Jornais (cont.)
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L'Independente - 1894
L'Independente (O Independente) foi um jornal hebdomadário que começou a publicar-se no
Município no dia 1ºde novembro de 1894. Inteiramente redigido em idioma italiano.
Diário de Santos, em sua edição de 2 de novembro de 1894, noticiando a saída de
L'Independente, assim se manifestou: "Temos em nossa mesa de trabalho o 1º número deste
semanário italiano que apareceu ontem em nossa Cidade. É um jornal bem feito, variado, propondo-se a ser antes de tudo bastante noticioso, e trazer
sempre uma crônica e um completo serviço telegráfico, além das outras seções. É seu redator-chefe o sr. G. Zoltele. Ao nosso colega desejamos uma
vida próspera e cheia de glórias".
O 15 de Novembro - 1894
Em outubro de 1894 o dr. José André do Sacramento Macuco lançou, em edição única, o folheto O
15 de Novembro, em que relatou todos os acontecimentos cívicos que antecederam o movimento que derrubou a Monarquia. Dedicou-o especialmente ao
povo santense.
O dr. José André do Sacramento Macuco, além de advogado, foi jornalista, escritor e político,
exercendo com destaque as funções de vereador.
Floriano Peixoto - 1894
Composto e impresso na Tipografia Brasil, de Deoclides Bezerra, foi editado em Santos a 30 de
abril de 1894 o jornal de 4 páginas intitulado Floriano Peixoto, em homenagem ao marechal Floriano Peixoto pelo seu dia natalício, mandado
editar por seus amigos santenses. Número único e especial.
Em toda primeira página, com seu retrato, a biografia do Consolidador da República. Nas demais
páginas, trabalhos de exaltação cívica à personalidade do herói da Revolução de 15 de Novembro de 1889, assinados por Ramiro Bezerra, M. Barat,
Hélcius, C. Alves, S. A., D. B., H. A. e M. P. Santos.
Eis um outro trabalho de lavra de Verano Alonso: "Saúdo
o grande libertador da Pátria que, com a sua bravura indômita e a sua inteligência esclarecida, nos salvou das garras dos ambiciosos inimigos da
República. O teu nome, invicto Marechal, nunca será esquecido pelos bons brasileiros, que só desejam a paz e o engrandecimento da nossa cara
República".
Santos Comercial - 1894
Santos Comercial fez circular seu primeiro número no dia 22 de agosto de 1894. Era de
propriedade da firma Saldanha & Irmão e seu principal redator o jornalista Eurico Saldanha. Posteriormente, passou a outra razão social em que
Eurico Saldanha continuou como co-proprietário. Publicava-se à tarde. Sua Redação ficava na Rua Visconde do Rio Branco nº 10, custando o número
avulso cem réis e o atrasado duzentos réis.
Quando comemorou um ano, publicou este artigo: "Completa
hoje um ano de existência o Santos Comercial. Jornal independente, que nunca temeu a prepotência dos que se julgam fortes para amordaçar a
Imprensa Livre, tem mantido fielmente o seu programa, procurando sempre ser útil à terra onde floresce, pugnando com desassombro pelas causas
justas.
"Mantido com esforço extraordinário, inaudito, superando dificuldades que soem aparecer às
empresas que principiam, desdenhando dos que procuram às ocultas prejudicar a sua marcha gloriosa, o Santos Comercial há de continuar a
seguir o seu programa, intimorato e firme, trabalhando com afinco para as necessidades e melhoramentos do município de Santos".
Eis as suas seções: Quelque Chose, assinada por Artur Goulart; Várias; Telegramas;
Trocando...; O Noroeste, assinado por Cândido Passos; Pequenas Notícias; Crônica da Semana, em rodapé da 1ª página, sob
as iniciais H. & L. e outras seções.
Havia animosidade entre esse vespertino e o Diário de Santos. Em sua seção Coisas,
Santos Comercial defendia-se dos ataques do Diário e contra-atacava, envolvendo pessoalmente o redator Heitor Peixoto. Os ataques, as
injúrias e os epítetos se cruzavam quase diariamente.
No dia 10 de julho de 1895 houve passeata pelas principais ruas da Cidade em que se manifestava
regozijo pela anulação da Constituição Política do Município. Diário de Santos, que se opusera firmemente à principal Lei Municipal, por
considerá-la inconstitucional, foi muito aplaudido pelos manifestantes, enquanto Santos Comercial, que a apoiava, quase foi invadida e
empastelada pela massa popular.
Santos Comercial, na edição seguinte, noticiando o desfile político, acentuou: "Sentimo-nos
honrados por essa manifestação". Noticiou mais que, entre os manifestantes, destacava-se o dr.
Isidoro Campos, do Diário de Santos.
Em ofício encaminhado à autoridade policial, o sr. Eurico Saldanha solicitou proteção ao seu
jornal, mas fez-lhe ciência de que, se houvesse invasão, também haveria reação com armas iguais às que os "capangas
do dr. Isidoro Campos usavam".
Santos Comercial, que era indisfarçavelmente monárquico, chegou a dizer, a 15 de novembro
de 1895, que "a República não foi obra do povo, mas sim dos militares. O povo apenas ficou
surpreso com o golpe".
Como remate de sua vida agitada, aduziremos que, na madrugada de 5 de novembro
(N.E.: SIC - na verdade, em 5 de dezembro) de
1895, o jornal de Eurico Saldanha foi invadido, suas oficinas semi-destruídas e a redação sofrendo danos materiais. O jornal teve de interromper
provisoriamente sua publicação. Mas reapareceu em janeiro de 1896 (N.E.: SIC - na verdade, em
29/12/1895), atribuindo o atentado ao Corpo de Bombeiros, por ordem da Câmara Municipal, de
combinação com o Diário de Santos.
Quando reapareceu, no cabeçalho dizia ser de propriedade de uma associação. E depois, a frase: "Empastelado
pelo Corpo de Bombeiros Municipal na madrugada de 5 de dezembro de 1895, mandado pela Câmara Municipal, de combinação com o Diário de Santos".
E assim se conta a história do Santos Comercial, o jornal que teve a coragem de declarar-se
monárquico em pleno regime republicano!
Ao noticiar o aparecimento de Santos Comercial, Diário de Santos afirmou ser
redator-chefe do novo órgão o poeta Vicente de Carvalho. Os srs. Saldanha & Irmão imediatamente escreveram à direção do Diário solicitando
retificação, aduzindo que o seu jornal sentir-se-ia mui grato se viesse a contar com a colaboração do grande vate santense.
