O que falta para alavancar as exportações
Willen Mantelli (*)
A principal
meta do setor empresarial para os portos é viabilizar padrões
internacionais de atendimento e preço, que contribuam para aumentar
a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Para
isso, é preciso reduzir os atuais custos de toda a cadeia logística
das exportações, de modo a obter ganhos de escala - o que,
no caso dos portos, requer a adoção pelo governo de uma política
portuária consistente, capaz de coordenar as ações
dos mais de dez ministérios com ingerência nos assuntos portuários.
Em que pesem os avanços já
registrados com a implementação da Lei 8.630/93, o processo
de modernização dos portos tem ainda uma série de
obstáculos pela frente, tais como a administração
deficiente dos portos organizados, problemas trabalhistas,
pagamento elevado pelos arrendamentos de áreas portuárias
(em conseqüência do modelo de licitação do tipo
“maior preço” adotado pelo governo), restrições à
liberdade dos terminais de operar quaisquer tipos de cargas, falta de manutenção
e conservação da infra-estrutura aquaviária, problemas
de acesso rodoviário e ferroviário e excesso de burocracia,
tudo isso resultando em tempo improdutivo, perda de cargas e elevação
dos custos.
Para minimizar ou eliminar essas
deficiências e evitar retrocessos na implementação
da reforma portuária, a Comissão Portos/ABTP elaborou uma
pauta de recomendações ao governo, compreendendo medidas
para melhorar a eficiência das entidades administradoras dos portos
e a gestão da mão-de-obra portuária, reduzir a burocracia
e estimular o reaparelhamento dos portos.
No âmbito da administração
portuária, é importante, antes de mais nada, adaptar as entidades
administradoras dos portos (Cias. Docas, autarquias estaduais/municipais)
à Lei 8.630/93 (expressamente no que concerne aos arts. 50 e 53,
observado o art. 175 da Constituição Federal), ressaltando
sua subordinação ao CAP e equacionando seus passivos, inclusive
o trabalhista. Para dar mais flexibilidade e autonomia a essas entidades,
caberia também terceirizar os serviços de dragagem e os serviços
jurídicos, enxugando sua estrutura e focando o gerenciamento na
produção de resultados econômicos.
No que tange à mão-de-obra
portuária, é urgente adequar às reais necessidades
do sistema portuário o contingente de trabalhadores, hoje composto
por cerca de 34 mil homens, dos quais 50% são considerados excedentes.
Essa indispensável adequação depende de uma avaliação
do contingente de trabalhadores necessário a cada porto, da realização
de exames médicos em todo o contingente atual, de uma ação
conjunta dos Ministérios do Trabalho e Emprego e da Previdência
e Assistência Social para promover a aposentadoria de trabalhadores
sem condições de permanecer em atividade, e do esforço
de empresários e trabalhadores no sentido de retirar do OGMO indivíduos
cadastrados que não comparecem ao porto e não dependem da
atividade portuária para sua subsistência.
Seria recomendável também
a criação de contrapartidas para viabilizar Programas de
Incentivo ao Desligamento Voluntário (PDVs), tais como linhas especiais
de crédito do BNDES, com encargos e custo compatíveis ao
caráter social desta medida.
Com relação ao excesso
de burocracia, em primeiro lugar é necessário evitar superposições,
duplicidade de esforços e exigências, e isto vale especialmente
para as recentemente criadas agências reguladoras com ingerência
sobre os portos – ANP, Anvisa e ANTAq. As providências nesse campo
devem incluir também liberdade para os terminais operarem outros
tipos de cargas que não aquelas previstas inicialmente em seus contratos,
condições para o funcionamento dos portos 24 horas por dia
e 365 dias por ano, e reformulação do sistema aduaneiro,
de forma a torná-lo um instrumento de comércio exterior.
Para que o setor empresarial possa
fazer a sua parte no processo de modernização dos portos
é indispensável, finalmente, a disponibilização
pelo governo de linhas especiais para o financiamento de equipamentos de
movimentação de cargas e para a informatização
do setor. Este é o escopo do Programa Reporto, desenvolvido pela
Camex, que irá demandar investimentos da ordem de US$ 1,5 bilhão
– recursos estes cuja mobilização será largamente
compensada pelos ganhos decorrentes do aumento das exportações
brasileiras.
(*) Willen
Mantelli é presidente da Associação Brasileira dos
Terminais Portuários Privativos (ABTP). |