A cassação do mandato e dos direitos políticos do prefeito vicentino, sr. Charles
Alexander de Souza Dantas Forbes, decorreu das graves irregularidades apuradas mediante investigação sumária realizada pelo Departamento Federal da
Segurança Pública. O clichê fixa o momento em que, há algum tempo, o então chefe do Executivo de São Vicente adentrava o quartel do 2º Batalhão de
Caçadores, para ser interrogado pelas autoridades federais
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Prefeito e vice de S. Vicente cassados por Castelo Branco
BRASÍLIA, 20 (UPI) - Após despacho de uma hora, com o ministro da Justiça, o
presidente Castelo Branco assinou decretos cassando o mandato e suspendendo os direitos políticos das seguintes pessoas:
Domingos de Mendonça Neto, prefeito municipal de João Pessoa, Paraíba; Sérgio Fuentes,
prefeito municipal de Livramento, Rio Grande do Sul; Charles Alexander Souza Dantas Forbes, prefeito de São Vicente, Estado de São Paulo; Jaime
Pinheiro Guimarães, vice-prefeito de São Vicente, São Paulo; Ricardo Gonçalves Rocha, Osvaldo dos Santos e Osvaldo Toschi, vereadores em São
Vicente, São Paulo.
Foram demitidos do serviço público José Rubens Marcondes de Moura, secretário do
prefeito de São Vicente; José Carlos Rivero, chefe do setor de avaliação de "inter vivos" da Prefeitura de São Vicente; José Carlos Gonçalves
Nascimento, lançador da Prefeitura Municipal de São Vicente.
Os atos presidenciais foram baseados no art. 15 do Ato Institucional número dois e
seus parágrafos e no art. 14 e seu parágrafo único do AI-2.
Repercussão - O ato do presidente da República repercutiu intensamente em toda
a Baixada Santista, onde aliás o fato era esperado em face do que se sabia em torno da investigação sumária, recentemente levada a efeito na "Cellula
Mater" pelo governo federal.
Em São Vicente também era esperado esse desfecho, que a população aliás achava estar
demorando em demasia, dando ensejo, essa demora, a generalizada inquietação. O povo tinha conhecimento das irregularidades largamente praticadas na
Prefeitura e na Câmara pelos elementos cassados e demitidos, e não acreditava pudessem esses fatos, depois de rigorosamente apurados, ficar sem
punição.
Mesmo sendo aguardadas, as cassações constituíram forte impacto, quando as notícias a
respeito começaram a circular, à tarde, divulgadas sobretudo pelas estações de rádio. Durante certo tempo, foi como se a cidade toda entrasse numa
espécie de "recesso", explodindo, logo a seguir, os comentários em todos os locais de trabalho e nas esquinas. O ato do marechal Castelo Branco
provocou, de um modo geral, sensação de alívio nos munícipes, sendo a medida recebida, pela maior parte da população, com contentamento.
Os descrentes - Não obstante fosse esperada como conseqüência lógica dos fatos
que vinham ocorrendo em São Vicente desde a instauração do governo do sr. Charles Dantas Forbes, a medida drástica da presidência da República não
convenceu desde logo certos setores políticos, que se recusavam a dar crédito às notícias. Estas, porém, foram reiteradas seguidamente, e ao cair da
noite já não havia dúvidas, mesmo nesses setores, de sua autenticidade.
A expectativa - Conhecida a cassação dos mandatos e dos direitos políticos, por
dez anos, do prefeito Forbes, do vice-prefeito Jaime Pinheiro Guimarães, dos vereadores Osvaldo dos Santos, Ricardo Gonçalves Rocha e Osvaldo Toschi,
e dos funcionários José Carlos Rivero e José Gonçalves Nascimento, bem como do secretário Marcondes de Moura, a população manteve-se atenta às
notícias, na expectativa do decreto de intervenção federal e conseqüente nomeação do interventor.
Algumas emissoras de Santos e da capital chegaram a divulgar que o marechal Castelo
Branco havia nomeado interventor o diretor do Departamento Jurídico da Prefeitura, o qual tomaria posse no dia de amanhã. Essas notícias, contudo,
não tinham cunho oficial, permanecendo a expectativa até ao anoitecer.
Paradeiro desconhecido - O ex-prefeito Forbes e as demais pessoas que tiveram
seus direitos e mandatos cassados não foram vistas na cidade, desde as primeiras horas, acreditando-se que tenham se retirado do território do
município, por precaução.
Fato curioso foi notado em relação ao sr. José Campos, presidente da Câmara Municipal
de São Vicente, que, indiferente à iminência das cassações constantemente anunciadas, ausentou-se desde cedo da cidade, rumando para São Paulo. Os
edis Nicolino Simone Filho, Edmar Dias Bexiga, Álvaro Assis e vários outros mantiveram-se atentos aos fatos durante todo o decorrer da tarde, não
tendo porém o presidente da Câmara, ausente, participado dos encontros efetuados com a preocupação de evitar que a Prefeitura permanecesse acéfala.
A ausência do sr. José Campos impossibilitaria, inclusive, fosse ele empossado, ainda que provisoriamente, na chefia da Municipalidade, até a
nomeação de interventor pelo governo federal.
Na prefeitura - Na Prefeitura Municipal, entretanto, o expediente transcorreu
normalmente, não obstante haver uma visível inquietação nos espíritos. Os vários departamentos municipais desenvolveram seus trabalhos como de
costume, não encontrando a reportagem a paralisação dos serviços, como a princípio se imaginou que pudesse acontecer.
O expediente, no Paço, processou-se, pois, normalmente, desde o meio-dia até as 18,30
horas, dando a impressão de que o prefeito Charles Forbes não fazia nenhuma falta.
Nomeado o interventor federal - BRASÍLIA, 20 (Especial) - Ao despachar com o
ministro da Justiça, o presidente da República nomeou o sr. Lincoln Feliciano da Silva para interventor no
Município paulista de São Vicente, em face da cassação dos direitos políticos do prefeito daquela cidade.
Decepção - Auscultando a opinião pública, constatou a reportagem de A
Tribuna que a nomeação do sr. Lincoln Feliciano constituiu uma decepção, pois várias eram as hipóteses formuladas, mas nenhuma considerava a
possibilidade de vir a ser o sr. Dantas Forbes sucedido pelo velho político santista.
Investidura - Apuramos em fontes não oficiais que a investidura do interventor
federal em São Vicente deverá ocorrer somente na próxima segunda-feira, em Brasília, perante o ministro da Justiça, sr. Mem de Sá.
Ao encerrarmos este noticiário, vários edis procuravam encontrar uma solução capaz de
impedir que a Prefeitura permaneça acéfala até a posse do interventor.
O povo, que conhecia a situação dominante em São Vicente, onde as irregularidades mais
graves eram praticadas sem reservas, esperava, confiante na Revolução, que o governo da Repúbica tomasse providências enérgicas. Isso aconteceu
finalmente ontem, e todos quiseram tomar conhecimento pormenorizado das primeiras notícias do expurgo
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