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TRILHOS (82)
S.M.T.C., em 1969
As atividades do Serviço Municipal de Transportes Coletivos (SMTC) nas décadas de 1950 e 1960 foram o tema desta matéria, publicada (páginas 157 a 160) do Almanaque de Santos - 1969, editado por Roteiros Turísticos de Santos, de P. Bandeira Jr., e que tinha como redator responsável Olao Rodrigues (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda):


Bonde 42 passando em 1968 pela Rua Augusto Severo, defronte da loja Ferreira de Souza

Foto: José Dias Herrera, publicada no mesmo Almanaque de Santos - 1969

SMTC - do caos à evolução

O Serviço Municipal de Transportes Coletivos, responsável pela execução de todo transporte coletivo urbano no município de Santos, é uma autarquia municipal, criada pela lei 1.297, de dezembro de 1951.

Iniciou sua operação nesse setor no dia 1º de janeiro de 1952, assumindo o acervo da Cia. City, encampado pelo Poder Municipal pela importância de Cr$ 17.500.000,00, acervo esse constituído exclusivamente do sistema de bondes elétricos e composto de 138 carros-motores, 47 reboques e 33 gôndolas.

Todo esse material se encontrava em estado precário, a maioria paralisado nas oficinas, existindo em tráfego apenas 40 unidades e, mesmo essas, necessitando de reparos gerais. A rede aérea e a via permanente também já estavam com o seu tempo de vida útil ultrapassado, já que a antiga concessionária, tendo denunciado o contrato, deixou de investir qualquer parcela nesse setor.

Com esse acervo totalmente esfacelado, iniciou o SMTC as suas atividades. Sem qualquer verba para a recuperação do material, foi a sua primeira administração, orientada pelo eng. Mário Lopes Leão e pelos conselheiros Álvaro Rodrigues dos Santos e Sócrates Aranha de Menezes, quem traçou os planos para a recuperação do serviço. Foram então apresentados ao prefeito municipal dois estudos completos, um com um plano de recuperação a curto prazo, visando melhorar de pronto o sistema de transporte coletivo, bastante precário e outro a longo prazo, traçando então a transformação do serviço, inclusive com a implantação do sistema de trólebus.

O plano a curto prazo foi sendo posto em prática e o serviço, apesar de não ser plenamente satisfatório, foi melhorando gradativamente, aumentando o número de bondes em circulação. O plano a longo prazo também foi levado na devida consideração; em 1956, quatro anos após a sua criação, o SMTC já realizava a concorrência pública para a implantação do serviço de ônibus elétricos.

Ônibus - Em setembro de 1955 a então permissionária do serviço de ônibus urbanos denunciou o contrato e, por meio de notificação judicial, feita ao SMTC, à Prefeitura e à Câmara Municipal, determinou o prazo de 30 dias para a paralisação dos seus serviços.

Sem tempo necessário para qualquer outra providência, foi dada ao SMTC a incumbência de executar o serviço de ônibus, em substituição ao da empresa que vinha de denunciar o contrato.

A autarquia, então dirigida pelo eng. Antônio Lotufo, e tendo ainda como companheiros de direção aqueles mesmos conselheiros, teve o prazo de 30 dias para organizar esse serviço. Claro que, com prazo tão exíguo, nada pôde ser organizado. E em 5 de outubro de 1955 o SMTC pôs em circulação os seus primeiros ônibus, com uma frota comprada de improviso e constituída com aquilo que foi possível comprar para funcionar dentro de poucos dias. Composto de vários tipos de veículos, o serviço funcionou precariamente. E precariamente foi se arrastando, uma vez que o planejamento, com a infra-estrutura necessária para a sua manutenção, demandava investimento vultoso a que o SMTC não podia fazer face prontamente, com seus próprios recursos.

A situação do SMTC foi se tornando séria, pois fatores os mais diversos contribuíram para que tudo se tornasse cada vez pior, atingindo a beira do caos.

Em 1965, quando tudo parecia desesperador para o SMTC, foi eleito prefeito municipal de Santos, por expressiva votação do eleitorado santista, o engenheiro Sílvio Fernandes Lopes. Conhecedor profundo de seus problemas, tendo já dado todo o seu apoio ao SMTC na sua primeira gestão à frente dos destinos municipais (1956-1960), voltou de imediato suas vistas para a autarquia, cuja situação difícil conhecera nas suas visitas como candidato. Preocupadíssimo com os problemas ali existentes e tendo feito dos transportes coletivos meta das mais importantes no seu governo, convidou para dirigir o SMTC o ex-secretário da Segurança Pública do Estado, general Aldévio Barbosa de Lemos.

Aceito o convite, o general Aldévio Barbosa de Lemos foi empossado no cargo de diretor-superintendente do SMTC no dia 16 de junho de 1965, tendo como companheiros, no Conselho Diretor, o professor Laurindo Chaves e o engenheiro Pérsio de Novaes Chaves.

De pronto e após rápido estudo realizado do estado em que se encontrava a autarquia, o general Aldévio constatou, desde logo, a gravidade da situação econômico-financeira, próxima do caos. Além do déficit mensal vultoso, constatado entre a receita da operação e a despesa, verificou que os compromissos com fornecedores e entidades oficiais eram os seguintes:

INPS NCr$ 921.692,00
Fornecedores NCr$ 289.911,35
Títulos a pagar NCr$ 128.059,16

No que se refere ao material rodante, a frota era constituída de 80 bondes, 17 trólebus e 8 ônibus.

