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TRILHOS (14)
...até o declínio e o fim

A partir de 1944, o movimento de passageiros nos bondes foi decrescendo, em razão do magnífico serviço de ônibus então implantado.

A The City of Santos Improvements & Co., desde então, foi se desinteressando pelo serviço de bondes, reduzindo sua intensidade de freqüência e desativando, paulatinamente, suas linhas. Em 1950, como já estivesse próximo o término de seu contrato de concessão - o que se daria a 14 de janeiro de 1951 - a City não demonstrou interesse em renová-lo, do que deu ciência à Municipalidade.

Obras de calçamento em 1930 na praia do Boqueirão, defronte à Avenida Conselheiro Nébias
Obras de calçamento em 1930 na praia do Boqueirão, defronte à Avenida Conselheiro Nébias

O fato gerou grande preocupação, pois os bondes ainda se constituíam no transporte popular, pelo preço mais baixo que as tarifas dos ônibus e por atingir bairros nos quais os ônibus ainda não penetravam, por suas ruas descalçadas, em péssimo estado de conservação.

Foi solicitado à City que não interrompesse o funcionamento dos bondes, até que a Prefeitura encontrasse uma solução para o impasse, e a empresa concessionária canadense - à qual Santos devia tantos serviços relevantes prestados à sua população e ao seu progresso urbanístico - permaneceu com suas linhas de bonde em funcionamento normal.

Manutenção de bondes no SMTC, em 1953
Manutenção de bondes no SMTC, em 1953

Surge o SMTC - A 11 de janeiro de 1951 foi nomeada a Comissão Especial que deveria estudar a forma de se transferir aquele serviço de transporte coletivo à Municipalidade. a 18 de dezembro de 1951 é aprovado o projeto de lei nº 5/51, transformado na Lei nº 1.297, de 20 de dezembro de 1951, criando o Serviço Municipal de Transportes Coletivos, como autarquia municipal. Era prefeito de Santos o dr. Joaquim Alcaide Valls. O primeiro conselho diretor dessa autarquia foi constituído, por indicação do chefe do Poder Executivo, aprovado pela Câmara Municipal, pelos srs.: Dr. Mário Lopes Leão, Álvaro Rodrigues dos Santos e Sócrates Aranha de Menezes, sob a superintendência do primeiro.

Início da transformação dos bondes abertos em veículos fechados, nas oficinas do SMTC
Início da transformação dos bondes abertos em veículos fechados, nas oficinas do SMTC

A 21 de dezembro de 1951, o prefeito municipal de Santos assinou a escritura de compra do acervo do serviço de bondes da Cia. City. O Serviço Municipal de Transportes Coletivos de Santos recebeu, no acervo comprado, 259 unidades, das quais, entretanto, apenas 90 estavam em condições de perfeito funcionamento.

Bonde fechado - O SMTC iniciou suas atividades a 1º de janeiro de 1952. Em 1954, a autarquia municipal coloca em circulação o primeiro bonde fechado, apelidado de camarão, recuperado e modificado em suas oficinas. Em 1956, já havia 128 bondes em tráfego.

Diretores do SMTC posam junto ao primeiro bonde fechado 'camarão'
Diretores do SMTC posam junto ao primeiro bonde fechado 'camarão'

Em 1965, a 16 de junho, o então prefeito Sílvio Fernandes Lopes trouxe para superintendente do S.M.T.C. o ex-secretário da Segurança do Governo do Estado de São Paulo, general Aldévio Barbosa Lemos, que assumiu o conselho diretor conjuntamente com os srs. prof. Laurindo Chaves e eng. Pérsio de Novaes Chaves. Nessa ocasião, a frota da autarquia municipal de transportes era constituída por 80 bondes, 17 trólebus e 8 ônibus. Em 1965, começa a paralisação gradual dos bondes, cuja última linha encerrou suas atividades a 28 de fevereiro de 1971.

Início da transformação de um bonde aberto em veículo fechado

Início da transformação de um bonde 
aberto em veículo fechado

Uma das primeiras viagens em bonde fechado, em Santos

Uma das primeiras viagens em 
bonde fechado, em Santos

Encerrava-se assim a história dos bondes, no transporte coletivo de Santos, no ano em que se comemorava o centenário de sua primeira linha, de tração animal, inaugurada a 1871, e 62 anos de ininterrupto funcionamento dos bondes elétricos, servindo magnificamente à população santista e vicentina. Algumas linhas de trilhos de ferro foram retiradas e vendidas como sucata, enquanto muitas outras permanecem, ainda hoje, sob o asfalto de vias públicas, e algumas poucas desafiam as autoridades municipais, há quatorze anos (N.E.: esta parte do texto foi escrita em 1985/6), cortando pneus dos carros e provocando desastres.

Nas oficinas da SMTC, início da transformação dos bondes em veículos fechados
Nas oficinas da SMTC, início da transformação dos bondes em veículos fechados

Linha turística - Em 1984, o prefeito de Santos, Paulo Gomes Barbosa, à guisa de memória à história do transporte coletivo da cidade, e de promoção turística, determina a restauração do último bonde fechado que havia permanecido sob entulhos na garagem da companhia municipal de transportes, e o coloca em funcionamento na Av. Bartolomeu de Gusmão, da Basílica de Santo Antônio do Embaré até o Canal 5 - apenas como recreação e turismo -, sob grande atração - e não como meio de transporte.

Essa linha de bonde turístico teve efêmera duração, pois foi inaugurada a 19 de junho de 1984, depois de 13 anos de completa desativação dos bondes elétricos, em Santos, e o prefeito Oswaldo Justo, no 1º ano de seu mandato, em 1985, também desativou o seu funcionamento e criou os ônibus "Margaridão", fazendo uma linha turística da Ponta da Praia ao José Menino. Em 1989, a prefeita Telma de Souza também desativou essa linha de transporte de turismo.

O bonde fechado "Camarão" foi colocado no Gonzaga, inativo, como monumento. Com mais de 80 anos de vida útil, ele é o símbolo do melhor e do mais barato transporte coletivo que Santos já teve até hoje. Por isso, ele merece ser admirado e conservado. O prefeito David Capistrano Filho também colocou um protótipo do bonde aberto que circulava em Santos, na década de 1940, junto ao pórtico do Orquidário Municipal, no José Menino.

Enquanto nossos calceteiros posicionam os novos dormentes na linha, vamos ver como estão os abrigos?

Carlos Pimentel Mendes