Trecho da matéria original
Homens, mulheres e crianças estão novamente às voltas com figurinhas
Horas e horas são perdidas nesse pseudo passatempo, enquanto muitas pessoas fazem bom
negócio - "Sinal dos tempos..."
Quando, há alguns anos, surgiram as figurinhas das balas
holandesas, as crianças, apaixonadas em completar o álbum, com o objetivo de conseguir os prometidos prêmios, passaram a dedicar horas e horas nesse
mister, desviando a atenção dos estudos. O que foi aquela verdadeira epidemia, todos se lembram. Nada mais faziam os menores do que, o dia todo,
perambular pelas ruas, entrar em bares, com o clássico estribilho: "tem p'ra troca?"
Hoje, infelizmente, a cidade está novamente assaltada. Acontece, porém, que desta
feita são duas espécies de figurinhas. São dois álbuns a serem preenchidos. E ainda desta vez esse passa tempo, como chamam, não atingiu
somente as crianças, mas, também, homens e mulheres. Não é difícil encontrar-se pelas vias públicas homens ou mulheres com figurinhas. Fazem isso
como se estivessem fazendo a coisa mais natural deste mundo. Não vêem o tempo que perdem. Não atinam com o ridículo a que se expõem.
A epidemia de figuras tomou conta da cidade. Em plena Praça Rui Barbosa, cerca das 12
horas, numerosas pessoas, de todas as condições sociais, se entretêm com esse pseudo passatempo. "Tem p'ra troca?" é o que se ouve constantemente.
No alto, um jovem (deliberadamente cortamos a foto para não aparecer o rosto) exibe um álbum "quase" completo; em baixo, aos grupos, moços que
poderiam aproveitar melhor o tempo se preocupam com figurinhas...
Fotos e legenda publicadas com a matéria original (cor acrescentada por Novo Milênio)
A Praça Rui Barbosa, o quartel general - Ontem, quando o repórter saiu pela rua
em observação sobre essa epidemia, uma frase dançava em seu cérebro, uma frase que caracteriza bem, que esteriotipa a hora que atravessamos:
"Sinal dos tempos". Sim, de outra maneira não se pode compreender a falta de senso, o desperdício de horas-trabalho que se observa atualmente com
tais figurinhas.
Ao chegarmos à Praça Rui Barbosa, verdadeiro
quartel-general dos possuidores e negociantes das tais figurinhas, vimos que elevado era o número de pessoas, homens, mulheres e crianças, que ali
se encontravam apenas para transacionar com as figurinhas.
Que as crianças façam tal empenho em juntar figurinhas, até certo ponto se compreende,
já que estamos vivendo uma época diferente. Que elas se descuidem dos estudos, se admite, pois são os pais os responsáveis exclusivos dessa
situação, mas que homens e mulheres, abandonando os seus afazeres ou momentos de folga, se entretenham com tal passatempo, não podemos conceber. É
incrível o número de horas que se perde com tais figurinhas. E é, sobretudo, lamentável, que muitos rapazes, ao invés de procurar coisa mais
instrutiva, perca seu tempo, como se fossem crianças irresponsáveis.
Um moço, de uns 17 ou 18 anos, sobraçando algumas revistas (?) - se é que se pode
chamar de revista essas publicações sensacionalistas, de quadrinhos, que percorrem este infeliz país -, não nos soube, quando perguntado, responder
qual a capital do Estado do Piauí. Fizemos-lhe outras perguntas, também de Geografia, e ele, muito singelamente, respondeu: "Eu não estudei isso..."
Há centenas e centenas de rapazes nas mesmas condições. O que não há, infelizmente, é
alguém para proibir essa indústria rendosa, esse desperdício de horas preciosas que poderiam ser melhor aproveitadas. Há criaturas que estão
ganhando muito dinheiro com tais figurinhas. Há garotos que chegam a cabular aulas para se dedicar às figurinhas. Infelizmente, muita coisa gira em
torno desse passatempo impróprio.
O que não há, repetimos, é um pouco de senso ou alguém que encare esse problema ou
esse caminho errado que a mocidade está seguindo, longe dos livros instrutivos. |