Por quê esta história?
Se a Capital e outros municípios do Estado de há muito possuem a história de sua imprensa, por que Santos também não a dispõe?
Há municípios de menor expressão demográfica, econômica e social e até mesmo em elementos culturais e têm o orgulho de ostentar a narrativa
cronológica de seus jornais, em livro devorado com curiosidade e avidez, não encalhado portanto.
Por essa razão especial e considerando que, já no século anterior, éramos o segundo município
da Província em quantidade de jornais editados, só superados pela Capital, decidimos oferecer a Santos a história de sua Imprensa, que faz 130 anos
em 1979.
Não nos foi cômoda a tarefa. Tivemos de recorrer a outros centros, tanto ou mais que ao nosso
município, como Rio de Janeiro e São Paulo, já que o serviço de investigações em nossa cidade foi apoucado, exceto o nosso arquivo pessoal e a
colaboração de dedicados e aptos amigos.
Em que pesem todos os percalços, concluímos a obra.
Não se trata, reconhecemos, de descrição pormenorizada, tipo inventário, de todos os jornais
que aqui se publicaram desde 1849. Admitimos que deve faltar o registro de alguns jornais. Jornais, não! Jornalecos, desses que circulavam em certos
dias ou em dias incertos.
Todavia, ficamos bem próximos da integralização, do total, do geral, jamais se executando na
Cidade trabalho tão amplo e desenvolvido.
Não nos restringimos à frialdade dos números estatísticos. Ao revés, em determinados pontos
espalhamos sal e pimenta, fizemos humorismo e contamos fatos chistosos e piadas, que tornam mais curiosa e interessante a leitura.
Enfim, eis a História da Imprensa de Santos, pesquisada e redigida por quem teve alguma
experiência na profissão. Quarenta e seis anos de batente, que é a grande faculdade de jornalismo.
No jornal entramos em plena mocidade e o deixamos em plena velhice.
Nele ingressamos pobres e cheios de esperanças; saímos mais pobres ainda e desiludidos, porém
ditosos e orgulhosos por havermos alcançado a predestinação que desde os bancos escolares nos induziu.
Olao Rodrigues
"Não é de desprezar mesmo a importância da primeira
imprensa, no seu complexo de precariedade material e de insuficiência cultural, mas que soube ser fiel às tradições da terra e às aspirações
populares, ainda quando a censura fazia por destruir o ímpeto da auto-determinação, vendo nela quem sabe um liame com o perigo oral da
magistratura leiga e seus procuradores do povo, tribunos de motins, tumultos e rebeliões"
Juarez Bahia - 3 Fases da Imprensa Brasileira. |
Setembro - mês da Imprensa
Setembro é o mês consagrado à imprensa por registrar a publicação do primeiro jornal impresso no
Brasil - Gazeta do Rio de Janeiro - a 10 de setembro de 1808. No caso especial de Santos, o evento ganha maior saliência por assinalar também
a inauguração da nossa imprensa.
Na verdade, foi a 2 de setembro de 1849 que circulou em Santos o primeiro periódico - Revista
Comercial -, fundado por um médico alemão.
Pouco antes do primeiro jornal brasileiro, Hipólito José da Costa Ferreira Furtado de Mendonça
editava Correio Brasiliense em Londres e distribuído clandestinamente no Rio de Janeiro. Além de autorizar o órgão de sua tutela, que só
publicava as notícias e atos que lhe interessavam, a Corte não admitia e proibia a divulgação do Correio Brasiliense, que cometia o grande
"crime" de pregar e defender o direito do Brasil governar-se por si próprio e jamais como simples colônia.
Hipólito da Costa, o Patriarca da Imprensa Brasileira, foi um herói. Não quiseram, no entanto,
compreender-lhe as idéias. Lutou por um Brasil livre e suportou sacrifícios e perseguições, sempre se havendo com altivez e coragem.
"Passados 150 anos de sua
morte, um novo ideal vem reviver o de Hipólito da Cosa: A Comunidade Luso-brasileira"
[1].
O primeiro jornal lançado em São Paulo foi Farol Paulistano, a 1º de abril de 1827, fundado
por José da Costa Carvalho, baiano, desde 7 de fevereiro de 1798, que veio a ostentar o título de marquês de Monte Alegre e o cargo de presidente da
Província de São Paulo.
Mas a primeira folha distribuída em São Paulo foi O Paulista, entre junho
e julho de 1823, escrita à mão, por iniciativa de Antônio Mariano de Azevedo Marques, conhecido como Mestrinho. Em Santos não tivemos imprensa
manuscrita, que deve ser compreendida como predecessora do prelo. Tivemos em nossa cidade alguns periódicos manuscritos, inclusive um de Martins
Fontes, mas já existiam na Cidade estabelecimentos tipográficos. No período de 1827 a 1898, publicaram-se na Província de São Paulo 1.536 jornais,
revistas, periódicos etc. Santos ocupava o segundo lugar, só perdendo para a Capital [2].
Voltando ao tema central desta crônica, diremos que, em homenagem à Imprensa, o Governo da União
houve por bem instituir a data de fundação da Gazeta do Rio de Janeiro como Dia da Imprensa, a 10 de setembro, como preito de louvor e
consagração ao jornal, em seu sentido cultural, educativo e social.
