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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE
Coisas de São Vicente em 1894

Texto publicado em 26 de março de 1969, na edição comemorativa do 75º aniversário de fundação do jornal santista A Tribuna:


São Vicente é a vida de Juca Azevedo
Foto publicada com a matéria

Coisas de São Vicente em 1894

Juca Azevedo, ou melhor, sr. José Joaquim de Azevedo Júnior, casado, funcionário municipal aposentado, nascido na vila de São Vicente aos 30 dias do mês de outubro do ano de 1884, é dono de prodigiosa memória. Juca Azevedo,que treme a voz quando fala da sua canoa Teimosa, companheira de pescarias no Mar Pequeno, mesmo antes de existir a Ponte Pênsil, conta coisas de São Vicente.

"Eu era menino de dez anos, em 1894, mas lembro-me da Botica do seu Glória (Rua Jacob Emmerich) perto da estaçãozinha, lugar onde se reunia o pessoal importante da vila para conversar ou discutir política. Ou então na casa de Antão e Antero de Moura, onde apareciam também o cel. Júlio Maurício da Silva e meu pai Juca Morgado".

"No Largo Batista Pereira - prossegue Juca Azevedo -, onde hoje é o Mercado Municipal (praça João Pessoa) existia um sobrado que abrigava a cadeia, embaixo, e no alto a Intendência e a Câmara. A Matriz, que ficava logo em frente, tinha um adro delicioso, todo gradeado em ferro, onde muita gente se reunia às tardes para conversar, jogar amarelinha ou frontão na parede da igreja. Naquele ano, estava em formação o Clube dos Adristas (liderado por Eduardo Araújo dos Santos, Antero Moura e meu pai), que chegou a promover três grandes carnavais com desfile de carros alegóricos. O préstito, naquele tempo, saída de frente à cadeia, seguia pela Marquês de São Vicente até ao porto, voltava para continuar pela Martim Afonso, Rua João Ramalho e novamente XV de Novembro até a Igreja".

"No dia do padroeiro São Vicente Mártir e na festa do Divino Espírito Santo, o adro ficava repleto para os festejos e leilão de prendas, quase sempre dirigidos por Antônio Militão de Azevedo e Marcílio Dias do Nascimento".

Escola do Povo - Juca Azevedo ficou triste quando lembrou que tiraram o nome de Escola do Povo do prédio onde hoje funciona o Grupo Escolar de São Vicente. "Ela começou a funcionar na Rua XV, em Frente ao armazém de Antão e Antero. Depois mudou-se para o Largo Batista Pereira, voltou para a Rua XV e em 1898 transferiu-se definitivamente para a atual Praça Coronel Lopes. Era mantida por uma meia dúzia de pessoas. A gente respondia à chamada às 9 horas e só voltava para casa às 17 horas; almoçava-se o lanche reforçado trazido de casa".

Tribuna do Povo - Pausa na conversa para dar tempo a d. Alice de trazer o relógio de bolso de seu Juca. Preso à alça do patacão, a medalha que o menino José Joaquim recebeu em 1896, das mãos de Alberto Veiga, ao concluir o curso primário na Escola do Povo, sob a direção do professor Paim. Tribuna do Povo passou a ser o assunto. Os nomes do dr. Urbano, Francisco Pereira, Alberto Veiga, e principalmente de Olímpio Lima "que orientava a coluna Rabujices de um velho, assinada por Velho Tinoco, e que apontava os defeitos e falhas dos administradores", vieram à tona. "Com o Nascimento Júnior, o jornal ganhou mais força e prestou mais atenção a São Vicente", disse Juca Azevedo.

Muito mais - Tanta coisa mais do século passado (N.E.: século XIX) foi conversada. Os banhos de mar das 5 às 5,30 e a dificuldade em se ver "um palmo do tornozelo das moças". A inauguração do monumento ao 4º centenário do Descobrimento, na Praça 22 de Janeiro. A reta de praia que ia da Pedra do Mato até a Ilha Porchat. A máquina a vapor da Companhia Viação Paulista que fazia a viagem São Vicente-Santos com duas gôndolas e um caradura. As canoas que saíam de onde hoje está a Casa das Bananadas e o Grupo Escolar Raquel de Castro Ferreira e faziam transporte para "o outro lado, ao porto do Campo. De lá, por um caminho só para carroça, levava-se 40 minutos a pé até ao porto do Rei, boqueirão da Praia Grande".

Juca Azevedo poderia contar muito mais ainda sobre São Vicente. Da Biquinha e da Matriz "violentadas" pelos administradores e de tantas outras coisas que os homens, sob a desculpa do progresso, não souberam respeitar. E principalmente falar de sua canoa Teimosa e do barracão de pescaria lá para os lados do Porto das Naus.


Cadeia e Intendência onde é hoje o Mercado
Imagem publicada com a matéria

Casos de polícia

"Hontem de madrugada, naquella villa, na rua Campos Salles, ouviram-se gritos dolorosos. Avisada a autoridade, compareceu promptamente no local indicado, verificando estar ferido Victorino de Loyo, operário sirio e de exemplar comportamento, e apresentava diversos ferimentos no olho esquerdo, na cabeça, uma contusão no thorax e em uma perna, produzidos por machado, sendo grave o seu estado. Interrogado o offendido, confessou que os autores da tentativa de assassinato eram Jacques da Cruz e (no número, ilegível), ali residentes. O acidentado foi levado para a Santa Casa, desta cidade."

Seis dias depois, na Tribuna do Povo de 9 de setembro de 1895, n. 112, primeira página:

"Veio ao nosso escriptorio o cidadão portugues Jacques da Cruz, com as costas e o braço, com diversos vergões produzidos por pranchadas de sabre, que, segundo nos afirmou, foi o subdelegado de S. Vicente, que lhe mandou dar na occasião em que sahia da prisão, pois o mesmo cidadão achava-se preso na cadêa d'aquella Villa.

"Dar-se-á o caso de estar algum izidoro na subdelegacia de S. Vicente?"

Assim era o jornalismo imparcial da Tribuna do Povo, em 1895. Assim, São Vicente na notícia, aparecendo pouco no pequeno semanário de 4 páginas, que começava havia um ano suas atividades. Assim, o início dos 75 anos.

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