E a retificação foi publicada na edição de 11 de agosto de 1894 do jornal dirigido por H. Peixoto.
Capa do jornal Santos
Commercial, em 21 de novembro de 1895
Imagem: arquivo Edgard
Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)
Reproduzido de
A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008
A Revolução - 1894
No ano de 1894, de grande significação para a Imprensa de Santos por marcar o aparecimento de
Tribuna do Povo, que é A Tribuna de nossos tempos, força e vigor do Jornalismo nacional, pela respeitabilidade e capacidade
técnico-gráfica, foi publicado pela primeira vez o periódico A Revolução. Lafayete de Toledo registra-o em seu livro Imprensa Paulista,
volume III, que se acha no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Neto do Diário - 1894
1894 foi o ano mais contrastável na vida da Imprensa de Santos. Marcou o aparecimento do maior
jornal de todos os tempos - A Tribuna -, como também do menor jornal, quiçá, entre todos - o Neto do Diário.
O Diário de Santos fazia-se tão popular na Cidade, penetrando ao mesmo tempo nas camadas
pequenas, médias e altas, que recebeu a mercê de, como avô, ser tomado por modelo por um de seus netos. Neto do Diário surgiu a
6 de janeiro de 1894.
Eis como o Diário de Santos registra o aparecimento: "Surgiu
o número 1 de Neto do Diário. É um neto que nos apareceu sem nos constar que tivemos alguma filha ou nora, em véspera de dar à luz. Vê-se que
lhe faltam certos requisitos, falta aliás desculpável diante da pouca idade do petiz. Nós o perdoamos porque respeitamos as crianças. Que cresça,
apareça e seja feliz, são os nossos votos".
Mas não cresceu, nem apareceu!
Correio da Semana - 1894
Olímpio Lima fundou Tribuna do Povo a 26 de março de 1894, mas no mesmo ano, afligido por
dívidas, ficou sem o jornal. Em agosto de 1894 editou o Correio da Semana, que não teve maior ressonância. Na edição de 23 de agosto de 1894,
Diário de Santos deu esta ligeira nota: "Recebemos o número 2 do Correio da Semana,
órgão que se publica nesta cidade". E nada mais.
Por sinal, o Correio teve breve duração. Olímpio Lima voltou com sua nova A Tribuna.
O Corretor - 1895
Imagem publicada com o texto, na página 87
O Corretor, como boletim marítimo e comercial já no ocaso do século passado
(N.E.: século XIX), publicava-se diariamente.
Era de propriedade de Bettini, Fumagalli & Cia., com redação na Rua São Leopoldo nº 52, hoje Avenida Visconde de São Leopoldo. Registrava
informações úteis a importadores, exportadores, despachantes, comerciantes e café, corretores e a quantos mais se interessavam pelo movimento
marítimo e comercial, tanto de Santos como de São Paulo.
Dispomos do segundo número, do 1º ano, saído a 5 de fevereiro de 1895, em cópia produzida por
xerox. Começava por agradecer aos jornais de Santos como os de S. Paulo, entre os quais Diário de Santos, Santos Comercial, Tribuna
do Povo e Fanfula pelas referências lisonjeiras como acolheram o jornal, que tinha o formato de 24x32 e compunha-se de 4 páginas.
Prometia tornar o Boletim mais informativo, abrangendo todos os setores do Porto e Comércio.
Na primeira página desse número 2, inseria os despachos lavrados na véspera pelo inspetor da
Alfândega, todo movimento de café e câmbio e ainda a tabela de câmbio do mês de fevereiro de 1895, com o registro do primeiro dia de operações.
O Corretor atenderia a quaisquer informações que seus assinantes desejassem saber sobre os
ramos em que operava, cobrando apenas as taxas postais e telegráficas de praxe.
A Lanterneta - 1895
O ao de 1895 começou com novo periódico. No primeiro dia de janeiro circulou pela primeira vez o
pasquim A Lanterneta. Não temos dúvida a propósito de sua abreviada duração, como tantos outros jornalecos do outro século. Assim, como o
famoso filósofo grego projetava a luz de sua lanterna ou lanterneta à procura de um HOMEM, o dirigente do pasquim também usou a lanterneta em
busca de leitor...
O Diário de Santos, de 3 de janeiro de 1895, em sua seção Livros, Jornais e...,
publicou esta nota: "Recebemos o primeiro número de A Lanterneta hebdomadário, crítico,
noticioso e humorístico, que começou a ser publicado anteontem (dia 1-1-1895)
nesta cidade. Eis o seu programa: 'Somos críticos ou pelo menos queremos criticar à vontade,
mas não nos serviremos da pena para difamações. Pretendemos... Pretendemos, senhores, bom acolhimento e muita publicidade. Igual à profecia da
lanterneta a nossa crítica atingirá a tudo e a todos, observada a mais pura decência' Que
seja feliz e veja realizados seus desejos, são os nossos votos".
Capa da primeira edição de A Lanterneta, de 1º de janeiro de 1895
Imagem: Arquivo Permanente
da Fundação Arquivo e Memória de Santos, Coleção Costa e Silva Sobrinho, volume 147
Reproduzido de
A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008
A Luva - 1895 - Louvre
A Luva foi um periódico crítico, humorístico e literário que surgiu em 1895, um ano depois
da pujante e campeoníssima A Tribuna, que caminha vitoriosamente para completar o 17º lustro de sua existência. Sua crítica não prejudicava
nem fazia mal a ninguém, por ser verdadeiramente inofensiva, cândida e até ingênua, ao revés da das folhas do seu tempo, sempre infundidas por
linguagem desabrida e áspera.
Temos a impressão de que, quando provocado, o periódico respondia "com luva branca" ou com
"luva de pelica", segundo o ditado popular.
Ao noticiar o aparecimento de A Luva, no dia 17 de fevereiro de 1895, o Diário de Santos,
que não elogiava os órgãos de publicidade da Cidade, mas sim os atacava, escreveu na edição daquele dia: "Branca
e perfumosa, pequenina e elegante, corretamente calçada em mão de uma redação fidalga pelo talento, aparece hoje A Luva no grande salão de
publicidade. Apresenta a macia e catita A Luva uma trindade de moços esperançosos que adotam como nomes de guerra os pseudônimos de Alves
Moreno, Múcio Scecola e Tarquínio Soberbo.
"Prosa alevantada e digna, versos harmoniosos e inspirados, crítica inofensiva e espirituosa que
vai apertada da curiosidade à satisfação, tanto pelos homens de letras como pelos jovens que se entusiasmam pelas expansões amorosas da mocidade
estudiosa e inteligente. Afetuosamente estendemos a mão à macia Luva, impregnada de finas essências, e lhe desejamos conquistas e triunfos
gloriosos no salão nobre em que hoje penetra".