Costa e Silva Sobrinho, em sua opulenta obra Santos Noutros Tempos, às páginas 359-360,
escrevendo sobre o primeiro jornal que circulou em Santos, assinalou que uma das páginas mais eloqüentes da história de Santos está na história de
sua Imprensa, que vem hoje de cem anos atrás, quando a Cidade, aninhada entre a faixa de prata do Estuário e o verdor sobraneiro dos morros, contava
no máximo com seis mil habitantes.
O dia 2 de setembro de 1849 deve ficar gravado para sempre na memória de
todos nós. É o dia da inauguração da Imprensa santista - flamante centelha dessa Imprensa universal que foi para os povos como que uma segunda
revelação.
NOTAS:
[1]
Therezinha de Castro - Hipólito da Costa.
[2]
Lafaiete Toledo - A Imprensa Periódica Paulista.
História ou subsídios?
Oferecemos a esta obra o título História da Imprensa de Santos. Exagero? Petulância? Talvez
mais ajustado coubesse o termo pluralizado Subsídios. Somos os primeiros a reconhecer que história é uma narrativa documental ampla,
completa, total, cronologicamente regular, em que nada falte, sem omissões, precisa e exata. Mas é possível, todos esses pormenores, ao rigor do
dia-a-dia da Imprensa de Santos, durante 129 anos?
Tudo que se vai ler, sem ser retrato com retoques ou não, é pesquisa daquilo que nos foi humano
buscar e rebuscar, não se conhecendo trabalho igual, em tais dimensões, desde que surgiu entre nós a caixa de tipos ou a linotipo, a fotocomposição
ou "nylon-print".
Omissões devem haver, não os de jornalecos ou pasquins que nasciam num dia e morriam no mesmo dia,
sem que o público deles tomasse conhecimento, mas sim os de maior significância. Oxalá amanhã apareça alguém de boa vontade, dedicação, perspicácia,
arrojo e inteligência, revestido de apego ao Jornalismo, que mesmo com sacrifício leve por diante a nobre tarefa de integralizar a historiografia da
Imprensa da terra que ensinou Liberdade e Caridade à Pátria.
Por enquanto, como produto de esforço e energia, fica esta obra, que, temos certeza, muito
facilitará o serviço de complementação da História da Imprensa de Santos.
Fizemos o que nos foi possível.
Pela tentativa, valeu.
Olao Rodrigues
O livro dum jornalista
Realçar a importância do jornal diário, no desenvolvimento histórico duma cidade moderna, como
Santos, é sempre iniciativa merecedora de encômios. Aqui, tal como em outros centros cultos do nosso País, a imprensa costumou participar, de forma
saliente, ativa e intensa, nos acontecimentos da evolução social do povo brasileiro. Colaborou, pela palavra escrita, de maneira doutrinária ou
polêmica, em todas as campanhas, cívicas e políticas.
Assim, deve ser acolhido, com satisfação, um livro como este, a rememorar, com clareza e minúcia,
em estilo leve e singelo, a evolução lenta ou rápida - desde os tempos saudosos do tipógrafo manual até hoje - que a imprensa local houve de
atravessar, até atingir o progresso da atualidade. Constitui, este trabalho, fruto de pesquisa paciente, honesta e imparcial, conduzida com perfeito
espírito público.
Seu êxito está de antemão assegurado, por ser de autoria de Olao Rodrigues, genuíno, autêntico
homem do ofício, antigo profissional, que foi, sem interrupção, subindo, sozinho, por seu próprio esforço, uma bela carreira - iniciada como simples
"repórter", passando a noticiarista, depois redator "de tarimba" etc. -, até o justo remate da aposentadoria, conquistada após longos anos de
diuturno esforço e trabalho em proveito da coletividade.
Julgo, sem intuito de lisonja ou de louvor amável, que a leitura deste livro será de imenso agrado
e atento interesse, não só para os veteranos jornalistas ainda sobreviventes, como eu, mas também para quantos habitam e amam esta terra de tantas
tradições liberais, numa atividade intelectual, em que brilharam (para somente citar os mortos, por amor à brevidade), nomes destacados e
imperecíveis, como Olímpio Lima, Alberto Veiga, Alberto Sousa, Izidoro de Campos, Afonso Schmidt, Paulo Gonçalves, Bruno Barbosa, Nilo Costa e
muitos outros escritores e poetas.
Santos, outubro de 1978.
Álvaro Augusto Lopes
Patrono dos Jornalistas - São Francisco de Sales
Escritor talentoso, São Francisco de Sales é o Patrono dos Jornalistas e
dos homens de Letras. Sua reputação decorreu de atividades devotadas à Igreja. Como padre, sua primeira missão foi a corajosa reconversão dos
habitantes de Chablais, sua terra natal, na França. Ficou ali quatro anos, apesar da hostilidade mortal da população calvinista para com os
católicos. Mas recuperou a maioria. Esse êxito concorreria para levá-lo a ser bispo de Genebra. Com Santa Joana de Chantal, foi co-fundador da Ordem
de Visitação. Morreu em 1622, com 55 anos, autor famoso de obras religiosas.
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