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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IMPRENSA
A imprensa santista (7g)

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Em 26 de março de 1944, o jornal santista A Tribuna publicou edição comemorativa de seu cinqüentenário (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), com esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

O 50º aniversário d'A Tribuna

Um pouco de história da terra andradina mal contada por velho jornalista sem memória

(Crônica de Euclides Andrade)

[...]


Zózimo Lima... Eta sergipano inteligente! Viera de Aracaju para Santos. Abandonara os estudos num seminário católico, quando estava prestes a ser tonsurado. Ia estudar para padre; mas o destino atirou-o para o Sul, para a terra de Braz Cubas.

Zózimo Lima passou pela Tribuna como um meteoro. Pouco tempo aqui trabalhou. Um concurso deu-lhe uma nomeação para a Repartição dos Telégrafos. Nela ingressou e nela ainda se encontra, a trabalhar e a brilhar, pelo talento e pela operosidade. Zózimo, quando trabalhou na Tribuna, rezava Padre-Nossos e persignava-se, quando ouvia alguém praguejar. O convívio com a turma deixou-o quase ateu e com a língua destravada.

Amigo dos bons, leal e dedicado, vastíssima cultura (até latim e grego ele sabia!), acendrado amor ao trabalho. Hoje, Zózimo educa os filhos e faz mais amigos, em Aracaju, onde exerce alto cargo no Telégrafo Nacional.

Tendo sido removido para Uberaba, logo que ingressou no quadro de funcionários do Telégrafo Nacional, Zózimo iniciou uma série de crônicas, nas quais dava, aos leitores da Tribuna, suas impressões sobre aquela progressista cidade do Triângulo Mineiro.

Moço, irreverente, ele escreveu numa das suas interessantes missivas, algumas linhas criticando as moças de Uberaba (cidade que ele crismara Zeburaba), por irem esperar na estação ferroviária local o trem paulista, a fim de comprarem o periódico humorístico Rio Nu.

Um mineiro, residente em Santos, indignado com a irreverência de Zózimo para com as jovens suas co-estaduanas, mandou aos seus amigos de Uberaba o exemplar da Tribuna em que saíra publicada a crônica.

Resultado: Zózimo, pacato "ex-formigão" do seminário de Sergipe, teve de deixar o cinema uberabense, onde assistia a um filme da Chica Bertini, garantido pelo juiz de direito da comarca. Saiu de noite. Foi para seu hotel, fez as malas, não disse adeus a ninguém e rumou, um tanto apressadamente, para o sertão da Bahia, indo servir numa estação telegráfica.

E foi por essa brincadeira que Zózimo lá ficou pelo Norte até hoje, enchendo-nos, a todos seus amigos, de saudades.


Biblioteca e arquivo da A Tribuna. Figuram na biblioteca do jornal as mais modernas e completas enciclopédias, além de outros livros de consulta, de grande interesse e utilidade para os que aqui empregam suas atividades. No arquivo são guardados os clichês das mais ilustres personalidades do país e do estrangeiro, aspectos de cidades, curiosidades e todo o material que possa servir para ilustrar o jornal
Foto e legenda publicadas com a matéria

Barbosa Neto foi um camarada que aqui apareceu um dia, pedindo colocação. Dizia-se inspirado poeta e lia-nos, nas horas vagas, alguns lindos sonetos que (soubemos mais tarde) não eram de sua lavra. O nome também não era dele. Era de um vate gaúcho, que fora seu companheiro de casa e que morrera tuberculoso. O falso Barbosa Neto herdou do finado o nome e os originais poéticos. Só do falecido não herdou a vergonha e a inspiração.

O pseudo Barbosa Neto apareceu na Tribuna e pediu-me um lugar na redação. Respondi-lhe que não havia vaga a preencher. Falou ao Nascimento e este devolveu-o a mim. Eu que resolvesse.

Procurei demover o recém-chegado dos seus propósitos. Não havia lugar para ele na Tribuna.

- Não faz mal; eu aguardo uma vaga - respondeu ele, gaguejando.

E uma noite, ao chegar para o trabalho, encontrei-o refestelado, em frente a uma das mesas da redação, copiando um soneto do outro Barbosa Neto, do finado e verdadeiro poeta.

- O Nascimento admitiu-o ao serviço do jornal? - indaguei.

- Não, senhor. Nem falei com ele. Mas, como seu Nascimento me dissera que esperasse uma vaga e que aparecesse, de quando em quando, por aqui... Vim, hoje, de tarde, encontrei vaga esta mesa... E agora nem Cristo me tirará daqui.

E ficou mesmo. Ficou, mas passou a trabalhar na administração, como cobrador. Para escrever, era um desastre.

Ao cabo de algum tempo, sumiu. Subverteu-se, levando (talvez distraidamente) uns cobres, alguns contos de réis, que não eram dele. E a polícia ficou ignorando isso.


Escritório da A Tribuna, com magníficas instalações. O balcão é de mármore.
Dispõe o escritório de todos os requisitos exigidos.
Sóbrio e elegante, dá a melhor das impressões, atestando bem o vulto da organização
Foto e legenda publicadas com a matéria

Rodolfo Noronha, proficiente educador, veio trabalhar na Tribuna, já em idade provecta. Fora meu professor de História e Português, no Instituto Feitosa, em Jundiaí. E ficou sendo meu amigo dedicado a vida inteira.

Rodolfo sabia fazer jornalismo. Trabalhara na imprensa campineira; fora lente do Ginásio do Estado em Campinas.

Dizia que falava italiano e francês, e, por isso, designei-o para realizar reportagens sensacionais a bordo de transatlânticos em escala por este porto.

Logo na primeira entrevista com um diplomata italiano, Noronha teve uma fuga de memória e quando quis referir-se a um guarda-chuva, falou assim: Guarda-piuva...

De outra feita, pretendendo entrevistar um industrial gaulês, falou-lhe num francês tão arrevesado, que o homem chamou um guarda aduaneiro e pediu que lhe explicasse em que idioma Noronha estava falando...


[...]
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