Aventuras de Patolo e Patilda (9)
Hamleto Rosato (com desenhos de Dino e Lobo)
Marcaram a data. No dia
aprazado, Patilda, Patolo, Jabuca e Paulinho se dirigiram à casa de Rosinha. Lá já se encontravam as suas duas amiguinhas Márcia e Eliana.
Abriram o pequeno portão e entraram, na área de piso vermelho e liso, para tocar a campainha.
Em meio do caminho, Jabuca escorregou, desequilibrando-se, para cair na grama do jardim. A
risada foi geral. Da janela, Rosinha, Márcia e Eliana observaram a cena e não puderam sufocar a risada...
Jabuca, meio sem jeito, levantou-se, ajudado por Patolo.
Este, ainda sorrindo, falou: "Está caindo de maduro?! Que diabo que esses gambitos não sustentam o corpo?..."
Jabuca respondeu logo: "Que não sustenta o quê? Deixa de ser tonto. Eu escorreguei. E
daí?"
Nesse instante, Rosinha, Eliana e Márcia se aproximaram. Rosinha, que procurava evitar o
sorriso, a fim de deixar Jabuca mais à vontade, falou: "Olhe, Jabuca, se eu tivesse que pagar imposto pelas vezes que escorreguei, meu pai abria
falência". Todos riram e entraram. Apresentados à mãe de Rosinha, Patolo e Jabuca abriram uns olhos "deste tamanho", vendo os bolos, bolachas e doces em
cima da mesa. Patilda, enquanto conversava com Rosinha, Márcia e Eliana, não tirava os olhos de seu irmão.
Convidados, sentaram à mesa. Foi servido chocolate. Muito sem jeito, Jabuca não se servia.
Patilda pegou um pedaço de bolo, um doce e algumas bolachas e pôs no prato de Jabuca. Patolo, mais desembaraçado, já começara a mastigar o bolo.
Paulinho, que só falou quando da apresentação, também se divertia. Jabuca olhava. Na sua frente, o chocolate, apetitoso, lhe punha água à boca.
Aí Jabuca não esperou. Pegou a faquinha e tentou cortar uma bolacha. Patolo não perdoou: "Seu palhaço, bolacha não se come com faca..."
Jabuca agradeceu e foi se servindo. A conversa ficou animada. Quando tudo parecia bem, lá
se lembrou Patolo de uma promessa e destramelou a língua: "Ué, cadê as jabuticabas?..."
Patilda pigarreou. Tentou disfarçar a gafe do irmãozinho. Rosinha e os demais,
porém, escutaram. A mãe de Rosinha entrou na conversa: "Sabem, eu procurei jabuticaba por todo o lado. Infelizmente, não é tempo. Só mesmo nas
proximidades do fim do ano. Dessa maneira, vocês estão convidados, desde já, para quando for a época de jabuticabas". E olhou para o simpático pretinho.
Este compreendeu e disfarçou.
Lembraram-se todos quando Jabuca escorregou. Patolo riu mais alto que os demais. Aí Jabuca
não perdoou: "Eu, pelo menos, escorreguei. E você? Lembra-se dos cascudos que o moleque lhe deu?..."
Patilda viu que a conversa estava ficando comprida e atalhou: "Vamos levantar e conversar
na sala".
Todos foram.
Na sala, acolhedora, as crianças passaram a conversar. O
assunto era todo ele que surgisse. Falaram de tudo. Como era natural, Jabuca não perdeu a oportunidade para falar sobre a excursão do Santos, puxando a
sardinha para sua brasa: "Foi só o Pelé chegar na Europa e o Santos começou a ganhar..." Patolo cortou: "O time não tem só o Pelé. E o Pepe? E o
Coutinho? Todos são bons. É por isso que o Santos é uma verdadeira academia..."
Patilda, sentindo que a conversa ia ficar apenas no futebol, exclamou: "Se fizer bom
tempo, amanhã, nós iremos à Cidade Junina".
Essas palavras foram mágicas. Todos lembraram os festejos
juninos. Todos concordaram. Marcaram a data. Rosinha telefonaria para Márcia e Eliana e avisaria. Estas avisariam Patilda que, por sua vez, avisaria
Jabuca e Paulinho.
Chegou a data. O encontro verificou-se em frente à casa de Rosinha. De lá todos partiram
em direção ao Gonzaga. Deram umas voltas e Patolo, afoito, foi dizendo à irmã: "O negócio é andar nesses aparelhos. Vamos, primeiro, na roda gigante".
Compraram os ingressos e foram. Dois em cada cestinha. Paulinho ficou sozinho num
banco. A roda deu algumas voltas e a garotada ficou satisfeitíssima. Quando parou, justamente o Paulinho ficou em cima. Soprava forte vento. Paulinho,
ao invés de se conservar firme, passou a olhar para os lados do mar. Não se sentiu bem. A roda continuou. De cada banco saíam duas pessoas. Chegou a vez
da turma. Por último, Paulinho.
Quando este pôs os pés no chão, todos perceberam que o simpático japonezinho estava
amarelo, lívido. Aproximaram-se dele e perguntaram se estava sentindo alguma coisa. Paulinho não respondeu. Esbugalhou os olhos, pôs a mão na boca e
saiu correndo. Foi para trás de uma das barracas. Todos compreenderam. Paulinho enjoara. Com o pouco movimento da roda gigante e por ter olhado muito
para o lado do mar, seu estômago não resistiu.
