Imagem: reprodução parcial da matéria original
O 50º aniversário d'A Tribuna
Um pouco de história da terra andradina mal contada por velho jornalista sem
memória
(Crônica de Euclides Andrade)
[...]
Zózimo Lima... Eta sergipano inteligente! Viera de Aracaju
para Santos. Abandonara os estudos num seminário católico, quando estava prestes a ser tonsurado. Ia estudar para padre; mas o destino atirou-o para
o Sul, para a terra de Braz Cubas.
Zózimo Lima passou pela Tribuna como um meteoro. Pouco tempo aqui trabalhou. Um
concurso deu-lhe uma nomeação para a Repartição dos Telégrafos. Nela ingressou e nela ainda se encontra, a trabalhar e a brilhar, pelo talento e
pela operosidade. Zózimo, quando trabalhou na Tribuna, rezava Padre-Nossos e persignava-se, quando ouvia alguém praguejar. O convívio com a
turma deixou-o quase ateu e com a língua destravada.
Amigo dos bons, leal e dedicado, vastíssima cultura (até latim e grego ele sabia!),
acendrado amor ao trabalho. Hoje, Zózimo educa os filhos e faz mais amigos, em Aracaju, onde exerce alto cargo no Telégrafo Nacional.
Tendo sido removido para Uberaba, logo que ingressou no quadro de funcionários do
Telégrafo Nacional, Zózimo iniciou uma série de crônicas, nas quais dava, aos leitores da Tribuna, suas impressões sobre aquela progressista
cidade do Triângulo Mineiro.
Moço, irreverente, ele escreveu numa das suas interessantes missivas, algumas linhas
criticando as moças de Uberaba (cidade que ele crismara Zeburaba), por irem esperar na estação ferroviária local o trem paulista, a fim de
comprarem o periódico humorístico Rio Nu.
Um mineiro, residente em Santos, indignado com a irreverência de Zózimo para com as
jovens suas co-estaduanas, mandou aos seus amigos de Uberaba o exemplar da Tribuna em que saíra publicada a crônica.
Resultado: Zózimo, pacato "ex-formigão" do seminário de Sergipe, teve de deixar
o cinema uberabense, onde assistia a um filme da Chica Bertini, garantido pelo juiz de direito da comarca. Saiu de noite. Foi para seu hotel, fez as
malas, não disse adeus a ninguém e rumou, um tanto apressadamente, para o sertão da Bahia, indo servir numa estação telegráfica.
E foi por essa brincadeira que Zózimo lá ficou pelo Norte até hoje, enchendo-nos, a
todos seus amigos, de saudades.
Biblioteca e arquivo da A Tribuna. Figuram na biblioteca do jornal as mais
modernas e completas enciclopédias, além de outros livros de consulta, de grande interesse e utilidade para os que aqui empregam suas atividades. No
arquivo são guardados os clichês das mais ilustres personalidades do país e do estrangeiro, aspectos de cidades, curiosidades e todo o
material que possa servir para ilustrar o jornal
Foto e legenda publicadas com a matéria
Barbosa Neto foi um camarada que aqui apareceu um dia, pedindo colocação. Dizia-se
inspirado poeta e lia-nos, nas horas vagas, alguns lindos sonetos que (soubemos mais tarde) não eram de sua lavra. O nome também não era dele. Era
de um vate gaúcho, que fora seu companheiro de casa e que morrera tuberculoso. O falso Barbosa Neto herdou do finado o nome e os originais poéticos.
Só do falecido não herdou a vergonha e a inspiração.
O pseudo Barbosa Neto apareceu na Tribuna e pediu-me um lugar na redação.
Respondi-lhe que não havia vaga a preencher. Falou ao Nascimento e este devolveu-o a mim. Eu que resolvesse.
Procurei demover o recém-chegado dos seus propósitos. Não havia lugar para ele na
Tribuna.
- Não faz mal; eu aguardo uma vaga - respondeu ele, gaguejando.
E uma noite, ao chegar para o trabalho, encontrei-o refestelado, em frente a uma das
mesas da redação, copiando um soneto do outro Barbosa Neto, do finado e verdadeiro poeta.
- O Nascimento admitiu-o ao serviço do jornal? - indaguei.
- Não, senhor. Nem falei com ele. Mas, como seu Nascimento me dissera que esperasse
uma vaga e que aparecesse, de quando em quando, por aqui... Vim, hoje, de tarde, encontrei vaga esta mesa... E agora nem Cristo me tirará daqui.
E ficou mesmo. Ficou, mas passou a trabalhar na administração, como cobrador. Para
escrever, era um desastre.
Ao cabo de algum tempo, sumiu. Subverteu-se, levando (talvez distraidamente) uns
cobres, alguns contos de réis, que não eram dele. E a polícia ficou ignorando isso.
Escritório da A Tribuna, com magníficas instalações. O balcão é de mármore.
Dispõe o escritório de todos os requisitos exigidos.
Sóbrio e elegante, dá a melhor das impressões, atestando bem o vulto da organização
Foto e legenda publicadas com a matéria
Rodolfo Noronha, proficiente educador, veio trabalhar na Tribuna, já em idade
provecta. Fora meu professor de História e Português, no Instituto Feitosa, em Jundiaí. E ficou sendo meu amigo dedicado a vida inteira.
Rodolfo sabia fazer jornalismo. Trabalhara na imprensa campineira; fora lente do
Ginásio do Estado em Campinas.
Dizia que falava italiano e francês, e, por isso, designei-o para realizar reportagens
sensacionais a bordo de transatlânticos em escala por este porto.
Logo na primeira entrevista com um diplomata italiano, Noronha teve uma fuga de
memória e quando quis referir-se a um guarda-chuva, falou assim: Guarda-piuva...
De outra feita, pretendendo entrevistar um industrial gaulês,
falou-lhe num francês tão arrevesado, que o homem chamou um guarda aduaneiro e pediu que lhe explicasse em que idioma Noronha estava falando...
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