De posse de todas essas observações e estudos, concluiu o novo superintendente que urgia a elaboração de programas a curto e médio prazo, como fase preliminar de um plano futuro de maior envergadura, a longo prazo.

A primeira etapa, com um plano batizado como Operação Relâmpago - curto prazo - tinha por principais objetivos:

a) estabelecer medidas drásticas de economia;

b) restaurar o espírito de equipe;

c) entrosar entendimentos harmônicos entre a cúpula e a força de trabalho;

d) normalizar a situação creditícia no comércio, saldando os compromissos assumidos.

Satisfeito com os resultados obtidos, com a execução do plano inicial, o general Aldévio Barbosa de Lemos, deu início à Operação Tempestade, com o objetivo de gerar receita para orçar despesas, com as seguintes metas:

a) incutir na autarquia, tanto quanto possível, u'a mentalidade empresarial, já preconizada no art. 3º da lei que a criou;

b) reduzir as despesas com horas extras ao mínimo possível, cortando vantagens e privilégios dispensáveis;

c) reestruturação dos serviços, em bases mais orgânicas e racionais;

d) manter a folha de pessoal sem qualquer alteração que implicasse em aumento de despesas;

e) proceder ao reajuste das tarifas pelo preço justo, em face do aumento salarial, decorrente da observância das leis trabalhistas.

As duas etapas foram satisfatoriamente cumpridas e os índices mais positivos do que eram esperados foram:

1) manifestação do Sindicato dos Trabalhadores da autarquia, em memorável assembléia, pondo à disposição da superintendência, a título de empréstimo, a importância correspondente a três meses do aumento de salário concedido em 1/4/66, com o objetivo de lhe propiciar condições financeiras para prosseguir no seu plano de investimentos;

2) constatação de que no exercício d 1966 a receita e a despesa equilibraram-se, com ligeiro superávit;

3) o crédito de confiança que, facilmente, foi concedido ao SMTC pelo povo santista, ratificado oficialmente pelo prefeito Sílvio Fernandes Lopes e pela Câmara Municipal.

Considerou, pois, o general Aldévio Barbosa de Lemos estar em condições de por em execução a Operação Bonança, que visava, precisamente, a realizações ostensivas e palpáveis no setor viário, utilizando o crédito já restaurado em investimentos no material rodante, por meio de operações financeiras em bancos particulares.

O esforço principal da Operação Bonança concentrou-se nos transportes em si, seu planejamento e esquematização, levando-se em consideração que a espinha dorsal de uma cidade é, inegavelmente, o seu sistema de transportes coletivos.

Para concretização desses objetivos, havia necessidade da aquisição de ônibus, para que o plano global do transporte coletivo pudesse apresentar um serviço dinâmico, versátil, elástico e econômico.

Realizou o SMTC uma concorrência pública, visando a determinar o tipo de ônibus que melhor se adaptasse aos seus serviços, permitindo os editais a apresentação de ônibus monobloco.

A única fábrica que se apresentou à concorrência com os dois tipos de ônibus (com carroçaria sobre o chassi e monobloco) foi a Mercedes-Benz, que foi assim a vencedora da concorrência pública em ambos os tipos de veículos.

Optou então o SMTC pelos ônibus monobloco e com base na concorrência realizada, efetuou a primeira compra, em junho de 1966, de 15 unidades monobloco Mercedes-Benz.

Os veículos postos em tráfego apresentaram resultados técnicos e operacionais satisfatórios, além de terem sido recebidos com grande satisfação pelos usuários. Esses carros percorrem hoje, em média, 28.000 km por dia.

Baseado nesses fatores positivos, considerou o SMTC definido o tipo de veículo para unificação de sua frota de ônibus Diesel.

E novas compras foram sendo efetuadas: em agosto de 1966 - 5; em setembro de 1966 - 10; em março de 1967 - 15; em julho de 1967 - 20; em novembro de 1967 - 20; em janeiro de 1968 - 20; e em fevereiro de 1968, mais 20, perfazendo, até o presente, uma frota de 125 unidades; essas unidades integram hoje o sistema global de transporte coletivo da autarquia, oferecendo um serviço eficiente e confortável à população santista.

A par dessas aquisições, o SMTC programou, no setor de trólebus, o integral aproveitamento dos 34 veículos que permaneciam nas garagens, por falta de cabos aéreos, implantando as linhas necessárias ao funcionamento dos 50 trólebus, hoje em plena operação.

Ao mesmo tempo, o sistema de bondes teve as linhas aéreas substituídas por novas, a via permanente recuperada e os bondes, em número de 60, totalmente reformados, com bancos estofados, venezianas e exaustores apresentando belíssimo aspecto, tanto interna como externamente, aí estão a atestar a plena recuperação do SMTC.

Dedica-se agora o SMTC à preparação da infra-estrutura destinada a manter a operação de tráfego dentro dos moldes mais avançados de racionalização do trabalho, não só no que se refere à parte administrativa, como também à financeira e contábil, estando em fase final os estudos dessa reestruturação.


A seguir, daremos um passeio num maravilhoso bonde de burros de 1911...

Carlos Pimentel Mendes