Em sua edição de 3 de março de 1895, tornou a noticiar Diário de Santos a propósito de A
Luva: "Aparece hoje o 2º número de A Luva, mimoso periódico, finamente e
espirituosamente redigido por três jovens que, por modéstia, ocultam-se sob pseudônimos. É uma delícia apreciar-se em todas particularidades esta
macia e perfumosa Luva".
- Em 1895 também foi publicado o periódico O Louvre, que, por mais que pesquisássemos, não
deparamos com outros pormenores para assinalar sua existência no campo da imprensa do século XIX.
O Eco -1895
O Eco, semanário, tinha o formato 16x22. Propriedade de uma agremiação. Jornal crítico,
informativo e literário.
No início, tudo foi bem. Mas logo depois começou a sofrer o "eco" de folhas diárias e mais
arraigadas na simpatia pública, aturando dificuldades até se dar o colapso.
O Lidador - 1895
No dia 24 de novembro de 1895 surgiu o pequeno jornal O Lidador. Noticioso e crítico. Seu
escritório e redação ficavam na Praça da República n. 25. Semanário, saía aos domingos. Custava cem réis o exemplar do dia e duzentos réis o
atrasado.
Santos Comercial, que costumava não receber bem seus novos colegas (vide O Combate),
publicou notícia séria e até elogiosa, dizendo isto: "O Lidador é bem escrito e, pelo
que vemos, há muitas penas já afeitas ao nosso jornalismo. Que o coleguinha tenha vida longa é o que lhe desejamos".
O Chicote - 1895
Começou a ser publicado no dia 2 de maio de 1895 o periódico faceto e crítico O Chicote.
Acusando o recebimento do primeiro número do jornalzinho, Diário de Santos em sua
tradicional seção Livros, Jornais e ..., da edição de 5 de maio de 1895, publicou: "Recebemos
o primeiro número de O Chicote que se publica nesta cidade. Trata-se de jornalzinho cuja missão é apenas rir e fazer rir!..."
Tempestade,
Matraca, Sequila e Zagala - 1896
Nos tempos de nossos avós havia jornais ou jornalecos com nomes curiosos e esdrúxulos. Vejamos,
por exemplo, os periódicos, entre outros, que se publicaram em 1896: Tempestade, A Metralha, Matraca, Sequila e
Zagala.
A Metralha saía aos domingos. Sabem de quem era o jornalzinho com tal título explosivo? Do
poeta Martins Fontes.
Além desses, surgiram mais cinco jornais nesse ano, inclusive um em idioma turco.
Para compensar esses nomes extravagantes, surgiu nesse mesmo ano um jornalzinho com nome bonito,
bonito mesmo, atraente e sublime pela expressividade cívica: O Democrata, também de Martins Fontes, de parceria com Carvalhal Filho.
O Combate - 1895
Dizendo-se órgão independente, dirigido por A. Feitosa, O Combate tinha dois lemas, como se
inscreviam em seu cabeçalho: "Tudo por Santos"
e "Viver às Claras". Seu primeiro número
circulou no dia 17 de junho de 1895. Eis o seu expediente: "O Combate será publicado
provisoriamente às segundas feiras. Não recebemos assinaturas, porém recebemos anúncios e artigos a bem do interesse do Município. O Combate
é um órgão independente, sendo o seu número avulso a 200 réis. Não admitimos elogios à Tourinhada. Esta folha é pertencente a uma associação
particular e nela não se consente gentes que chupem verbas da teta municipal. Agências: pelas ruas".
Em sua edição de 8 de junho de 1895, Santos Comercial noticiava estar seguramente informado
que dentro em breve apareceria na cidade um novo jornal que teria o título O Combate, órgão do Partido Independente. Informou mais que o
jornal sairia semanalmente, com sua Redação "repleta de pessoas conhecidas na arena
jornalística de Santos. Seu formato seria igual ao de A Platéia, de S. Paulo".
Já n edição de 18 de junho de 1895, Santos Comercial dava esta outra notícia: "Apareceu
ontem - 17 de junho de 1895 -, nesta
Cidade, o primeiro número do jornal intitulado O Combate. É órgão genuíno das sarjetas".
No número seguinte, arremessou o malho por cima do nascente O Combate. Foi ao máximo da
irreverência. Disse, por exemplo, que os seus redatores eram latrinariosos e o próprio jornal não passava de esterquilínio...
Em seu segundo número, de 24 e junho de 1895, O Combate, empregando linguagem violenta,
além de dar resposta a Santos Comercial, que era órgão oficial da Prefeitura, investiu contra o Diário de Santos e Tribuna do Povo,
arrasando-os, sobrando algumas flechas para A Folha que nem havia circulado, mas criticando o adiamento da sua tiragem inicial.
De igual maneira usava linguagem agressiva ao referir-se à Prefeitura e à Câmara Municipal,
ridicularizando seus titulares.
Nesse segundo número eis os títulos da matéria: Expediente; Venha Dinheiro;
Publicações Caluniosas; Exige Ponderação; Reagindo; Negócios Municipais; Esquisitices; Caduquices; A Folha;
O Doutor Prefeito e anúncios e mais anúncios.
O Bonde - 1895
No dia 6 de janeiro de 1895, surgiu um pasquim com o nome de O Bonde.
Já se vão 84 anos. Ainda era no período dos bondinhos puxados a burros. A época dos bondes elétricos começou a 28 de abril de 1909 e também já ficou
para trás. Hoje em dia, o transporte coletivo, como se sabe, é feito por meio dos poluentes ônibus, irregulares no horário, sujos, passagens caras,
trocadores insolentes e o troco quase sempre negado por alegarem falta de moedas divisionárias.
O jornaleco O Bonde por vezes entregava-se a críticas inocentes, porém pilhéricas, sobre os
carros lentos e vagarosos, desconjuntados e anti-higiênicos daqueles tempos, em que os burros costumavam empacar ou por cansaço ou por fome.
Gente que viveu naquele tempo dizia-nos que os passageiros só tomavam os dois primeiros bancos
quando não havia lugar nos outros bancos!...
Segundo escreveu Diário de Santos, em sua edição de 1º de janeiro de 1895, O Bonde
deveria sair nesse dia mas teve de adiar a publicação para o dia 6 daquele mês e ano.
