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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS DIRIGENTES
Edgardo Boaventura

De 15/1/1946 a 6/1/1947

Nome de rua no bairro Vila Mathias, teve seu resumo biográfico feito pelo falecido jornalista Olao Rodrigues, na publicação Veja Santos! (2ª edição, 1975, Santos/SP):


Edgardo Boaventura
Imagem: bico-de-pena de Ulisses Veneziano, publicado com o texto

O dr. Edgardo Boaventura exerceu o cargo de prefeito municipal de Santos no período de janeiro de 1946 a janeiro de 1947, nomeado pelo chefe do governo paulista, dr. José Carlos de Macedo Soares.

Médico que praticou o ramo clínico, foi organizador do Ambulatório Gaffrée Guinle em Santos, ao qual serviu, como chefe, dando-lhe considerável impulso e regularidade funcional, bem como ocupou o cargo de diretor clínico da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Portuários. Foi também presidente da Associação dos Médicos de Santos.

Faleceu em Santos em 1960 esse cidadão de caráter retilíneo e nobre.


Lei nº 2.499, de 15 de maio de 1952, sancionada pelo prefeito municipal, sr. José Gomes, suprimiu à via pública a condição de projetada nº 707, no Jardim Martins Fontes. Projeto de lei nº 224, de 1960, do vereador Aristóteles Ferreira, aprovado na sessão da Câmara Municipal de 27 de abril de 1962.

A posse de Edgardo Boaventura foi assim registrada pelo jornal santista A Tribuna, na edição de 15 de janeiro de 1946 (ortografia atualizada nesta transcrição):


O novo prefeito municipal, sr. Edgardo Boaventura, discursando durante a cerimônia de ontem
Foto e legenda publicadas com a matéria

Assumiu o exercício do cargo de prefeito municipal de Santos o sr. Edgardo Boaventura

Em seu discurso de posse, o novo chefe do Executivo santista esboçou seu programa administrativo - Como decorreu a cerimônia - Designado secretário do prefeito municipal o sr. Álvaro Augusto Lopes

Realizou-se ontem, às 16 horas, a cerimônia de posse do novo prefeito municipal de Santos, sr. Edgardo Boaventura, nomeado por decreto do interventor federal, assinado dia 11 do corrente. Estiveram presentes ao ato autoridades civis, militares e eclesiásticas, funcionários municipais, inúmeros médicos e outras pessoas.

Lido o termo de posse, pelo sr. Henrique Cruz, diretor administrativo, interino, verificou-se a transmissão do governo municipal.

Discurso do sr. Francisco Paíno - Nessa oportunidade, o sr. Francisco Paíno, saudando seu sucessor, pronunciou este discurso:

"Há menos de dois meses recebi das mãos do dr. Lincoln Feliciano, na minha qualidade de substituto legal do Prefeito, nos seus impedimentos, a chefia do executivo santista, por motivos que são do conhecimento público.

"Honrado, depois, com a confiança do ilustre interventor, embaixador dr. José Carlos de Macedo Soares, fui nomeado para exercer, em comissão, o cargo de prefeito municipal. Nesse curtíssimo espaço de tempo, minha ação não se cingiu apenas ao despacho do volumoso e complexo expediente processual, mas estendeu-se, por mera coincidência, talvez, dos fatos ocorridos nesse período, na defesa intransigente do bem público e dos altos interesses da população santista e do erário municipal.

"Foi-me, ainda, propiciada a feliz oportunidade de solucionar um dos mais palpitantes problemas da cidade e que se vinha arrastando, injustificada e penosamente, nos meandros da burocracia desde 1924 - a construção do Mercado Municipal, cujo contrato, assinado sábado último, epilogou a minha ação governamental.

"Permita-me agora, de permeio a esta saudação, dizer que no decurso dos meus trinta e cinco anos de serviço público jamais fui movido pela vaidade ou pela conquista dessas efêmeras gloríolas terrenas, que geralmente ofuscam os detentores do poder e que transformam, na maior parte das vezes, o bastão do mando em elemento de opressão, quando deveriam utilizá-lo como instrumento do bem.

"Em todos os mínimos atos da minha longa existência de funcionário, como na vida jornalística social ou doméstica, fui sempre imbuído de um sincero desejo de servir leal e desinteressadamente à coletividade, aos que impetram amparo aos que sofrem, sem outra preocupação senão a de tornar-me útil ao meio que generosamente me agasalha.

