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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
Nos terreiros da umbanda (1)

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Matéria publicada pelo semanário santista Jornal da Orla, em 12 e 13 de maio de 2007:
 


DIVERSIDADE - Na mesma semana em que o líder dos católicos visita o Brasil, os umbandistas celebram o Dia dos Pretos-Velhos, entidades tradicionais dos cultos religiosos afro-brasileiros
Foto: Luiz Fernando Menezes, publicada com a matéria

RELIGIOSIDADE
No reino dos pretos-velhos

Vitor Gomes Andrada e Silva

De modo cadenciado, em um ritmo próximo ao lundu, os atabaques são percutidos pelas habilidosas mãos dos Ogãs (responsáveis pela parte rítmica dos rituais da Umbanda Bantu). Acompanhados por um coro de melodias simples e letras que exaltam os orixás e os santos católicos, eles anunciam o início da sessão de incorporação da falange dos Pretos-velhos - de acordo com os credos da Umbanda, são espíritos sábios e benevolentes que auxiliam todos que buscam sua ajuda.

No terreiro (local das cerimônias religiosas), em duas filas paralelas, cerca de 20 médiuns, vestidos de roupas brancas, cantam em saudação aos espíritos. Logo após, deitam-se diante do gongá e, como uma demonstração de devoção e respeito, expõem aos santos, anjos e orixás que estão dispostos a servi-los, como instrumento carnal. No final do rito, alguns estremecem, erguem e vibram as mãos emitindo sons discretos. Outros curvam a coluna cervical, andam com dificuldade arrastando os pés e resmungando para si, como se fossem pessoas idosas, com dificuldade de locomoção.


Foto: Luiz Fernando Menezes, publicada com a matéria

Bem em frente ao gongá repleto de imagens de santos católicos e orixás, pequenos bancos vermelhos de madeira são colocados. Em um deles senta-se o babalaô (médium-chefe de terreiro) Pedro Fernandes Pimenta. Ele mostra-se incorporar a Preta-velha Avó Maria da Bahia, uma baiana que diz ter sido na última encarnação uma escrava de senzala, que viveu pelos idos de 1650. Durante sua vida, Avó Maria da Bahia trabalhou no cafezal do fazendeiro Álvaro Diniz dos Reis, onde teve e criou seus 17 filhos.

Fernandes Pimenta, com características corporais e expressões faciais de uma pessoa idosa, circunda pelo templo, apoiado por uma bengala e portando um cachimbo no canto da boca e um cálice de cachaça feito de madeira, na mão esquerda. Neste momento, diz-se encarnado o espírito de avó Maria da Bahia. Ele se dirige até a porta do terreiro e realiza uma defumação com fogo e ervas, para afastar os maus espíritos.

Vagarosamente, volta ao templo e senta-se, baforando a fumaça de um cachimbo e ingerindo sua bebida, para, então, iniciar e comandar as consultas e os passes espirituais. Junto ao babalaô, há outros quatro médiuns que incorporam outros Pretos-velhos, que também realizam os trabalhos.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a Umbanda nada tem a ver com a Macumba. "Na Umbanda (uma religião totalmente brasileira) todos os trabalhos são voltados para o bem, caridade, humildade e amor", explica o jornalista e babalaô Inívio da Silva Borda.

Desta forma, o comportamento e as vestimentas dos Pretos e Pretas-velhas em nada lembram a postura das de espíritos e de bruxas, como as feiticeiras de Macbeth, de William Shakespeare. Com uma fala mansa e olhar fixo, direcionado sempre para baixo, os Pretos-velhos mostram muita simplicidade, tanto na postura quanto nas vestimentas, por usarem roupas modestas.


Foto: Luiz Fernando Menezes, publicada com a matéria

Camisinha, aborto e união entre pessoas do mesmo sexo

Durante a sessão, no Cantinho Espírita de Umbanda Xangô Gino e Ogum Beira-Mar, Avó Maria da Bahia, incorporada no babalaô Pedro Fernandes Pimenta, falou sobre temas polêmicos:

A senhora sabe o que é camisinha? Este objeto é aceito pelos princípios da Umbanda?

Avó Maria da Bahia - Sei, sim, o que é isto! A camisinha é uma coisa do homem. Ela inibe a procriação. É um artifício criado pelo homem para seu benefício, bem-estar, segurança. Agora, vai o bom senso de cada filho para saber o que deve e o que não deve ser feito. O Pai Oxalá diz que o filho deve ter apenas um parceiro para seguir sua caminhada. Se o homem é filho de Deus e Deus consente, quem sou eu para dizer o contrário?

O que a senhora acha sobre a união de pessoas do mesmo sexo?

Avó Maria da Bahia - Toda união é válida, se os filhos souberem respeitar e ter decência. Se um casal de filhos do mesmo sexo trabalha para o bem, ele está de acordo com a lei de Deus, embora a lei do homem não aceite. A lei de Deus preza o amor antes de tudo.

E o aborto? Pode ser praticado? Em quais circunstâncias?

Avó Maria da Bahia - Tudo que é contra a vida a Umbanda não aprova. A religião prega a vida e não a morte. Esta não existe. A morte é um termo usado para a matéria. Quando se pratica um ato como este, a pessoa impede a encarnação de um espírito.


Foto: Luiz Fernando Menezes, publicada com a matéria

A origem da Umbanda

A umbanda originou-se em 1908 no Rio de Janeiro, por meio do médium Zélio Fernandino de Moraes. A entidade que anunciou e oficializou a nova religião foi o Caboclo das 7 Encruzilhadas. Umbanda significa todas as bandas, ou seja, para todos. Assim, nesta religião todos são aceitos, sem nenhum tipo de discriminação.


Foto: Luiz Fernando Menezes, publicada com a matéria

Gira festiva

Em homenagem a 13 de Maio, dia consagrado aos Pretos-Velhos, o Cantinho Espírita de Umbanda Xangô Gino e Ogum Beira-Mar realiza uma gira festiva neste sábado, dia 12, às 15 horas. Entrada gratuita. Endereço: Rua Carijós, 612, Parque São Vicente, São Vicente.


Foto: Luiz Fernando Menezes, publicada com a matéria

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