TELEGRAFIA
O fim do SOS
Avanço das telecomunicações aposenta oficialmente o Código Morse nos navios
Se o navio Titanic afundasse hoje, seu oficial de
comunicações já não enviaria o famoso sinal ...---... (SOS, em código Morse) para pedir ajuda. É que neste mês
(2/1999) foi oficialmente aposentado o serviço de telegrafia Morse nas comunicações marítimas
internacionais, sendo a Autoridade de Segurança Marítima da Austrália a última organização internacional a deixar de reconhecer
oficialmente o sistema: a Radio Melbourne (realizou a transmissão final em Morse em seu Serviço Móvel Marítimo às 23h59 UTC (sigla
de Tempo Coordenado Universal) do dia 31 de janeiro (o arquivo sonoro 2359.MP3 dessa mensagem está
disponível no novo endereço Web da rádio).
A aposentadoria do código Morse nas comunicações marítimas começou a ser preparada no início
da década passada, quando a Organização Marítima Internacional decidiu incrementar o uso de uma tecnologia nova e mais rápida, o
Global Maritime Distress and Safety System (GMDSS - Sistema de Perigo e Segurança Marítima Global), que pode ser acionado com o
simples toque num botão e é de uso obrigatório nos navios a partir deste ano. Ele permite transmitir automaticamente a localização
do navio junto com o sinal de alerta, integrando comunicações terrestres com o satélite Inmarsat,
como é relatado na edição de abril de 1998 da revista
Via Inmarsat.
Hoje, a bordo de um navio é possível ter a mesma qualidade e confiabilidade nas comunicações
que em terra, com direito inclusive ao uso da Internet e do sistema de geoposicionamento global por satélite (GPS), o que vem
causando a aposentadoria de diversos instrumentos de navegação e comunicações, como o sextante (que os oficiais de bordo devem
entretanto saber como usar), o radiogoniometro (que permite determinar a localização aproximada do navio por triangulação, a partir
do ângulo de maior intensidade dos sinais de duas emissoras de rádio comerciais conhecidas) e do próprio telex.
Atividade – Embora a mudança seja considerada um avanço no aumento da segurança no
mar, encontra resistências, como a de um iatista inglês, Sir Robin Knox-Johnston: "Na hora em que as baterias estão falhando e não é
mais possível falar por rádio, é bom contar com o código Morse". A razão é que a transmissão radiofônica de sinais sonoros
constituídos apenas por pontos, traços e intervalos é mais facilmente captada e compreendida com exatidão à distância (mesmo com as
baterias fracas) que a fala humana, cheia de nuances.
Por isso, ele continuará sendo muito usado pelos radioamadores em suas transmissões, como os
do The Morse Telegraph Club (MTC), da Sydney
Morsecodians Fraternity e do Morsecodians Fraternity of Western Australia
- só para citar um dos países mais ativos na divulgação dessas atividades pela Internet.
Por sinal, é da Austrália o excelente site do radioamador e historiador Larry Rice (código
VK6CP e página), o
Fists CW Club Morse Preservation Society, a revista inglesa
de Morse, Morsum Magnificat. Vale a pena consultar também o site de
Sam Hallas, com ampla história da telegrafia no mundo e
o registro fotográfico do acervo que o museu da British Telecom manteve aberto ao público até 1997.
Há na Web inúmeros programas que fazem a conversão automática de texto em código Morse e
vice-versa, inclusive com sinal sonoro. Por exemplo, um tradutor
de texto usando linguagem Javascript está em página Web que também tem vínculo para a listagem alemã de programas de conversão
sonora Amateur Radio Soundblaster Software Collection.
Futuro – Mas, se o leitor pensa que o código Morse pertence ao passado... Surpresa!
Justamente agora, a Universidade de Wisconsin e a Eau Claire School of Nursing/Human Sciences & Services Outreach, o Centro
Universitário Johns Hopkins para Tecnologia na Educação e o Trace Research and Development Center da UW-Madison estão lançando o The
Morse 2000 Worldwide Outreach, para pesquisar o uso do código Morse em reabilitação humana e educação.
Como explicam,
muitos portadores de deficiências físicas utilizam dispositivos especiais que lhes permitem utilizar computadores. O código Morse
está sendo pensado como forma ideal de comunicação com os sistemas de computadores, pela sua interface de controle simples e alta
eficiência (o manipulador que emite os sinais de pontos e traços), em aplicações de Comunicação Aumentativa-Alternativa (AAC) e
Tecnologia Auxiliar (AT).
Cerca de 20 fabricantes/desenvolvedores de produtos de informática, entre software e
hardware, estão produzindo sistemas para uso em AAC/AT. Eles estão inclusive desenvolvendo padrões de códigos para funções
não-alfanuméricas de computação que Samuel Morse não poderia prever há 155 anos, como Shift, Alt, Delete, Enter e o controle do
cursor que normalmente é feito pelo mouse...
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Fim ou começo?
Veja (e ouça) mais:
Uma história de pontos e traços
Curiosidades da telegrafia
Os momentos finais da radiotelegrafia |