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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Navios diferentes
Embarcações curiosas visitam o porto (10)

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Santos foi sempre um dos principais portos regulares de escala dos luxuosos navios internacionais de passageiros. Inúmeros deles ficaram na memória emocional de diversas gerações de santistas, entre eles os navios do tipo LASH, sinônimos de escala rápida num tempo em que os navios porta-contêineres ainda começavam a navegar.

LASH é o acrônimo de Lighter Aboard Ship, um sistema em que barcaças para carga eram deixadas no porto por um navio especialmente desenhado para isso, e ficavam sendo carregadas ou descarregadas enquanto o navio prosseguia viagem para os portos seguintes. No retorno, o navio reembarcava as barcaças. Eram chamados de cangurus do mar, como consta em um processo movido pela Delta Lines contra o estaleiro Avondale em (apelação em 3 de dezembro de 1984). Muitos anos depois, algo parecido foi criado nas cidades para receber os restos de materiais de construções, as caçambas deixadas defronte à obra por caminhões-guindastes e que depois de enchidas são içadas de volta para esse caminhão transportador.

Anúncio publicado na página 59 da publicação especializada norte-americana Maritime Reporter and Engineering News, de 15 de outubro de 1973, com a então recém-criada rota sulamericana de navios LASH da Delta Lines (acesso: 8/3/2014)

 

O sistema LASH teve seu auge na década de 1970, sendo então populares as escalas dos navios especializados Delta Norte, Delta Sud e Delta Mar, da armadora estadunidense Delta Steamship Lines, Inc. (que até 1962 era denominada Mississippi Shipping Company). Os três foram construídos em 1973 pelos estaleiros Avondale Shipyard, de New Orleans (EUA), e tinham 29.508 toneladas brutas ou 41.223 toneladas deadweight., medindo 30,56 m de boca, 272,3 m de comprimento total, 18,29 m de calado, viajando a 18,7 nós e com capacidade para 89 barcaças cada um. O guindaste principal, de pórtico, deslocando-se sobre trilhos no convés, tinha capacidade para 510 t, e o equipamento para içar as barcaças tinha capacidade para 462,3 toneladas. Segundo a Delta, um navio desses transportava em média 15.705 toneladas por viagem.

Encomendados em 1971 e lançados em 1973, os navios passaram também a operar com contêineres quando o sistema de barcaças entrou em declínio. A armadora passaria depois ao controle da Holiday Inns Inc., de Memphis, que a vendeu à Crowley Maritime Corporation de São Francisco em 22 de dezembro de 1982.

Em 1986 o Delta Mar se tornou American Mar e em 1987 foi rebatizado como como Cape Farewell (T-AK-5073). enquanto o Delta Nord se tornou Cape Flattery (T-AK-5070), sendo ambos readquiridos pela Administração Marítima dos Estados Unidos (MarAd). Até agora, permanecem atracados em Port Arthur, em Beaumont/Texas, como parte da reserva naval (Maritime Administration Ready Reserve Fleet), podendo ser reativados num prazo de 10 dias em caso de necessidade. Já o Delta Sud foi desmanchado em 8 de abril de 1990.

O Delta Norte, rebatizado em 1987 como Cape Flattery, em foto da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) publicada por NavSource Naval History (acesso: 8/3/2014)

 

O Delta Norte, rebatizado em 1987 como Cape Flattery, em foto de Robert Hurst/Marinha dos Estados Unidos (US Navy) publicada por NavSource Naval History (acesso: 8/3/2014)

 

O Delta Mar, rebatizado em 1987 como Cape Farewell, em fotos do site da MarAd, publicadas por NavSource Naval History (acesso: 8/3/2014)

 

Os navios estão hoje atracados a contrabordo de outros, em Port Arthur, Beumont, Texas. Da esquerda para a direita: Cape Vincent, Cape Victory, Cape Flattery, Cape Florida, Cape Farewell, Cape Mendocino, Diamond State, Equality State, Cape John e Texas Clipper III

Imagem por satélite de Google Maps (acesso: 8/3/2014). Há descrição do local em Wikimapia

 

Detalhes do guindaste no convés e do equipamento içador de barcaças na popa do Cape Flattery

Imagem por satélite de Google Maps (acesso: 8/3/2014)

Mas os nomes dos três famosos navios da Delta já eram conhecidos em Santos, muito antes do surgimento das embarcações LASH. É que seus antecessores e quase homônimos (Del Norte, Del Sud e Del Mar) operavam desde a década de 1940 numa linha de cargas e passageiros entre as costas atlânticas das Américas do Norte, Central (Caribe) e Sul.

