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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE
1873 - pelo Almanak da Provincia de São Paulo

Ao entrar o inverno, "a decrépita vila volta à vida própria e triste de sempre."

Ao longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Em 1873 circulou nas principais cidades brasileiras o Almanak da Provincia de São Paulo, com 566 páginas, organizado e publicado por Antonio José Baptista de Luné e Paulo Delfino da Fonseca, com impressão na Typographia Americana, da capital paulista (exemplar preservado no acervo Memória da Biblioteca Nacional Digital - ortografia atualizada nesta transcrição). São Vicente é descrita nas páginas 281 a 283 dessa publicação:

Imagem: reprodução da primeira página da publicação

Município de S. Vicente

A vila de S. Vicente é a primeira de todo o Brasil, por sua antiguidade, sendo o começo desta Província.

Tendo Martim Affonso de Souza chegado da Europa com a sua esquadra, e descoberto a baía do Rio de Janeiro no dia 1º de janeiro de 1532, e não podendo estabelecer-se ali, por achar a terra povoada de índios tamoios, que só pelas armas poderia dominar, o que não quis tentar por ser pouca a gente que tinha a opor-lhes, seguiu para o Sul em demanda de outro porto mais conveniente em que pudesse fundar uma povoação.

Percorrendo a costa, depois de descobrir diversas enseadas e ilhas, chegou no dia 22 de janeiro a uma barra com fundo suficiente para navios de pouco calado, onde fundeou; e como nesse dia a Igreja comemora o mártir S. Vicente, denominou essa barra Rio de S. Vicente. Supõe-se que fosse essa barra a da Bertioga, onde construiu um forte antes de continuar a sua viagem até o Rio da Prata.

Em sua volta a S. Vicente, no mesmo ano de 12532, deu Martim Affonso princípio à primitiva povoação de S. Vicente.

Admira que ele, deixando a Barra Grande e a Bertioga, fundasse a povoação na barra S. Vicente, onde não podiam entrar embarcações de grande calado, quando podia fazê-lo ainda no princípio da praia do Embaré junto ao sítio destinado para o porto.

Naturalmente a razão que deu lugar a essa escolha foi ter chegado a esquadra em janeiro,um dos meses em que as chuvas são copiosas, e terem os primeiros povoadores encontrado alagada a praia do Embaré; por isso foram abrir os alicerces da nova povoação na extremidade da do Tararé (N. E.: atual Itararé), sendo que aí depararam com excelente água para uso dos habitantes, o que não havia próximo ao lugar destinado para o porto.

Edificou-se logo uma matriz com a invocação de Nossa Senhora da Assunção, cadeia, casa do Conselho etc.; foi, porém, breve a duração de todos esses edifícios, porque tudo foi levado pelo mar. Em 1542 já havia desaparecido a casa do Conselho e a povoação se mudara para o lugar onde hoje existe.

A capitania de S. Vicente, que se estendia ao longo da costa por espaço de 100 léguas, foi concedida a Martim Affonso de Souza por doação de el-rei d. João III de 28 de setembro de 1532, e confirmada pelo foral de 6 de outubro de 1534. Martim Affonso, tendo-se retirado em 1534 para a Índia, voltou ainda a Lisboa; mas em 1571 já não existia.

Dista a vila 11½ léguas ou 63,8 quilômetros da capital; e 1½ légua ou 8,3 quilômetros de Santos.

A vila de S. Vicente decaiu completamente depois que fundou-se a de Santos, e a sua população hoje é de 805 habitantes. A sua dificultosa barra concorreu para que parte de seus primeiros habitantes a abandonassem.

Possui uma igreja com a invocação de S. Vicente, em péssimo estado, assim como uma cadeia que serve de casa de Câmara, que ainda não está concluída. Tem uma fonte mal preparada, porém de água excelente. Tem duas aulas de primeiras letras, uma para o sexo masculino e outra para o feminino. Depois da morte do pároco, padre Manoel da Ascenção Costa, ficou sua igreja sujeita à freguesia de Santos.

Nenhum comércio tem, e sua lavoura é quase nula. Abunda ali muito peixe e algumas frutas.

Em homenagem às suas tradições históricas tem-se-lhe conservado a categoria de vila.  sua população, além de ser diminuta, é disseminada pelos sítios, de modo que falece o pessoal habilitado para os empregos públicos. Durante a estação calmosa a decadente povoação se anima pela concorrência das pessoas que de Santos e mesmo do interior da província ali vão gozar de seu ameno clima e fazer uso dos banhos  do mar. Ao entrar o inverno, os visitantes a abandonam e a decrépita vila volta à vida própria e triste de sempre.

Câmara Municipal

Presidente - João Marcellino de Azevedo.

Vereadores - Joaquim Antonio da Luz. José Marcellino de Camargo. Manoel Pedro de Almeida. Fernando José Augusto Bittencourt. Antonio Gonçalves da Silva. Americo Marcellino Rodrigues.

Secretário - Indalecio Constancio Ferreira.

Procurador - Antonio Gonçalves de Freitas.

Fiscal - Antonio Gonçalves da Silva.

Porteiro - Bento Antonio Marcellino.

Instrução primária

Inspetor - ............................

Professor público - Indalecio Constantino Ferreira.

Professora pública - D. Mafalda Virginia das Dores.

Vigário - ..............................

Os sacramentos são administrados pelo vigário da cidade de Santos.

Igreja - Matriz, sob a invocação de S. Vicente.

Sacristão - Indalecio Constancio Ferreira.

Irmandades - Santíssimo Sacramento. Nossa Senhora do Amparo. Nossa Senhora do Rosário.

Subdelegado - Arlindo José das Neves.

Suplentes - 1º, Joaquim Manoel das Neves; 2º, Manoel Antonio das Neves. 3º, José Marcellino de Camargo.

Escrivão - Damaso Maria Gomes.

Juízes de paz - Arlindo José das Neves. João Baptista Passos. José Francisco Pinheiro. Bento Antonio dos Santos.

Escrivão - ...........................

Oficial de justiça e carcereiro - Martiniano Gonçalves da Silva.

Eleitor da freguesia - tenente Arlindo José das Neves.

Proprietários capitalistas - Manoel Teixeira da Silva. Antonio José da Silva Bastos. Tenente-coronel Bento Thomaz Vianna.

Negociantes - Tenente Arlindo José das Neves. João Marcellino de Azevedo. Luiz da Costa Sol. Lino de Araujo. Joaquim da Silva Soares. Joaquim Leite.

Hotel - de João Marcellino de Azevedo.

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Imagem: reprodução da página 281 da publicação

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Imagem: reprodução da página 283 da publicação

Veja também:

Santos em 1873 - pelo Almanak da Provincia de São Paulo

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