Praça do Correio - um marco da evolução da cidade
Outrora uma extensa área verde formando um jardim com um bucólico coreto
ao centro, a Praça Coronel Lopes, na área central da cidade, sofreu uma série de transformações até atingir seu estágio atual: uma praça com jardins
de plantas rasteiras, distribuídos em patamares, e algumas árvores frondosas.
No meio da praça, o prédio da Agência Postal e Telegráfica, ali inaugurado em 1951, chama a atenção, pois é a
única edificação em meio ao jardim.
Apesar dos protestos quando da construção do prédio da agência na praça, hoje o imóvel está incorporado á
paisagem, a ponto de muitas pessoas, inclusive vicentinos, conhecerem o local como Praça do Correio. Aliás, desde que a agência foi instalada, todas
as mudanças que ocorreram foram á sua volta. A reforma interna realizada há alguns anos não é percebida por quem está na praça.
Durante anos, a Praça Coronel Lopes foi considerada, juntamente com a Praça 22 de Janeiro (junto à Biquinha) como
uma das áreas mais arborizadas e bonitas da cidade. Na década de 40, era considerada pelos pesquisadores, vicentinos e visitantes, um verdadeiro
oásis. Naquela época, a praça era formada por alamedas asfaltadas, ladeadas por frondosas árvores e canteiros, tinha bancos de madeira e ferro,
cigarras grilos e um coreto, onde várias bandas se apresentavam. Era o Jardim da City, que foi entregue à manutenção da Prefeitura, em 1944.
Em 1951, o coreto deu lugar ao prédio do Correio, mas o belíssimo jardim continuava. Somente no final da década de
70, em nome do modernismo é que a praça sofreu a grande transformação. Suas árvores foram arrancadas; as alamedas, destruídas; sumiram as flores, as
cigarras e os bancos de madeira e ferro. Só ficou o prédio do Correio no lugar.
De nada adiantaram os protestos. Da antiga praça arborizada só restaram saudades, o Correio e árvores diferentes
dos arbustos de décadas passadas.
À sua volta, também quase tudo se transformou. Somente a Escola do Povo (com algumas alterações) e o
Clube de Regatas Tumiaru, criado em 1905, mas inaugurado na praça somente em 1949, permaneceram.
A Igreja Matriz de São Vicente Mártir, ponto de
referência para a população
Imagem: reprodução da página 48 da
publicação (cor acrescentada por Novo Milênio)
Correio, uma caixa de surpresa
O serviço de Correios de São Vicente funciona desde 1905 e dona
Isabelina Teixeira foi a primeira postalista da cidade. Naquela época, o correio funcionava junto à casa de dona Idalina, na Rua Padre Manoel.
Depois, o serviço mudou para a Rua XV de Novembro, a seguir para a Rua Padre Anchieta, posteriormente para a Avenida Capitão-Mor Aguiar - prédio
doado à Câmara Municipal para instalação de uma escola, agência do correio e primeira agência telegráfica de São Vicente. A agência telegráfica
também funcionou na Rua XV de Novembro.
Em 1950, a Câmara aprovou a doação da Praça das Bandeiras (localizada entre as avenidas Presidente Wilson e
Antonio Emmerich, bem próxima à Praça Coronel Lopes) para a construção do prédio do Correio. Na ocasião, o então prefeito José Monteiro, por livre
iniciativa, resolveu mudar o local destinado à agência do Correio. Transferiu a construção para a Praça Coronel Lopes. Os vereadores não puderam
objetar essa decisão do prefeito porque já se havia extinguido o prazo para uma nova discussão e a verba para a obra estava aprovada pela União e,
se não fosse imediatamente utilizada, seria transferida para outro município, e São Vicente ficaria sem a Agência Postal e Telegráfica.
Aliás, o próprio prédio da agência do Coreio parece uma caixa, que combina perfeitamente com o termo "caixa de
surpresa", usado para definir as mil e uma situações vividas no local.
Maria do Carmo Ferreira da Silva, gerente da agência, com a calma que é necessária para o cargo que ocupa, explica
os diferentes tipos de serviços prestados pelo correio e dá informações a várias pessoas, sobre os mais diversos encaminhamentos, até mesmo a
perguntas do gênero "onde vende selo?".