 

Começando a operar em 1919, a Mississippi/Delta se destacou inicialmente como transportadora do café brasileiro para o vale do rio Mississippi (a armadora era conhecida como Coffee Fleet, sendo então a maior transportadora de café do mundo). Em função do delta do rio, a linha já era conhecida como Delta bem antes de 1962, quando a Mississippi Shiping Co. se tornou Delta Steamship Lines, Inc., tendo nas chaminés o característico símbolo do triângulo amarelo (delta, em grego) sobre fundo verde.

 

O navio Del Norte, por volta de 1960. Note-se a falsa chaminé ao centro, onde ficavam áreas para oficiais de bordo, sala de radiocomunicações e outras instalações de serviços, e as duas torres de escape de gases que eram as verdadeiras chaminés, logo atrás

Foto: comandante Reuben Goossens, em seu site SSMaritime.Com (acesso: 8/3/2014)

 

Em publicidade, quando não se dispunha da foto de um navio, era comum buscar a foto de um navio gêmeo e alterar o nome na foto. A mesma imagem passou assim a ser do navio Del Sud

Imagem: James L. Shaw, no site Merchant Navy Nostalgia (acesso: 8/3/2014)

 

O Del Norte foi o primeiro a ser construído e fez sua primeira viagem até Buenos Aires em 26 de novembro de 1946, seguindo-se o Del Sud (28 de março de 1947) e o Del Mar (13 de junho de 1947). Eles faziam viagens redondas (ida e volta) de 44 a 47 dias, incluindo escalas nos portos de Rio de Janeiro, Santos, Paranaguá e Buenos Aires. O trio encerrou as atividades na linha em 1972, e eles foram desmanchados em Taiwan.

 

Ponte de comando de um navio Del daquela armadora, por volta de 1970

Imagem: site Merchant Navy Nostalgia (acesso: 8/3/2014)

 

Transportando cada um até 100 passageiros, foram os primeiros navios comerciais do mundo a contar com um novo modelo de radar (aperfeiçoado na Segunda Guerra Mundial, com telas de informação para 2, 6 e 30 milhas náuticas) para auxiliar a navegação. Também contavam com ar condicionado em todas as instalações para passageiros. Possuíam 151 metros de comprimento por 70 m de largura, com 10.074 toneladas e velocidade de serviço de 17 nós. O grande salão de estar desses navios era diferenciado pela cor das paredes: azul no Del Sud, Vermelho no Del Norte e verde no Del Mar.

 

O grande salão, em azul, do  Del Sud

Imagem: folheto da armadora, no site SSMaritime.Com (acesso: 8/3/2014)

 

Na época, havia um interesse especial das armadoras em construir navios mistos de passageiros e cargas: os navios que transportassem pelo menos alguns passageiros tinham atracação preferencial nos portos sul-americanos, evitando enfrentar vários dias de espera, o que encurtava o tempo de viagem e assim reduzia significativamente os custos operacionais.

 

Cartazes da Delta Line na década de 1960, com a rota com passageiros para a América do Sul

Imagem: site Cruising the Past (acesso: 8/3/2014)

 

Cartazes da Delta Line na década de 1960

Imagem: site Merchant Navy Nostalgia (acesso: 8/3/2014)

 

Anúncio em 1922 da The Delta Line - agentes: Cia. Americana de Agencia de Vapores
Publicado no jornal Commercio de Santos, número especial comemorativo do 1º centenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1922
Acervo: Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos

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