A propósito, o jornal de propriedade de H. Peixoto, noticiou com verve o surgimento do pequeno
periódico. Eis a notícia: "Aparece O Bonde!... Não é isso propriamente o que queremos
dizer, mas sim: - Siga O Bonde! O O Bonde segue ou melhor vai sair dia 6 do corrente, não o fazendo hoje por se haver quebrado um
parafuso do breque e este não pôde funcionar, o que nos trará a vantagem de não parar mais O Bonde, o espirituoso jornalzinho que vai
alegrar-nos no dia 6, segundo nos disse ontem um de seus condutores ou redatores. Ele que venha - O Bonde - que ninguém lhe gritará a
primeira frase, mas sim todos o animarão e lhe dirão: - Siga O Bonde".
E O Bonde saiu mesmo.
Em seu número de 22 de janeiro de 1895, o mesmíssimo Diário de Santos, em sua seção
Livros, Jornais e..., noticiou: "O 2º número de O Bonde está variado e espirituoso.
Bem se vê que os condutores que o dirigem entendem do riscado. Com o tempo estamos certos de que O Bonde conseguirá melhorar e correr mais
destrançatrincolatramento sobre... os trilhos da publicidade".
Esse 2º número apareceu a 20 de janeiro de 1895.
Capa da primeira edição
de O Bond, de 6 de janeiro de 1895
Imagem: arquivo Edgard
Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)
Reproduzido de
A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008
A Questão Social - 1895
Imagem publicada com o texto, na página 92
Em 1895-1896 preponderava entre a classe dos trabalhadores - trabalhadores inteligentes que se
interessavam pela evolução social da sua categoria e sabiam de sua força coletivista - o jornal A Questão Social.
Órgão do Centro Socialista de Santos, eram seus diretores Silvério Fontes, Raimundo Sóter de Araújo e Carlos de Escobar. Publicava-se
quinzenalmente. Sua redação ficava na Praça da República, 48. No cabeçalho do jornal, abaixo do título, o famoso preceito: "Um
por todos e todos por um".
Em seu primeiro número, saído a 15 de setembro de 1895, o artigo de apresentação assim começava: "Apresenta-se
hoje na arena jornalística A Questão Social defendendo uma causa justa - a reivindicação dos direitos do proletariado. Na Europa, onde o
Socialismo chegou a seu período de maturação histórica, a propaganda vem fazendo grande proselitismo. Ali, como na América do Norte, não se confunde
a doutrina, que já entrou em sua fase positiva, como a idealizou Thomas Morus".
E concluindo: "Oxalá o esforço que ora
fazemos, pugnando pela doutrina regeneradora, encontre eco em todos os que compreendem o alcance das leis altruísticas, em todos os que combatem
pelo nivelamento das classes, entrando com o contingente de sua colaboração para que se levante, em breve, o majestoso edifício da solidariedade e
da justiça social".
Santos foi o primeiro núcleo do Socialismo no Brasil e, por certo, na América do Sul. Aqui entre
nós se instituiu o Centro Internacional por iniciativa de Silvério Fontes, que veio a ser genitor do poeta Martins Fontes. Socialismo marxista,
filosófico, e não o Socialismo político, radicalizante ou comunizante. Silvério Fontes, o grande santista de Sergipe, por sua vez, foi o primeiro
socialista no Brasil.
Como sublinhou o erudito Hugo Santos Silva em conferência realizada na Associação dos Médicos de
Santos, a 11 de fevereiro de 1958, sobre a vida e a obra de Silvério Fontes, o médico, sociólogo e livre-pensador sergipano foi "uma
anterioridade de experiência, tanto quanto representação apriorística do que se julgara estar demonstrado. Dessa antecedência, considerada como
fundamental, no conhecimento da evolução psicológica, que está à base de todos os instintos e mesmo de numerosos fenômenos orgânicos, o Manifesto
Social que Silvério Fontes lançou, muito se distanciou. Ali, muito mais tarde, aí por volta de 1923, o próprio Silvério Fontes, com aquela franqueza
tão sua, reconheceu que sua profissão de fé socialista era para a época, muito avançada, sobretudo pelo seu feitio nitidamente coletivista. Silvério
Fontes foi um antecipado!"
Voltando ao tema: A Questão Social, o jornalzinho de 28x17, de Silvério Fontes, Sóter de
Araújo e Carlos de Escobar, diremos que seu número 15 abria com artigo e notícia sobre 1º de maio de 1896, preconizando que estaria breve a fase do
reconhecimento dos direitos dos trabalhadores, "merecedores de uma existência farta e feliz".
A redação da folha já então ficava na Rua General Câmara, 158. A assinatura por série de 24
números custava 5$000 e o número avulso $200.
Capa da primeira edição de A Questão Social, de 15 de setembro de 1895
Imagem: arquivo Edgard Leuenroth, da
Unicamp (Campinas/SP)
Reproduzido de
A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008
"Santos tem estado à frente dos maiores acontecimentos da nossa história. Em todos os movimentos
intelectuais esta cidade ocupa sempre um lugar de destaque. Assim, as questões sociais que hoje preocupam o mundo inteiro já no século passado
(N.E.: século XIX) agitavam a nossa
intelectualidade. O presente clichê é um número da interessantíssima revista que então representava o núcleo de um grupo de homens cultos, animados
por uma inesgotável boa vontade"
Imagem e legenda: reprodução parcial de
página do Commercio de Santos de 7/9/1922
A Folha - 1895
Seu primeiro número saiu a 19 de junho de 1895, sob a direção de Alberto Veiga. Publicava-se à
tarde e a redação ficava na Rua 15 de Novembro, 64, sobrado, 1º andar. Feito em papel de péssima qualidade.
Abrindo o jornal, artigo que sintetizava o programa: "Não
acompanhamos a política de corrilho nem toleraremos as consignações de grupo algum. O que prometemos: tudo que não repugnar aos preceitos da
lei, aos princípios de autoridade, à ordem social e ao cumprimento do dever. Armas de combate: moderação e justiça".
Fundada pelo próprio Alberto Veiga, que vinha do Diário de Santos.
Na edição de 27 de julho de 1895, A Folha deu este esclarecimento: "Ao
iniciarmos a publicação deste jornal, foi nossa intenção fazê-lo constituindo oficinas próprias. Circunstâncias independentes de nossa vontade
forçaram-nos a imprimir, provisoriamente, a folha em oficinas alheias. Desejamos, entretanto, realizar os nossos intuitos e propomos agora a levar
por diante o plano concebido, socorrendo-nos para isso da simpatia pública.