A Praça Coronel Lopes, conhecida como Praça do Correio,
foi uma das áreas que mais sofreu alterações. Acima, a praça atual
Imagem: reprodução da página 50 da
publicação (cor acrescentada por Novo Milênio)
Funcionando de segunda a sábado, a Agência Postal e Telegráfica de
São Vicente oferece todo tipo de serviço prestado por uma agência de porte médio. Lá é possível encontrar tudo quando se trata de comunicação: de
documentos perdidos a cartões de Natal e até mesmo cartas cujo destinatário é o próprio remetente. Um setor específico para filatelistas também está
à disposição. No segundo pavimento do prédio funcionam o setor de Caixa Postal e um pequeno refeitório e outros.
Assim como na comunicação em geral, no Correio as pessoas estão sempre em movimento. Em determinados instantes, a
tranquilidade. De repente, a agência fica lotada e o burburinho é intenso.
Todo mundo fala: é gente querendo selar carta, outras, enviar ou receber encomendas nacionais e internacionais,
mala direta, impressos, Sedex, compra de impressos para justificar ausência nas eleições, de cartões de Natal, auxílio-desemprego, encaminhamento de
dinheiro para família etc.
Um serviço que o público não vê, mas é dos de extrema importância para que a correspondência chegue mais rápido ao
seu destino, é o de triagem. A triagem é feita por Estado, formato do envelope e outros detalhes. Faz-se isso o dia inteiro, mesmo quando a
correspondência do dia já foi expedida para o serviço de encaminhamento aéreo e terrestre, bem como para o setor de carteiros.
A Praça Coronel Lopes, com muitos arbustos e alamedas
na década de 1940
Imagem: reprodução da página 50 da
publicação (cor acrescentada por Novo Milênio)
Almanaque popular
Quem não se lembra da caixa existente no centro do Correio, antes da
reforma interna? Nessa caixa as pessoas colocavam os selos e depositavam as cartas. Na década de 60, a explosão dos álbuns de figurinhas foi o
"máximo" para estudantes de 7 a 13 anos. Mas a cola era relativamente cara. Por isso, tornava-se mais fácil pegar o álbum e as figurinhas e ir para
a fila da caixa de cola do Correio.
As filas ficavam imensas, até que dona Ivone (já falecida), diretora da Agência, aparecia e colocava a meninada no
canto, dizendo: "Aqui só colam figurinhas quando todos colarem os selos". Isto significava o fim da brincadeira. Mas alguns eram insistentes e
ficavam esperando. Com isso, dona Ivone acabava encontrando um gomeiro extra para se ver livre dos "figurinhas", como ela os chamava.
Um dos mais conhecidos carteiros de São Vicente foi Roberto Mafaldo,q ue hoje, apesar de aposentado, continua
sendo uma das pessoas mais populares da cidade. Ele, numa época em que o preconceito em relação ao homossexualismo era muito forte, no início da
década de 60, ousou assumir sua identidade.
Ainda na década de 60, era comum uma pessoa ter sua casa como ponto de referencia de determinado bairro para a
entrega de correspondência. Assim, o bar de Orlando Spiloto, localizado na Rua Tenente Durval do Amaral, antigo nº 71, bairro do Catiapoã, que nunca
esteve no Nordeste, era como um irmão para centenas de nordestinos.
As cartas para as pessoas residentes no bairro vinham assim endereçadas: para fulano de tal; embaixo, aos cuidados
do seu Orlando e, em seguida, o endereço do bar. Esse esquema nunca falhou. Era comum nordestinos virem para São Vicente e como não tinham o
endereço do parente, apenas do bar do seu Orlando, desembarcavam direto naquele local. Aí, ficava o seu Orlando matutando onde residia o parente do
recém-chegado.
Tudo isso servia para estreitar o relacionamento. E seu Orlando, que hoje não reside mais no local, embora o bar
continue lá, tinha uma grande família.
Hoje a situação é diferente. A correspondência domiciliar abrange cerca de 99% da cidade. Os poucos que não são
atingidos dirigem-se ao Correio onde sua carta fica na posta-restante por trinta dias. Mesmo assim, Maria do Carmo, a gerente, garante que a agência
continua sendo um polo gerador de amizades.