"Não me incitam na minha conduta interesses subalternos, preocupações de ordem política ou religiosa e muito menos esse mofado conceito de respeitos humanos. Sou daqueles que entendem - e não vai nisso nenhuma presunção - que os homens, se não valem pelos seus méritos pessoais, pelo seu desprendimento ou pela sua ação nobilitante, valerão muito menos pelas posições que eventualmente ocupam. Não é o cargo que dignifica o homem, mas sim a sua formação moral e espiritual, o senso de justiça, de ponderação, de humanidade. Daí o ter-me conduzido, na minha gestão relâmpago, dentro de um âmbito de tolerância, de transigência, de bondade, mas sob ação firme, retilínea e enérgica.

"Não interpretem, pois, aqueles a quem minhas decisões porventura hajam contrariado, como atos extravagantes ou reacionários, senão inspirados no superior propósito de manter incólume o princípio de autoridade, concomitantemente com o de zelar pelos invioláveis interesses da comunidade.

"Dando esta pública explicação ao generoso povo de Santos, do qual sou despretensioso servidor, tenho o prazer de transmitir-lhe, sr. dr. Edgardo Boaventura, a curul prefeitural, formulando os melhores votos por que a sua comprovada capacidade de trabalho, inteligência, patriotismo e reconhecida probidade, postos a serviço desta grande terra, redundem nos mais proveitosos resultados à sua administração".

O programa administrativo do novo prefeito - Assumindo o governo municipal, o sr. Edgardo Boaventura leu o seguinte discurso:

"Acontecimentos incontroláveis desviam, às vezes, o curso de uma vida.

"A minha, por exemplo, decorria tranquila, embora fossem quase todas as suas horas consagradas ao trabalho, este meu velho e inseparável companheiro.

"Nada fiz para me afastar, mesmo temporariamente, da carreira que abracei e sirvo com devoção. Mas também não soube fugir aos ditames da minha consciência, nesta hora atribulada, que precede o reajustamento da Pátria às tábuas da lei.

"'Um médico vale por muitos homens'. É bem de ver que o conceito não é meu e sim do grande Homero. Ouso apelar para ele, justificando a escolha com que me distinguiu s. excia. o embaixador Macedo Soares.

"Como cidadão sempre procurei servir ao meu País exercendo atividades no setor da Clínica Privada e da Medicina Social. Trazido deste ambiente para tão elevado cargo da administração pública, só posso aspirar ser útil à cidade de Santos e aos meus munícipes.

"'Os guardiães do Estado (dizia Sócrates) devem ser escolhidos entre os que fizeram, com a maior dedicação e durante toda a sua vida, o que eles julgaram útil à pátria, sem nunca ter querido agir contra ela'.

"'Para se dedicar é preciso amar'. Amo a esta terra que me acolheu há mais de vinte anos e onde nasceu minha filha. Dediquei-me ao Ambulatório Gaffrée e Guinle, filho do meu espírito, essa esplêndida instituição de assistência social, que dá tudo e nada pede. Ali, em contato diuturno com centenas de milhares de consulentes, promovendo inquéritos epidemiológicos e sociais, tomei conhecimento das necessidades do povo santista, porque já vivi quatro lustros a seu lado.

"Impõe-se o programa a quem vai dirigir: é mais fácil perdoar-se a quem não cumpre o seu, do que se tolerar aquele que não o formula.

"As administrações que me antecederam, a efetiva e a comissionada, revelaram de público as aperturas do erário municipal que, por certo, não consente novos empreendimentos nesta cidade, ainda tão carente de urbanismo, para alargar-se, encurtar distâncias, ventilar-se e embelezar-se principalmente no seu centro comercial.

"Neste trecho a nossa urbs ainda é feia; há prédios remanescentes, quase contemporâneos de Braz Cubas, sem beleza arquitetônica e sem tradição, que lhes garantam a sobrevida em nome da arte ou do bom gosto, ou da história. Esperam, tão somente, valorizações ainda maiores, para lhes transformarem a feição, segundo a técnica do famigerado condomínio.

"Cuidarei de obter, dentro da lei do imposto progressivo, os remédios para corrigir a demora infinita das construções em terrenos baldios, de alto preço, cercados de prédios abastecidos por todos os serviços públicos.