"Como temos dito - e é a base do nosso programa - A Folha, sem eximir-se ao dever de
apreciar os atos das administrações estaduais ou municipais, não se filia a partidos ou grupos políticos, aos quais não está preso por laços de
dependência de espécie alguma. E porque é desejo principal nosso [t]ornar
A Folha tão popular quanto seja possível, amoldando-se aos interesses gerais desta importante praça comercial, resolvemos fazer uma emissão
de 200 ações no valor nominal de 200$00, pagáveis em 2 prestações ou de uma só vez, à vontade do tomador, participando este dos lucros que a empresa
der. Pessoalmente terá o tomador as informações que desejar. Adotando essa resolução, que corresponde aos intuitos da fundação de A Folha,
entregamos a emissão aludida à simpática benevolência dos nossos amigos".
Seções comuns do vespertino: Coisas Municipais; Telegramas; Miscelânea;
Teatros, Circos e Salões; Pontilhadas; Comércio; Porto e outras mais.
Depois do número 7, o jornal passou a publicar-se pela manhã enquanto não se organizassem em
definitivo suas oficinas.
Sempre provocada pelo Diário de Santos, A Folha respondia com moderação, dando a
entender que lhe não interessava entrar em polêmica. Em novembro de 1895, Alberto Veiga retirou-se do jornal, sendo substituído por Henrique Lopes,
que deu-lhe caráter partidário, ou republicano de combate. Desapareceu em dezembro do mesmo ano, saindo em seu lugar o Correio da Tarde,
redigido por A. C. Santos Júnior.
Como enunciamos, o diretor de A Folha, Alberto Veiga, viera do Diário de Santos,
onde desempenhava as funções de redator-chefe.
Noticiando o próximo aparecimento do novo vespertino, o jornal de H. Peixoto registrou em sa
edição de 9 de junho de 1895: "A Folha - Com este título deve aparecer brevemente e sob
a redação do nosso ex-companheiro Alberto Veiga mais um jornal. Desejamos ardentemente que o novo colega surja o quanto antes, que com o invejável
talento do seu redator, ofereça à nossa cidade necessidade de serviços de que carece no momento em que o município luta com uma administração que
não o pode fazer feliz".
E daí a dias, na edição de 18 de junho de 1895, ainda o Diário de Santos: "Não
apareceu, infelizmente, ontem, conforme esperávamos, A Folha, de Alberto Veiga, o inteligente jornalista que o nosso público conhece".
Na edição de 21 de junho de 1895, Diário de Santos publicou: "Tivemos,
ontem, afinal, a satisfação de ter este novo e esperançoso colega da tarde, do qual é diretor o inteligente jornalista Alberto Veiga, nome
vantajosamente conhecido no cenário jornalístico. Foi impresso nas oficinas de W. Kraemer. O ilustrado diretor de A Folha não logrou vencer
os obstáculos - aliás naturais em todo jornal que começa - com que teve de lutar para dar a público este simpático colega com a prontidão necessária
e justamente esperada.
"O programa de A Folha está delineado em poucas palavras: independência, moderação e
justiça. O seu primeiro artigo, medindo cerca de duas colunas, inicia uma série sob o título Coisas Municipais. Procura contestar o dr.
Isidoro Campos, honrado delegado de Polícia, o direito de desarmar os célebres bombeiros municipais, tão conhecidos do nosso público depois das
desagradáveis cenas do dia 19 do mês próximo passado e, coincidência singular, A Folha traz a data de 19 também".
Em continuação, Diário de Santos também comenta o segundo artigo de A Folha, armando
argumentos que equivaliam a manifesta censura ao novo colega vespertino, tudo por princípio político-administrativo, pois enquanto o velho órgão
colocava-se contra a Prefeitura que criou uma Constituição para o Município, A Folha surgiu para defender com intransigência a política
municipal daquela atualidade.
A Folha retrucou as observações formuladas. Diário de Santos voltou à carga com
novas considerações. E o estado de divergência entre os dois jornais, como era previsto, tornou-se cada vez mais agudo.
Correio da Tarde - 1895
No mês de dezembro de 1895 circulou pela primeira vez o Correio da Tarde, jornal noticioso,
crítico, imparcial e a serviço do povo, como assinalava no cabeçalho. A despeito dos esforços da Administração, sua existência foi curta.
Quase 50 anos depois surgiu jornal com o mesmo título, dirigido pelo infortunado Ramiro Calheiros,
que sucedera ao Diário da Manhã. Com a morte trágica de Ramiro Calheiros, Correio da Tarde passou à direção do seu filho Rui
Calheiros, que suportou seus encargos financeiros até quando lhe foi possível.
Jornal Brasil Otomano - 1896
Imagem publicada com o texto, na página 95
Em abril de 1896 iniciou sua circulação em Santos o Jornal Brasil Otomano, inteiramente
composto em caracteres árabes. Publicação semanal, de propriedade de A. Nejar e Balex, tinha como redator C. A. Amoun. Seu escritório e redação
ficavam na Rua Xavier da Silveira, 100, custando as assinaturas 18$000 por ano e 10$000 por 6 meses; para o exterior, 20 francos por ano.
Em que pesem os esforços de seus proprietários, o semanário turco não obteve franca receptividade
na comunidade árabe de Santos, que naquele tempo ainda se apresentava pouco densa.
Em tais condições, o Jornal Brasil Otomano não alcançou um ano de vida, em face do número
de assinantes não compensar as despesas decorrentes da publicação.
A Metralha - 1896
Martins Fontes, o mavioso poeta santense, quando adolescente, e ainda engatinhava seus versos
feiticeiros, teve a veleidade de escrever um jornalzinho manuscrito, a que deu o título de A Metralha.
Nesse pequeno órgão publicava suas poesias infantis, ao embalo do sonho do Azul em Fora. Era o
princípio de uma Arte-Ciência que chegou ao apogeu consagrador da Musa.
No mesmo ano, com João Carvalhal Filho, tentou outro jornalzinho, ainda manuscrito. O Democrata,
muito curioso, bem medido, sempre aguardado com vivo interesse até pelos poetas adultos. Mas ambos tiveram pouca duração.
Correio Paulista - 1896
Em 1896, quando também apareceram Gazeta da Tarde, Matraca, Sequilla,
Brazil (com z), Tempestade, Zagala, surgiu o Correio Paulista. Título deveras confuso e petulante, a não ser que seus
editores tivessem a veleidade de fazê-lo circular em todo Estado de São Paulo.
Todavia, ao que nos coube apurar, circulou pouco, mas pouco, na terra santista apenas. O título de
Correio Paulista tinha deveras o escopo exclusivo de indicar que Paulista significava com propriedade ser natural ou originário do Estado de
São Paulo. Em tal caso, o melhor título seria Correio Santista.