Patolo dirigiu-se para os lados da barraca para onde fora Paulinho. Patilda, vendo seu
irmãozinho caminhar no meio da multidão e pensando que ele pudesse se perder, também para lá seguiu, acompanhada pelos demais.
Depois do enjôo do simpático japonezinho, os garotos
passaram a percorrer a Cidade Junina. Numa das barracas estava o prefeito de Santos, acompanhado de várias pessoas. Acercaram-se da barraca do Serviço
de Assistência Social do Colégio Santista. De uma grande panela saía fogo. Patolo admirou-se. Foi ver de perto. Era quentão que estava sendo
feito por Esterzinha. Também o fogo que se encontrava em cima do líquido despertou a atenção de Paulinho, que estava quase completamente refeito.
Rosinha, Patilda, Eliana e Márcia explicaram a Patolo e Paulinho a razão por que saía fogo. Jabuca, todo cheio de si, foi dizendo: "Ocês, tão
atrasados..."
Patolo emendou logo: "Olhe seu moço, não banque o sabido. Primeiro aprenda a falar
o português correto. Não se diz: Ocês tão atrasados, mas sim vocês estão atrasados. Compreendeu? Aqui, ninguém é caipira..."
- Só porque eu nasci no morro você quer me passar para trás - respondeu Jabuca -. Lá em
cima eu cansei de fazer quentão. Vocês, que moram aqui na cidade, ainda não sabiam disso. Quem é o caipira?!
As garotas, diante da discussão, resolveram caminhar. Todos foram andando. Em dado
momento, Patolo sugeriu: "Vamos dar uma volta no bicho da seda?"
- Não. Hoje não andaremos mais em qualquer aparelho. Voltaremos outro dia. Viremos com
mais calma e quando estivermos com melhor disposição - disse Patilda.
A proposta foi aceita e todos resolveram deixar a Cidade Junina. Encaminharam-se para a
rua Marcílio Dias. Ao chegarem à rua Floriano Peixoto, Patolo viu, na vitrina de Marques Magazine, bolas e outros brinquedos. Não se conteve e perguntou
a Patilda, apontando a vitrina: "Vamos dar uma olhadinha?"
- Vamos - responderam todos.
Bolas de vôlei, de futebol, petecas, bolas plásticas, jogos de vários tipos, para diversão
nas praias, ali se encontravam. Em meio de tudo, uma bela bola, preta e branca, com o distintivo do Santos F. Clube. Jabuca não agüentou: "Puxa vida,
que bola bacana. Deve custar uma nota..."
- Eu sei - responde Márcia -, custa 450 cruzeiros.
Patilda olhou o relógio. Depois, virando-se para todos, exclamou: "Está na hora. Vamos
para casa".
E os garotos deixaram o Gonzaga.
No bonde, apinhado de gente, quando voltavam felizes e
contentes, iam admirando os prédios e observando a alegria de todos que haviam estado na Cidade Junina.
Paulo Nakaschita, o simpático japonezinho, foi quem iniciou o assunto: "Sabe, Patilda, nas
férias eu vou para o interior com os meus pais. Vamos para uma fazenda de um tio meu, perto de Ribeirão Preto. Vou passar as férias ali..."
Patolo não esperou Paulinho terminar seu pensamento e falou: "Se você me levar, eu também
vou. Sempre desejei conhecer uma fazenda..."
- Posso pedir aos meus pais - retrucou Paulinho -. Acho que não haverá nenhum
inconveniente.
- Primeiro de tudo - atalhou Patilda -, precisamos saber se você terá ordem para ir.
Depois, então, os pais de Paulinho resolverão o assunto.
A garotada toda prestava atenção na conversa. É que havia surgido no assunto a palavra
mágica: "férias". De tal maneira estavam prestando atenção no assunto que o condutor do bonde, pacientemente, aguardava a passagem. O primeiro que
reparou na presença do condutor foi Jabuca, que, imediatamente pôs a mão no bolso para retirar o dinheiro.
Uma voz, porém, se fez ouvir: "Se vocês me permitirem, eu pagarei a passagem de todos..."
Era a do tio Oscar Abade, amigo das crianças, que apreciava a conversa da turminha.
Viajava ele com outro amigo das crianças, tio Wadih Pedro.
Patilda agradeceu em nome de todos. Virando-se para o Jabuca, perguntou se ele também não
sairia de Santos nas férias. "Não sei, não - respondeu -. Um tio meu é motorista da Prefeitura e parece que terá que viajar uns dias com o
prefeito José Gomes e o sr. Remo Petrarchi. Talvez eu possa ir..."
- Antes de tudo - advertiu Patilda -, temos que ir visitar a Rosinha. Não precisamos ir
todos juntos para não cansá-la. Amanhã eu irei com o Patolo. Antes, passaremos pela Casa Moisés e compraremos um presentinho. Se vocês saírem de Santos,
avisem.
A garotada, mais alegre ainda imaginando umas gostosas
férias, desceu do bonde na Vila Matias. Tio Oscar continuou no elétrico e, quando passou pelos garotos, acenou com a mão, dizendo: "Sejam
felizes, garotos".
FIM
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