"Enquanto isso, grande parte da nossa população mora no desconforto dos porões infectos, que só ironicamente são chamados habitáveis, ou em quarteirões vizinhos às rua e av. Cons. Nébias, no Macuco, Campo Grande, Marapé, fraldas dos morros, ruas Visconde São Leopoldo e Visconde do Embaré (Bairro Chinês), e onde o Serviço Nacional de Recenseamento encontrou média superior a dez habitantes em cada casebre.

"Voltarei as minhas vistas para as valas existentes nos bairros populares e hei de encontrar meios para canalizar definitivamente as águas pluviais, se não puder fazer a sua pavimentação definitiva. Mandarei rever o nosso código de construções, já atualizado recentemente, e nele estipularei facilidades ainda maiores. Convidarei os técnicos a me trazer sugestões neste sentido, ficando aberto, desde já, o debate sobre a construção da casa operária barata e saudável.

"Não se vai estranhar que, na vigência de um prefeito médico, sejam encaminhadas as soluções de assuntos da higiene municipal. A mim se afigura, dos mais importantes, o problema do leite. Embora o seu controle esteja a cargo do Estado, vou trabalhar pela criação de um entreposto oficial, fiscalizador da sua higidez e do seu acondicionamento inviolável, como pretendeu realizar o prefeito Sousa Dantas. Grande parte do leite que aqui se consome é de péssima qualidade e em quantidade irrisória. Em Santos há superabundância de botequins e falta de leiterias.

"Todos os problemas da proteção dos alimentos devem interessar sobremodo a quem guarda uma cidade de clima tropical, onde a carne, o pescado, os ovos e os legumes se inquinam facilmente ou os seus componentes labeis perdem valor nutritivo.

"A minha atenção voltar-se-á também para a assistência escolar, inaugurada pelo prefeito Gomide. Procurarei acompanhá-la de perto, introduzindo normas que permitam melhor aproveitamento das dotações nela empregadas. Reputo de grande alcance este serviço, na sua finalidade preventiva e curativa, defendendo a infância patrícia e preparando a futura geração do Brasil.

"Da inquietação do após guerra creio estarmos caminhando para uma vida melhor. A ciência vai nos redimir. Inicia-se a era atômica. Os atuais senhores do grande segredo, que abre para o mundo perspectivas incalculáveis, não o utilizarão para a sua ruína!

"Que a civilização a criar-se seja mais humana e mais doce, mais democrática e consiga aplainar os desníveis sociais.

"Oh Deus, dizei ao homem: a energia libertada realizará a parte árdua do teu trabalho: não comerás mais o pão ao suor do teu rosto!".

Autoridades presentes - Terminado o ato, passou o sr. Edgardo Boaventura a receber os cumprimentos das pessoas presentes, entre as quais os srs. mons. Luiz Gonzaga Rizzo, representando o Bispado de Santos; dr. Afonso Celso de Paula Lima, delegado auxiliar de Polícia; tenente-coronel Pinto Pessoa, comandante do Forte de Itaipu; comandante Bezerra Cavalcanti, capitão dos Portos; tenente-coronel Milton Deamon, comandante do 6º G. M. A. C.; prof. Luiz Damasco Pena, delegado regional do Ensino; Lino Vieira, prefeito municipal de São Vicente; Augusto Drumond, representando o inspetor da Alfândega; Cristiano Solano, procurador chefe da Divisão Regional do Trabalho; com. João Batista de Oliveira, inspetor-chefe de Imigração Estadual; J. J. Cruz Seco, inspetor-chefe da Polícia Marítima; dr. Carlos Eugênio Bitencourt de Afonseca, 1º delegado de Polícia; oficiais da Base Aérea; oficiais do 6º B.C. da Força Policial; dr. Ismael Coelho de Sousa, inspetor-geral da Cia. Docas; cap. Hildebrando Moura, comandante do Corpo de Bombeiros; dr. J. Dias de Morais, inspetor da Saúde do Porto; dr. J. Ney Serrão, presidente da Junta de Conciliação e Julgamento; inspetor-chefe Pedro Grácia, da Guarda Civil; dr. Raul Jordão de Magalhães; diretores da Associação dos Médicos; representantes do Diretório do Partido Trabalhista; inúmeros médicos, funcionários públicos, representantes da imprensa e várias outras pessoas.

O secretário do novo prefeito - O primeiro ato do novo prefeito municipal foi a designação do seu secretário, sendo escolhido o sr. Álvaro Augusto Lopes, chefe da Biblioteca Pública Municipal, e nosso prezado companheiro de trabalho.