Gazeta da Tarde - 1896
Imagem publicada com o texto, na página 96
Dois anos após Tribuna do Povo, ou em 1896, nos primeiros dias de maio, apareceu Gazeta
da Tarde, de propriedade de uma associação. Tinha redação e oficinas na Rua Visconde do Rio Branco nº 10 e publicava-se diariamente. Tabela de
assinaturas para a Cidade: ano - 20$000; semestre - 12$000; avulso - 100 réis. Fora da Cidade: ano - 24$000; semestre - 15$000.
Dispomos de cópias dos números 19 e 23 do primeiro ano. O número 19 saiu a 25 de maio de 1896 e
sua primeira página comportava dois terços de anúncios, que completava com notícia circunstanciada da festa dançante havida dia 19 daquele mês e ano
no Clube dos Fenianos, entidade carnavalesca muito popular na época, afirmando que o sarau terminou na manhã do dia 20, com as danças muito
animadas.
Havia ainda estas seções nas demais páginas: Bom Dia, crônica assinada por Elvira; Ouvi
Dizer...; Teatros e...; Comércio, Porto e anúncios. Eis as matérias (títulos) que se continham no número 23, de 30 de maio
de 1896: Os Mendigos, artigo de fundo; Limpeza da Cidade; Movimento do Porto; Rosas plagiadas..., poesia de Afonso Celso
Júnior; Com a Estrada de Ferro; Véspera de Eleição; Troças (seção humorística assinada por Tico-Tico), em versos; Diariamente
(crítica), Intendência Municipal e Teatros e...
O Brazil - 1896
No dia 19 de julho de 1896 surgiu no Município um jornal que se proclamava órgão do Partido
Republicano Nacional. Tinha o nome de Brazil. Sim, Brazil com "z"! Publicação semanal, seu número avulso custava 100 réis. Gerente,
Armando Pery de Souza, e redatores diversos.
Eis o texto do seu artigo de apresentação: "Ao
encetar carreira na senda jornalística, buscará com decidido esforço desenvolver os ideais que o Partido Republicano Nacional representa e pelos
quais se luta atualmente. Em linguagem conveniente, a nossa folha tornar-se-á verdadeiro órgão de um partido novo que, sob tão belos auspícios
inaugurados, conseguirá futuramente constituir-se coluna forte que amparará a República do Brazil".
E concluindo: "O primeiro passo está dado. E
saberemos corresponder aos esforços dos que nos auxiliam e principalmente do público, cuja confiança julgamos merecer".
Jornalzinho de 4 páginas. Títulos da matéria que se inseria nesse número inicial: Ligeiramente
(crônica); General Jardim (elogio póstumo); Rebate, de Peroba; Conto do Vigário, Republicanismo; Abaixo a Intriga
(de A.C.); Fala-se (tipo trepações); Soneto (imitação dos de Tribuna do Povo), por Francisco Praibá; Perguntas Inocentes
e Piadas.
A Arte - 1896
A Arte foi um jornalzinho que se distribuiu em 1896 como órgão do Grêmio Dramático Artur
Azevedo. Adstrito aos associados daquela agremiação de arte cênica amadora, que estava no apogeu. Contavam os cronistas daquela época que o "Artur
Azevedo" era o maior clube cênico da Cidade, entre tantos outros. Figuras de evidência na sociedade, arte e letras do Município, além de muitas
outras, humildes mas dedicadas, filiavam-se ao grêmio, que chegou a varar este século (N.E.:
século XX).
O grande feito do Grêmio Dramático Artur Azevedo foi a visita que promoveu a Santos o seu patrono,
a 15 de junho de 1907, a fim de assistir à representação de sua comédia O Dote, no Teatro Guarani, pela própria organização cênica, da qual
faziam parte os amadores Alfeu Silva, Afonso T. Carvalho Júnior, Antônio de Arruda Mendes, Francisco Emílio de Sá, Davi Ferreira, José Mendes,
senhorinhas Maria Eugênia da Silva e Zaida de Andrade, entre outros. Esses artistas interpretaram O Dote e foram aplaudidos por Artur
Azevedo. Exercia o posto de ensaiador Artur Porchat de Assis.
Era esta a diretoria do Grêmio Dramático Artur Azevedo à época da visita que lhe fez pessoalmente
o ilustre e notável comediógrafo, jornalista e contista: presidente, Antônio Carlos de Arruda Mendes; secretário, Alfeu Azevedo Silva; tesoureiro,
Carlos A. Behn; comissão organizadora da festa, Leonel Aires Guerra, dr. Manoel Homem Bitencourt, tte.-cel. Cincinato Martins Costa, Antônio Azevedo
da Silva Júnior e Quintino Ferreira.
Voltando a falar do periódico A Arte, referimos que até associados de outras agremiações
dramáticas disputavam a posse de seus limitados exemplares. A Arte tinha o formato 28x36 e apareceu pela primeira vez a 12 de outubro de
1896, com 4 páginas.
Carlos Vitorino, em seu livro Reminiscências, assinala que essa corporação cênica foi a
inspiradora e animadora da arte teatral em Santos.
De conformidade com Vida, Obra e Época de Ângelo de Sousa, a bela obra de Jaime Franco,
Ângelo de Sousa fez crítica sobre A Arte depois de ler o número 4 desse periódico. E escreveu em A Tribuna do Povo, a pedido, suas
apreciações, dizendo primeiramente haver recebido o exemplar por intermédio de seu amigo Moreira Sampaio Júnior, que presidida o Artur Azevedo. "E
pediu-me que animasse os colaboradores do Grêmio Dramático, como se minha intervenção tivesse valor em matéria de belas artes".
Continuou Ângelo de Sousa: "Dizer que ele me agradou em total, seria completamente impossível".
Enfim, Ângelo censurou alguns colaboradores de A Arte, como Laércio Trindade, o editor de Indicador Santista, escrevendo crítica que
não era positivamente a que desejava Moreira Sampaio Júnior.
Capa da primeira edição de A Arte, de 12 de outubro de 1896
Imagem: arquivo Edgard
Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)
Reproduzido de
A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008
O Carnaval - 1897
No dia 28 de fevereiro de 1897, domingo de Carnaval, foi distribuído o número único de um
jornalzinho com o título O Carnaval. Órgão oficial do Clube Carnavalesco dos Democráticos, dos mais salientes nos festejos momescos do outro
século. O jornalzinho era bem redigido, tanto em prosa como em verso, pois contava com o concurso de figuras de evidência na Literatura da época.
