Período de corte das árvores pela Secretaria de Meio-Ambiente vai de abril a outubro
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria
Domingo, 10 de Setembro de 2006, 08:34
Cidade sofre hoje com falta de planejamento de 30 anos atrás
Neste primeiro semestre, PMS atendeu 3.561 pedidos de poda
Michel Escanhola
Da Reportagem
Um erro cometido há mais de 30 anos que ainda atrapalha
o presente. Essa realidade pode ser vista diariamente nas ruas, praticamente em todas as esquinas e, principalmente, nos bairros mais próximos da
orla. As árvores grandes de hoje eram apenas mudas há três décadas, quando a maior parte delas foi plantada. No entanto, o que as autoridades
responsáveis da época não sabiam é que - no futuro (hoje) - esses seres vivos seriam motivo de polêmica entre população e Prefeitura.
Com o passar do tempo, o verde foi perdendo espaço para o cinza do cimento, e o
colorido das flores dando lugar às redes aéreas de eletricidade e de telefonia. Enquanto alguns solicitam o plantio de árvores, a maioria reclama
que as folhas, galhos e raízes estão atrapalhando.
E os pedidos de poda na vegetação são tantos que, no primeiro semestre deste ano, a
Secretaria Municipal de Meio-Ambiente (Semam) realizou 3.561 podas na Cidade. "Isso porque esses serviços são realizados a partir de abril", explica
a chefe do Departamento de Parques e Áreas Verdes da Semam, Gisela Aparecida Rodrigues Alves.
839 plantios |
foram feitos pela Prefeitura de janeiro a julho deste ano, além de 286 remoções de árvores e 52
retiradas de raízes
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O secretário Municipal de Meio-Ambiente, Flávio Rodrigues Correa, reconhece que houve
uma falta de planejamento por parte da Prefeitura no passado, "já que muitas das árvores plantadas nas vias da Cidade não são adequadas à área
urbana, seja pelo tamanho da copa ou pelas raízes de grande porte".
Gisela afirma que, atualmente, a presença de árvores nas cidades está condicionada à
realização de manejos em razão dos diversos obstáculos do meio urbano, como trânsito de veículos e pedestres, estruturas de telefonia e de
eletricidade, fachadas, marquises e iluminação das vias públicas.
"A programação de podas é feita para ruas inteiras, seguindo os critérios de espécie,
tempo decorrente da última intervenção e número de solicitações", frisa Gisela, ao mencionar que o período apropriado para a poda se estende de
abril a outubro, quando as chuvas diminuem e as árvores apresentam menor crescimento.
Segundo ela, fora deste período são feitos apenas atendimentos emergenciais, podas de
limpeza e segurança. De janeiro a julho deste ano, a Prefeitura realizou 286 remoções de árvores, 52 retiradas de raízes e 839 plantios.
No entanto, o paisagista Osvaldo Casasco diz que a arborização feita na Cidade não
segue padrão algum. "O que temos em Santos hoje é um amontoado de galhos e troncos. Em qualquer manual de jardinagem está previsto que, quando se
poda uma árvore, é preciso colocar uma tinta ou uma pasta específica sobre a ferida aberta na árvore para a recuperação da área afetada. A planta
que tem sua parte interna exposta vira um viveiro de cupins".
Com a experiência de quem está há 40 anos no ramo, Casasco ressalta que a poda é feita
de forma irracional. "A árvore tem um equilíbrio perfeito entre a parte aérea (copa) e sob a terra (raiz), onde ambas trocam nutrientes. A partir do
momento que as folhas são cortadas de qualquer jeito, as raízes vão se comprometendo e vice-versa".
A chefe do Departamento de Parques e Áreas Verdes da Semam afirma que as empresas
contratadas para realizar os serviços de arborização cumprem uma série de exigências. "Há um agrônomo responsável pelos serviços. Nada é feito sem
critério. O ideal seria não podar as árvores, mas no meio urbano não é assim que funciona".
Segundo estimativas dela, são realizadas em média 500 podas por mês na Cidade. Um
número que pode ser considerado bem elevado, já que a parte insular de Santos conta com aproximadamente 30 mil árvores. "A Semam recebe cerca de 200
pedidos por mês de podas ou retiradas de vegetação".
Em média, 500 podas de árvores são feitas por mês na Cidade
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria
Domingo, 10 de Setembro de 2006, 08:36
Ingazeiros e chapéus-de-sol estão sendo substituídos aos poucos
Com o anúncio de várias obras, Santos está passando por uma verdadeira transformação
no setor da construção civil. E, se depender do secretário Municipal de Meio-Ambiente, a arborização também será mudada. "No caso da reurbanização
da Avenida Afonso Pena nosso cuidado será para que a área verde não seja atingida. Já na Rua João Pessoa, a idéia é aumentar o número de árvores,
pois o Centro e a Zona Noroeste são as áreas com menos vegetação".
