partimos para o assalto ao Q. G. da 2ª Região Militar.
Assalto branco - Precisamente às 11h40, duas
horas e quarenta minutos depois de haver eu chegado a São Paulo, eclodia a Revolução. Ao chegarmos ao Q. G. da 2ª R. M.,
situado fora da capital, na Chácara do Carvalho, encontramos a sua guarda reforçada por uma
companhia de metralhadoras.
Essa guarda tomou, de início, atitude de resistência, mas logo
mudada graças à atuação do tenente Mineirinho (de seu verdadeiro nome não me lembro agora), que integrava essa Companhia e que
se achava em ligação conosco.
Toda a numerosa guarda se confraternizou com a tropa assaltante e
o assalto não chegou a realizar-se. Foi mais um assalto branco.
Entrega da tropa federal - O general Castro Pinto,
comandante da 2ª R. M., diante disso, entendeu que o único que lhe restava fazer era entregar sem luta toda a tropa federal sob
seu comando, tropa essa que ficou imediatamente subordinada a mim. E o Q. G. da 2ª R. M. passou a ser Q. G. Revolucionário.
A força policial - Nas confabulações anteriormente
realizadas, o cel. Marcondes Salgado, comandante da Força Policial de São Paulo, que estivera presente a duas de nossas
reuniões, havia se comprometido com a revolução que se planejava. E, no dia 9, de acordo com esse compromisso, pôs à nossa
disposição toda a Força Policial.
Batalhões patrióticos - Nada fora esquecido. Imediatamente
se começou a organização dos civis em batalhões patrióticos e já na noite do dia 9 integravam eles as forças revolucionárias.
Tiveram como organizador o sr. Aureliano Leite e por comandante o capitão Pitisher. Reuniram-se na Faculdade de Direito, no
Largo de São Francisco, e foram logo aproveitados para diferentes misteres que a seqüência do Movimento Revolucionário impunha
no momento.
Ação - Assim, sob a inspiração do general Izidoro Dias
Lopes, chefe supremo da Revolução, que me delegou poderes como oficial mais antigo, estava eu no comando de todas as forças
constitucionalistas de São Paulo.
Estabelecidas ligações telefônicas com todas as unidades dentro do
Estado, preparou-se tudo rapidamente, em primeiro lugar para acautelar o território paulista contra qualquer investida de forças
fiéis ao governo ditatorial.
Assim, na madrugada de 9 para 10 de julho, punha-se em movimento a
tropa, incluindo os batalhões patrióticos, inicialmente para o Vale do Paraíba, no setor Norte; para Itararé, no Setor Sul; e
para Santos, no litoral.
O resto já é a história das operações e do patriotismo com que o
povo paulista acorreu em apoio à Revolução Constitucionalista - que, se houvesse sido vitoriosa pelas armas, teria salvado o
Brasil de muitas desgraças que lhe sucederam.
Quanto às operações e ao patriotismo dos brasileiros de São Paulo,
ao seu sacrifício, são outras páginas de honra que outro constitucionalista abordará.
"Aderi à Revolução de 30 por estar
convicto de que ela traria grandes benefícios ao Brasil"
- diz o general Euclides Figueiredo ao repórter que o entrevista
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