Alberto Sousa era uma dessas figuras.
O Carnaval de 1897 começou no domingo, dia 28 de fevereiro, alcançou a segunda-feira, dia 1º de
março, e terminou dia 2 desse mês, já na madrugada do dia 3. Desfilaram os seguintes clubes: Galopins Carnavalescos, Democráticos, Fenianos, As
Mariposas, Os Inocentes e Clube Avança, todos eles ostentando carros alegóricos de crítica e humorismo.
O último carro dos Democráticos representava uma sala de redação, de onde senhoritas distribuíam o
minúsculo jornal O Carnaval, como autêntico órgão de propaganda clubística.
O Gaúcho - 1897
Imagem publicada com o texto, na página 99
O século XIX foi fértil em jornais de pequeno formato, de pouca duração, tipo pasquim. O Gaúcho
foi um deles. Nasceu a 5 de abril de 1897, uma segunda-feira, dia da semana em que se publicava. Seu escritório ficava na Rua General Câmara, 56.
Diretor, M. Pierre, embora em outra fonte se registrasse a propriedade de Janota e Salamaleque. Temos em nosso arquivo o número 3, que só registrava
a direção de M. Pierre, sem qualquer pseudônimo. Tinha o formato de 28x36 e saía com 4 páginas. Custava 100 réis o número avulso e 200 réis o número
atrasado.
Abrindo o jornalzinho, pequeno artigo sobre a luta armada entre Cuba e a Espanha. Com o título
Cuba Invencível, faz-se curioso reproduzi-lo: "Os heróicos revolucionários da formosa Ilha
de Cuba têm ultimamente infligido sérias derrotas às tropas espanholas. A vitória definitiva dos valorosos cubanos não far-se-á esperar muito. É
questão de dias apenas. É preciso que o governo de Madrid convença-se de uma vez para sempre que é impossível estabelecer predomínio naquela ilha.
Se hoje os revoltosos de Cuba são derrotados aqui, surgem amanhã acolá, fortes, vigorosos, destroçando as forças de Weyler, obrigando-as a fugas
precipitadas, tirando estrondosa vingança de pequenos reveses sofridos. Viva, portanto, Cuba invencível! Viva os seus denodados defensores!"
A Opinião - 1897
Imagem publicada com o texto, na página 99
No dia 12 de abril de 1897 saiu pela primeira vez o jornal A Opinião,
de pequeno formato. Seu cabeçalho trazia o título da publicação e o subtítulo: Folha Semanal - Sem Gramática. Propriedade de Viana Nascimento
& Cia.
No número inicial, a tiragem foi de 300 exemplares, completamente esgotada. Já no número seguinte,
a direção viu-se forçada a dobrar a tiragem, também esgotada. Mais 250 exemplares compreendeu a impressão do terceiro número, enquanto a do quarto
número, que possuímos, passou para 1.000 exemplares.
Em artigo publicado na edição de 2 de maio de 1897 - a quarta -, a direção prometia: "Em
breve faremos os melhoramentos de que carece, pois, se bem que o público nos haja desculpado de falhas, reconhecendo que no começo de uma empresa
qualquer se luta com as maiores dificuldades, envidaremos todos os nossos esforços, a fim de corresponder à coadjuvação espontânea que nos prestam.
A Opinião já não é somente vendida pelas ruas e nas agências; já conta assinaturas em número superior a 300. Portanto, vê-se claramente que
A Opinião teve aceitação unânime, a que seus diretores muito agradecem".
Nesse quarto número, inseria Quadros Toscos, de sentido humorístico, que reproduzimos:
Anda por aqui tal homenzinho
Que não deixa de vir todo dia
Embirra com a porta
Da nossa tipografia
Vem de fraque e cartola
Todas as noites. Que orgia!
E zás... esbarra co'a porta
Da nossa tipografia!
Se continua a dar-lhe com força
Já estou a ver que algum dia
Lhe cai na cartola a porta
Da nossa tipografia...
ANNAIV
Capa da edição 4 da A Opinião, de 2 de maio de 1897 (ano 1)
Imagem: acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo (acesso: 31/3/2018)
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A Greve - 1897
A Greve era órgão das classes trabalhadoras, reconhecida como defensora intransigente de
seus interesses. Formato de 25x37. 4 páginas. A classe patronal respeitava-o e até o temia, numa época em que não havia direitos nem deveres à
categoria trabalhista. Dirigia-o B. Figueiredo Ramos. Seu primeiro número saiu a 19 de outubro de 1897.
A Idéia - 1897
Imagem publicada com o texto, na página 101
Órgão representativo do Clube Minerva, A Idéia surgiu a 10 de janeiro de 1897. Já o segundo
número saiu no dia 24 de janeiro do mesmo ano. O jornalzinho publicava-se duas vezes por mês e em dias indeterminados.
No expediente, comunicava aceitar colaboração de pessoas estranhas ao Clube Minerva, desde que "em
linguagem correta, decente e completamente alheia à política". Correspondência para a administração da folha, na Rua Itororó n. 25.
Em toda primeira página desse número 2, uma crônica e louvor às senhorinhas associadas do Clube
Minerva, em que o autor afirmava que elas "são o grande motivo da vida social distinta, invejável e pujante da agremiação, que só desaparecerá se
suas majestades do belo sexo desaparecerem..."
- No dia 30 de setembro de 1877 circulou jornal com o mesmo nome. Lafayete de Toledo e o
pesquisador Durwal Ferreira registram a existência desse periódico. Seria o mesmo?
Cidade de Santos - 1898
Cidade de Santos, terceiro do nome, apareceu pela primeira vez no dia 29 de setembro de
1898. Ocupava a gerência Antônio Augusto Bastos e sua redação ficava na Praça Mauá, hoje Praça Visconde de Mauá, 35.
Logo nesse número inicial, o jornal saiu com muito atraso, segundo esta nota explicativa: "Devido
a um desarranjo no prédio, o jornal hoje é distribuído com grande atraso".
Em seu número 7, de 6 de outubro de 1898, sob o título Em Retirada, a Cidade
responde a um artigo do Diário de Santos, useiro e vezeiro em criar polêmicas, tachando-o de infelicíssimo. E prossegue: "Estranha
o contemporâneo que nós, da Cidade, o consideremos órgão oposicionista, quando sistematicamente defende todos os atos da Câmara da Oposição,
e não o consideramos, no entanto, governista quando entretece grinaldas e elogios ao dr. Prudente de Morais. Decididamente que o
alquebramento físico e a decadência mental do Diário não lhe permitem argumentos mais claros e positivos".