Mas essas novas árvores não serão iguais aos ingazeiros ou aos chapéus-de-sol, este
originário da Índia. Gisela Aparecida Rodrigues Alves, do Departamento de Parques e Áreas Verdes, diz que as espécies atualmente utilizadas pela
Prefeitura são de menor porte e nativas da Mata Atlântica, como ipês branco, amarelo e rosa; quaresmeira, manacá-da-serra; pata-de-vaca e senna.
"Gradativamente a substituição já está sendo feita. Desta vez planejamos o plantio.
Antigamente não havia noção do espaço que as árvores demandam. Por isso, ainda hoje, as reclamações de calçadas quebradas por raízes e árvores que
atrapalham o trânsito nas ruas e calçadas são tão freqüentes".
Paisagista diz que esse tipo de poda favorece infestação por cupins
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria
Domingo, 10 de Setembro de 2006, 08:37
Arborização é vice-líder nas reclamações à Ouvidoria
Os serviços relacionados à arborização foram a segunda solicitação mais freqüente na
Ouvidoria Pública Municipal neste ano. De 1º de janeiro a 22 de agosto, foram feitos 952 pedidos. A vegetação só perde para a desratização, que teve
no acumulado do ano 1.446 solicitações.
Ouvidor público de Santos, Ricardo Schmidt conta que as solicitações de poda são muito
mais freqüentes que os pedidos de plantio. "Sabemos que ocorreram equívocos no passado em relação às arvores, mas são poucas pessoas que têm
consciência de que a vegetação é um bem coletivo".
Schmidt ressalta que solicitará que o calendário de serviços de arborização na Cidade
seja encaminhado à Ouvidoria, "para reduzir a tramitação de documentos. É comum várias pessoas realizarem pedidos do mesmo assunto".
Patrimônio |
"Sabemos que ocorreram equívocos no passado, mas são poucas pessoas que têm consciência de que a
vegetação é um bem coletivo"
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Ricardo Schmidt
Ouvidor público
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Plantio - Para os plantios, quando os munícipes já possuírem a cova da árvore,
basta realizar a solicitação ao Jardim Botânico Municipal pelo telefone 3203-2905. Caso ainda não haja canteiro no local, o pedido do serviço deve
ser feito pelo 0800-112056, da Ouvidoria.
"As árvores são plantadas com cerca de 1,80 metro de altura e devem ser irrigadas a
cada dois dias. Também podem ser instalados protetores de madeira para evitar a quebra de galhos por vandalismo", explica Gisela.
Solicitações à ouvidoria
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Desratização |
1.486
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Árvores (podas e vistoria) |
952
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Alvarás de funcionamento |
405
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Funcionários |
361
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Poluição ambiental |
320
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Obras irregulares |
272
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Poluição sonora |
270
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Obras públicas |
268
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Higiene |
245
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Obras particulares |
219
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Total (*) |
9.558
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(*) De 1º de janeiro a 22 de agosto de 2006 |
Espécies inadequadas danificam calçadas e prejudicam pedestres
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria
Domingo, 10 de Setembro de 2006, 08:38
Discussão também é antiga entre os vereadores
A arborização na Cidade não tem incomodado apenas os munícipes, mas também os
vereadores, uma vez que as discussões sobre o assunto na Câmara não são de hoje. O ex-vereador Fausto Lopes apresentou, em 2003, um projeto de lei
que dispunha sobre a arborização na Cidade. Como a proposta não foi pautada e Lopes não se reelegeu na ocasião, o processo foi arquivado em razão da
mudança da legislatura.
Outro projeto de lei, mas de autoria de José Lascane (PSDB), que propunha que
Prefeitura e terceiros pudessem reaproveitar as sobras de material orgânico da poda das árvores foi arquivado em 2004. O vereador reapresentou a
proposta em 2 de fevereiro deste ano, quando a Câmara chegou a aprovar a proposta, mas o prefeito vetou o projeto.
Por sua vez, Lascane retirou o projeto da pauta para adequá-lo. Após as correções, a
proposta foi novamente apresentada no último dia 26 de junho e está em tramitação na Comissão de Justiça e Redação (CJR).
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Vários projetos de lei já foram apresentados na Câmara
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Manoel Constantino (PMBD) também realizou um estudo sobre a possibilidade de
incentivar a arborização em Santos. A sugestão de Constantino, apresentada em 30 de junho de 2005, também está na CJR. Outra proposta que está em
tramitação é a de Ademir Pestana (PT), que - em 20 de abril deste ano - apresentou um projeto que garante o espaço de um metro quadrado para árvores
nas calçadas.
Mas o esforço dos vereadores não é em vão. Uma das propostas que saiu do papel foi a
de Fábio Alexandre Nunes, o professor Fabião (PSB): o Projeto de Lei Complementar 541/05, que dispõe sobre o calçamento ecológico em Santos.
E, até o final deste mês, o vereador Braz Antunes Mattos Neto (PPS) pretende
apresentar em plenário um projeto para agilizar os serviços de arborização na Cidade.
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Flávio Rodrigues, da Semam
Foto: Walter Mello, em 14/12/2005,
publicada com a matéria
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Ricardo Schmidt, ouvidor
Foto: Alberto Marques, em 3/1/2005,
publicada com a matéria
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