Caminhos para regionalizar o Porto
de Santos
Débitos dificultam
transferência do controle
O
governo federal impôs condições ao governo paulista
para processar a regionalização do Porto de Santos, entre
elas o recebimento, por oito anos, da receita patrimonial. Reuniões
sucessivas têm ocorrido com os dois grupos de estudo, um a nível
estadual e o outro interministerial, para um acordo que viabilize a formação
de uma empresa controlada por capital do Estado e de três municípios
do Estado de São Paulo. Apesar do processo estar bem adiantado,
alguns segmentos defendem a formação de uma empresa privada
para administrar o Porto, e assim vencer as barreiras burocráticas
da legislação estatal. |
A legislação
que permitia a regionalização dos portos (transferência
de seu controle acionário para estados e municípios) foi
alterada, fato que complicou o processo para os portos do Rio de Janeiro
e de Santos. O Conselho Nacional de Desestatização (CND)
já aprovou a regionalização do porto santista, que
será repassado à participação do Governo de
São Paulo e dos municípios de Santos, Guarujá e Cubatão,
e analisa a do porto do Rio de Janeiro, a ser transferido ao controle do
município.
Em estágio mais adiantado,
a regionalização do Porto de Santos ganhou celeridade a partir
de 6/2002. O processo, entretanto, esbarra em questões financeiras
da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), controladora
do porto, que interferem na conclusão de um acordo que garanta a
sobrevivência. A regionalização também enfrenta
movimentos que defendem a privatização, criando-se uma empresa
privada para administrar o porto, em vez de uma estrutura estatal.
Até o fechamento desta edição,
os grupos de São Paulo e o Interministerial não haviam fechado
ainda um acordo final para tranferir ao estado e municípios o controle
acionário do Porto de Santos. O coordenador do grupo do Governo
paulista, o professor Manoel Silva Reis, tem constantemente a Brasília
para negociar os termos. Para garantir a regionalização,
informou, São Paulo abriu mão de 40% da receita patrimonial
por oito anos.
Segundo definiu ele, as receitas
provenientes de arrendamentos de terminais não será repassada
à União. Ele enfatiza que não haverá nenhum
acordo caso Brasília decida ficar com os contratos de arrendamento.
Pelas informações do coordenador Manoel Silva Reis, o governo
federal mudou de posição, contrariando promessas feitas desde
o início do processo de regionalização, em 2001. A
seu ver, esse retrocesso se deveu à falta de recursos, e a União
só quer assumir os débitos com o INSS, estimados em R$ 300
milhões, conforme o balanço da Codesp de 2001.
Projeções do grupo
paulista indicam que a receita patrimonial não é a maior
fonte de recursos para o porto, representando cerca de 38,6% da receita
líquida. O montante arrecadado com as tarifas chega a 59%. Segundo
dados da Secretaria Estadual dos Transportes, o passivo da Codesp é
de R$ 357 milhões. Deste total, R$ 250 milhões fazem referência
às pendências com o INSS. Se forem considerados os valores
de processos trabalhistas e outras pendências judiciais, os débitos
poderão subir a R$ 741 milhões.
Privatização
- A Associação Brasileira de Terminais Portuários
Privativos (ABTP) é uma
das entidades contrárias à administração daquele
porto por uma entidade pública, conforme pretende o governo paulista.
A intenção do governo
estadual é assumir o controle do Porto de Santos por meio de contrato
de delegação portuária, em que a União cede
a administração ao Estado. A empresa pública portuária
a ser criada viabilizará a participação dos municípios
de Santos, Guarujá e Cubatão.
A ABTP enviou ao CND ofício
lembrando que, por força de lei, a concessão portuária
deve ser submetida a processo de licitação. Para Willen Manteli,
presidente da ABTP, o sistema público de administração
portuária inviabilizará a constituição de uma
empresa mais capacitada a atender às decisões mais ágeis
na gestão portuária e propiciará a repetição
de erros ocorridos na administração da Codesp, devido ao
sistema estatal.
Ao defender a criação
de uma administradora privada para o Porto de Santos, Manteli defende maior
ousadia, neste momento em que o desafio nacional é viabilizar expressivo
crescimento do comércio exterior brasileiro, e isso, afirma, depende
de se assegurar ao País um sistema portuário moderno e altamente
eficiente. No seu entender, "há de se buscar subsídios nos
modelos consagrados nos principais portos do mundo, de forma a permitir
a criação de uma entidade administradora eficiente, profissional,
ágil e mais imune às interferências político-partidárias".
Modelo francês - Sentido
as atuais limitações da ingerência estatal, o presidente
da Codesp, Fernando Barbosa Vianna, considera como objeto da regionalização
não apenas a Autoridade Portuária, mas sim, e principalmente,
as empresas operadoras, os resultados financeiros das operações,
os lucros, impostos e, por fim, o bem-estar da população
dos municípios da Baixada Santista, cujo sacrifício e perseverança
permitem o tráfego livre das embarcações no Estuário,
transportando produtos de interesse do comércio exterior. Dessa
forma, Vianna considera imprescindível, antes, a busca por um modelo
doutrinário e teórico adequado para o Porto de Santos.
Não adianta regionalizar mantendo-se
o modelo atual, é necessário achar um caminho
que lhe dê maior autonomia e flexibilidade. No mundo, existem quatro
tipos de modelo: autoridade portuária (port authority), porto
autônomo, porto estatal (utilizado em Santos durante muitos anos)
e o porto privado (no mundo são cerca de três), e ele recomenda
o modelo de porto autônomo francês.
Esse modelo proporciona grande dinâmica
às negociações e a legislação e é
extremamente modernizante, além de obrigar a câmara de comércio
da cidade a atuar de forma significativa na gestão portuária,
como suporte ao porto. Trata-se, também, de um modelo viável
para Santos, porque a linha doutrinária é a do Direito Romano,
a exemplo do Brasil.
Segundo ponderou, outro aspecto essencial
é o porto conseguir atingir seu objetivo fundamental, de essência
portuária, não interessando se ele é regionalizado,
municipalizado ou federalizado.
“Se nos reportarmos a países
com portos de grande expressão, como Holanda e Estados Unidos, verificamos
que, na autoridade portuária, a autoridade significa, na verdade,
autonomia. Com essa autonomia portuária, o porto se desenvolve de
tal forma que, através de sua tarifa e de seus arrendamentos, não
necessita vinculação ao Estado. O porto é autônomo,
gerando seus recursos, financiamentos e melhoramentos, com plena liberdade
para se desenvolver”, concluiu o presidente da Codesp, Fernando Vianna. |