Entre outras, Cidade apresentava as seguintes seções: Artigo de fundo, subordinado
ao título do jornal; Através da Cidade; Jeremiadas; Telegramas; Jornais da Capital; Palcos e Telas; Igrejas
e Várias. Custava 100 réis o número do dia. As assinaturas começavam em qualquer dia e terminavam sempre no fim de junho ou dezembro.
No número inicial, Cidade publicou: "À
feição dos jornais paulistas e naturalmente saborosos, e convindo o excesso de severidade que, porventura, se impõe, em nossa folha, decidimos
variá-la, constantemente, com a colaboração de conhecidos cultores das letras paulistas. Cidade de Santos conta com o brilhante concurso
mental dos srs. Antônio de Toledo Pires, Leopoldo de Freitas Seabra, Carlos de Escobar, Amadeu Amaral, Eurico de Góis, Brasílio de Magalhães, Gastão
Bousquet, Ricardo Azamor e outros. A escavação histórica, a apresentação filosófica e científica, a tese sociológica, o conto, a crônica e a poesia,
eis o que Cidade de Santos deverá à capacidade de seus colaboradores".
Tinha 4 páginas. Em seu número 3, de 1º de outubro de 1898, a redação noticiou que o atraso
verificado no 1º número, cuja causa já foi explicada, determinou "atropelo no nosso serviço de
última hora, que muito se refletiu na edição de ontem. Os revisores, fatigados pelo trabalho dobrado, deixaram escapar erros numerosos e alguns
bastante graves", prometendo, no entanto, normalizar de pronto a situação. Por tal motivo,
solicitava escusas aos leitores, assim como agradecia aos jornais A Tribuna e Diário de Santos as generosas referências formuladas
pelo seu surgimento.
Cidade de Santos era jornal de grande formato, desses chamados lençol. Faz-se
oportuno assinalar que o gerente-editor da folha, sr. Antônio Augusto Bastos, foi um dos membros da Intendência Municipal que, a 30 de dezembro de
1891, recebeu o governo da Cidade das mãos da diretoria da Associação Comercial de Santos.
No começo era de propriedade de uma associação. No mesmo ano de 1898, em dezembro, Cidade
transformou-se em órgão político, sob a orientação do dr. José Cesário da Silva Bastos. Defendia e apoiava a facção cesarista, pois aquele
homem público, nascido em São Vicente e não em Santos, foi a nosso ver o maior chefe político de Santos em todos os tempos. Emérito ganhador de
eleições.
Não bastasse a capacidade cultural do seu diretor, Cidade de Santos contava com redatores
da expressão intelectual de Alberto Sousa e Antônio Augusto Bastos. Alberto Sousa deixou a folha por discordância com a direção, que depois foi
exercida pelo dr. Paulo Passalacqua, enquanto o dr. Francisco Pereira tomou conta do cargo de secretário.
Entrando para o jornal, o dr. José Monteiro, político militante, "abriu fogo" contra o Partido
Republicano Municipal, lançando todos os dias violentas críticas à facção.
"Edifício onde funcionam a redação e administração do jornal Cidade de Santos"
Foto publicada na edição especial da Revista da Semana/Jornal
do Brasil de janeiro de 1902
O Tempo - 1898
O Tempo era jornal diário que circulou em Santos no ocaso do século XIX. Dirigido por
Francisco Pereira, tinha administração e redação na Rua do Rosário, hoje João Pessoa, n. 7, e apareceu no dia 7 de março de 1898.
Lemos os seus números 8 e 10 do primeiro ano. O número 8 publicava artigo, em continuação, com o
título Quem os entende?; Flechas, seção em versos, de Sagitário, naquele dia glosando o dr. João Galeão Carvalhal; Sociedade
Musical Lira Comercial (notícia); Ao Correr do Pelo (seção crítica em que o alvo era Ângelo Souza, redator literário da Tribuna do
Povo); Carta ao dr. João Carvalhal; Esporte (nota sobre o Velo Esporte Clube); Boatos; Manifestação a Campos Sales;
Sursum Corda; Clube Militar; Notas Policiais; Porto; Comércio e muitos anúncios.
O Tempo não se dava com a Tribuna do Povo. E vice-versa. Ambos cruzavam crônicas,
comentários e artigos todos os dias, empregando linguagem desabrida, como era comum naquele tempo.
Quando Tribuna do Povo começou a dar uma edição vespertina, a partir de 14 de março de
1898, eis a notícia publicada pelo jornal de Francisco Pereira: "TRIBUNA DO BOBO - Esquelético
e esfaimado, rabiará hoje pelas ruas da Cidade, de fauces hiantes e olhar de moribundo, o retrato vivo do homem mais honrado desta terra, do
jornalista mais independente, do amigo mais leal, do político mais criterioso. Hão de ver! A inveja matou Caim e há de matar
ainda muita gente. Coitado! Deus que se amerceie da sorte!"
Tribuna do Povo deve ter respondido. Na edição de 16 de março de 1898, O Tempo, em
sua seção Flechas, arremessou outras flechas no jornal de Olímpio Lima.
A Gargalhada - 1899
Jornaleco salgado e apimentado que veio a publicar-se pela primeira vez no mês de abril de 1899.
Mensário, portanto. Seus redatores: Piron & Sganarello. Texto faceto. Sua apresentação ao público era em versos, rimados mas de pés quebrados e mãos
na tipóia. Ei-la:
"Eis
que surge A Gargalhada
Em alegrias dos santenses,
Traz a boca escancarada
Para zombar dos pedantes!
Não tem artigo-de-fundo
Nem mesmo tal é preciso
Por haver cá neste mundo
Curta... falta de juízo!
Traz a graça desejada
Tem amargores de fel
Mas não é colaborada
Pelo humorista Lael!
Quem quiser que a compre e leia
Ria até ficar convulso,
Pois aqui não se receia
Dos literatos... a pulso!"
O Estímulo - 1899
Publicou-se pela primeira vez no dia 5 de setembro de 1899, num domingo. Nesse número inicial, o
jornal circulou com as seguintes seções e trabalhos: Retrospecto; Suprema Dor, de Maupuisany; Telepatia, por M. C. dos Santos;
Um Anjo, conto de José Pereira Barreto; Conto do Vigário, em estilo folhetim, por Mileto A. Loie; Alfinetes, por Manfredo F. de
Morais; Troçando, por João Alves; Ecos e Notas; Palcos e Telas; Miscelânea e Posta Restante.
O Estímulo era órgão de uma associação.
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